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1.1 – A imigração japonesa no Brasil no quadro das grandes migrações dos séculos XIX e

O período entre 1880-1915 foi marcado por um impressionante deslocamento populacional intercontinental conhecido como Grande Migração. Esse deslocamento populacional teve a América como principal pólo receptor de migrantes e a Europa como principal pólo emissor. Segundo Klein (2000), entre 1881 e 1915, cerca de 31 milhões de imigrantes europeus migraram para a América. Os Estados Unidos receberam cerca de 70 % desse contingente humano. Argentina, Brasil e Canadá atraíram também quantidades significativas de estrangeiros: 4,2 milhões; 2,9 milhões e 2,5 milhões, respectivamente.

Outro importante pólo de emigração foi o Japão, que passou, no final do século XIX, por um violento processo de modernização econômica, que se caracterizou por inédita abertura comercial para o Ocidente e por uma reorganização da estrutura fundiária. A melhoria das condições de vida, com a diminuição das taxas de mortalidade infantil, trouxe um grande aumento populacional e, consequentemente, alta densidade demográfica. De acordo com Sakurai (1995), na virada do século XIX para o XX, o Japão atingia uma população de cerca de 50 milhões de habitantes. Diante desse quadro o governo nipônico adotou uma série de medidas de incentivo à emigração. Até 1900 cerca de 110 (cento e dez) mil japoneses deixaram o país emigrando para o Havaí (80 mil) e para os Estados Unidos da América (30 mil).

Inicialmente, o principal destino dos japoneses também foi os Estados Unidos, mas uma análise do processo migratório nipônico por um período mais longo (1885 a 1963) indica que o Brasil foi o segundo maior receptor daqueles imigrantes. Segundo Sakurai (2000), cerca de 234 mil japoneses entraram no Brasil ao longo desse período.

Em 1990, os descendentes nipônicos somavam 1,2 milhões de pessoas dentro da população brasileira.

Porém a história desse processo migratório bem sucedido não se realizou por uma opção preferencial do Japão e do Brasil. Foram as contingências históricas que levaram os dois países a considerarem esse processo viável e satisfatório. Inicialmente os Estados Unidos era visto como o principal destino dos japoneses. Da mesma forma, os brasileiros resistiram muito a aceitar a entrada massiva dos orientais no Brasil. O pensamento nacionalista radical que aqui vigorava no início do período republicano tinha fortes influências das teorias racistas de origem européia e muitos intelectuais brasileiros viam com maus olhos a entrada de elementos da ―raça amarela‖.

A imigração japonesa no Brasil iniciou-se em 1908, quando a conjuntura internacional tornou esse empreendimento viável e desejável para os dois países.

Segundo Petrone (1978), após a proclamação da República, o governo federal passou a política de controle de terras, colonização e imigração para os governos estaduais, deixando de subsidiar a vinda da mão de obra estrangeira. Somente o Estado de São Paulo teve condições de manter o financiamento da empresa imigratória. A vinda dos europeus para o país diminuiu, tendo como marco dessa queda o decreto Prinetti, lei por meio da qual o governo italiano proibiu, em 1902, a imigração para o Brasil, alegando as más condições de trabalho oferecidas nas fazendas de café. Após um curto período de redução da expansão cafeeira, devido à crise de superprodução, superada, em 1906, pelo Convênio de Taubaté, as plantações de café voltaram a exigir mão de obra. Nesse contexto a vinda de trabalhadores japoneses para o Brasil se tornou interessante. Além disso, havia o interesse de estreitar relações econômicas com o Japão, que seria um mercado promissor para o café brasileiro. A aproximação econômica entre os dois países se iniciara em 1895, quando foi assinado o Tratado de Amizade , Comércio e Navegação.

Por outro lado a larga entrada de imigrantes japoneses começou a sofrer restrições nos Estados Unidos. De acordo com Sakurai (1995), em 1902 o governo norte americano proibiu as reivindicações trabalhistas dos imigrantes japoneses e que os mesmos adquirissem terras no país. Em 1908, um acordo de cavalheiros entre Estados Unidos e Japão estabeleceu o compromisso de encerrar a imigração japonesa para o território norte-americano.

Apesar da grande resistência à aceitação da imigração japonesa, considerada uma etnia inassimilável por grande parte dos políticos nacionais, esta se tornou uma opção viável naquele momento histórico para os cafeicultores paulistas. Em julho de 1908, o primeiro grupo de imigrantes japoneses chegou ao Brasil com passagens parcialmente subsidiadas pelo governo paulista. Segundo Handa (1980) essa primeira experiência dos trabalhadores japoneses revelou-se um fracasso. Dos 772 japoneses que foram encaminhados para as fazendas de café, 430 se retiraram das mesmas depois de seis meses.

