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Importância da cooperação transfronteiriça para o desenvolvimento do turismo

Capítulo 3. Turismo e cooperação transfronteiriça

3.5. Importância da cooperação transfronteiriça para o desenvolvimento do turismo

Tendo observado a importância das fronteiras e o seu poder de atração, bem como é que as regiões transfronteiriças conseguem ser inovadoras para serem capazes de desenvolver o turismo, importa assim estabelecer uma ligação muito importante em torno da cooperação transfronteiriça.

Atualmente, percebe-se que as regiões de fronteira, no que diz respeito ao seu desenvolvimento turístico, conseguem trazer novos desafios aos atores nos territórios (Liberato et al., 2016), na medida em que, especialmente na União Europeia, existem mais oportunidades a nível transfronteiriço, pois há um maior grau de permeabilidade e flexibilidade nas fronteiras dos países. Tendo a União Europeia o propósito de integração através da cooperação, tem desenvolvido programas europeus, quer de vizinhança, quer de parcerias, que vão possibilitar uma maior união aos países que aderirem a estes programas (Amaral, 2016). Torna-se muito importante que existam efetivamente programas que permitam a interligação de diferentes países, para que assim se estabeleça uma cooperação no âmbito do turismo de cariz transfronteiriço, bem como as oportunidades que o mesmo trará.

Especialmente na União Europeia, verifica-se que as regiões fronteiriças internas conseguem abranger 40% do território; representam 30 % da população (cerca de 150 milhões de pessoas); geram 30% do Produto Interno Bruto (PIB) da UE; acolhem quase 2 milhões de viajantes transfronteiriços regulares, sendo que estão integrados neste número trabalhadores transfronteiriços (1,3 milhões – representa 0,6% do total de pessoas empregadas em toda a UE) (Comissão Europeia, 2017), mostrando assim que as regiões fronteiriças são espaços propícios para o desenvolvimento do turismo através do estabelecimento da cooperação entre diferentes países (Liberato et al., 2016).

O principal objetivo desta forma de cooperação passa pelo apoio ao desenvolvimento (social e económico) das regiões fronteiriças em sistema cooperativo (Laranjeira, 2014). Para o êxito da cooperação, o financiamento do programa INTERREG da UE é considerado um fator importante para tal (Fricke, 2015). Perante esta informação, percebe-se que a União Europeia estimula cada vez mais o desenvolvimento e cooperação das regiões transfronteiriças (Liberato et al., 2016), e o próprio fenómeno do turismo consegue oferecer oportunidades de revitalização nos destinos, tendo um crescente reconhecimento no que diz respeito ao seu papel no desenvolvimento económico regional (Ritchie & Hall, 1999). Para além desta componente económica associada, este setor também está muito dependente do ambiente e da qualidade ambiental, sendo fulcrais para o estabelecimento de estratégias direcionadas para o seu desenvolvimento (Rua & Albuquerque, 2009).

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Assim, em contexto europeu, devido ao processo de integração europeia que foi moroso e complexo, tem como consequência positiva deste processo o desenvolvimento do turismo de cariz transfronteiriço nas regiões fronteiriças (Prokkola, 2010). Por outro lado, em outras zonas do planeta, existem países extremamente conflituosos, que utilizam as fronteiras para marcar o território para defesa e limitar o contacto, sendo que aqui os fluxos turísticos são muito mais controlados e restritos, como o caso do Médio Oriente, ou entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul (Timothy, 1995). Tirando estes casos mais conturbados, já se começa a verificar que muitas nações estão a dar menos importância a questões militares e socioeconómicas associadas às fronteiras e estão a apostar em linhas de integração e cooperação (Timothy & Tosun, 2003). No entanto, devido às conjunturas que os países possam eventualmente ter, este tipo de realidade pode facilmente desvanecer-se e as questões militares destacarem-se.

A questão da sustentabilidade é muito importante para o desenvolvimento do turismo, neste caso em destinos transfronteiriços. O não desenvolvimento sustentável do turismo vai levar ao colapso dos destinos, podendo destruir os seus maiores bens. Assim, o desenvolvimento sustentável tem em vista o futuro da gestão dos recursos naturais e qualidade ambiental, e sendo um fenómeno mais amplo tem várias dimensões para além da ambiental, como a social e económica (Abranja & Almeida, 2009). Tendo em conta estas dimensões, percebe-se que a participação dos atores locais e a implementação de políticas (recursos, características do destino, necessidades e perceções dos stakeholders) são essenciais e influenciadoras para o desenvolvimento da sustentabilidade nos destinos turísticos (Fernandes & Eusébio, 2014). Numa investigação levada a cabo por Stoffelen et al. (2017) foi denotado que elementos como o turismo, a cultura e a natureza são os sectores que apresentam um maior grau de importância no que diz respeito à cooperação transfronteiriça (Stoffelen, Ioannides, & Vanneste, 2017). Para Gonçalves (2005), a cooperação é chave do sucesso no que diz respeito ao desenvolvimento sustentável.

