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Implantação das políticas públicas de gênero e raça na cidade de Santo

No documento Camila Fernanda Saraiva.pdf (páginas 64-68)

O contexto em que se pautou a presente pesquisa é marcado por diversas ações do Município de Santo André, bem como dos demais municípios do Grande ABC, num esforço de implantar ações de promoção da igualdade racial e de gênero. É importante apontar algumas dessas ações para situar o leitor deste trabalho, mas também para entender como elas auxiliaram na modificação do atendimento aos serviços públicos prestados.

Não é demais lembrar que as ações de políticas públicas realizadas pela administração municipal contaram com o trabalho exaustivo do Movimento de Mulheres, do Movimento Negro e dos Sindicatos, que há muito tempo já fazem reivindicações no sentido de uma política pública voltada mais para a justiça, para a atenção ao gênero e às relações étnico-raciais.

Silva (2003), ao relatar o papel do Movimento Negro (MN) na região do ABC aponta que foi necessário o convite dos movimentos sociais e das outras instituições para uma parceria com o poder público, de forma que a

33 Para a construção deste subitem utilizei como fonte os textos Um histórico da política racial na Prefeitura Municipal de Santo André e Promoção da Igualdade Racial e de Gênero em Santo André: uma cronologia, ambos parte integrante da revista Igualdades, diversidades: promoção da igualdade racial nas políticas públicas – a experiência de Santo André (SP).

participação dos gestores municipais nas atividades encabeçadas por esses movimentos auxiliasse na construção de uma percepção mais apurada das necessidades que não estavam sendo contempladas pelas políticas públicas.

Fortes movimentos sociais em favor das mulheres fizeram com que a Assessoria dos Direitos da Mulher de Santo André (ADM) tomasse a iniciativa de verificar, em 1997, a situação de emprego e eqüidade no trabalho de mulheres e negros na região do Grande ABC. Essa ação foi o marco que deu maior ênfase à questão de raça no município até então, pois, a partir daí, foram viabilizados diversos projetos e programas de promoção da igualdade de gênero e raça.

Em 1998 foi implantado o projeto Pesquisa: Gestão local, empregabilidade e equidade de gênero e raça, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Trata-se de uma experiência de política pública na região do ABC que teve como parceiros a Prefeitura Municipal de Santo André, o Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT), a Elisabeth Lobo Assessoria, Trabalho e Políticas Públicas (ELAS), o Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP), o Instituto de Cidadania e Governo do ABC, bem como outros interlocutores (entidades da região, Movimento de Mulheres e Movimento Negro). Esse projeto durou de 1998 a 2003 e diagnosticou a situação de empregabilidade e eqüidade de mulheres e negros na região do ABC, assim como orientou a implantação de políticas públicas neste sentido.

Outra ação significativa para o Município foi a implantação do quesito cor/raça nos cadastros da Central de Trabalho e Renda de Santo André (órgão ligado à Central Única dos Trabalhadores – CUT), em 2002, que contou com o auxílio da campanha Diferentes sim, mas iguais nos direitos. Só você pode dizer sua cor.

O projeto Pesquisa: Gestão local, empregabilidade e equidade de gênero e raça e a implantação do quesito cor/raça nos formulários da CTR/CUT fazem parte da publicação do CEERT intitulada O papel da Cor nas Políticas de Promoção da Igualdade: anotações sobre a experiência do município de Santo André, organizada por Hédio Silva Júnior, de 2003.

No ano de 2001, a Prefeitura Municipal de Santo André e o Grupo de Trabalho do projeto Pesquisa: Gestão local, empregabilidade e equidade de gênero e raça, com o apoio do Ministério do Trabalho e Emprego, da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e do CEERT, realizaram a adaptação dos Manuais de Capacitação da OIT, na intenção de trazer o Programa de Fortalecimento Institucional para a Igualdade de Gênero, Pobreza e Emprego (GPE), adaptá-lo à realidade, capacitar gestores públicos e incluir um novo módulo sobre a questão racial brasileira nesses manuais. Essa ação deu origem ao Programa de Fortalecimento Institucional para a Igualdade de Gênero e Raça, Erradicação da Pobreza e Geração de Emprego (GPRE). No ano de 2003, a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR) e a OIT apresentaram o Programa GRPE ao Consórcio Intermunicipal do ABC34. O Grupo de Trabalho (GT) de Gênero e Raça do Consórcio Intermunicipal do ABC ficou, então, responsável por sensibilizar os gestores municipais, bem como por implementar o Programa do GRPE nas sete cidades que compõem a região do Grande ABC, sendo essa a primeira experiência de multiplicação do Programa GRPE.

