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IMPACTO DA UNIVERSIDADE NA PRODUÇÃO DO SABER NA

6 DADOS EMERGENTES DO GRUPO PESQUISADO

6.5 IMPACTO DA UNIVERSIDADE NA PRODUÇÃO DO SABER NA

“Eu pensava que por sermos um centro de extensão universitária estes aspectos seriam atendidos, que voltaríamos nosso olhar para a comunidade em termos de planejamento de intervenções e pesquisa.”

O relato acima torna eminente refletir sobre a formação profissional em saúde, pois como refere Marx (2010, p. 109), “[...] o olho humano frui de forma diversa da que o olho rude, não humano [frui]; o ouvido humano diferentemente dá ouvido rude etc.”. É necessário que a formação profissional em saúde contribua para desenvolvimento de conhecimentos, habilidades e atitudes que possibilitem aos estudantes transformar o olho rude em olho humano.

Uma formação que possibilite essa mudança propicia que o acadêmico realize a síntese do processo teórico-prático apreendido de modo a reelaborar cotidianamente o compromisso com o cuidado em saúde, uma responsabilidade para além do espaço acadêmico, uma responsabilidade com a comunidade na qual está inserido. Ao compreender a concepção de saúde enquanto direito da população, o estudante “reflete criticamente sobre essa prática a partir da unidade teórica que a constitui” (FAUSTINI, 2004, p. 94), o resultado é a formação de profissionais/humanos críticos e atuantes não somente no âmbito da saúde, mas em toda sociedade.

Mudanças têm sido realizadas ao longo dos anos na formação em saúde em saúde, principalmente após a extinção dos currículos mínimos, em 1996, é possível vislumbrar a relação entre Saúde e Educação Superior, de modo a garantir a relação contínua e indissociável entre a formação e o SUS. Apesar de cada área ter suas

próprias diretrizes curriculares, há um eixo que permeia todas as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN’s), que é o atendimento às necessidades sociais da saúde, com ênfase no SUS, assegurando a integralidade da atenção, a qualidade e a humanização do atendimento, de modo que ofereça uma formação generalista, humanista, crítica e reflexiva. “[...] sobretudo, a importância de um profissional que atue com senso de responsabilidade social e compromisso com a cidadania, como promotor da saúde integral do ser humano (CREUTZBERG; LOPES, 2011, p. 39).”

O avanço na criação de estratégias para assegurar a qualidade e adequação das práticas desse trabalhador e reconhecendo que essas práticas são produtos do processo formação. Nestes últimos anos, há um investimento importante do governo federal na criação de residências multiprofissionais e programas de ensino em serviço, os quais incidem suas ações na formação dos recursos humanos. O governo federal busca então, parceria com as IES, as quais têm como objeto de sua existência a formação desse profissional, que deve estar em consonância com a realidade histórica, o que nem sempre tem se evidenciado.

No que tange aos currículos das IES, os avanços não podem ser considerados significativos, pois ainda em sua maioria perduram disciplinas que beneficiam a doença e não a atendimento integral em saúde. Os atuais currículos possuem pouca ou nenhuma disciplina sobre o SUS, alguns o tema é tratado como saúde coletiva e não propriamente a política de saúde com sua organização e princípios. “No contexto da formação superior, o currículo se configura como uma experiência recriada, por meio de competências, habilidades e valores, que visam à sustentação da interação entre teoria e prática” (SILVA et al., 2009, p. 36-37).

As universidades devem assegurar o seu papel de consolidação do SUS e de retomada dos preceitos da Reforma Sanitária, assumindo o “compromisso acadêmico e social a formação profissional, baseada na investigação cientifica e na produção do conhecimento com vistas a sua aplicação na sociedade, buscando a sua transformação” (SILVEIRA, 2011, p. 75). O que se percebe atualmente é o foco na doença e na cura como resposta tecnológica a própria profissionalização exclusivamente voltada para o mercado neoliberal, que sempre teve a influência dominante na formação superior na área da saúde, caracterizada pela transmissão de conhecimentos e de experiências próprias de profissionais sem formação acadêmica. Dessa forma, os cursos superiores no Brasil “fecharam-se na formação específica de seus profissionais” (SILVEIRA, 2011, p. 77). É necessário pensar a

formação profissional em saúde para além dos programas de ensino em serviço, estes são fomentadores de novas propostas de formação em saúde, mas não devem ser a única, ou o fim único de propostas de investimentos para a preparação dos profissionais da saúde. É necessário que mudanças efetivas passem a ser formuladas nos currículos e propostas de currículo integrado possam ser pensadas para as diversas áreas da saúde.

“Fui me adaptando e a minha expectativa ficou centrada em como me adaptar a novas experiências a partir do trabalho com alunos.”

“O Campus da PUC teria muitos outros colegas que eu não tinha nas outras unidades, mas por uma questão de ideologia.”

A preocupação de um médico e um irmão marista em transformar uma realidade social através da lógica de promoção em saúde foi observada. No campo da educação, a introdução de alunos e profissionais objetivando incentivo à pesquisa em saúde coletiva. Para Nunes (2009), saúde coletiva é um campo científico e um âmbito de práticas.

A saúde coletiva é um campo de produção de conhecimento e de intervenção profissional especializada, mas também interdisciplinar, em que não há limites precisos ou rígidos entre as diferentes escutas ou diferentes modos de olhar, pensar e produzir saúde. Todas as práticas de saúde orientadas para os modos de andar a vida, melhorando as condições de existência das pessoas e coletividades, demarcam intervenção e possibilidades às transformações nos modos de viver, trabalham com promoção da saúde, prevenção de doenças e agravos, ações de reabilitação psicossocial e proteção da cidadania (CARVALHO; CECCIM, 2006):

Na pesquisa-intervenção, a relação pesquisador/objeto pesquisado é dinâmica e determinará os próprios caminhos da pesquisa, sendo uma produção do grupo envolvido. Pesquisa é, assim, ação, construção, transformação coletiva, análise das forças sócio-históricas e políticas que atuam nas situações e das próprias implicações, inclusive dos referenciais de análise. É um modo de intervenção, na medida em que recorta o cotidiano em suas tarefas, em sua funcionalidade, em sua pragmática - variáveis imprescindíveis à manutenção do campo de trabalho que se configura como eficiente e produtivo no paradigma do mundo moderno (AGUIAR; ROCHA, 1997, p. 97).

É nesse sentido que a intervenção se articula à pesquisa para produzir uma outra relação entre instituição da formação/aplicação de conhecimentos, teoria/prática, sujeito/objeto, recusando-se a psicologizar conflitos. Conflitos e tensões são as possibilidades de mudança, pois evidenciam que algo não se ajusta, está fora da ordem, transborda os modelos. Diante disso, ou ocupamos o lugar de especialistas, indagando sobre as doenças do indivíduo, ou o de sócio analista, indagando sobre a ordem da formação que exclui os sujeitos (AGUIAR; ROCHA, 2003).

Na pesquisa-intervenção, não visamos à mudança imediata da ação instituída, pois a mudança é consequência da produção de uma outra relação entre teoria e prática, assim como entre sujeito e objeto. A pesquisa-intervenção, por sua ação crítica e implicativa, amplia as condições de um trabalho compartilhado.