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3.6 Depósitos Recentes e Eventos Tectônicos Quaternários

3.6.1 Importância da Tectônica Recente nos Estudos

Considerando o relevo como o aspecto exterior que toma a litosfera, e produto das características litoestruturais e da ação dos processos exógenos, constata-se que a analise das feições geomorfológica contribuem significativamente no estudo da dinâmica que se estabelece neste setor.

Além disso, nas últimas décadas tem ocorrido um gradativo crescimento no âmbito da pesquisa geográfica e geológica, pela utilização de estudos morfoestratigráficos e tectônicos na compreensão da dinâmica geomorfológica de diversas áreas do país, principalmente nos trabalhos relativos à Região Sudeste do Brasil. Nesta perspectiva, abordando também estudos relacionados à movimentos tectônicos recentes (neotectônica) encontram-se os trabalhos de Hasui (1990), Hasui e Costa (1992, 1996), Saadi, Valadão e Silveira (1991), Saadi (1992, 1993) Saadi, Hasui e Magalhães (1991), Fúlfaro & Barcelos (1991), Savador & Riccomini (1995), Magalhães, Etchebehere, Saad e Fúlfaro (1996), Santos (1999) Gontijo (1999), Etchebehere (2000), Bistrichi (2001) Hiruma e Riccomini (2000),

De modo geral, os trabalhos citados evidenciam movimentos tectônicos posteriores ao grande arranjamento continental vinculado à Placa de Nazca e a Placa Sul Americana e a decorrente separação dos continentes Americano e Africano, não havendo porém, homogeneidade na definição do conceito de neotectonica. No entanto tais trabalhos encontram semelhanças no que se refere ao método utilizado na identificação e entendimento da dinâmica morfogenética que se processa nas Bacias e Cinturões analisados.

Salvador e Riccomini (1995), analisando o Alto Estrutural de Queluz, utilizaram-se de métodos que compreenderam a análise estratigráfica, estrutural, como também a interpretação de mapas morfométricos. Métodos estruturais tradicionais em observações de campo como a análise de falhas e estrias, assim como a identificação de famílias de juntas permitiram no trabalho mencionado a sistematização destas deformações a nível regional.

Para Gontijo (1999), utilizando-se mapas geomorfológicos, da rede de drenagem, modelo digital e dos perfis topográficos e geológicos, fotografias aéreas e imagens de satélite, permitiram para o trabalho na região da Bocaina, a identificação e interpretação dos lineamentos estruturais e de drenagem, bem como anomalias nas formas de relevo. Santos (1999), estabeleceu a evolução morfotectônica de Aiuruoca, através da análise conjunta de feições da rede de drenagem, do relevo e da configuração atual dos registros sedimentares cenozóicos.

Hiruma e Riccomini (2000) constatou com pesquisa no Planalto de Campos do Jordão, que métodos morfométricos aplicados à identificação preliminar de áreas com maior probabilidade de ocorrência de registros de depósitos recentes auxiliaram

na visualização de diferentes compartimentos morfológicos permitindo a identificação de descontinuidades e anomalias indicativas de controle neotectônico.

Em estudo na região de Atibaia-Bragança Paulista, Bistrichi (2001) comprovou que as análises de drenagem são adequadas para estudos tectônicos, tanto para a identificação de áreas sujeitas a movimentação quanto para a avaliação qualitativa das deformações e mesmo quantitativa de sua intensidade. Confirma-se assim, a importância dos parâmetros morfométricos das redes de drenagem para estudos morfotectônicos. Etchebehere (2000), também comprovou em pesquisa no Vale do Rio do Peixe, que a análise morfométrica da rede de drenagem , possibilita identificar anomalias que estejam vinculados à processos neotectônicos.

No que se refere à identificação das feições geomorfológicas as quais podem indicar eventos neotectônicos, Suguio (2001) discute alguns modelos que têm norteado as interpretações de diversos pesquisadores em trabalhos de campo. Entre os modelos mais utilizados estão as feições de relevo em compartimentos deformados por falhas, como aqueles encontrados no setor de contato entre o gráben do Médio Curso do Paraíba do Sul e Serra do Mar (Figura 15).

Segundo o autor (op. cit.), a escarpa de falha constitui uma das manifestações superficiais de falhas que afetam uma região, desencadeamento anomalias de relevo, sendo que em seguida à movimentação da falha a superfície do terreno submetida aos processos erosivos, resulta na desconfiguração da forma original, principalmente em ambientes quentes e úmidos.

