• Nenhum resultado encontrado

CENÁRIO DE INVESTIGAÇÃO: CONTEXTO DE TERRAS E ÁGUAS

2.3 ILHA DE COTIJUBA

A ilha de Cotijuba pertence ao Distrito Administrativo de Outeiro (DAOUT) e também mantém interação direta com o Distrito Administrativo de Icoaraci (DAICO). Esta ilha situa-se à margem direita do estuário do rio Pará, rodeada pelas baías do Marajó e do Guajará e das ilhas de Jutuba e Paquetá. Possui uma extensão territorial de 15,94 km² (CODEM, 1997).

O deslocamento até a ilha de Cotijuba é por meio de embarcações. As pequenas embarcações, denominadas “pô-pô-pô”, fazem o transporte a Cotijuba e desta ilha para a sede do município de Belém e outras ilhas próximas (e vice-versa). Estas embarcações realizam esse transporte com mais intensidade. Outra embarcação que faz o trajeto Icoaraci/Cotijuba/Icoaraci é um navio, sob a responsabilidade da Secretaria de Transporte de Belém. O percurso entre a sede de

Belém e Cotijuba tem duração aproximadamente entre 40 e 60 minutos. As imagens a seguir ilustram essas embarcações:

Figura 3 – Pô-pô-pô

Fonte: Mariléia Trindade (2010)

Figura 4 – Navio da Secretaria de Transporte de Belém

Fonte: Mariléia Trindade (2010)

O caminho até Cotijuba revela cotidianos ribeirinhos de Belém, como mostram estas imagens:

Figura 5 – Casa e ribeirinhos (ilha Paquetá)

Fonte: Mariléia Trindade (2010)

Figura 6 – Casa e criança ribeirinha (ilha Jutuba)

Fonte: Mariléia Trindade (2010)

Os moradores de ilhas próximas a Cotijuba (Paquetá, Jutuba, Urubuoca) mantém um fluxo constante com este lugar. A educação escolar, por exemplo, é um dos motivos pelo qual ocorre esse trânsito, seja para cursar a educação infantil, o

ensino fundamental ou o Ensino Médio. Em Cotijuba, a educação infantil e o ensino fundamental são ofertados para moradores de Cotijuba e de ilhas próximas, por um Anexo do Centro de Referência em Educação Ambiental Escola Bosque Professor Eidorfe Moreira13. O ensino fundamental também é ofertado na EEEFM Profa. Marta da Conceição em Anexos desta escola. O Ensino Médio em Cotijuba ocorre somente na EEEFM Profa. Marta da Conceição. Algumas embarcações a serviço dessas escolas fazem o transporte dos alunos de outras ilhas para Cotijuba e o retorno desses alunos às suas moradias.

Existem registros históricos de Cotijuba desde o século XVIII. Nesse período foi construído nessa ilha um engenho de branqueamento de arroz, representando um dos nove engenhos do estado do Pará. A construção desse engenho indica:

[...] o antigo processo de antropização e utilização do solo para a agricultura na Ilha de Cotijuba. No sítio denominado Fazendinha, localizado na costa leste da Ilha, a estrutura do engenho ainda mantém-se preservada devido à dificuldade de acesso ao local e à vegetação local composta de manguezais e igapós (SILVA, 2003, p. 50).

A história da ilha também é permeada por interesses político-econômicos. Esse lugar era considerado um ponto estratégico para abastecer e resguardar a cidade de Belém de quaisquer ameaças. Tais interesses políticos e econômicos voltados para Cotijuba se destacam nos seguintes aspectos:

1) Inicialmente a ideia de interesse político econômico está presente desde 1784 com o Engenho Fazendinha, sendo enfatizado com o Barão do Marajó em 1895, ao apontar sua localização geográfica e sua condição natural, capaz de propiciar a interação homem e natureza, além de possuir solo fértil ao plantio. 2) [...] o ideário de estratégia político-militar, presente no século XIX, quando da presença de tropas militares sediadas na Ilha de Cotijuba no intuito de combater os cabanos, nos anos de 1835 e 1836, abrigados nas ilhas de Arapiranga e Tatuoca. 3) [...] a imagem de isolamento como forma de redenção, presente na literatura e na prática política sob a forma de Casas de Detenção de difícil acesso. Tal predicado não passou despercebido aos políticos paraenses, quando a Ilha passa a sediar uma Colônia Reformatória construída durante a primeira Interventoria de Magalhães Barata (1930-1935), destinada à recuperação de menores abandonados e delinquentes [...], é somente no Governo de Zacharias de Assumpção (1945 e 1951-

1956) que a Colônia Reformatória passa a condição de Colônia Penitenciária, vinculada a diferentes Secretarias até a sua completa extinção em 1974 (SILVA, 2003, p. 52).

