• Nenhum resultado encontrado

Importância de se Avaliar Qualidade de Vida no Idoso

2. Qualidade De Vida

2.4 Qualidade de Vida no Idoso

2.4.1. Importância de se Avaliar Qualidade de Vida no Idoso

Se o estudo e a avaliação da qualidade de vida têm mostrado a sua importância em vários segmentos e disciplinas, eles revelam-se ainda mais importantes para a população idosa, cujas características especificas do envelhecimento e o contexto sociocultural tornam mais complicada a aferição da qualidade de vida dessa faixa etária.

Para Bowling (1995b), aferir qualidade de vida é um processo muito complexo, e os domínios que requerem avaliação entre os idosos incluem os problemas de saúde, que podem levar à incapacidade e à invalidez, às alterações da saúde mental, da habilidade funcional, do estado geral de saúde, da satisfação de vida, do estado de espírito, do controlo (autonomia) e do suporte social. Face a esta enorme variedade de dimensões a serem aferidas, há necessidade de instrumentos multidimensionais que possam captar a enorme variabilidade dos diferentes grupos de idosos. Esses instrumentos devem considerar as especificidades dessa faixa etária, pois as populações idosas, em virtude dos seus valores e experiências de vida, diferem dos grupos etários mais jovens; além disto, factores relativos à idade afectam a saúde (dimensão importantíssima para a qualidade de vida na velhice) e diversas situações sociais (reforma, viuvez, dependência, perda de autonomia e de papéis sociais, entre outras) colocam obstáculos a uma vivência com melhor qualidade. Todos são factores que aumentam a complexidade da mensuração da qualidade de vida das pessoas idosas. Como refere FLETCHER (1992), o perigo é avaliar apenas como o idoso se adapta a ser velho.

C

CAAPPÍÍTTUULLOO

IIIIII

3.

SAÚDE

Segundo a OMS, saúde é um “estado de completo bem-estar físico, mental e social, que não consiste somente na ausência de doença ou enfermidade”. O estado de saúde constitui o único objectivo do consumo de cuidados de saúde, sendo estes um bem ou um serviço, cujo consumo proporciona saúde (OMS, 1978).

Na prática não existe nenhum sistema do tipo de Serviço Nacional de Saúde (SNS) puro. A tendência geral é cada vez mais para um decréscimo do papel do Estado na prestação de cuidados, com introdução de mecanismos de concorrência interna no sector como forma de permitir uma maior efectividade dos custos e uma melhor qualidade dos serviços prestados.

Num modelo puro de mercado livre de concorrência, o Estado não financia serviços, não é proprietário e nem gere recursos. Cabe-lhe apenas fixar as regras de concorrência, ou seja, estabelecer as regras relativamente aos aspectos quantitativos e qualitativos dos cuidados de saúde. Na prática também não existe um sistema puro de mercado livre de concorrência, porque torna-se necessário que o Estado garanta a regulamentação da qualidade dos cuidados, desenvolva programas de saúde pública e preste cuidados mais adequados.

Segundo a Lei de Bases da Saúde, Lei nº 48/90, de 24 de Agosto, o Serviço Nacional de Saúde tem como objectivo fundamental obter a igualdade dos cidadãos no acesso aos cuidados de saúde,

seja qual for a sua condição económica e onde quer que vivam (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1990).

A equidade é a distribuição justa de determinado atributo populacional, sendo a equidade em saúde vista como o acesso aos bens que promovem a saúde.

Embora para muitos autores o objectivo nuclear, o mais importante, da equidade seja a igualdade de acessos, a definição mais equilibrada de equidade surge por MOONEY (1982, 1986, 1997) quando defende que o acesso aos cuidados de saúde deve ser o mesmo para todos os indivíduos

(equidade horizontal), mas devem ser diferentes para indivíduos com necessidades diferentes (equidade vertical).

É assim fundamental garantir a equidade no acesso dos utentes, com o objectivo de atenuar os efeitos das desigualdades económicas, geográficas e quaisquer outras no acesso aos cuidados de saúde (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1990).

Conceitos como os de saúde, de doenças de envelhecimento, de cuidados de saúde, de promoção da saúde, reflectem os valores, as crenças, os conhecimentos e as actividades, em suma, a cultura da sociedade. O conceito de saúde varia consoante o contexto histórico e cultural, social e pessoal, científico e filosófico, espelhando a variedade de contextos de experiência humana.

