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CAPÍTULO II – EDUCAÇÃO ÉTNICO RACIAL E O ENSINO DE HISTÓRIA

II – EDUCAÇÃO ÉTNICO RACIAL E O ENSINO DE HISTÓRIA

Para que escrever a história, se não for para ajudar nossos contemporâneos a ter confiança em seu futuro e abordar com mais recursos às dificuldades encontradas no cotidiano?!34

Georges Duby

A educação étnica-racial é uma educação que deve reafirmar, valorizar e assegurar a diversidade étnico-racial na sociedade, incluindo negros, pardos e índios, na História do Brasil. A educação étnico-racial deve ter por objetivo atuar sobre as relações humanas, numa sociedade desumana, preconceituosa e cheia de estereótipos, em que se aprende desde cedo a discriminar. Dessa maneira, a educação étnico-racial está extremamente ligada, embora não exclusivamente, ao ensino de história, visto que é a partir do ensino da história que conhecemos o papel histórico do homem. Sendo assim, este capítulo trará, uma análise de como a história de brancos, negros e índios era contada antes das leis 10.639/03 e 11.645/08, bem como analisar como essa história está sendo contada após a implantação das leis e quais os principais avanços após 10 anos da implantação da lei.

2.1 – A História contada antes das Leis 10.639/03 e 11.645/08.

Com relação ao ensino da história étnico racial nos livros didáticos, percebe-se uma maior defasagem de conteúdos. Pois, durante mais de três séculos houve no Brasil a imigração compulsória de cativos africanos, onde cerca de quatro milhões de africanos adentraram ao território brasileiro, pessoas que ajudaram na formação do nosso país, da nossa cultura e da nossa identidade, entretanto durante muito tempo essas pessoas ficaram esquecidas dentro dos conteúdos escolares, sua importância nunca foi mencionada nos livros didáticos. Da mesma forma que os nativos brasileiros ainda permanecem esquecidos nos livros didáticos, e quando aparecem são como selvagens, como seres exóticos.

A história do Brasil ensinada nas escolas durante muito tempo foi elaborada a partir da visão europeia, portanto, ela é eurocêntrica porque as outras matrizes de conhecimento e outras experiências históricas e culturais que compõem a formação do povo brasileiro não são contempladas, pois sempre:

34 DUBY, Georges. Ano 1000, ano 2000, na pista de nossos medos. Assis, SP: Editora da UNESP, 1998,

(...) privilegiou a cultura branca, masculina e cristã, menosprezou as demais culturas dentro de sua composição do currículo e das atividades do cotidiano escolar. As culturas não brancas foram relegadas a uma inferioridade imposta no interior da escola; concomitantemente, a esses povos foram determinadas as classes sociais inferiores da sociedade.35

Os livros didáticos e outras produções bibliográficas ignoram a participação de africanos, afrodescendentes e indígenas na construção intelectual e material do país. Este descuido tem o propósito de levar a uma sub-representação de uma parte da população na história do Brasil, para reproduzir o processo de dominação e opressão. Onde as vezes que o povo africano é citado, é como sinônimo de miséria, primitivismo, violência e AIDS. Dessa maneira, Bloch 1944 já colocava que “a incompreensão do presente nasce fatalmente da ignorância do passado”. Sendo que tamanha ignorância, faz com que a história perca a cara da sua população e queiram mostrar a cara e a visão dos dominadores.

Dessa maneira surge a indagação: Mas se todas as histórias fossem ensinadas nas escolas, será que não nos reconheceríamos enquanto afrodescendentes? Se tivéssemos uma rede televisa que mostrasse o lado bom e ruim da África seríamos tão preconceituosos com aquele continente?

É certo, que não teríamos uma única história, que só mostra o lado que lhe convém na história. A história é importante, mas tem sido usada para expropriar e estigmatizar os povos. Sendo que a história pode ser usada para informar e humanizar os povos, a história possui os dois lados, mas as vezes é usado apenas um desses lados. Por isso que a escola e a história ao mesmo tempo em que desumaniza pode humanizar como nos mostra Passos (2002)36

(...) se a escola reflete o modelo social na qual está inserida, isso significa que nela também estão presentes as práticas das desigualdades sociais, raciais, culturais econômicas e que determinados grupos sociais ainda estão submetidos na sociedade brasileira. Do mesmo modo, temos nela as possibilidades para a superação das formas mais variadas de preconceito e desigualdades (2002:21).

Partindo do pressuposto acima, podemos perceber que problema maior dessa expropriação feita pela escola e a história, é a falta de reconhecimento/pertencimento étnico, que a escola expropria quando se fala somente da história europeia, e consequentemente gera a formação de identidades desligadas da realidade do aluno. E a identidade é algo

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GONÇALVES, Luciane Ribeiro Dias; SILVA, Maria Vieira da. A formação de professores e o multiculturalismo: desafio para uma pedagogia da eqüidade. Disponível em http://www.rizoma.ufsc.br/html/900-of10a-st2.htm. Acesso em 19/07/2007.

