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IMPLICAÇÕES DO USO DO TEMPO NO DESENVOLVIMENTO DAS

CRIANÇAS

Apesar de reconhecerem não se poderem estabelecer relações de causalidade, Hofferth e Sandberg (2001) encontraram um grande número de actividades que parecem significativamente associadas a indicadores do nível de realização e do comportamento das crianças.

- investigação recente tem reforçado a importância da actividade física para o desenvolvimento das crianças ao mesmo tempo que constata a vida sedentária de muitas delas. Para estes autores, mais tempo passado a praticar desporto está associado a melhores desempenhos em provas de resolução de problemas e a uma redução dos problemas de comportamento (Hofferth & Sandberg, 2001);

- a leitura e o estudo são actividades relacionadas com os resultados em testes verbais e outras provas de realização. Referem mesmo que ler por lazer está fortemente associado com resultados mais elevados em provas de realização. McHale, Coûter, e Tucker (2001) acrescentam todavia que, apesar de a leitura estar associada a um melhor desempenho escolar, por outro lado, o tempo passado a ler também é predictivo de sintomas de depressão;

- ver muita televisão tem sido relacionado com resultados inferiores em provas de realização cognitiva, estando também associado a menos tempo em actividades como ler e estudar;

- as actividades em família como ajudar nas tarefas domésticas e as refeições são importantes oportunidades para as crianças participarem nas rotinas familiares. Apesar de ser aceite que as crianças devem ser envolvidas nas actividades das suas famílias e comunidades, a investigação demonstra que as crianças passam muito pouco tempo nestas actividades. O tempo passado nas refeições parece associado a uma vida familiar mais estável e organizada e, consequentemente, com menos problemas de comportamento nas crianças;

- as rotinas e o tempo passado a dormir são componentes importantes do tempo da criança e da família e devem estar relacionados com o

1 A Exploração Teórica

desenvolvimento das crianças. Notam por exemplo que mais tempo passado a dormir está relacionado com menos problemas internalizados. Bryant (1985) (in Parke & Buriel, 1998) notou que a participação das crianças em organizações formais de tempos livres estava associada a uma maior competência de tomada de perspectiva social em crianças com 10 anos de idade. Para Parke e Buriel (1998) a participação das crianças em actividades organizadas é importante porque permite à criança o aceso a um leque maior de actividades sociais e oportunidades para praticar competências sociais, o que pode contribuir para o seu desenvolvimento social. Na mesma linha, McHale, Coûter e Tucker (2001) concluem que as actividades estruturadas são a forma de ocupação do tempo livre mais promotora do desenvolvimento. Uma possível interpretação para a importância deste tipo de actividades é a de que "a disciplina, auto-direcção e o sentimento de competência por trabalhar no passatempo ou praticar um desporto pode ser congruente com um sentimento de "empreendimento" existente na meia infância" (Kleiber, 1999; in McHale, Coûter, and Tucker, 2001, p. 1774).

Segundo Parke e Buriel (1998) vários estudos indicam que os pais de crianças delinquentes e anti-sociais fazem uma menor supervisão e monitorização das actividades dos seus filhos, do que os pais de crianças não delinquentes. Parke e Buriel (1998) consideram assim que estes dados permitem concluir que uma baixa supervisão e monitorização parental (isto é, não saber onde o seu filho anda, não definir regras claras para o comportamento) poderá estar relacionada com rejeição por parte dos pares. Talvez por isso, o tempo passado a brincar ao ar livre e a "andar por aí" esteja associado a um funcionamento menos adaptativo, inclusive um mais pobre desempenho escolar e mais problemas de conduta (McHale, Coûter, and Tucker, 2001).

McHale, Coûter, e Tucker (2001, p. 1770) identificaram algumas relações entre o uso do tempo das crianças e medidas de ajustamento:

- o tempo passado em passatempos está negativamente associado com a depressão e positivamente associado com o desempenho escolar;

1 A fiatoacâfl Eeádca

- as crianças que aos 10 anos passam mais tempo em actividades desportivas tendem a ter melhor desempenho aos 10 anos, e são significativamente menos deprimidas aos 12;

- o tempo despendido em brincadeiras ao ar livre está relacionado com problemas de comportamento, tanto aos 10 como aos 12 anos, e a pior realização escolar aos 12 anos;

- o tempo passado a ler aos 10 anos prediz resultados escolares significativamente melhores aos 12; contudo, o tempo passado a ler também se relaciona significativamente com os sintomas da depressão tanto aos 10 como aos 12 anos.

Sugerindo que determinados contextos sociais de interacção da criança têm mais impacto no desenvolvimento que outros, os dados apontados por McHale, Coûter e Tucker (2001) mostram que o tempo passado em determinados contextos sociais está relacionado com alguns importantes índices de ajustamento:

- o tempo passado com a mãe e com o pai está negativamente relacionado com a depressão nas crianças com 10 anos;

- o tempo passado com o pai está relacionado com melhores resultados escolares nas crianças com 10 anos;

- o tempo passado com os colegas, sem supervisão dos adultos, está relacionado com piores resultados escolares e com mais problemas de comportamento tanto aos 10 como aos 12 anos;

- o tempo passado com adultos não familiares está relacionado positivamente com os resultados escolares aos 10 anos, e negativamente associado com a depressão tabém aos 10 anos, e está significativamente relacionado com menos problemas de comportamento aos 12 anos;

- o tempo passado sozinho está positivamente associado com a depressão tanto aos 10 como aos 12 anos.

O uso do tempo tem também sido utilizado para perceber e tentar encontrar soluções para problemas de desenvolvimento de ordem orgânica. Constatando que uma em cada cinco crianças britânicas têm excesso de peso,

1 A Exploração Teórica

Short e Langham (2002) estudaram o uso do tempo das crianças, nomeadamente os seus padrões de alimentação e de actividade física comparando-os com os padrões recomendados.

CONCLUSÃO

Com a exploração teórica realizada espera-se ter encontrado, à luz dos grandes modelos da Psicologia do Desenvolvimento, um enquadramento conceptual e ter justificado a pertinência dos estudos sobre o uso do tempo das crianças.

A evidência empírica apresentada parece também mostrar que vários factores identificados influenciam o uso do tempo das crianças. Da mesma forma percebe-se que a forma como as crianças ocupam o seu tempo tem implicações no seu desenvolvimento.

Havendo um grande volume de investigação sobre este tema, nomeadamente nos Estados Unidos, importa saber se as mesmas evidências se verificam na nossa realidade. Há assim várias perguntas que se levantam e que justificam o estudo do dia a dia das crianças portuguesas.

I A Parte Empírica -o dia a dia das crianças portuguesas

Capitulo II - A parte empírica: o dia a dia das crianças

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