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Capitulo IV Uma criação própria.

III COMO É CRESCER SOZINHAS?

Narrador – Essa é uma casa humilde no campo. Deste lado, onde Lucy e Carolina estão sentadas, fica a sala de jantar. Do outro lado, a cozinha, do outro lado estão os quartos, são dois. Esta casa tem apenas um banheiro. Este enorme corredor conecta todos os espaços da casa. Se vocês olharem bem, vão perceber que só há o verde da natureza por todos os lados. Deste lado há algumas plantações de batata e outros tubérculos. Esse som é dos animais da casa, as galinhas, os dois porcos e as três vacas. Lucy - Carolina, todos os dias esta louça suja aqui.

Carolina - Não tive tempo de lavar ontem.

Lucy - Você esquece tudo. Aí tenho que fazer o que você não faz. Carolina - Você não precisa fazer tudo. Você faz isso porque quer. Lucy - Esta casa é muito grande.

Carolina - Para nós duas, sim.

Lucy - Já pensou em voltar a estudar? Carolina - Para quê?

Lucy – Para quê? Para conseguir um emprego melhor. Para não colher batata a vida inteira. Carolina - E você não pensou em estudar?

Lucy - Eu já te disse que se você estudar eu vou cuidar de tudo na casa, de tudo. Carolina - Eu não quero estudar.

Lucy - Você não puxou nada da minha mãe, nem a vontade de estudar, nem a vontade de trabalhar.

Carolina - Felizmente. Lucy - (...)

Carolina - Eu aprendi tudo sozinha.

Lucy – Não consigo te ensinar mais nada. Você é muito jovem. Por que você não procura outras coisas para fazer? Quer ficar aqui a vida toda?

Carolina - Por que não? Lucy - E por que sim?

Narrador - Lucy e Carolina acordam todos os dias às quatro da manhã, ordenham as vacas, alimentam os porcos e galinhas e, a partir desse momento, começam a coletar e a semear o que precisam, dependendo da colheita que elas querem ter e da estação, é claro.

Carolina - Eu não me importaria de ficar aqui.

Lucy - No fundo, se importa e muito. Você não é feliz Carolina. Carolina - E você?

Lucy - Eu tento. Sempre foi difícil. Carolina - Eu sei. Estamos nisso juntas. Lucy - Acompanhadas seria mais fácil. Carolina - Estamos juntas pelo menos. IV VESTIDO NOVO

(Um cômodo pequeno e humilde, com um excesso de coisas juntas, porcelanas, pinturas, flores artificiais e objetos inúteis. Soledad abre uma sacola, desembrulha um vestido vermelho, sapatos da mesma cor e um xale cor de ouro. Começa a tirar as roupas que está vestindo e veste-se com as roupas que acabou de tirar da sacola).

Narrador - Esta é Soledad, tem 35 anos, há três morando nessa cidade. Esta é a sua casa. Você se lembra qual foi o último momento de felicidade que teve nos últimos dias? Obviamente, que não tenha a ver com o sorriso de seus filhos ou com um cachorro correndo livremente no parque ou com acordar e ver seu parceiro ao lado. Quero dizer, você se lembra do último momento de verdadeira felicidade? Não a resposta socialmente correta. Quero dizer, por exemplo, ganhar o emprego de alguém com quem você competiu, ou que roubaram a pessoa que estava ao seu lado e não você, ou que o político que você odeia ficou doente (...) ou morreu, para ser mais honesto. Ou quando você falou para sua tia mais religiosa que não vai na igreja porque não acredita, ou quando viu seu ex com uma mulher ou homem que é obviamente mais feio ou mais feia do que você. Essa felicidade. Felicidade real. Você se lembra? Esse sentimento é a coisa mais próxima do que Soledad sente neste momento. (Soledad termina de se vestir, fica em frente ao espelho, sorri, começa a aplicar maquiagem, faz gestos e poses ridículas).