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PASSOS, Joana célia dos. Discutindo as relações raciais na estrutura escolar e construindo uma pedagogia Multirracial e Popular. Revista do NEN – Multiculturalismo e a Pedagogia Multirracial e Popular. Nº. 8- dezembro de 2002 – Florianópolis – SC.

fundamental na vida de todo ser humano, sendo assim a escola deve falar da multiplicidade que compõe o ser humano, trata-se de entender quem somos, de onde somos, por que somos assim e o que isso representa na relação com os outros seres humanos.

Marc Ferro (1983)37 afirma com muita veemência que “a imagem que fazemos de outros povos, e de nós mesmos, está associada à história que nos ensinaram quando éramos criança”, segundo o historiador, essa história ensinada desde cedo “nos marca para o resto da vida”. Ficando claro, portanto, que a forma como a sociedade brasileira pensa o negro e o índio em nosso país está relacionado com a nossa própria prática de ensino, como ensinamos nossos discentes. Como se pode observar na imagem que foi reproduzida por muitos anos nos livros didáticos, sempre colocando o negro na posição de inferioridade. Sendo que o ponto de partida quando se fala do negro, não é o negro enquanto sujeito histórico, que construiu sua história na sociedade, mas o negro enquanto mão-de-obra, um negro inferior ao branco, submisso, sem cultura, violento.

Imagem retirada do blog que fez um estudo sobre as representações do negro no livro didático: amigodahistoria.blogspot.com

A abordagem ao personagem indígena no livro didático, em um contexto geral ocorre como um integrante de uma cultura do passado, ultrapassada e com traços de barbárie. Muito raramente encontramos menção à sua importância na formação da nação brasileira. Uma abordagem preconceituosa, estereotipada e carregada de etnocentrismo está bastante explícita na grande maioria dos livros que se referem ao índio brasileiro. Colocando os índios como selvagens, sem cultura, um povo sem fé, que foram educados e cristianizados pelos portugueses, como na imagem abaixo:

Imagem retirada do blog itamarfo.blogspot.com

Pensando dessa forma, a escola deveria contribuir para que a identidade fosse construída também nesse espaço, bem como os princípios constitucionais de igualdade fossem viabilizados, mediante ações em que a escola trabalhe como questões da diversidade cultural, indicando a necessidade de se conhecer e considerar a cultura dos diversos grupos étnicos.

2.2 – O que mudou no ensino de História com o advento das Leis 10.639/03 e 11.645/08.

Com o advento das leis 10.639/03 e 11.645/08, vimos que o Ministério da educação buscou aprimorar e melhorar o ensino de História nas escolas. Dessa maneira, foi criada uma coletânea sobre a história da África, que foi distribuída nas escolas brasileiras, para tratar das questões étnico-raciais. Entretanto o MEC não criou uma coletânea sobre a história dos povos indígenas no Brasil, por que será? Será que o MEC não reconhece os indígenas enquanto uma etnia? Ou será que os índios não merecem ser reconhecidos? Percebe-se que há um descompasso no enfrentamento destas questões, isso deixa a Educação étnico-racial bastante fragmentada, por não tratar na mesma proporção de uns e de outros.

Conforme, a importância da África para o Brasil vai além da óbvia contribuição para a formação da nossa demografia. É necessário destacar que aquilo que hoje chamamos de cultura brasileira possui uma nítida influência de elementos de origem africana. Então por que apesar de toda a importância da cultura africana a sua história é deixada de lado em nossas escolas? Em nossos Livros didáticos? A resposta é mais complexa do que se possa imaginar,

pois envolve o racismo presente na sociedade brasileira. E foi justamente no sentido de amenizar os problemas provocados pelo racismo que se tornou obrigatório o ensino da história africana, através da lei 10.639/03, que estabelece:

Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira.

§ 1o O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil.

§ 2o Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasileira serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História Brasileiras. (LEI Nº 10.639, DE 9 DE JANEIRO DE 2003).

Entretanto, a lei por si só não é suficiente para que a prática seja alterada, é necessário que o governo invista na educação, na capacitação de professores com relação à temática, bem como invista em livros didáticos que estejam de acordo com os conteúdos a serem trabalhados em sala de aula sobre a História da África e dos Afrodescendentes, não basta ter a lei, tem que haver também a efetivação dessa lei.

Da mesma forma que a lei 11.645/08:

Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo da história e cultura afro- brasileira e indígena.

§ 1o O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil.