Nas regiões de fronteira, a tipologia de cooperação transfronteiriça é considerada uma estratégica no que diz respeito a fatores como a sustentabilidade e desenvolvimento dos destinos turísticos (Liberato et al., 2017). Durante este complexo processo, é necessário que se estabeleçam políticas que interliguem o turismo com o desenvolvimento sustentável (Ferreira & Tavares, 2012), existindo a necessidade de verificar quais os aspetos que requerem maior nível de atenção por parte das entidades gestoras do território.

Existem cerca de cinco categorias de fatores que devem ser tidos em consideração para a interligação dos destinos transfronteiriços, sendo eles: semelhança institucional, ligação de atores no território, liderança e capacidades empreendedoras, relações próximas e serendipidade (Blasco, Guia, & Prats, 2014). A Associação das Regiões Fronteiriças Europeias (AEBR) considera que os seguintes princípios resultam numa cooperação transfronteiriça bem sucedida:

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parceria; subsidiariedade; existência de um conceito ou programa comum de desenvolvimento transfronteiriço, estruturas conjuntas a nível regional/local e fontes independentes de financiamento (AEBR, 2000). Pardellas de Blas e Padin Fabeiro (2012), vão ao encontro desta ideia, na medida em que consideram que a existência de uma “rede de governança” que integre tanto atores públicos, privados e a sociedade civil, é essencial para que, conjuntamente, sejam aplicadas decisões e estratégias (Pardellas de Blas & Padin Fabeiro, 2012). Como se pode constatar, a cooperação transfronteiriça envolve um elemento sensível, a organização territorial (Fricke, 2015), sendo que alguns dos principais motivos para a cooperação transfronteiriça são: a transformação da fronteira (deixa de ser uma linha de separação para ser um espaço de comunicação); o reforço da democracia e o desenvolvimento de estruturas (administrativas e operacionais) a nível local/regional; e a promoção do crescimento e desenvolvimento económico e a melhoria dos padrões de vida (AEBR, 2000).

O desenvolvimento turístico dos destinos, mais concretamente, nas Euroregiões, não se pode apenas focar na atratividade, deve juntar dois elementos importantes nesses territórios – os agentes e a população local –, para que futuramente sejam definidas estratégias que potenciem o desenvolvimento de um turismo de fronteira e transfronteiriço (Pereira & Pereiro, 2014). No entanto, apesar das vantagens que o setor turístico consegue trazer com o estabelecimento da cooperação transfronteiriça, este nem sempre leva a resultados desejáveis, como muitas vezes se gostaria (Ioannides, Nielsen, & Billing, 2006). Nos dias que correm, as entidades tanto públicas como privadas relacionadas com o sector turístico têm de estar preparadas com as ferramentas necessárias para se posicionarem no mercado pretendido de forma adequada tendo em conta o ambiente competitivo que podem encontrar (Ramos, Rodrigues, & Perna, 2009).

Assim, percebe-se que o turismo é um importante motor de desenvolvimento regional e transfronteiriço que promove a cooperação transfronteiriça, devendo ser integrada a sustentabilidade na elaboração das estratégias e políticas territoriais, envolvendo os vários stakeholders no território. Torna-se, assim, importante inovar, procurando desenvolver novas ofertas que renovem a imagem dos destinos tradicionais (Gonçalves, 2005), podendo a cooperação transfronteiriça ser efetivamente um fator muito importante no turismo.

3.6.

Conclusão

As fronteiras podem ser consideradas barreiras, bem como podem ser zonas de contacto e cooperação, sendo que esta ligação é mais fácil de acontecer em países que integrem a União Europeia do que em outras partes do globo. A cooperação existente na área do turismo tem um papel crucial, visto que consegue revitalizar regiões de fronteira em áreas afastadas dos polos de desenvolvimento económico. Existem certos recursos, que se encontram em zonas de fronteira e que pertencem simultaneamente a diversos países, e que têm potencial e poder de atração turística. Assim o turismo associado à componente transfronteiriça é também um conceito

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bastante fragmentado, existindo várias definições que englobam o turismo transfronteiriço, devendo estar sempre associado à sustentabilidade. Na União Europeia, para o êxito da cooperação, os fundos comunitários são muito importantes para o desenvolvimento das eurocidades e euroregiões. A boa comunicação e cooperação de entidades, quer públicas quer privadas, é fundamental para criarem e desenvolverem linhas estratégicas conjuntas que possibilitem o desenvolvimento turístico destes destinos.

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