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Capítulo I Avaliação do Desempenho Docente

1.2. Perspetivas da avaliação do desempenho docente

Afonso (2009b: 26) refere que A profissão de professor não pode desenvolver-se fora de uma consciência profunda do que está a acontecer no mundo, na Educação, nas politicas nacionais e internacionais, despertando apenas e quando, tardiamente, se dá o choque com a realidade.

O desempenho dos docentes é influenciado por diversos fatores, uns relativos ao contexto: valores políticos, sócio-culturais e educacionais; tendências e tradições da educação escolar (políticas educativas centralizadoras); cultura institucional; expectativas da família ou da comunidade sobre o papel da escola; outros relativos ao professor: formação profissional inicial/contínua; experiência anterior como aluno; atitudes face à profissão; outros relativos aos alunos: experiência anterior de aprendizagem; práticas de aprendizagem; atitudes face à escola; alguns destes fatores são os mesmos que influenciam os docentes: teorias pessoais relativas à educação escolar (valores, atitudes, convicções) e biografia pessoal; outros relativos à próprio sistema educativo e consequentemente ao sistema de avaliação: orientações da política nacional e internacional, nomeadamente do CNE; OCDE, alteração e aumento compulsivo de funções e tarefas cometidas aos docentes; implementação de processos de avaliação de desempenho administrativos, burocráticos e estigmatizantes; redução artificial de cargas horárias e alterações aos planos curriculares; introdução de novas tecnologias na escola, sem formação antecipada dos intervenientes no ato educativo.

No quadro 1.2.1, apresentam-se os fatores relativos ao contexto, ao professor, aos alunos, ao próprio sistema educativo e consequentemente ao sistema de avaliação, que é necessário ter em conta, se quisermos uma ADD que realmente produza efeitos nas práticas.

Quadro 1.2.1 – Fatores que influenciam o sistema educativo e o sistema de ADD

Fatores relativos ao contexto

(Vieira & Moreira, 2010: 13-14)

Fatores relativos ao professor

(Vieira & Moreira, 2010: 13- 14)

Fatores relativos aos alunos

(Vieira & Moreira, 2010: 13-14)

Fatores relativos ao próprio sistema educativo

e ao sistema de ADD

(adaptado de Ruivo, 2014)

- valores: competitividade, individualismo, eficácia, normalização, resignação, obediência à autoridade;

- tendências e tradições da educação escolar: currículos- mosaico, manuais normalizadores da aprendizagem, exames externos, fragmentação do tempo de aprendizagem, número de alunos por turma e de turmas por professor, falta de recursos e espaços educativos, isolamento profissional dos professores, falta de tempo para reflectir e investigar a prática;

- cultura institucional:

hierarquização de papéis, regulamentação excessiva, burocratização do trabalho do professor, prestação de contas;

- expectativas da família ou da comunidade sobre o papel da escola: visão do professor como transmissor de conhecimentos, do aluno como receptor passivo, da avaliação como forma de selecção, do castigo e da recompensa como formas de educação.

- formação profissional inicial/contínua:

académica, aplicacionista (não reflexiva);

- experiência anterior como aluno: centrada na autoridade do professor e do conhecimento;

- teorias pessoais: visão da educação como reprodução;

- práticas de ensino: centradas na autoridade do professor e do conhecimento; - atitudes face à profissão: conformismo, impotência, inércia, desmotivação, pessimismo, cinismo, cansaço, isolamento;

- biografia pessoal:

factores relativos à personalidade, às condições e aos percursos de vida que

possam condicionar negativamente o professor. - experiência anterior de aprendizagem: centrada na autoridade do professor e do conhecimento; - teorias pessoais: visão da educação como reprodução; - práticas de aprendizagem: dependentes da autoridade do professor e do conhecimento; - atitudes face à escola: conformismo, impotência, inércia, desmotivação, pessimismo, cinismo, cansaço, isolamento; - biografia pessoal: factores relativos à personalidade, às condições e aos percursos de vida que possam condicionar negativamente o aluno. - orientações da política nacional e internacional; - alteração e aumento compulsivo de funções e tarefas cometidas aos docentes, colocando-os na vertigem da desprofissionalização; - implementação de processos de avaliação de desempenho administrativos, burocráticos e estigmatizantes; - redução artificial de cargas horárias e

alterações aos planos curriculares ao sabor das circunstâncias;

- introdução de novas tecnologias na escola,

sem formação

antecipada.