§ 2o Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos povos indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de educação artística e de literatura e história brasileiras. (LEI Nº 11.645, DE 10 DE MARÇO DE 2008).

Após as leis, percebe-se que muitas mudanças ocorreram e ainda irão ocorrer nas escolas brasileiras, especificamente no ensino de História, entretanto as mudanças que foram observadas ainda não são satisfatórias comparadas ao tempo em que essas leis foram sancionadas.

Sendo que, a partir da promulgação das leis, elas não devem apenas existir no papel, tem-se que cobrar o ensino de História da África, e o ensino indígena, reformulando as ideias e as representatividades destes povos na cultura e na História. Na qual o 19 de abril não seja

mais um dia em que todos se pintem e dancem o toré na sala de aula, nem que os negros sejam lembrados somente no dia 20 de novembro. Mas que eles estejam presentes diariamente nos conteúdos escolares, onde os alunos possam reconhecer as culturas destes povos, fazendo relação entre o que eram no passado e o que são no presente.

Dessa maneira, o que se pôde observar de positivo após a promulgação dessas leis, é que elas estão abrindo o espaço para que o negro e o índio sejam incluídos nas propostas curriculares como sujeito histórico. Além de vir reconhecer a existência do afro-brasileiro ou afrodescendentes e seus ancestrais, sua trajetória na vida brasileira e na condição de sujeitos que contribuíram para a construção da sociedade. Sendo que ainda é preciso inserir com mais precisão no currículo escolar e modificar os conteúdos hegemônicos de cunho eurocêntrico que estão contidas no sistema escolar, para obter um resultado desejável de respeito às diferentes culturas no processo de ensino e de aprendizagem.

É nítido que nos últimos anos, o tema vem ganhando grande proporção, isso é constatado pela proliferação dos cursos de formação de professores como é o caso da Universidade Federal de Alagoas - Campus do Sertão, que já oferta curso de especialização nesta temática, além de produção de material didático, elaboração de uma literatura mais próxima da realidade dos alunos. Além das Universidades que são as formadoras de professores que tem dado maior atenção a História da África, mas ainda deixa a desejar com relação à história indígena. Bem como também, ainda existem profissionais que ainda não estão totalmente adaptados ao tema, e consequentemente reforçam mesmo sem querer estereótipos e mostrando um conhecimento ainda precário no que diz respeito à história da África e Cultura Afro-brasileira, e a história indígena. Entendemos que essa nova legislação institui uma obrigatoriedade que, embora com temática antiga, apresenta novidades aos currículos escolares. Formados durante décadas sob concepções eurocêntricas, professores em atuação na Educação Básica retornam às Universidades em diferentes situações formativas, movidos pela necessidade de aprendizagem e debate de temas que não orientaram sua formação inicial e também não estiveram presentes em sua atuação profissional nos últimos anos.

O ensino de história experimenta o impacto dessa nova orientação curricular, recaindo sobre ela o dever de revelar a história dos povos que estiveram esquecidos. E esse impacto força o ensino, a pesquisa e a extensão que devem estar nas agendas de todo processo formativo. Sendo que:

O ofício do historiador habilita-nos à compreensão e análise da humanidade em sua trajetória no tempo. Isto não pode ocorrer apenas por adoração às pesquisas ou ao poder de contar histórias. Voltar ao passado apenas por erudição ou curiosidade não é a nossa tarefa. O passado comunica o presente, o presente dialoga com o passado. Só assim nossa árdua função se recobre de significados e de sentidos. (OLIVA, 2003, p. 423)

Sendo assim, o ensino de História do Brasil não pode esquecer dá memória e dá história aos seus povos formadores, pois embora o ensino de História venha passando por profundas transformações, a mesma parece não ter atingindo de forma significativa o estudo da História dos negros e índios, sendo que:

É tarefa da escola fazer com que a História seja contada a mais vozes, para que o futuro seja escrito a mais mãos. É necessário romper o silêncio a que foram relegados negros, índios na historiografia brasileira, para que possam construir uma imagem positiva de si mesmos. (SANTOS, 2001, p.107).38

Dessa maneira, devemos ficar atentos aos pontos cruciais desse processo que merece bastante atenção, como é o caso do livro didático, pois este:

[...] é um importante veículo portador de um sistema de valores, de uma ideologia, de uma cultura. Várias pesquisas demonstram como textos e ilustrações de obras didáticas transmitem estereótipos e valores dos grupos dominantes, generalizando temas como família, criança, etnia, de acordo com preceitos da sociedade branca [...] (BITTENCOURT, 1997, P.72) Considerando que o livro didático é parte intrínseca da práxis educacional do docente brasileiro, e que em muitos casos ele acaba sendo a única ferramenta de apoio disponível para o professor, seria de se esperar que os livros didáticos editados no período pós-2003 estivessem completamente adequados ao que ordena a lei 10.639/2003. Mas nem sempre é o que acontece da mesma forma que os livros pós-2008. Sendo que o que se pode observar é que os livros ainda trazem nas suas abordagens alguns tipos de preconceitos, estereótipos.

