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4 MUDANÇA INSTITUCIONAL E DESEMPENHO EM COMPRAS PÚBLICAS: UMA ANÁLISE DO

5.2 IMPLICAÇÕES POLÍTICAS E PRÁTICAS

Os resultados obtidos nesta tese também apresentam algumas implicações políticas e gerenciais importantes. O presente estudo é um dos poucos a fornecer evidências empíricas sobre os efeitos das alterações introduzidas na legislação que regulam o sistema de compras públicas brasileiro, para além dos seus impactos na economia obtida para os cofres públicos. Assim sendo, o estudo fornece elementos que podem ser utilizados por todas as partes envolvidas nos processos de compras públicas, fornecedores, legisladores e organizações públicas contratantes, para promover uma melhor adequação dos mecanismos introduzidos pelas novas regulamentações. No entanto, os resultados também evidenciam a dificuldade de prever em leis e decretos as soluções para todos os problemas observados no âmbito das compras públicas, conforme argumentou Fiuza (2009), Motta (2010), Tadelis (2012) e Spagnolo (2012).

Em primeiro lugar, ao demonstrar que uma parcela considerável das aquisições eletrônicas (12%) foi concluída sem que uma fonte de fornecimento fosse selecionada (licitações desertas ou fracassadas), esta tese coloca em evidência a capacidade dos gestores públicos para especificação do objeto licitado e para definição do seu preço de reserva. Com efeito, as organizações contratantes deveriam considerar a importância de se desenvolver manuais de boas práticas, incluindo procedimentos para formulação de editais, padronização de produtos e realização de pesquisa de mercado, para definição dos preços estimados para contratação, dado que esses atributos desempenham um papel relevante na atração de potenciais fornecedores e, por conseguinte, no resultado da licitação.

Nesse ponto, vale apena observar que na maioria dos órgãos pesquisados a pesquisa de preços para aquisição de bens e contratação de serviços tem sido realizada apenas por meio da pesquisa com fornecedores. Este tipo de cotação tem sido muito criticado pelos órgãos de controle, pois a pesquisa feita entre os

fornecedores, além de elevar muitas vezes os preços cotados a patamares acima dos praticados no mercado, viola o princípio da isonomia, uma vez que o conhecimento do projeto foi proporcionado apenas para um grupo de fornecedores, que o receberam para a devida cotação. Contudo, para além da pesquisa com fornecedores, a pesquisa de preços também pode ser realizada mediante a utilização de um dos parâmetros a seguir: (i) - Portal de Compras Governamentais – Comprasnet; (ii) pesquisa publicada em mídia especializada, sítios eletrônicos especializados ou de domínio amplo, desde que contenha a data e hora de acesso; ou (iii) contratações similares de outros entes públicos, em execução ou concluídos nos 180 (cento e oitenta) dias anteriores à data da pesquisa de preços, cabendo ao gestor optar pela forma que melhor atenda ao objeto a ser contratado e à realidade local. Nesse sentido, as organizações e entidades responsáveis pelos programas de capacitação dos gestores público podem considerar aumentar o nível de conhecimento/informação dos gestores públicos envolvidos nas atividades de compras públicas sobre as diferentes formas de se realizar uma pesquisa de preços para aquisição de bens e contratação de serviços.

No que concerne ao uso das compras públicas para promoção de fins socioeconômicos, os resultados deste trabalho permitem informar aos gestores públicos que a participação de micro e pequenas empresas podem ser mais adequadas para contextos específicos, como no caso dos contratos de serviços com menor prazo de execução e de menor valor. Igualmente, os resultados indicam que os contratos de serviços na área de tecnologia da informação tendem a apresentar desempenho superior aos demais contratos de serviços frequentemente contratados pelas organizações pesquisadas, por meio da modalidade pregão, na forma eletrônica. Dessa maneira, o uso de contratos de serviços de tecnologia de informação, como benchmarking, pode ser útil para que os gestores públicos identifiquem as melhores práticas de contratação adotadas para esse tipo de serviço.

Sob a perspectiva da gestão da execução dos contratos de compras públicas, os resultados sugerem que as MPE apresentam uma maior probabilidade de terem os seus contratos rescindidos. Nesse sentido, essas empresas devem buscar melhorar o seu nível de serviço, além de melhorar sua comunicação com os gestores e fiscais de contratos, a fim de antecipar os problemas de adaptação e evitar sanções

contratuais. Além disso, sob o ponto de vista da organização contratante, é importante que os gestores públicos estejam atentos aos problemas enfrentados pelas MPE durante a execução do contrato e que busquem apoiar essas empresas, principalmente, no que se refere aos atrasos nos pagamentos devidos às MPE, dado que as MPE são reconhecidas pelas suas restrições financeiras.

No que concerne aos mecanismos de responsabilização dos fornecedores utilizados durante a execução do contrato, como as sanções registradas no SICAF, os resultados sugerem que as sanções previstas na legislação não parecem estar sendo suficientes para dirigir o comportamento das empresas contratadas pela administração pública, na medida em que os fornecedores com histórico de sanção são justamente os que influenciaram, de forma negativa, os indicadores de desempenho das aquisições no contexto pesquisado. Assim, recomenda-se o desenvolvimento de novos mecanismos de responsabilização que não apenas busquem prevenir o comportamento oportunista, mas que também estimulem o melhor resultado possível, em todas as dimensões que definem uma compra com desempenho satisfatório. Tais mecanismos poderiam ter início com a criação de um cadastro positivo dos fornecedores, a partir da estrutura do atual Sicaf. Esse cadastro positivo poderia utilizar as informações sobre o histórico de sanções dos fornecedores já disponível no Sicaf e incluiria novas medidas relacionadas à qualidade dos serviços prestados ou dos produtos fornecidos em contratações passadas. Com base nessas informações, seria possível realizar um ranqueamento dos licitantes e utilizá-lo como um critério de seleção complementar ao menor preço, tal como ocorre nos portais de compras eletrônicas da Amazon, eBay e

Freelancer.com.

Por sua vez, a partir da análise do Regime Diferenciado de Contratação, nota-se que é necessário um quadro mais amplo para a compreensão das decisões sobre a adoção do novo regime, bem como as razões associadas à não utilização de algumas inovações contidas no RDC, por exemplo: a contratação integrada e a remuneração variável. Esses resultados podem ser um indicativo de que, em muitos órgãos e entidades públicas, os funcionários responsáveis pelas atividades de compras e gestão/fiscalização da execução dos contratos podem trabalhar na área sem uma formação adequada para tanto. Assim, outra contribuição do estudo é advertir sobre o papel do processo administrativo e da capacidade de ação dos

gestores públicos para executar plenamente as possibilidades apresentadas pelo novo regime de contratação, bem sobre a necessidade de investimento na formação contínua dos servidores que atuam nessa área de contratação e, até, para a possibilidade da criação de carreiras voltadas especificamente para área de compras públicas.

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