Soledad - Sou outra pessoa. Esse vestido é tão (...) sofisticado. Eu sempre quis um vestido vermelho. Fica bem em mim, muda meu rosto. Fica bem em mim, me faz parecer mais elegante. Fica bem em mim? Não?

Narrador – Fica bem nela, certo? Faz um mês que Soledad conseguiu um novo emprego, diferente de todos os que tinha antes. Com seu primeiro salário, ela comprou esse vestido, esses sapatos e esse xale. (Narrador se aproxima de um rádio antigo, liga, está tocando um bolero, Soledad dança.) Soledad, fica bem em você. Soledad - A vida está me mudando, pouco a pouco, está me mudando. Eu sabia que em algum momento isso aconteceria. Quem imaginou que eu poderia usar um vestido assim? Estava condenada a usar botas e saias longas. Não é assim?

Narrador - É assim. Os negócios de Soledad são as vendas, ela vendeu caudas de frango em uma churrascaria de bairro, canetas nos parques, doces nos ônibus, alimentos para animais, seguros funerários, perfumes que não eram originais, arroz doce nos semáforos, sorvete nas ruas. Vendas, os negócios de Soledad são as vendas. Soledad - As mulheres ficam preguiçosas quando estudam! Quantas vezes eu ouvi isso? Isso não vai acontecer novamente. É possível estudar, trabalhar, mudar a vida, simplesmente mudar a vida. Este sorriso não é tirado de mim por ninguém.

Narrador – Na cidade em que você morava podia ir para a igreja nos domingos uma hora de manhã. Não era assim Soledad? Soledad - Era assim. Este vestido é lindo, eu pareço alta, não parece que sou (...) de um povoado do interior. Quando as pessoas da cidade percebem que alguém é do campo, humilham, ofendem, fecham a porta e tiram sarro do sotaque. Com o tempo, não vou me reconhecer. Ninguém vai me reconhecer.

(O Narrador aumenta o volume do rádio e a voz de Soledad se perde no meio da música). Soledad - Ricardo, esse era o nome do menino que me deixava margaridas todos os dias, na entrada da casa. Mesmo quando chovia, ele deixava na porta. Ele era como eu, não estava acostumado com essa vida. Ele nunca se acostumou. Eu nunca mais o vi. Talvez esteja perto, talvez ele tenha escapado para a cidade, como eu, como todos queríamos fazer. (O narrador abaixa o volume do rádio). Eu chegava na escola assim (imitando). Eu caminhava até o centro da sala, para que todos soubessem que eu havia chegado, depois eu ia para o meu lugar, me sentava, pegava meus cadernos. Sempre fui a única que fazia todas as tarefas, aquela com a letra mais bonita, aquela que tinha o melhor penteado, como agora. Foi bom para alguma coisa? (…) Que horas são?

Narrador - Duas e quinze. Soledad - Duas e quinze, estou atrasada, tenho um turno às três. (Rapidamente ela tira a roupa e coloca de volta o que estava vestido. Limpa a maquiagem. Sai).

Narrador - Comprar coisas nos faz esquecer a vida real. É um truque antigo, mas funciona. Pensar que não pertencemos ao lugar de onde viemos nos faz acreditar que somos melhores e odiar o que éramos, e nos faz acreditar que não somos mais isso. V CHEGANDO À CIDADE

A cena seguinte e seus respectivos quadros ocorrem alternadamente (não em paralelo). De um lado Lucy e Carolina e do outro Soledad.

Carolina e Lucy estão na sala de estar da casa, guardando as roupas em uma mala. Carolina - Que horas vamos embora?

Lucy - Nós tínhamos dito 9 da manhã.

Narrador - Carolina e Lucy vão viajar (do campo) para a cidade, para procurar uma vida melhor, procurar a companhia que necessitam. Carolina - Temos certeza, certo?

Lucy – Eu sim. E você? Carolina - Eu tenho medo. Lucy - É normal.