Podendo assim, também considerar as reações diversas no contexto escolar contemporâneo a essa introdução nos currículos das dimensões da história e da cultura afro- brasileiras. Uma das mais fortes tensões deste período pode ser visualizada por meio da negativa de comunidades de pais e responsáveis, que se posicionam contrárias à introdução de conteúdos da história e da cultura africanas e afro-brasileiras nos currículos escolares. Motivadas por pressupostos morais e religiosos, essas comunidades expressam receio de que crianças e jovens estejam expostos a proselitismo religioso ao estudarem ou entrarem em contato com manifestações tradicionais africanas e afro-brasileiras. Como na reportagem na página seguinte:

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SANTOS, Isabel Aparecida dos. A responsabilidade da Escola na eliminação do preconceito racial: alguns caminhos. In: CAVALLEIRO, Eliane (org.) Racismo e Anti- racismo na Educação: repensando a nossa Escola. São Paulo: Summus, 2001.p 97-112

Site: http://acritica.uol.com.br/noticias/Amazonas-Manaus-Cotidiano-Polemica-alunos-professores-trabalho-escolar-afro- brasileiro-evangelicos-satanismo-homossexualismo-espiritismo_0_808119201.html

O protesto aconteceu em Manaus Estado do Amapá no dia 10 de novembro de 2012, na qual um grupo de 13 alunos evangélicos do ensino médio da escola estadual Senador João Bosco Ramos de Lima, se recusaram a fazer um trabalho sobre a cultura afro-brasileira, gerando assim polêmica entre os grupos representativos étnicos culturais do Amazonas. Os estudantes se negaram a defender o projeto interdisciplinar sobre a ‘Preservação da Identidade Étnico-Cultural brasileira’ por entenderem que o trabalho faz apologia ao “satanismo e ao homossexualismo”, proposta que contraria as crenças deles. Percebendo assim, que o tema ainda gera grande negativa por parte da população que não conhecem a temática.

Dessa maneira, podemos perceber que os estudos sobre a África, e a cultura afro- brasileira, embora já possua uma década, ainda atua de forma tímida, pois, mesmo com toda modificação na legislação, necessita-se muito mais de mudanças do olhar da população e principalmente do professor sobre a questão. Valendo ressaltar que a implantação das leis não é apenas uma tentativa de incluir a cultura desses povos numa sociedade que há muito tempo os exclui, mas o objetivo é estabelecer no processo educativo as heranças culturais e a diversidade étnica da cultura brasileira, propiciando os princípios de dignidade, e do respeito mútuo.

E que para uma abordagem mais contextualizada, o livro poderia trazer nas aplicações práticas reflexões sobre a importância do índio e do negro para a construção da nação brasileira, noções de estética e beleza valorizando as particularidades desses povos, e em uma parte específica poderia trabalhar esses personagens nos dias de hoje, suas lutas,

movimentos de afirmação, e contribuição das culturas indígena e negra para a cultura brasileira atual, dando à mesma a devida importância. Isso expressaria uma educação realmente contextualizada e democrática.

Consideramos então, que está em curso uma reconsideração da história do Brasil, por meio do Ensino de História, o que vem forçando à superação de abordagens da história e da cultura afro-brasileiras nas escolas, especialmente aquelas marcadas pela violência e sub- representação. Essa positivação envolve, nesse contexto, tanto a afirmação do dever de memória convocado por populações e culturas sub-representadas ou silenciadas, quanto o direito à história por meio de um ensino de história renovado. Trata-se de uma reconfiguração do passado histórico forçada pela agenda contemporânea, com efeitos de memória e de história no tempo presente. Esse movimento de positivação pode gerar, na ação pedagógica, efeitos significativos para elevação da autoestima de estudantes negros e índios. O dever de memória não poderá impedir o direito à história. O direito à história, com todas as faces dessa história que envolveu lutas, resistências, submissões e violências, como coloca João José Reis (1993), que “enquanto o negro brasileiro não tiver acesso ao conhecimento da história de si próprio, a escravidão cultural se manterá no País” (p. 189)39

, da mesma forma serve para os índios. Enquanto todos os seres humanos, não buscarem conhecer a história dos seus antepassados, dos seus povos, suas etnias e culturas, viverão ausentes na história, sendo mantidos no esquecimento da sociedade.

Em suma, podemos perceber que toda sociedade tem, em seu interior, os seus personagens esquecidos, aqueles aos quais se nega o direito à história. Assim, quando se tem

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