Temos vindo a assistir nos últimos trinta anos a uma evolução da operacionalização do conceito de saúde. Hoje em dia falar de saúde é falar de vida. A saúde faz parte da existência de cada um e, tal como não há vida mas vidas, como não há velhice mas velhices, não devemos referirmo-nos à saúde como conceito único, pois ela é também conceptualizada por cada pessoa que percepciona a sua saúde de acordo com o seu projecto, as suas crenças, os seus ideais, com tudo o que a faz viver. Até há alguns anos, a saúde era mera ausência de doença, e se a longevidade era, em si, um bem supremo, hoje a longevidade já não é um factor essencial a uma “boa saúde”. O Homem saudável, descreve-se como alguém que se sente bem na sua pele, autónomo e independente, que pode fazer o que gosta e deseja, desenvolvendo plenamente o seu potencial. Face aos múltiplos agentes de stress, o ser humano tenta manter o equilíbrio e satisfazer as suas necessidades.

Ter saúde é... O suporte para uma vida autónoma e livre... Ter prazer em viver... Estar feliz.

Segundo BERGNER (1989), e sob a influência dos pensadores Dubos e Dunn, novos termos

surgem no vocabulário da saúde: adaptação positiva, criatividade, qualidade de vida, integração, equilíbrio e ambiente. Quando as investigações passaram a adoptar perspectivas ecológicas, ou sistémicas, e a ter um carácter interdisciplinar, os conceitos – saúde, bem-estar e qualidade de vida – começaram a aproximar-se, constatando-se uma inter-relação clara entre si: o bem-estar é parte integrante da definição de saúde e a qualidade de vida não pode ser definida sem recurso a conceitos de saúde e de bem-estar.

Na mesma linha, RIBEIRO (1994) defende uma relação entre os conceitos, em que a qualidade de

vida é o objectivo, e a saúde, o objecto da intervenção. Ou seja, intervindo sobre a saúde melhora- se a qualidade de vida. A saúde é, assim, entendida como um recurso pessoal para a vida de todos os dias.

3.1. Cuidados de Saúde em Geriatria

Ao pretendermos abordar a saúde dos idosos, encontramo-nos na convergência de várias questões que nos levam a diversos conceitos. Falar de saúde nesta faixa etária obriga-nos a partir de um conceito de saúde, a abordar a subjectividade que a saúde assume em cada idoso e a referir alguns factores que podem influenciar a sua saúde e as práticas quotidianas que lhe estão associadas. O ciclo de vida é composto por diferentes etapas, correspondentes a momentos particulares do desenvolvimento. Durante as diferentes etapas da vida, os principais problemas de saúde resultam duma dinâmica biológica e psicossocial, onde a vida de cada pessoa é marcada por acontecimentos como são exemplo o nascimento de um filho, um divórcio ou uma morte.

De facto, são inúmeros os factores afectos, de forma negativa, à saúde física e mental dos idosos. As perdas pessoais, em especial as afectivas, os efeitos adversos de medicamentos, o ambiente e os estilos de vida podem afectar a sua independência e a qualidade de vida. Numa abordagem global e ecológica de saúde e de envelhecimento, há que reconhecer a diversidade de factores susceptíveis de a favorecer ou prejudicar, tendo em conta os aspectos que podem influenciá-la positiva ou negativamente. Esses factores podem ser: biológicos, pessoais ou socioculturais. Quanto mais numerosos ou mais intensos são os factores que intervêm no processo de senescência, mais complexa e difícil se torna delimitar a noção de saúde, em especial a saúde mental.

Os cuidados de saúde e de suporte social devem ser adequados à especificidade da população idosa, determinando a concretização de respostas cada vez mais globais, eficazes e humanizadas, que tenham em conta uma melhor organização e eficiência dos recursos disponíveis na comunidade.

A morbilidade dos mais velhos é um dos grandes desafios que se coloca neste novo século. Sabe-se que os mais incapazes são também os mais pobres e os que menos podem pagar os cuidados. A apreciação do estado de saúde dos idosos é complexa, dado que decorre do conhecimento dos grupos, das atitudes culturais e dos estilos de vida.

