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CAPÍTULO V. Apresentação e discussão de Resultados relativos aos projetos

5.2. Discussão dos resultados

5.2.5. Impacto na comunidade (Bloco F)

No sentido de conhecer a motivação dos participantes e da entidade organizadora em atuar na comunidade e analisando os projetos com base na sua vertente interventiva, pretende-se igualmente compreender o papel dos intervenientes nos projetos de estudo, como autores e agentes transformadores dos contextos que os rodeiam.

96 TABELA 17 - Testemunhos dos entrevistados – Impacto na Comunidade

Atelier de Pintura do CER Projeto Alvo

Uma prática que também é muito interessante que é um retorno para a própria casa, para a empresa, que é a organização de exposições dos trabalhos alí realizados na própria residência para que os utentes tenham a possibilidade de conhecer.

Depois também temos sempre esta necessidade de fazer com que o trabalho saia daquele espaço, com exposições desses trabalhos em galerias (…).

Fazemos uma abertura da exposição protocolar com momentos musicais, culturais, e acabamos por proporcionar para além da formação esses momentos muito válidos, estimulando para o trabalho, demonstrando que o seu trabalho tem a dignidade para poder ocupar um espaço expositivo público. As pessoas ficam bastante satisfeitas quando tem a sorte de ter o retorno positivo por parte do público.

É sempre este o objetivo, o de dignificar, de alguma forma, valorizar o trabalho feito e expôr, mostrar o que é um ato de coragem.

A partir do momento em que criámos a Academia, começámos a abrir-nos numa relação com a comunidade, noutros caminhos. A Academia abriu-nos a novos públicos e esta experiência trouxe um grande benefício para a associação.

Presidente da direção do CER

A comunidade sente isso. O abrir as portas dos parceiros e os convites que nos fazem para atuar é porque reconhecem. Os próprios filhos e netos, (…) que dizem que querem ser como os avós e querem ser reformados para ser como os avós e vê-se que quer a família e a comunidade vêem e manifestam muitas vezes que é muito útil para a sociedade existir uma academia sénior.

Coordenadora da Academia Sénior

(referindo-se às exposições anuais) Normalmente duas. Fazemos uma na cidade e fazemos outra na Bella Vida.

Claro que isto é como as migalhas. Eu sou uma migalha. Já fico feliz por este pequeno grupo levar para às suas familias e amigos o gosto pelo que fazem. Isso já é bom.

Eu vou ter aqui em março, duas escolas que me contactaram e vêm cá. É fundamental esta vertente de visitas a espaços de arte, academias de música e teatro. Este não deixa de ser um espaço amador. Não é uma escola institucional. Hoje em dia tudo é válido e é importante as escolas frequentarem estes ninhos que estão espalhados, poucos, com muita pena minha, devia haver mais e as escolas deviam ter isto como exemplo

Orientador do Projeto Alvo

Pt2 - Sou mais realista e perfecionista. Eu quero que as crianças olhem para os meus quadros e vejam. Eu levo os meus quadros para a escola. Esta semana estivemos a falar de pintores e fomos buscar trabalhos de pintores e sairam coisas fabulosas.

A escola em que trabalho tem JI e primária e quando levo os meus quadros eles ficam surpreendidos. E faço questão de lhes dizer para seguirem os seus sonhos.

Pt3 - Eu gostava de partilhar mas exponho na minha casa.

Isto é um bocado meu. A maior parte das pessoas nem sabe que pinto. Nunca tive necessidade de dizer que pinto. Estou num grupo de pintura, um grupo de amigos. Como não vou expôr, partilho muito mais os trabalhos dele (Damião), do que meus. Quando as pessoas vêm a minha casa ficam surpreendidas.

É um desafio e a amizade. Cheguei a vir e não pintar, ficar a olhar também se aprende.

97 Onde numa tarde os utentes vão a uma

sala, vêem a exposição, serve-se um lanche, fazemos uma animação.

Sente que nas exposições, as pessoas gostam de ver, trazem a família…

Orientador do atelier de Pintura do CER

P3 – Na familia sinto que admiram e gostam de saber e ver o que eu fiz. Aqui não me apercebo muito.

P4 – Eu na família sinto que me dão muito valor, os meus filhos levam lá os amigos a ver. Já me quiseram comprar um quadro numa exposição, e eu não vendi. E sei o valor que tem. Sinto que me valorizam.

P3 – É, saber que o meu filho fica muito feliz por me ver a pintar e os meus netos. Ponho um quadro novo lá e eles dizem: este é novo.

P2 – A minha mãe vê e diz: este gosto, tens de o pôr aí que eu gosto.

P1 – Sim, eu posso-lhe dar aqui uma visão porque eu sou o exemplo sem família. Os filhos estão todos. A mim ninguém me cobiça as obras de arte. (…)Tenho no entanto um grupo de amigos que quando me chegam a casa e as minhas poucas obras estão expostas e não valem nada. (…) Mas ficam admirados e a auto-estima cresce.

Considerando a visão pós-moderna como multicultural e socialmente crítica, esta é uma vertende que os projetos em estudo não têm privilegiado.

No âmbito das dinâmicas levadas a cabo, as atividades abertas ao público: exposição dos trabalhos dos participantes (em ambos os projetos) e acolhimento de escolas no atelier (Projeto alvo) constituem os momentos em que se atua na comunidade, embora de uma forma pouco expressiva.

No que diz respeito às exposições dos trabalhos realizados, deparamo-nos perante diversas opiniões que revelam, por um lado, a pertinência destes momentos para alguns intervenientes, embora muitos não encontrem nesta atividade um motivo de especial interesse e motivação.

No sentido de levar a Educação Artística a outros contextos, o CER, pela sua dinâmica, em parcerias estratégicas, tem criado uma rede de contactos que permite a solicitação de apresentações em diversas áreas (especialmente performativas), no entanto, a vertente das artes plásticas não encontrou ainda um espaço nesta vertente.

98 Por sua vez, é no seio das comunidades dos participantes (familiares e amigos) que se opera uma consciencialização mais evidente para a importância da EAA, pelo facto de ser visível a sua capacidade transformadora, na vida dos intervenientes.

A vertente comunitária, encarando a arte como meio de exteriorização, comunicação e intervenção não é um pilar nestes ateliers pelo que é valorizado o grupo, o trabalho no seio de uma coletividade mas que não ultrapassa de modo significativo os muros dos ateliers.