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iii. Da Aplicação do Modelo aos Casos Benchmark

PARTE V. Dos Resultados da Aplicação da MCDA no CADE

V. iii. Da Aplicação do Modelo aos Casos Benchmark

De maneira análoga às considerações dos servidores, reproduzimos o gráfico produzido pelo HiView3 com as pontuações finais:

Gráfico 6 – Resultado – Casos Benchmark

Fonte: Elaboração própria.

Após a obtenção das alíquotas de punição decorrentes da aplicação do modelo, mister construir tabela relacionando a condenação de facto com a condenação resultante do modelo.

Ressaltamos que os casos aqui relacionados foram punidos com base na lei antiga, logo, o teto legal é de 30% e não 20%. Basta um pequeno ajuste na regra de três, qual seja a substituição de 20%

para 30%, para obtermos um resultado compatível, senão, vejamos:

Tabela 8 –Comparativo – Casos Benchmark

Vitaminas GLP Mineradoras Gases Peróxidos Cimento252 Condenação

Real

20% 1% 22,5% 25% 30% [15 a 20]%

Alíquota Resultante253

27,45% 15,64% 20,11% 22,98% 25,21% 19,15%

Fonte: Elaboração própria.

O cartel das vitaminas, de acordo com o modelo, merecia uma punição perto do teto legal.

De fato, consideramos, ainda mais ante as punições dos cartéis das Mineradoras, dos gases e dos peróxidos, que 20% foi uma punição extremamente baixa. Ao analisarmos os gráficos do modelo, podemos perceber que o fator impeditivo de atribuição máxima da pontuação, ou ao menos perto do limite, foi a duração do cartel, reduzida em comparação aos cartéis mais duráveis que conhecemos.

Sob esse prisma, reconhecemos que o cartel de vitaminas foi um cartel internacional, com participação de conglomerados internacionais de grandíssimo porte, com todos as características nefastas possíveis, exceto programa de compliance de fachada. Não obstante, o produto objeto do cartel é caríssimo à sociedade eis que objetivou vitaminas essenciais para a saúde pública.

Ressaltamos que, como ilustramos na “Parte III”, as condenações das multas finais pelas outras autoridades competitivas foram superiores à brasileira.

O cartel de distribuidoras de GLP não enseja muita discussão eis que a punição no mínimo legal para um cartel, independentemente de quantas atenuantes sejam verificadas, é completamente desarrazoada. Tanto que o guia de TCCs sugeriu o mínimo de 5% para cartéis em situações excepcionais e o mínimo de 12% para cartéis normais, isso em si considerando o máximo legal de 20%. Proporcionalmente, teríamos algo em torno de 8% em situações excepcionais e 18% para situações normais, em se considerando o teto legal da lei antiga.

Apesar do objeto deste cartel ser extremamente caro à sociedade, trata-se de uma delimitação geográfica estadual, sem verificação de liderança, com duração bem reduzida.

252 O Cartel do Cimento foi punido de acordo com a lei nova. Assim, o teto legal é de 20%

253Baseada na Pontuação Final HiView3, como no gráfico acima

Acreditamos que o patamar ensejado pelo modelo esteja dentro dos parâmetros que julgamos razoáveis.

O cartel das mineradoras teve seu percentual um pouco diminuído pelo modelo. Ao analisarmos o gráfico 6 e a tabela de pontuação 7, percebemos que o que faltou para uma pontuação final maior foi o porte econômico das empresas, que não são conglomerados internacionais ou empresas de grande porte, além de uma delimitação geográfica em apenas um município e duração reduzida do cartel.

O cartel dos gases, de maneira análoga, teve sua alíquota reduzida. O modelo nos diz que não chegou no máximo legal em decorrência da ausência de uma liderança pronunciada, delimitação geográfica internacional e uma duração alta, porém, não tão alta quanto o de cimento, por exemplo. Contudo, acreditamos que, talvez, ainda mais em se considerando o produto objeto do cartel, o percentual final devesse ser um pouco maior. Dessa forma, acreditamos que o quesito liderança acabou por ter um peso pouco maior do que talvez fosse o ideal, mas nada que prejudique nossa análise. É apenas algo a se ter em mente caso a proposta do modelo seja considerada pelo CADE como solução viável e aplicável, seria, portanto, um pequeno ajuste nas porcentagens.

O cartel dos peróxidos também apresentou uma diminuição da pena de multa. Isto, pois, a infração foi nacional, e não internacional, e não foi um cartel de duração extrema. De fato, ao comprarmos com os outros cartéis em análise, resta, no mínimo complicado considerar que ele pode ensejar uma punição maior do que o do cimento ou das vitaminas.

O cartel do cimento é um cartel extremamente importante. Foi a maior multa conjunta da história do CADE, além de um dos cartéis mais longevos já registrados. Acreditamos que o máximo legal de 94 pontos teria sido atingido caso a infração tivesse sido internacional e não nacional. O percentual final da condenação é de acesso restrito, sendo explicitada apenas a faixa de 15 a 20%.

Contudo, acreditamos, da leitura do voto público, que a real condenação esteja mais próxima dos 20%, senão nos próprios 20%. Afinal, melhor sorte não assiste na condenação de um cartel deste porte na mesma alíquota de um mero cartel de posto de combustível com duração inferior a 1 ano.

Por fim, traremos gráfico comparando os valores apresentados pelo modelo em vermelho e os valores de condenação em azul. Cumpre salientar que, em decorrência do cartel de cimento ter sido julgado pela lei nova, mudando-se o teto, faremos o ajuste de multiplicar os valores por 3/2.

Não é uma conversão perfeita, até porque assumimos a punição no teto legal, mas é o suficiente para a demonstração que o gráfico nos traz:

Gráfico 7 – Comparação - Casos Benchmark

Fonte: Elaboração própria.

É absurdamente claro o fato de que o modelo nos traz uma oscilação bem menor e mais palpável do que as decisões trouxeram. Mais importante que a oscilação, o modelo nos confere uma certe previsibilidade, sem retirar o caráter discricionário da conduta. Não obstante, o modelo impede absurdos, como a condenação do cartel das distribuidoras de GLP no piso legal. Por fim, é mais fácil verificar o entendimento do Conselho de, progressivamente, aumentar as penas de multas, tal como evidenciado na Parte IV.