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76 | A imagem de uma cidade construída entre o Rio e o Mar foi resgatada, mais recentemente,

no texto do arquiteto Trajano Filho (200659),

Tecendo uma interpretação da cidade que pensa sua evolução e transformação ao longo do tempo, de sua forma, imagem e percepção, a partir da relação que mantém com esses dois marcos que são o rio e o mar, em cujos limites físicos se estendeu e se constituiu historicamente.

Decerto, não foi exclusivo do interregno 1950- sàaà íti aàaosàp o essosàdeà ode izaç oà e aos valores culturais [estéticos] de uma dada modernidade. Em 1920 críticas às t a sfo aç esà u a asà ueà ode iza a à aà paisage à daà idadeà at a sà deà u aà arquitetura carregada de revivalismos, eram publicadas em revistas de circulação local como o artigo de Gilberto Freyre intitulado áàPh sio o iaàdasàNo asàCidades à E aàNo a,à 01/04/1925, nº 76),à oà ualàoàauto à iti a aàaà a hite tu aàdeà o feita ia à[e letis o]àeàoà hau a is oàestupido à– para ele, uma est ti aàdosàe ge hei osà ueàdest uídaàaà idadeà e iste te àpa aàsu stituí-laàtal ezàpelaà idadeàdoàdesejo . Freyre defendia a conservação dosàt açosàdaà a uitetu aàt adi io al ,àa uelaà o st uídaà oàpe íodoàdaà ol ia.àT ata a- se, portanto, da defesa da tradição – um dos pontos essenciais da tese de Costa de fundação da arquitetura moderna brasileira – imbrincada no projeto de fundação de uma identidade nacional.

“Precisa o Nordéste defender a sua physionomia. A physionomia de suas cidades grandes e de suas cidadesinhas do interior. A physionomia de suas casas de engenho – cujo typo tradicional de telhado em ramide, cahido sobre os pilares, é exactamente o que melhor corresponde ao nosso clima e aos nossos habitos de vida. / Com relação á cidade do Recife, ainda hontem, neste jornal [O Diário de Pernambuco], recordava X, em nota brilhante, como a moda dos frontões, feitos a molde, veio melancolicamente acabar com o antigo trabalho de pedra: com o trabalho de canteiro, lento e seguro, quasi medieval; com as telhas formando no beiral cornos de lua; com as biqueiras tão caracteristicas do Recife dos nossos bisavós. Do Recife colonial. / O Recife colonial... Lembro-me que em pequeno associei essa palavra ‘colonia’ á idéa de vergonhoso ou ridiculo. Recordo a emphase com que diziam os jornaes: ‘vae o Recife perdendo o seu desgracioso aspecto de cidade colonial’. Isso em louvor das avenidas novas, dos predios novos, da architectura nova, da esthetica dos engenheiros. [...] Do problema da defesa da physionomia das nossas cidades ocupou-se terça-feira ultima a commissão encarregada pelo Centro Regionalista do Nordéste de organizar o primeiro Congresso Regionalista. [...] Lembrou um membro da commissão a urgencia de estender ás cidadesinhas do interior o esforço de defesa. Porque essas cidadesinhas, avanços falsamente civilizadores têm levado e continúam a levar o horrivel da architectura de confeitaria, victoriosa nas capitaes. Victoriosa no Recife – donde desapareceu tanta coisa interessante. E mais victoriosa ainda na cidade da Parahyba. / Eu conheci essa cidade da Parahyba, creio que em 1915. Era de um ingenuo delicioso. Seus

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sobrados, suas casas, como que se trepavam umas por cima das outras, nas ladeiras em zig-zag. Era toda irregular. E alguns sobrados de residencia tinham abalcoados de um aconchego mourisco. / Hoje a Parahyba é uma cidade a sangrar: retalhou-a a cirurgia esthetica dos engenheiros, para reduzir todo aquelle zig-zag a symetria. Debalde tem dito lá o sr. Saturnino de Britto o que tantas vezes disse aqui: que a cidade póde adquirir conveniencias modernas sem perder o seu caracter. E as suas egrejas velhas... Todo o espirito da Parahyba nova está, a meu vêr, naquella horrivel aguia com um globo de luz electrica no bico – na rua principal da cidade e sobre um dos novos palacêtes officiaes. / É contra esse haumannismo estupido que é preciso movimentar o sentimento de uns e a intelligencia de outros, para que não desapareça de todo das nossas cidades a expressão da nossa vida e do nosso espirito [grifo nosso]”.