Há dois aspectos a considerar na avaliação do estado de saúde dos idosos: a percepção pessoal e a objectividade da avaliação.

A percepção pessoal, própria, designa a avaliação individual do estado de saúde. É uma concepção subjectiva da saúde, de natureza individual. É a própria pessoa que ajuíza os seus limites e as suas capacidades. Não se centra apenas na doença ou na ausência desta, mas sim numa noção de autonomia e de capacidade funcional, sendo influenciada por factores como a idade, o sexo, o

importante é, sem dúvida alguma, a capacidade individual de adaptação, isto é, dos esforços que cada um desenvolve para se adaptar de maneira satisfatória e evoluir de uma forma contínua na saúde.

A objectividade da avaliação faz referência aos problemas reais da saúde, que são principalmente de ordem crónica, estando relacionados com o processo de senescência e com diversos outros factores, entre os quais se encontra a diminuição das reservas fisiológicas e o enfraquecimento dos mecanismos de homeostasia.

Na avaliação do estado de saúde de um indivíduo ou grupo, é necessário encontrar indicadores que auxiliem, do modo mais objectivo possível, a fazer o diagnóstico em si, medir a evolução desse estado, e medir também o impacto que as normas adoptadas tiveram sobre o mesmo estado de saúde.

Uma forma de quantificar a saúde de um idoso é através do grau de autonomia que ele possui e do grau de independência com que desempenha as funções do dia-a-dia, tendo sempre em conta o seu contexto socioeconómico e cultural. Pode medir-se a independência através do seu oposto – a dependência. Mede-se o quanto as pessoas são dependentes no desempenho das suas actividades diárias, levando em conta o desempenho físico, psíquico e social.

A avaliação deverá permitir a recolha de dados, relativamente à situação presente, nas seguintes dimensões:

1) Saúde Física

Percepção individual de saúde

Trata-se do grau de conhecimento e compreensão do sujeito no que se refere aos seus problemas de saúde.

A concepção de saúde não depende apenas do facto de saber o que ela é, mas essencialmente de verificar como se manifesta de uma forma renovada e que em cada indivíduo assume um aspecto particular.

A saúde não passa só pelo saber e sentir, mas também pela sua compreensão, o que nos permite atribuir-lhe um determinado valor e significado.

Estado Funcional Total

A avaliação funcional deve ter um cariz multidimensional, uma vez que as alterações que surgem à medida que se envelhece dizem respeito a vários órgãos e sistemas, a mudanças no estilo de vida e

a condicionantes socioeconómicas, estando frequentemente presente doenças de evolução crónica.

Mediante uma avaliação multidimensional, é possível identificar perturbações funcionais, físicas, mentais e sociais e contribuir para um plano de intervenção e/ou recuperação de capacidades. Assim, as áreas a avaliar devem ser as mais capazes de predizer a possibilidade dos idosos se manterem a viver independentemente no seu domicílio, designadamente a capacidade funcional e locomotora, a morbilidade física e mental e, ainda, aspectos socioeconómicos.

2) Saúde Psíquica

O bem-estar psíquico é um determinante fundamental de uma vida saudável, muitas vezes negligenciado pelos profissionais de saúde.

Demências e depressão são os distúrbios psiquiátricos mais frequentes nos idosos e necessitam de ser diagnosticados e tratados, se o objectivo for o de conseguir uma velhice com saúde.

O processo de envelhecimento é complexo, e o comportamento de cada indivíduo na velhice dependerá das alterações biológicas inerentes a esse processo, mas também, e principalmente, das suas vivências e das suas condições sociais e culturais. Isso torna impossível definir o que seria o envelhecimento psíquico normal. Os idosos têm maior risco de apresentarem doenças mentais como a depressão e a demência. A depressão na velhice manifesta-se frequentemente de maneira atípica, o que dificulta o seu reconhecimento (COSTA et al., 2001). Por isso, é importante pesquisar depressão em todos os pacientes idosos e um dos instrumentos mais utilizados é a escala de Depressão Geriátrica de Yesavage, que possui duas versões validadas, uma com quinze itens nos

quais o ponto de corte é cinco e outra com trinta itens, com ponto de corte em onze (YESAVAGE et

al., 1983).

Documentos relacionados