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A heterogeneidade espacial das paisagens mediterrânicas é um dos principais factores a contribuir para a enorme diversidade deste ecossistema (Scarascia-Mugnozza et al. 2000, Gil-Tena et al. 2007, Thomas & Packham 2007). Os resultados aqui apresentados vêm reforçar esta ideia, na medida em que, muito embora os maiores valores de biodiversidade tenham sido observados nas parcelas mais antigas, onde a gestão é mínima ou mesmo inexistente há algumas décadas (> 50 anos), as coexistência no espaço de parcelas sujeitas a diferentes níveis de gestão, permitem a ocorrência de um determinado leque de espécies que de outra forma não existiriam na paisagem (Figura 4.1).

Neste contexto, parece ser essencial manter um sistema em mosaico, onde diferentes níveis de gestão são aplicados, incluindo áreas onde a gestão do subcoberto seja completamente ausente durante várias décadas, permitindo assim a manutenção da actual biodiversidade da paisagem nestas áreas e para reduzir a incidência de incêndios. Esta solução permitiria o estabelecimento de um sistema metapopulacional, em que parcelas mais antigas constituíssem simultaneamente, reservatórios e fontes de espécies que alimentariam as parcelas afectadas pela gestão florestal, mantendo-se assim elevados níveis de biodiversidade na paisagem (Lindenmayer & Franklin 2002).

Não obstante, as prioridades de conservação, devem compreender a necessidade de protecção das áreas florestais onde o subcoberto esteja em estádios de recuperação mais avançados, com o prejuízo de haver perdas de biodiversidade irreversíveis que poderiam conduzir à perda da identidade do ecossistema ao nível da sua estrutura, composição e função. Estes locais devem estar assim salvaguardados de qualquer intervenção ao nível da gestão do subcoberto, ou caso seja necessário, essa intervenção deverá ser mínima. Esta necessidade justifica-se não só pelos elevados níveis de biodiversidade comportados por estes locais e os longos períodos de recuperação dessa mesma biodiversidade após perturbação por limpeza mecânica do subcoberto (Capítulos 2 e 3), mas também pela raridade destas florestas que reduzem cada vez mais a sua área de ocupação devido aos incêndios mas também às limpezas do subcoberto (Acácio et al. 2008) e pela sua importância ecológica internacionalmente reconhecida (classificadas como Sítios de Importância Comunitária no âmbito da Directiva 92/43/EEC). A manutenção destas parcelas ainda que fragmentadas numa paisagem que outrora dominaram, podendo conter espécies raras ou ausentes noutros locais, conduz à preservação de reservatórios e fontes de

biodiversidade, essenciais para garantir a recuperação das parcelas perturbadas devido à gestão do subcoberto (Lindenmayer & Franklin 2002).

Propõe-se assim que os planos de gestão regionais destes ecossistemas deverão ser baseados na implementação de práticas florestais sustentáveis numa óptica de usos- múltiplos da floresta, que contemple a conservação da biodiversidade de forma compatível com a obtenção sustentável de contrapartidas sócio-económicas (Camprodon & Plana 2001, Gil-Tena et al. 2007). Deverá ser realizada a promoção de actividades sócio-económicas locais, baseadas na exploração da cortiça e de outros produtos secundários como é o caso do medronho, o que permitirá a reversão da tendência de êxodo rural e assim, a homogeneização da paisagem bem como o aumento do risco de incêndios (Acácio et al. 2008).

Apesar de se considerar que os trabalhos desenvolvidos no âmbito da presente dissertação permitiram clarificar os processos inerentes da dinâmica das diferentes componentes dos ecossistemas em relação às perturbações que lhes são impostas, ficam ainda algumas questões por responder as quais deverão ser tidas em consideração a quando da elaboração de planos de gestão para as áreas, nomeadamente:

1. Qual a quantidade óptima das parcelas florestais com diferentes idades do subcoberto;

2. Qual deverá ser a dimensão mínima das manchas com floresta com subcoberto muito antigo (> 50 anos) e a sua densidade na paisagem?

3. Qual a estrutura espacial dos mosaicos de paisagem mais adequados e como implementá-los?

4. Qual a necessidade de estabelecer corredores ecológicos e de que forma é que estes devem ser estabelecidos?

4.4 Referências

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