Carolina - E se não encontrarmos nada? E se a cidade não for o que pensamos? Lucy – Voltamos de novo, não pense nisso.

Carolina - Vamos tentar.

Lucy - Eu quero saber o que ela faz, onde trabalha, como é a vida dela. Você não está curiosa?

Carolina - É por isso que viajamos, não? Para buscar. Lucy - Minha mala está pronta!

Narrador - (Soledad pode ser vista durante a descrição do Narrador). Esta aqui é Soledad. Este é o dia em que ela chegou à cidade pela primeira vez, era 3 de agosto. Carrega apenas a mala que vocês vêm, não tem mais nada. Ela nunca veio à cidade. Ela conhece apenas o campo. Tem 30 anos. Não sabe que essas placas indicam os endereços das ruas, não sabe que

existem sinais para que as pessoas se localizem na cidade. Essa cara de surpresa e felicidade é porque não sabe que existem os edifícios. Ela nunca viu uma rua com tantas pessoas andando. É óbvio, pois é um dia de semana, todos trabalham. Não sabe onde vai passar a noite, não sabe no que trabalhará. De fato ela não sabe onde está. Caminhou por dias para chegar na capital. A emoção era tão grande que por enquanto não se importava com o futuro. Estava na cidade. ---

Lucy e Carolina estão na rodoviária, cada uma com uma mala. Ao seu redor há dezenas de pessoas caminhando em direções diferentes.

Lucy - Diz aqui que o ônibus sai em uma hora. Carolina - Saída 7, diz.

Lucy - Qual é a saída 7?

Carolina - Em algum lugar deve estar indicado.

Lucy - Essa senhora deve saber. Com licença senhora, você poderia (...) (A senhora a ignora)

Carolina - É melhor perguntar a um vendedor. Lucy - Espere aqui, não se mexa.

(Lucy sai e Carolina fica onde está, olhando surpresa as pessoas que caminham ao redor). ---

Soledad - Com licença, senhor, você pode me dizer (...) Senhora, meu nome é Soledad, estou procurando (...) Boa tarde, você poderia me dizer (...) O nome desta rua é (...) Senhorita, se eu precisar a (...) Normalmente as pessoas (...) Olha, eu venho de um lugar chamado (...) Onde eu poderia? (...) ---

Carolina - Pensei que não voltaria.

Lucy - Não conseguia encontrar o caminho de volta, este lugar é muito grande. A entrada 7 é daquele lado.

Lucy - Já compramos a passagem. Não vamos nos separar. Carolina - Fiquei aqui sozinha por mais de duas horas.

Lucy - Não exagere, além disso já lhe falei que me perdi. Vamos aprendendo aos poucos. Venha. Como você imagina a cidade grande? Será que é como todo mundo diz, que não é possível andar tranquila e que as pessoas não se importam umas com as outras?

Carolina - Eu acho deve ser melhor que a nossa cidadezinha.

Lucy – Você não diz que ama essa cidade, dá pra ver que é uma mentirosa, uma bochechuda mentirosa.

Carolina - Eu não sou tão bochechuda. Lucy – Tão.

---

Narrador - (Soledad pode ser vista durante a descrição do Narrador). Depois de quase oito horas, Soledad obteve informações para encontrar um lugar para ficar. Não entendia muito bem como o sistema de transporte funcionava, preferiu andar. Depois disso vieram as lágrimas, a nostalgia e o medo. Depois de um dia inteiro de busca, encontrou uma pousada. Este é o quarto onde passou a primeira noite na cidade. Já tinha uma casa, agora tinha que encontrar um emprego. Soledad não sabia que tinha que fazer tanta documentação para começar a trabalhar. Preferiu procurar empregos informais, como vendas. Com as vendas, conheceu a cidade. Andava por essas ruas várias vezes por dia, de cima para baixo. ---

Lucy e Carolina estão no ônibus que as levará à cidade. Olham tudo pela janela. Carolina - Pensei que fosse mais perto.

Lucy - Eu também.

