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Capítulo I Avaliação do Desempenho Docente

1.4. Importância da avaliação do desempenho docente

Para que serve a avaliação?

Os investigadores da OCDE (2012) afirmam que o sistema de avaliação do desempenho desenvolvido em Portugal desde 2007 é baseado numa série de bons princípios e inclui a maioria dos domínios do desempenho do professor e uma ampla gama de instrumentos e fontes de dados. Destacam positivamente: a progressão na carreira com base no mérito; a atenção dada ao contexto escolar; a introdução da observação de aulas; a importância concedida à autorreflexão assente em evidências.

Empenhar-se no desenvolvimento organizacional implica promover o crescimento pessoal e profissional do indivíduo, sendo necessário implementar modelos de avaliação capazes de promover e orientar uma evolução qualitativa. Qualquer que seja o domínio da actividade, a avaliação do desempenho profissional é reconhecida como importante para a gestão da qualidade (De Ketele, 2010: 13).

A investigação realizada ao longo de vários anos tem demonstrado que os professores eficazes são fundamentais para melhorar o desempenho dos alunos (OCDE, 2009c: 13) e que um conjunto de qualidades profissionais e pessoais dos docentes está diretamente associado a níveis de sucesso escolar mais elevados dos alunos (Tucker & Stronge, 2005).

Formosinho & Machado (2010: 105) ressaltam que a acção docente é elemento fulcral em cada escola para a prossecução do objectivo da melhoria das aprendizagens dos alunos, relevando desse facto a importância de um sistema de avaliação que verifique e valide os diferentes desempenhos profissionais. Não obstante alertam, também, para a dificuldade de atribuir, em exclusivo, a responsabilidade dos resultados

escolares dos alunos ao ensino ministrado pelos professores, pois existem fatores externos à atividade docente e condicionantes do sucesso dos alunos, designadamente, o estrato social e a educação ministrada no seio familiar, a motivação para a aprendizagem e as aprendizagens adquiridas fora da escola (idem: 82).

Darling-Hammond (2010: 202) reforça que

a consistência da qualidade docente pode aumentar a probabilidade de uma consistência da qualidade do ensino, mas não a garante por si só. As iniciativas que visam desenvolver a qualidade do ensino devem considerar não só os meios para identificar, recompensar e utilizar as competências e capacidades dos docentes, mas também para desenvolver contextos de ensino susceptíveis de permitirem boas práticas por parte dos professores.

Neste sentido, Assaél & Pavez (2008: 42), afirmam que o princípio da existência de um crescente reconhecimento do papel determinante dos docentes nos resultados escolares dos alunos legitima a existência de procedimentos que assegurem um bom desempenho.

Constatamos, nas opiniões dos autores supramencionados, que existem fatores extrínsecos ao desempenho docente que condicionam o sucesso escolar dos alunos, sendo atribuída importância a conjunturas relacionadas com os alunos e às condições de trabalho dos profissionais da educação. Nesta linha, Hadji (1995: 36), ressalva que a avaliação dos docentes deve atender a duas condições: tomar sempre como ponto de referência última o contributo do professor às aprendizagens dos alunos (a essência do ensino) e de se organizar em relação a uma intenção dominante: acompanhar, por exemplo, o professor no seu desenvolvimento profissional

A importância da avaliação do desempenho dos professores tem a ver com o fato de constituir um mecanismo de certificação do trabalho docente, ao longo da sua carreira, mas também permitir a verificação da necessidade de formação para o cumprimento eficaz das funções que lhe são conferidas.

Pode aparecer como um procedimento rotineiro, com pouco valor e importância, ou pode ser um meio privilegiado de estímulo à melhoria do desempenho (Darling- Hammond, 1997: 25) ou pode constituir um instrumento eficaz na melhoria do serviço prestado e na melhoria das escolas.

Para alcançar esta finalidade têm que ser acautelados um conjunto de aspetos apresentados por Flores (2009: 245):

a necessidade e a importância de ter em conta o contexto em que a avaliação se concretiza (as suas características e especificidades); a necessidade de tornar explícito o implícito, isto é, o conjunto de propósitos e de intenções subjacentes à avaliação; a necessidade de considerar a multidimensionalidade do ensino (…) isto é, a avaliação deve reflectir as perspectivas dos diferentes actores envolvidos, por exemplo, não só no que diz respeito aos seus pontos de vista ou posicionamentos sobre o que se avalia, mas também a compreensão e

participação na definição dos referentes dessa mesma avaliação. (…) Por fim, é de realçar a importância de considerar a diversidade de fontes, de elementos e de procedimentos de recolha de informação.

Morais (2009: 12), salienta a necessidade da existência de instrumentos que possam, por um lado, aferir a qualidade dos docentes, e por outro, a qualidade do serviço prestado e dos resultados obtidos, afigurando-se, deste modo, a avaliação, como uma ferramenta de gestão das pessoas e das organizações.

A dupla função da avaliação que inclui a melhoria do serviço prestado pela escola, particularmente, das aprendizagens dos alunos e do desenvolvimento profissional dos professores (Costa, Ventura, Leal, Barreira & Machado, 2011: 331) impõe um sistema de avaliação adequado, contextualizado, bem pensado, bem organizado e rigorosamente implementado.

Stronge (2010: 25) complementa que deve, também, ser equitativo e abrangente, baseado quer no desempenho profissional, quer nos requisitos organizacionais. Não podemos descurar a importância que a avaliação assume para a organização, para os avaliadores e para os avaliados, sobretudo devido às suas consequências sobre cada um destes elementos (Caetano, 2008: 14), pelo que, em função da maneira como for implementada, a avaliação dos professores poderá ser a melhor e a pior das “coisas” (Alves & Machado, 2010a: 9).

A complexidade da função docente impõe grande prudência quando se elaboram estratégias e mecanismos para avaliar o seu trabalho (Fanfani, 2009: 391).

Para que a avaliação não passe de um pró-forma e se transforme numa estratégia de estímulo ao desenvolvimento profissional (Day, 1999: 98) verdadeiramente importante para os docentes, na medida em que promove mudança e inovação é indispensável que se concretize como um processo consistente e útil, que na escola se adotem determinadas atitudes, metodologias, procedimentos e princípios (Fernandes, 2008: 22), que se acautele o fato de vir a ser vista como um ataque ao profissionalismo docente (Day, 1999: 98).

Devido à inexistência de uma cultura de avaliação em Portugal (Roldão, 2003) e porque como expõe Mestre (2002: 31), a palavra avaliação é, ainda hoje, associada a constrangimentos, tensão, ansiedade, medo. Esta conflitualidade que lhe é inerente advém do facto de ela desempenhar um importante papel relativamente ao percurso de vida de cada um de nós é, ainda, fundamental o envolvimento dos docentes em todo o processo, pois, como afirma Afonso (2009b: 26), as reformas sem ou contra os professores não chegam a bom porto.

A informação clara permite a compreensão e a reflexão sobre a inevitável avaliação do desempenho e, pode contribuir para uma maior capacidade de transformar o processo avaliativo num mecanismo justo promotor de desenvolvimento pessoal e profissional.

Concordamos com Campos (2005: 57) quando destaca a importância da avaliação no desenvolvimento das pessoas e das organizações, contribuindo pois para a melhoria da qualidade total. Não negligenciamos no entanto a ideia de Fernandes (2009: 21) é preciso compreender que a avaliação, por si só, não resolve magicamente os problemas. Nesta linha, no subcapítulo seguinte, apontamos as potencialidades e constrangimentos da avaliação do desempenho docente.

1.5. Potencialidades e constrangimentos da avaliação do