A Assessoria da Comunidade Negra (ACN) foi criada em 2001, como fruto da parceria do Movimento Negro da cidade com o poder público. À ela ficou a responsabilidade de implantar as Políticas de Igualdade Racial no Município de Santo André.

No ano de 2004, a SEPPIR, a OIT, a Câmara Regional e o Consórcio Intermunicipal do Grande ABC assinaram o Termo de Acordo, oficializando assim a implantação do Programa GRPE nos sete municípios. Essa implantação se deu pela formação dos gestores municipais, ocorrida no ano de 2005. Os resultados que essa formação trouxe foi a reflexão que os gestores realizaram, a partir de uma percepção mais apurada de como aparecem a questão de gênero e raça nos programas que eles são responsáveis, bem

34 O Consórcio Intermunicipal do Grande ABC foi autorizado pelas leis municipais, pela

Constituição Estadual e Leis Orgânicas dos municípios do ABC, em 1990, e instalado no mesmo ano por iniciativa dos prefeitos das sete cidades. É uma associação que visa contribuir para o interesse coletivo, contando com a integração dos municípios e com a parceria entre os governos do Estado e da União. Os prefeitos são eleitos para presidente e vice-presidente, em eleições realizadas anualmente. Maiores informações estão disponibilizadas em: www.consorcioabc.org.br.

como a implantação do quesito cor/raça em alguns programas municipais. No ano de 2007 foi lançada a publicação “GRPE ABC”, com o registro dessa experiência não só de formação, mas de contribuição com a inclusão social dos sete municípios.

A campanha publicitária Diferenças são naturais, Desigualdades não, veiculada ao longo da região do ABC, possibilitou: despertar os diversos atores regionais para as desigualdades na sociedade e no mercado de trabalho, levando em conta as questões de gênero e raça; uma maior integração entre os sete municípios em relação à temática; a implantação do quesito cor/raça nos formulários públicos (dos movimentos sociais, dos sindicatos, das câmaras municipais, dos partidos políticos, entre outros); e a criação de órgãos que tratassem da política de promoção da igualdade racial nos setores administrativos das prefeituras.

Como parte de todo esse processo, no ano de 2004, mais uma conquista se efetiva no Município de Santo André. Mediante decreto, ficou determinado que o dia 20 de novembro passaria a ser feriado municipal, a saber: Dia Nacional da Consciência Negra.

Ações mais pontuais começam a aparecer nos diversos segmentos. Na educação, o Plano Municipal de Educação (PME) estabelece como uma de suas prioridades, a partir do ano de 2005, a implantação da Lei n. 10.639/03 nas escolas. Na área da saúde, cria-se o Comitê Técnico de Saúde da População Negra, principalmente da anemia falciforme; ainda: foi realizado o Seminário sobre a Saúde da População Negra.

A publicação do livro Memórias e Histórias de Negros e Negras na cidade de Santo André, no ano de 2006, nos aparece como outro marco importante, pois, para a sua divulgação, foram realizadas exposições das fotos integrantes dessa publicação em espaços públicos, principalmente nos Centros Educacionais de Santo André (CESA), dando visibilidade a pessoas negras que até então eram desconhecidas no município.

No ano de 2006 foi firmado outro convênio com a SEPPIR para a realização do Programa de Capacitação para a Promoção da Igualdade Racial. Efetivado em 2007, destinou-se à capacitação dos servidores públicos de cinco

áreas do município (saúde, desenvolvimento econômico, modernização administrativa, inclusão social e secretaria do governo). A síntese dessa capacitação gerou a publicação de um documento muito importante, intitulado Igualdades, diversidades: promoção da igualdade racial nas políticas públicas – a experiência de Santo André (SP), numa parceria entre a Prefeitura de Santo André com a ONG Ação Educativa.

Também no ano de 2006, a cidade de Santo André assinou a Coalizão Latino Americana e Caribenha de Cidades Contra o Racismo, a Discriminação e a Xenofobia, sendo a única cidade do Brasil que compôs o Comitê Executivo no biênio 2007/2009.

Todas as ações aqui apresentadas tornaram-se possíveis por conta de uma política contínua desenvolvida na cidade que procurou contemplar a gestão participativa, conseguindo ouvir e dar voz aos diferentes segmentos populares. Consideramos, ainda, esses eventos como de fundamentais importância para identificar-se o contexto no qual se inseria o Município de Santo André no momento da realização das formações Gênero e Raça e A Cor da Cultura, objetos de estudo nosso e, evidentemente, eixos desta pesquisa.

No documento Camila Fernanda Saraiva.pdf (páginas 64-68)