Figura 15 – Diversos Tipos de Relevo Deformados por Falhas.

f-f” = falha de rejeito lateral A = gráben (fossa tectônica) B = escarpa de falha baixa C = faceta triangular

D = desvio na direção do vale fluvial E = lagoa de falha

F = lagoa de subsidência tectônica G = bloco soerguido

H = intumescência tectônica I = escarpa de falha cega J = captura fluvial

K = fraturas escalonadas

Fonte: Matsuda & Okada, (1968, apud Suguio 2001)

Com relação às evidências geomorfológicas de maior detalhe, Suguio (2001) efetua compilações sobre feições fisiográficas, apresentando modelos onde às anomalias geomorfológicas indicadoras de atividades tectônicas são divididas em cinco grupos:

a) Relacionadas a escarpas de falha e lineamentos (Figura 16); b) Relacionadas a depósitos superficiais deformados (Figura 17); c) Relacionadas a interflúvios e vertentes (Figura 18);

d) Relacionadas a rede de drenagem (Figura 19);

e) Relacionadas à disposição geométrica-espacial dos deoísitos superficiais (Figura 20).

Figura 16 – Anomalias geomorfológicas indicadoras de atividades neotectônicas relacionadas a escarpas de falha e lineamentos.

Fonte: Goy, et al. (1991, apud Suguio 2001).

Figura 17 – Anomalias geomorfológicas indicadoras de atividades neotectônicas relacionadas a depósitos superficiais deformados.

Figura 18 – Anomalias geomorfológicas indicadoras de atividades neotectônicas relacionadas a interflúvios e vertentes.

Fonte: Goy, et al. (1991, apud Suguio 2001).

Figura 19 – Anomalias geomorfológicas indicadoras de atividades neotectônicas relacionadas à rede de drenagem.

Figura 20 – Anomalias geomorfológicas indicadoras de atividades neotectônicas relacionadas à disposição geométrica-espacial dos depósitos superficiais.

Fonte: Goy, et al. (1991, apud Suguio 2001).

Suguio (2001), concorda que além da identificação em campo das feições acima expostas, a análise regional com a utilização de índices morfométricos como a densidade de drenagem, podem auxiliar na detecção de descontinuidades da superfícies vinculadas a deformações neotectônicas.

A análise geomorfológica configura-se deste modo como importante instrumento que permite uma análise mais sucinta do modelado do relevo de uma determinada área. Assim é possível, juntamente com o trabalho de campo, analisar que formas os aspectos estruturais estão desenvolvendo no relevo e se estas características litoestratigráficas estão ou não vinculadas a reativações recentes.

A drenagem, como um atributo estreitamente ligado aos estudos geomorfológicos, se traduz como um outro importante fator a ser observado na paisagem. Esta proposição refere-se ao fato da drenagem ser o primeiro agente geomorfológico a sofrer alteração no caso de fenômenos tectônicos.

Isso ocorre devido à alteração do nível de base, tanto local, regional como continental, decorrente de um soerguimento ou abatimento. Neste caso a drenagem procurará rapidamente, pela própria força da gravidade, ajusta-se às novas condições estabelecidas, alterando ao mesmo tempo, toda a dinâmica

erosiva. A acumulação de sedimentos também será modificada, construindo níveis diferenciados de terraços e planícies fluviais e interferindo também na estratificação dos pacotes sedimentares.

No que se refere à drenagem, é necessário esclarecer que cuidados são indispensáveis na análise dos indicadores de fenômenos neotectônicos. Tem-se cogitado muito a idéia que alterações em canais de 1º ordem são por si só reflexos de eventos tectônicos recentes, no entanto deve-se atentar ao fato de cada região possui uma dinâmica geomorfológica diferenciada, e que podem existir outros processos que ocasionem uma nova orientação destes canais.

Outros fenômenos, como o deslocamento de colinas, anfiteatros soerguidos e escalonados e lagoas em atuais interflúvios, são formas geomorfológicas que podem indicar fenômenos neotectônicos.

Como o relevo que se identifica na paisagem é Quaternário e no máximo Terciário, as formas neotectônicas estão intrinsecamente relacionadas aos aspectos geomorfológicos, oferecendo bases para uma outra área das Geociências, a Morfotectônica.