Nesse sentido, recordamos a contradição intrínseca do projeto moderno no Brasil dentro de uma modernidade que procurou remediar suas perdas inevitáveis (SIMMEL, 1995) buscando conciliar a tradição e o moderno na construção de uma narrativa de formação da nação, que serviu como uma das bases para definição de uma arquitetura moderna brasileira. Haveria, nesse projeto, o que Telles (1983, p.25) considerou ser uma a iguidadeào igi al/deào ige à ueà àaàdeà e o he e ,àaoà es oàte po,à oài a io al,àoà imaginário, um campo afetivo e sensível que seria a naturalidade brasileira, ao mesmo tempo em que reconhece a raz oà ode a .àái daàso eàesseàte a,àMa ti sà ,àp. - 283) recorda que essa sensação de ambiguidade que permeia o projeto moderno brasileiro de constituição de uma identidade nacional foi também reconhecida por outros autores como Antônio Candido60, que identificou a tensão entre local e universal como um traço característico da cultura brasileira. Acerca de uma produção moderna no campo das artes, Cavalcanti (1952) escrevera que as manifestações neste campo artístico seriam diferentes oà sul à[sudeste]àeà oà o te à[ o deste]àeà essaàdife e çaàesta iaàaà alo izaç oàdaà ultu aà lo al,à u aà o p ee s oà elho à doà egio alis oà eà doà t adi io alis o;à ue ia à elesà descobrir ou restaurar o que houvesse de autêntico e de natural nas manifestações típicas de ultu a .àPo ta to,à oàosà o iaàoàho o àaoàpassado;àaàele giaà[si ]àaoà elho;àaàpai oà pelo novo e pelo original; nem aquele apetite antropofágico que caracterizou um pelotão deà“ oàPaulo .àássi ,àaàdi e g iaàe t eàosà ode istasàdoà o te àeàosà odernistas do sul àesta iaà aàa iguidadeàe t eàosàele e tosàdaàt adiç oàfu didosà à ode idade.

É natural que tenha havido certa incompreensão e mesmo intolerância dos do sul quanto aos do norte, pela divergência de orientação. Não podiam admitir os modernistas do sul, só fome e sede de renovação, que os colegas ao norte ainda tivessem olhos de amor e carinho para antigas igrejas ou fachadas de casarões, para hábitos e maneiras de ser do povo, para traços ainda acesos de folclore. E levavam tudo a conta de desfrute,

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porque lhes parecia contradição querer-se a reforma de alguma coisa sem o trabalho prévio e total de arrasamento (CAVALCANTI, 1952, p.1).

Se por um lado esse era o discurso no campo da arte pictórica, música e letras, no qual os jornais locais exaltavam o trabalho de Heitor Villa-Lobos, Mignone Portinari, Di Cavalcanti e Athos Bulcão, no campo da arquitetura e do urbanismo sua afirmação como arte brasileira passava necessariamente pelo reconhecimento do traço local no contexto internacional. Nesse sentido, a produção artística nacional era vista através de dois campos: o da arte pictórica, músi aà eà let asà eà oà daà a uitetu a.à Oà p i ei oà esta iaà dedi adoà aoà lo al ,à compondo-se como o traço mais profundo da nossa brasilidade; o segundo [a arquitetura ode aà asilei a],à se iaà a uiloà ueà oà asilei oà ia doà o oà seu à o segui aà se à legitimado como universal pela crítica internacional.

[...] Essa é a razão [por ser a arquitetura o “denunciador de uma mensagem nova, profundamente nova, de arte”] por que os arquitetos de outros países vêm ao Brasil e se entusiasmam com o malabarismo das formas nos edifícios públicos e de apartamento, nas creches, nos sanatórios, e até quando aplicado em função de têmas religiosos (ARQUITETURA Brasileira, 1952, p.3).

Acreditamos que essa contradição – o contraponto entre o antigo e o novo, a tradição e a modernidade –, presente no momento de recepção da arquitetura moderna brasileira em João Pessoa, está manifesta na produção de residencial moderna realizada entre os anos 1950-1960 no momento em que é preciso conciliar as condições locais (técnicas e culturais) à construção dessa arquitetura.

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