Carolina - E se já passamos do lugar?

Lucy – O vendedor disse que o ônibus estaciona em um ponto e o motorista vai nos avisar que chegamos. Por enquanto ele não disse nada, estou atenta.

Carolina - Por onde vamos começar?

Lucy - Vamos perguntar nos lugares que os vizinhos que a viram nos disseram. Eu escrevi tudo neste papel. Eles têm que nos dar algumas informações.

Carolina - Saímos do interior Lucy, saímos. ---

Narrador - Foi em 5 de outubro que Soledad ganhou a maior quantia que já ganhou nas suas vendas. Soledad - Vamos comprar vinho, sim vinho, eu mereço uma garrafa, pelo menos um copo. Narrador - (Vemos Soledad em paralelo enquanto o Narrador fala). Depois das vendas veio

este emprego, um emprego completo, como disseram para ela. De manhã, tinha que lavar essas cabines que vocês vêm aqui, onde homens, como estes, vão para assistir pornografia ou fazer sexo. Soledad tinha que deixá-las brilhantes. À tarde tinha que ficar naquela esquina para cuidar das prostitutas da rua, sem que ninguém suspeitasse, e se algo acontecesse imediatamente ela avisaria. E à noite tinha que servir mesas neste bar, até o último bêbado ir embora. É um trabalho completo, como disseram para ela. Dormir? Sim, 3 horas por dia, dormia ali, nas cabines, fazia parte do pagamento. Depois vieram outros empregos, outras coisas. Soledad - Estou na cidade! Eu estou na cidade! ---

(Lucy e Carolina descem do ônibus. Estão na rodoviária da cidade. Perplexas, olham em todas as direções. Andam e observam tudo o que está ao redor).

Carolina - Esta Rodoviária é muito maior que a do nosso povoado.

Lucy - Claro, é uma cidade. Assim tem que ser todas, porque deve ter várias, certo?

Carolina - Isso é muito bonito, tudo tem luz (...) as pessoas se vestem de forma diferente (...) E agora? Como chegamos ao primeiro endereço?

Lucy - Primeiro vamos encontrar um lugar para ficar, está escurecendo. Carolina - Lucy.

Lucy - O que houve?

Carolina - Lucy, as malas? As malas Lucy?

Lucy - Merda, as malas. Vamos voltar, ficaram no ônibus. Corre Carolina.

(Correm pela mesma direção de onde vieram. Enquanto correm, se empurram e riem alto.). Carolina – Tem que comprar roupas para mim.

---

Narrador - Soledad estava na cidade. Ela só bebeu um pouco. Soledad - As ruas escuras e frias. Meus olhos brilhando pelas luzes da cidade e pela felicidade de estar aqui. Construção.

Garçonete. Lavadora de carros. A Casa da Jiménez com quarta. As bebidas que tomamos no Natal com os vizinhos

A intoxicação com a comida estragada. Os cuidado de Ivan, seu amor. Vendedora de roupas. Cuidadora de idosos. Cuidadora de carros nas ruas. Baratas no telhado. Quando eu caí na rua e meu braço quebrou. Os Parques de diversões. Quando conheci Dona Rosa, ela me deixou ficar na casa dela.

Os sapatos novos.

O vallenato66 no meu segundo aniversário nesta cidade.

Os olhares de nojo quando eu não conseguia tomar banho. Os espancamentos.

O amor. Os bolos e as padarias. Os espancamentos. O vento que sopra forte e despenteia de felicidade. O medo. O cinema. Os espancamentos. Os prédios enormes e brilhantes. O barulho. Os sabores do sorvete.

As batidas. O sol picante do meio-dia. O medo de ser mãe. O pão quente das cinco da manhã. 66 Vallenato é um gênero musical da região do Caribe da Colômbia

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(Lucy e Carolina estão no centro da cidade. Não levam suas malas. Olham-se, olham ao redor. Barulho ensurdecedor da cidade grande: carros, vozes e buzinas).

