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Em pequenas bacias hidrográficas, como a do Arroio Lino, a ocupação e uso do solo têm provocado impactos ambientais adversos sobre a qualidade da água, principalmente quando praticada em áreas marginais e ecologicamente sensíveis, como as APP. Os impactos podem ser agravados se neste processo de ocupação dos solos as matas ciliares forem suprimidas (BOHRER, 2000). Sem esta vegetação, a chuva leva os sedimentos do solo descoberto, acentuando a erosão e o assoreamento de rios, arroios e lagoas (LIMA, 2008). Oliveira Filho et al. (1994) alertam que a devastação das matas ciliares tem contribuído para o assoreamento, o aumento da turbidez das águas, o desequilíbrio do regime das cheias, a erosão das margens de grande número de cursos d’água. O estudo pioneiro desenvolvido por Lowrence, Leonard e Sheridan (1985) apontou a importância da zona ciliar no tamponamento dos poluentes e para a manutenção da integridade dos recursos hídricos.

Perante esta situação, Lima e Zakia (2000) salientam que, levando em conta a integridade da microbacia hidrográfica, as matas ciliares ocupam as áreas mais sensíveis e dinâmicas da paisagem tanto em termos hidrológicos, como ecológicos e geomorfológicos, merecendo assim, especial atenção e maior compreensão destes fatores e sua interelação. Franco (2006) destaca que as matas ciliares constituem-se, reconhecidamente, em elemento básico de proteção dos recursos hídricos, apresentando diversos benefícios tanto do ponto de vista utilitarista, em relação direta ao ser humano, quanto do ponto de vista efetivamente ecológico, para a preservação do equilíbrio ambiental e, consequentemente, da biodiversidade.

Rodrigues e Leitão Filho (2000) indicam funções hidrológicas, ecológicas e limnológicas atribuídas às matas ciliares. Como funções hidrológicas apontam a contenção de

ribanceiras, a diminuição e filtragem do escoamento superficial, o impedimento e a criação de barreiras para o carreamento de sedimentos para o sistema aquático, a interceptação e absorção da radiação solar (mantendo a estabilidade térmica) e o controle do fluxo e vazão do rio. Dentre as funções ecológicas destacam principalmente a formação de microclima e a importância da constituição de habitats, ou seja, de áreas de abrigo e de reprodução, assim como a formação de corredores de migração da fauna terrestre e a entrada de suprimento orgânico. E no grupo das funções limnológicas eles consideram importantes a influência das matas ciliares na diminuição das concentrações dos elementos químicos e dos sedimentos em suspensão. De acordo com Rodrigues e Leitão Filho (2000) as matas ciliares apresentam inquestionável importância em relação aos diversos fatores ambientais, devido às suas características peculiares, sempre associadas aos cursos d’água.

Para Lima (2008) a vegetação da mata ciliar executa uma série de serviços ambientais fundamentais para manter a qualidade e disponibilidade de água em escala de microbacias hidrográficas. Desta forma, segundo o autor a zona ciliar, ao isolar estrategicamente o curso d’água dos terrenos mais elevados da microbacia, desempenha uma ação eficaz de filtragem de sedimentos e outros poluentes. Esta função da mata ciliar é, sem dúvida, de aplicação prática imediata para o manejo de microbacias. Alguns estudos desenvolvidos por seu grupo de pesquisa têm demonstrado que a recuperação da vegetação ciliar contribui para o aumento da capacidade de armazenamento da água na microbacia ao longo da zona ciliar, o que favorece a regularização da vazão dos arroios e rios (LIMA; ZAKIA, 2000; ATTANASIO et al., 2006). Segundo os autores, a destruição da mata ciliar pode, a médio e longo prazo, diminuir a capacidade de armazenamento da microbacia, e consequentemente, a vazão na estação seca.

Barton e Davis (1993) demonstraram que a mata ciliar pode também diminuir significativamente a concentração de herbicidas nos cursos d’água de microbacias tratadas com tais produtos. Ludovice et al. (2003) constataram a eficiência das faixas-filtro vegetadas na retenção de atrazina (herbicida) mobilizada pelo escoamento superficial. Os autores defendem que estas faixas vegetadas podem se constituir em uma importante alternativa para o controle de carga difusa proveniente de áreas de cultivo. Para Correll (1997) os poluentes e substâncias orgânicas podem ser detidos nessa zona tampão do solo podendo ser metabolizados biologicamente, absorvidos pelas plantas e micro-organismos ou adsorvidos às partículas do solo antes de atingir os corpos d’água.

Desta forma, segundo Lima e Zákia (2000) a permanência da integridade do ecossistema ciliar constitui fator crucial para a manutenção da saúde e da resiliência da

microbacia hidrográfica, como unidade geoecológica da paisagem. Contudo, os autores consideram que, nas condições brasileiras, as informações disponíveis sobre a dinâmica e eficiência das matas ciliares são ínfimas, em especial na abordagem baseada no seu potencial de tamponamento do aporte de materiais das áreas adjacentes. Eles defendem que é preciso iniciar trabalhos dentro do enfoque da microbacia hidrográfica, na busca da caracterização das zonas ciliares, de suas variações com as condições locais, de sua interação com a geomorfologia, com a geologia, com o regime de chuvas e, principalmente, com o tipo de vegetação.

Diante disto, o planejamento para o uso sustentável dos agroecossistemas requer que sejam preservados com vegetação nativa os ambientes mais sensíveis como as margens de cursos d’água, de nascentes e as encostas de morros com elevada declividade. Todavia, estas áreas despertam interesses conflitantes. Por um lado, agricultores e pecuaristas as vêem com potencial produtivo ou como meio de acesso dos animais à água. Por outro lado, sua preservação e restauração, visando proteger suas funções ambientais, são essenciais na busca da sustentabilidade (ATTANASIO et al., 2006). Deste modo, a adequação ambiental das unidades de produção familiar localizadas sobre ambientes ecologicamente frágeis do Sul do Brasil é tarefa difícil visto que, segundo Loch e Neumann (2002), ela gera conflitos com as práticas agrícolas desenvolvidas por estes agricultores familiares.

A partir desta breve análise da questão ambiental versus produção agrícola, evidencia- se que os conflitos na aplicação da legislação e a sua importância para a preservação das características mínimas dos ecossistemas naturais, tenham origem no modelo agrícola dominante. O uso do solo, respeitando as aptidões agrícolas e a aplicação da legislação ambiental, pode ser um grande passo no sentido do desenho de agroecossistemas mais sustentáveis, guardadas as especificidades no que tange a Agricultura Familiar. Contudo, tenderão a ter sua importância limitada caso o sistema de produção seja dependente de pacotes tecnológicos que promovem a degradação do ambiente. Nestas situações, a aplicação destas normas legais e técnicas tenderão agravar a situação econômica de muitas UPF.

3 MATERIAL E MÉTODOS