Com a criação da Colônia Reformatória para Menores no Governo de Magalhães Barata e posteriormente a transformação dessa colônia em penitenciária, a ilha de Cotijuba passa a ser incorporada ao cenário estadual (SILVA, 2003, p. 54). Essa colônia reformatória:

[...] contava com cursos profissionalizantes de ferraria, serraria, carpintaria, alfaiataria, sapataria, motorista, marcenaria, mecânica, além de roça e horta, sendo destinada a menores do sexo masculino em dificuldades financeiras, familiares ou quando cometiam alguma infração, estando na faixa etária de 08 a 18 anos de idade [...] quando então saiam para se alistar nas forças armadas ou eram encaminhados para trabalhar em órgãos públicos municipais, estaduais ou federais (SILVA, 2003, p. 55-56).

Concomitante ao funcionamento dessa colônia habitava na ilha populações, cujos meios de subsistência eram a caça, a pesca, a agricultura, a coleta de frutos e a criação de pequenos animais. Na década de 1940 foram enviadas à ilha famílias japonesas vindas de Tomé-Açu, para que elas repassassem conhecimentos sobre a agricultura aos alunos da colônia reformatória (SILVA, 2003). No ano de 1947 Cotijuba passa a pertencer ao estado, então governado por Moura Carvalho. Nesse período a Colônia Reformatória de Menores passou a ter o caráter “correcional” voltado para menores e para adultos. Também foi “erguida uma casa de detenção para pequenos delitos destinada a adultos, situada no Poção, ao norte da Ilha, na extremidade oposta à Colônia Reformatória de Cotijuba” (SILVA, 2003, p. 58). Os presidiários adultos trabalhavam em hortas, roça, e extração de madeira, cujos produtos extraídos dessas atividades eram vendidos em Belém.

A Colônia Reformatória de Menores passou a se chamar “Educandário Nogueira de Faria”, e a partir de 1951 esse estabelecimento transformou-se em presídio estadual (CODEM, 1997; SILVA, 2003). O relato de Teodorico Rodrigues (último diretor do educandário antes de passar a condição de penitenciária) enfoca sobre esse presídio:

Com a denominação de Educandário ‘Nogueira de Faria’ o estabelecimento na verdade alcançou seu verdadeiro objetivo e finalidade... Já com a denominação de Colônia Penal ‘Nogueira de Faria’, passa para o âmbito da Secretaria de Segurança, onde os

governantes da época transformaram a Colônia em um verdadeiro depósito de presos (ASSUNÇÃO, 1992 apud SILVA, 2003, p. 59).

Esse relato indica sobre o contexto de Cotijuba nesse período, o qual revela difíceis trajetórias de vida de menores e adultos nessa Ilha. Quanto aos menores, inexistiam critérios de seleção definidos que os levassem para a Colônia Penal, contudo, dentre alguns fatores estavam: pobreza (principalmente), a vadiagem e a solicitação das famílias à Secretaria de Segurança Pública (SILVA, 2003).

Existem ainda as ruínas do Educandário Nogueira de Faria, que fazem parte do patrimônio histórico da Ilha. Essas ruínas situam-se em frente ao trapiche principal de Cotijuba. A imagem a seguir apresenta a fachada principal desse educandário.

Figura 7 – Ruínas do Educandário Nogueira de Faria

Fonte: Mariléia Trindade (2010)

Atualmente o território de Cotijuba é dividido em zona urbana e zona rural. A zona rural compreende: as zonas de preservação dos recursos naturais e a zona agrícola. A zona urbana corresponde a “toda área urbanizada ou que, por sua natureza e condição, seja considerada vinculada a área urbanizada, contígua ou não” (PLANO DIRETOR DA ILHA DE COTIJUBA, 1997).

Os elementos característicos do território urbano e rural de Cotijuba podem ser percebidos numa imbricada relação no cotidiano. Nas ruas, por exemplo,

transitam búfalos, charretes como meio de transporte e ao mesmo tempo é frequente atualmente o transporte por meio de motocicletas (Figura 9). Outro elemento dessa interrelação que percebemos na ilha está no âmbito da cultura, como a existência de tradições mais antigas de alguns moradores (a confecção de artesanato) e as culturas modernas como as festas de aparelhagens na Ilha. As imagens a seguir ilustram paisagens de Cotijuba:

Figura 8: Paisagem da chegada à Ilha

Fonte: Mariléia Trindade (2010)

Figura 9: Charretes e mototaxistas

Fonte: Mariléia Trindade (2010)

Figura 10: Vista da rua Magalhães Barata

Fonte: Mariléia Trindade (2010)

A economia da ilha de Cotijuba tem base no extrativismo vegetal, principalmente de frutas, na produção de carvão vegetal, pequena produção agrícola de hortaliças, na pesca e no comércio. O turismo também movimenta a economia de Cotijuba por seus vários atrativos, como: os igarapés e as praias situadas nos litorais oeste, noroeste e norte da Ilha; as ruínas do Educandário Nogueira de Farias, o Farol de Cotijuba, as ruínas da Casa do Governador Zacarias de Assunção, as ruínas do Engenho de Branquear Arroz, do século XVIII (CODEM, 1997).