Carolina - Estamos perdidas. Como foi que a gente esqueceu as malas? (...) Porque estávamos rindo da mulher do lado.

(Ruído ensurdecedor da cidade: carros, vozes, buzinas).

Lucy - É que a maquiagem dela estava muito estranha, não tinha sobrancelha (elas riem). Acho que estamos perdidas, certo Carolina?

Carolina – Não! Nós vamos encontrá-la. Estamos na cidade, Lucy! Eu quero ver tudo, exceto as sobrancelhas daquela mulher novamente.

Lucy - Eu acho que elas escorrem quando chove. VI. PROCURANDO ELA.

Lucy e Carolina estão em frente à porta de uma casa na cidade. Lucy – Bate aí e a gente pergunta.

(Carolina bate na porta. Uma mulher mais velha abre a porta e as cumprimenta).

Carolina - (Com uma foto na mão) Bom dia, olha, eu sou Carolina, ela é minha irmã Lucy. Estamos procurando a mulher desta foto (...) Nosso tio Gracio nos contou que tinha ouvido falar dela anos atrás e estamos procurando ela. É muito urgente.

(A mulher olha para a foto e pensa).

Mulher - Deixa eu ver (...) sim, sim, é a Lola (...) a gente costumava chamá-la assim. Ele era tão doce, tão inocente, chegou na cidade muito perdida, sem malas, porque tudo lhe foi roubado.

Lucy - Sim senhora, mas (...)

Mulher - Ela trabalhou em tudo, em qualquer coisa. Ela era uma mulher muito nobre, ela gostava desta cidade.

Carolina - Senhora e ela vinha (...)? Como é o seu nome? Mulher - Ana.

Ana - Mas ela não mora mais aqui. Ela saiu há muito tempo, era uma gracinha a Lola. Saiu porque a pensão tinha muitos ratos. O dono da casa pulverizou, mas não conseguiu que saíssem. Ela tá jovem nesta foto. Ainda temos ratos, veja.

Lucy – Olha senhora ... Ana, é muito urgente encontrá-la. Você sabe alguma coisa sobre ela? Carolina - Qualquer coisa.

Lucy - Qualquer coisa que você lembre. É importante.

Ana – Olha, o Mario que mora lá atrás disse uma vez que a encontrou. Que ela trabalhava vendendo roupas, que conversaram e que ela estava bem. Mas isso foi anos atrás.

Carolina - Não importa. Você se lembra em que lugar ele a encontrou?

Ana - Ele disse, sim, ele disse que era um armazém no centro. Como era o nome? (...) O econômico? O continental? A bugiganga? Não, não, o Sortidíssimo, acho que foi esse. Se for o Sortidíssimo, é aquele grande que está no final de uma rua da cidade.

Lucy - Você pode nos dizer onde é? Como chegar lá? É que não sabemos muito, não somos daqui.

Ana - Sim, olha, não é longe daqui não, é no centro. É um grande armazém que fica do lado do monumento do libertador. Vai ser fácil encontrar porque são só três quarteirões daqui. Ele tem o nome em letras grandes então é fácil pra enxergar.

Carolina - Podemos ir andando?

Ana - Sim, veja, vocês descem por aqui por uns cinco quarteirões e depois virem à direita cerca de três quarteirões. Quando vocês estiverem lá, perguntem. Qualquer um sabe.

Lucy – Obrigada, senhora Ana. Agradecemos muito.

Ana - Não, de nada, quando encontrar a Lola, falem para ela vir aqui qualquer dia.

(Lucy e Carolina chegam ao armazém que Ana indicou, perguntam para várias empregadas do lugar, e finalmente uma de elas responde).

Empregada - Eu já lhe disse que ela não trabalha mais aqui, ficou apenas alguns dias e foi embora porque não conseguia chegar a tempo. Além disso, tinha muitos problemas com os empregados. Eu acho que é por isso que ninguém se lembra dela. Eu a ajudei ao máximo que pude, mas, enfim, ela era uma mulher do campo.