Estes fatores, que na sua maioria os profissionais e os alunos não podem controlar, influenciam, também, os propósitos e as perspetivas de avaliação do sistema de ADD.

Simões (2002: 44), referencia várias perspetivas, avaliação formativa / avaliação sumativa;avaliação para o desenvolvimento profissional / prestação de contas;não controladora / avaliação controladora.

Debruçamos-nos sobre as vigentes no sistema desenvolvido em Portugal, instituídas pelo Decreto-Lei nº15/2007, de 19 de janeiro e referidas na literatura como sendo as duas perspectivas centrais, a avaliação sumativa e a avaliação formativa (Cronbach, 1963; Scriven, 1967; Darling-Hammond, 1997, 2010; Duke & Stiggins, 1990; Hadji, 1995; Pacheco & Flores, 1999; Simões, 2000; Mestre, 2002; Wise & Pease, 2005; Nevo, 2005; Tucker & Stronge, 2005; Torrecilla, 2006; Fernandes, 2008, 2009; OCDE, 2009d; Bolívar, 2010; Stronge, 2010).

Torrecilla (2006) acrescenta que se encontram, também presentes na maioria dos sistemas de avaliação do desempenho docente dos países dos continentes americano e europeu.

Barreira & Rebelo (2008: 7).A função formativa está presente no enfoque dado à auto-avaliação, ao aperfeiçoamento das competências dos docentes e à melhoria das aprendizagens dos alunos; a função sumativa coexiste com a formativa porque

considera importante o desenvolvimento de competências mínimas e deveres dos docentes, orientadas por metas estabelecidas nos documentos estruturantes de cada unidade de gestão.

Day (1999) e a OCDE (2009d) alertam que a coexistência destas duas vertentes da avaliação num processo único é potenciadora de vários constrangimentos e tensões.

Neste sentido, com base em estudos realizados sobre esta matéria, Simões (2000: 45), salienta que, os professores reagem mais positivamente a uma avaliação cujos resultados detêm unicamente propósitos formativos, auxiliando-os na melhoria do seu desempenho profissional e a OCDE (2009d) reforça que quando a avaliação tem propósitos sumativos, os docentes tendem a ocultar os seus pontos fracos o que conduz a uma restrição na melhoria do desempenho.

As finalidades das avaliações formativa e sumativa são diferentes.

A primeira, não “punitiva”, sem consequências na carreira docente, constitui-se numa avaliação profissional para o desenvolvimento, é promotora de uma cultura colaborativa, foca-se no desenvolvimento profissional dos docentes, na melhoria do desempenho das suas funções e engloba oportunidades que permitam ajudar os docentes a aprender sobre a sua própria prática, bem como a reflectir sobre ela e, ao mesmo tempo, a melhorá-la (Stronge, 2010: 27) e começa a ser considerada, principalmente pelos docentes, como a finalidade essencial da avaliação (Mestre, 2002: 56).

A avaliação sumativa, controladora, penalizadora, uma vez que tem consequências na classificação e progressão da carreira (Machado & Formosinho, 2010: 110), é, também, valorizadora visto que reconhece o mérito e valor dos docentes, assenta em critérios de eficácia, de resultados, de qualidade, de responsabilização, ditados por razões de ordem económica e de gestão de recursos humanos, centra-se na prestação de contas, encontrando-se norteada para a tomada de decisões no âmbito do acesso, a permanência ou a promoção na profissão (Simões, 2000: 163). Privilegia a natureza extrínseca da acção docente, é da responsabilidade da administração e preocupa-se, sobretudo, com a fiscalização do cumprimento das burocracias escolares (Mestre, 2002: 90).

No subcapítulo 1.3. realizamos uma resenha histórica da ADD e apresentamos o seu enquadramento normativo que tem sofrido diversas alterações a partir de 1986 (publicação da Lei de Bases do Sistema Educativo, LBSE).

1.3. Enquadramento normativo da avaliação de desempenho