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Com base nas análises realizadas, observa-se que as empresas que focam sua produção em vinhos viníferas ou vinhos finos e espumantes necessitam de maior tecnologia para o processo do que as empresas que focam seu produto na fabricação de vinhos de mesa ou vinhos comuns.

Pela análise da cadeia de valor, observa-se que as empresas que controlam a aquisição de uvas de terceiros, além de possuir plantio próprio são as empresas A,B,C, G e I. A empresa D foca no plantio próprio sem adquirir uvas no mercado. A empresa F somente adquire uvas no mercado mas com acompanhamento e as empresas E e H adquirem do mercado sem acompanhamento além de possuir plantio próprio.

A relação plantio próprio, mudas de qualidade e qualidade da uva está reforçando também a questão da complementaridade dos ativos (SCHOEMAKER e AMIT,1997;DIERICKX e COOL,1989), ou seja, um ativo de valor aumenta à medida que outro ativo de valor aumenta. No caso da indústria vinícola, mudas de qualidade associadas a um plantio com acompanhamento agronômico, focando a qualidade e não a produtividade, aliados a segredos de cultivo e colheita resultam em uvas de boa qualidade e, por consequência, há uma maior qualidade do produto final quando bem processada. Também reforça a condição de negociabilidade, conforme comentam Dierickx e Cool (1989), que o poder estratégico dos recursos residem não só em atributos e características individuais, mas no efeito de sua interação em maior ou menor complexidade.

As empresas, em sua maioria, concentram-se nos produtos que são seu core business, adquirindo outros produtos de terceiros para diversificar sua linha de produto e oferecer mais opções aos consumidores, o que ocorre com as empresas A,B,C,D,E,G e H. Como as empresas sofrem muito com a competição dos vinhos importados e dos produtos substitutos, tais como cervejas mais elaboradas, necessitam ofertar uma variedade maior de produtos.

Observa-se também que a forma de comercialização das empresas, com exceção de algumas, é muito semelhante, sendo que as empresas menores procuram não direcionar seus mercados para o exterior, trabalhando mais próximas do cliente no mercado nacional.

A logística e distribuição foram os pontos mais mencionados como fracos pelas empresas, sendo que a marca, localização e tecnologia, além da empresa ser familiar, foram os pontos fortes mais mencionados.

No que tange a processos, constata-se que, quanto maior o porte da empresa, mais aporte financeiro para investimentos em tecnologia, barris de carvalho para envelhecimento, controle de temperatura no ambiente e processos como o de micro-oxigenação e análises laboratoriais mais frequentes com laboratórios próprios. Porém, algumas das empresas pequenas pesquisadas também têm, em menor proporção, seus processos de envelhecimento com barris de carvalho e tecnologia para a fabricação de vinhos finos. Reforça a afirmação de Wernerfelt (1984) que as empresas desenvolvem uma “posição de recursos”, ou seja, utilizam os recursos para desenvolver uma posição competitiva mais difícil para outros copiarem.

A tecnologia no caso da indústria vinícola, pode ter sua mobilidade imperfeita por ser um recurso que pode ser mais valioso na empresa em que atualmente é empregado do que poder ser em uma outra (PETERAF,1993), uma vez que cada empresa pode se beneficiar de forma distintiva da tecnologia que possui. Podemos enquadrar as empresas pesquisadas como de média e alta tecnologia, sendo que, para as de média tecnologia, a autora enquadrou as empresas cujo processo de vinificação não tinha envelhecimento em barris de carvalho, mas sim em pipas e as análises laboratoriais são realizadas em pontos específicos, enquadrando nesta categoria as empresas C,D,E e H. As empresas de alta tecnologia, a autora enquadrou aquelas com processos de envelhecimento em barris de carvalho e com controles laboratoriais em várias fases do processo, correspondendo as empresas A,B,F,G e I.

A questão financeira também é de fundamental importância para investimentos, tanto em maquinários, como para manutenção de altos volumes de estoque necessários para o período de envelhecimento dos vinhos finos.

O fato de as empresas possuírem enólogo próprio também é um diferencial, principalmente se este possuir alguma experiência internacional.

As marcas também podem ser classificadas como não imitáveis. Como citado por Collis e Montgmorey (1995) e também por Rumelt (1987), esses recursos não são imitados devido à presença de dissuasores econômicos. Nesse caso, como grandes investimentos em marketing por exemplo.

Estas constatações reforçam a afirmação de Barney (1991) de que o pacote de recursos é heterogêneo em toda a empresa (pressuposto da visão baseada em recursos) e essa heterogeneidade implica que empresas com diferentes recursos estão aptas a competir no mercado, enquanto empresas com recursos marginais irão no mínimo se igualar e empresas com recursos superiores irão obter lucros.

Condições históricas únicas: muitas vinícolas são de propriedade de famílias com várias gerações no trabalho com a vitivinicultura. Isso faz com que elas tenham um conhecimento sobre a vinificação que outras empresas sem essa mesma tradição não possuem. A marca também pode ser caracterizada como dependente de caminho, uma vez que é construída ao longo do tempo. Por isso, tornam-se recursos de difícil imitação. Conforme Dierickx e Cool (1989), envolvem a dependência do caminho, uma seqüência de aprendizado com acertos e erros. Schoemaker e Amit (1997) também salientam que o conhecimento organizacional não pode ser comercializado e nem copiado, mas para isso deve estar enraizado na história e cultura da organização.

Ambiguidade Causal: para as empresas analisadas, a localização para plantio como principalmente para o turismo, em função de estarem localizadas em uma área conhecida por ser uma rota turística de vinhos se torna de difícil imitação para as empresas que não tem esses recursos, tornando-se um diferencial competitivo para elas.

Complexidade Social: Aliada a localização, também podemos citar que a concentração de entidades relacionadas à vitivinicultura está em sua grande maioria localizada também em Bento Gonçalves, no que se refere tanto a órgãos de pesquisa como também de desenvolvimento do setor.

Dos recursos propostos na pesquisa, para a indústria vinícola, sobressaem como estratégicos: as marcas, os contratos que são realizados para comercializar e para fornecimento da uva, a matéria-prima – uva e terras para plantio, equipamentos e localização tanto para o turismo como para o plantio.

Conclue-se que os recursos da indústria vinícola são utilizados em suas estratégias competitivas. Barney e Mackey (2005) reforçam que os recursos somente têm o potencial de criar valor econômico quando a empresa os utiliza para criar e implementar estratégias. Destacando também a colocação de Peteraf (1993) que pela análise da posição de recursos um gerente pode ter um claro entendimento da situação necessária para a empresa obter vantagem competitiva, por isso a importância da análise feita neste trabalho.

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