Lucy - Mas você sabe mais alguma coisa dela?

Empregada - Eu sei que naquela época ela morava em uma casa que ficava no sul da cidade, uma pousada. Acho que essas informações devem estar nas referências que ela deixou aqui. Lucy - E você pode nos dar essas informações?

Empregada - São informações da empresa, não podem ser fornecidas para qualquer pessoa. Carolina - Mas nós não somos qualquer pessoa.

Lucy - Senhora, veja, o que acontece é que estamos procurando nossa mãe há muitos dias e não temos muitas pistas.

Empregada - Sua mãe? Ela não disse que tinha filhas.

Carolina - Nos perdemos quando crianças e nunca mais nos encontramos. Empregada - E só agora vocês estão procurando ela?

Lucy - Nós sempre a procuramos, o que acontece é que só agora temos informações. Carolina - Por favor, nos ajude.

Lucy - Não sabemos mais onde procurar ela.

Empregada - Bem, fale mais baixo, espere um momento. VII VIDAS CRUZADAS.

(Os quadros a seguir ocorrem em paralelo, mas não necessariamente de maneira simultânea).

Narrador - Hoje é 11 de dezembro, daqui deste lado estão Carolina e Lucy. Aqui deste lado está Soledad no mesmo dia 11 de dezembro, mas há 15 anos. É o mesmo lugar de antes e depois. Soledad estava procurando uma casa na época, e decidiu perguntar nesta pousada, onde agora Carolina e Lucy batem à porta. Lucy - (batendo na porta várias vezes) Olá, tem alguém?

Voz de fundo – Só um momento por favor. (Um homem abre a porta)

Homem - Boa tarde.

Carolina - Boa tarde senhor, desculpe incomodá-lo, é que estamos procurando uma pessoa. Lucy, mostra a foto para ele.

(Lucy mostra a foto para ele).

Lucy - Olha, estamos procurando esta pessoa (...) essa foto é antiga, é verdade, mas não deve ter mudado muito. Nós procuramos essa pessoa faz tempo e nos disseram que ela morava aqui há alguns anos.

(O homem olha a foto detalhadamente, observa. Um sorriso é desenhado em seu rosto, e seus olhos se iluminam).

Narrador – Que se ele a conhece? Sim, conhece. Ele sabe dela com detalhes. Homem - Quem são vocês? Por que vocês estão procurando a Lupe?

Lucy - Lupe?

Homem - Sim Lupe, eu sei que o nome dela era Lola, mas eu sempre preferi chamar ela de Lupe. Por que vocês estão procurando ela?

Carolina - Bem, ela, ela é uma parente muito próxima de nossa mãe e ela tem vontade de vê- la porque está muito doente – nos enviou para procurá-la. O problema é que tem sido mais difícil do que pensamos.

Lucy - Você pode nos ajudar a encontrá-la? Homem - Eu não sei nada dela.

Lucy – Alguma informação, alguma coisa.

Homem - Lupe viveu aqui há muitos anos. Muitos. Eu mesmo abri a porta e recebi ela nesta casa.

Carolina - Você sabe para onde ela foi?

Homem - Não, não, eu não sei. Ela nunca me disse. Ela saiu sem dizer nada. Carolina - Talvez se lembre de algo, o que for.

Lucy - Um telefone, um endereço?

Homem - Ela nunca me disse nada. Nem percebi que horas saiu.

Carolina - Você sabe se alguém em casa que se lembra de alguma coisa? Você sabe por que ela foi embora?

Homem - (...)

Carolina - Senhor? Está bem?

Lucy - Com licença, senhor, só queremos encontrá-la, é isso. Homem - Não me sinto muito bem, é isso.

---

Narrador - Isso foi há 15 anos. Exatamente há 15 anos, Soledad bateu nesta porta. Este homem, Iván, abriu, eles se cumprimentaram, trocaram ideias por algum tempo e tornaram-se

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