Mesmo com esse fracasso inicial, novas levas de trabalhadores japoneses entraram no Brasil nos anos seguintes pelo mesmo sistema de contratação. Entre 1908 e 1914 aqui chegaram 14.886 nipônicos. Em 1913, o governo paulista cortou o subsídio das passagens, alegando a baixa fixação dos trabalhadores nas fazendas de café. Mas, em 1914, com o início da I Guerra Mundial, o fluxo de imigrantes europeus para o Brasil diminui novamente e o Estado de São Paulo volta a subsidiar as viagens dos japoneses, até o ano de 1923, quando foi definitivamente cortado. A partir de 1924, o governo japonês que assumiu os gastos com a imigração, pois foi nesse ano que os Estados Unidos proibiram definitivamente a entrada dos japoneses naquele país. Na mesma época, o governo do Peru também fechou as portas para os nipônicos.

A partir de então a imigração japonesa no Brasil entra em uma nova fase, denominada por Sakurai (2000) de ―imigração tutelada‖, que vai de 1924 à 1941, quando o Brasil rompeu ligações diplomáticas com o Japão.

Desde o final do século XIX a emigração foi estimulada pelo Governo Japonês. A abertura e modernização da economia da Japão na chamada Era Meiji, gerou uma violenta transformação na estrutura agrária e social, criando um excedente populacional que foi direcionado para fora do país.

A emigração dos japoneses foi organizada por companhias de imigração privadas que atuavam sob fiscalização do Ministério das Relações Exteriores do Japão. Eram empresas visavam lucratividade. Em 1896, o governo japonês promulgou a Lei de Proteção aos Emigrantes, que transformou a iniciativa de emigrar em política de Estado.

A partir de 1924 a influência do governo japonês na organização dos imigrantes foi cada vez maior. A imigração deixou de se relacionar com a cultura cafeeira paulista

e passou a estabelecer colônias agrícolas como empreendimentos econômicos capitalistas. Companhias privadas, associações ligadas aos governos de províncias japonesas adquiriram terras que eram loteadas em pequenas propriedades e vendidas aos colonos. Tal modelo de imigração já havia sido implantado na Mandchuria, onde foram assentados 225 mil colonos japoneses desde o final do século XIX.

Segundo Sakurai (2000), uma série de companhias, entidades e associações foram criadas para apoiar as colônias japonesas, sempre com apoio técnico e financeiro das autoridades nipônicas. Com esse apoio a colônias prosperaram e deram uma grande contribuição para a diversificação da produção agrícola do Estado. Segundo Petrone (1978), o dirigismo e o apoio financeiro do Japão aos seus imigrantes, durante os anos 1920, de alguma maneira contribuiu para o crescimento dos sentimentos nacionalistas que levaram o governo brasileiro a criar a Lei de Cotas que, em 1934, estabeleceu um limite anual para a entrada de imigrantes no Brasil. Além da questão racial, a concorrência econômica estaria preocupando a elite nacional.

Entretanto, a primeira experiência de colonização japonesa com base em pequenas propriedades agrícolas foi anterior ao período aqui destacado (1924-1941). Trata-se da experiência de colonização japonesa no sul de São Paulo, no Vale do Ribeira, no município de Iguape. Nessa região foram instalados, em 1913, três núcleos de colonização onde os japoneses foram assentados como pequenos proprietários. O empreendimento iniciado pela Brasil Takushoku Kabushiki Kaisha (Companhia Colonizadora do Brasil S/A), mais tarde incorporada pela Kaigai Kogyo Kabushiki Kaisha (KKKK – Companhia Ultramarina de Emprrendimentos) empresa mais capitalizada e internacional, que deu grande apoio à experiência colonizadora.

Embora a colônia de Iguape não tenha obtido um desenvolvimento de grande destaque, ela foi o modelo, a partir do qual a colonização por meio de pequenas propriedades começou a se espalhar pelo interior do Estado de São Paulo a partir de 1924. Entre elas podem-se destacar as colônias de Aliança, de Bastos, Tietê e Três Barras, esta última localizada no norte do Estado do Paraná. Na década de 1930, outras colônias desse tipo foram criadas em Marília, Pompéia, Osvaldo Cruz e Tupã. Em todas estas colônias contaram com grande apoio da KKKK, da Bratac (Sociedade Colonizadora do Brasil) e de outras companhias e associações que davam apoio e assistência aos imigrantes, ajudando especialmente na criação de infraestrutura para

beneficiamento e escoamento da produção, bem como com assistência médica, técnico agrícola, etc..