• Nenhum resultado encontrado

“A fibromialgia é um modelo humano de dor e incapacidade crónicas” (Branco, 1995, p.237) e o profissional de saúde, que com ele interage, deve ter uma atitude compreensiva e disponível mas firme e orientadora, tendo em vista a educação, aconselhamento e suporte da pessoa que lida com uma condição prolongada e, por vezes, frustrante.

A dor contínua da fibromialgia é fisicamente limitante e desmoralizante, conduzindo a desordens afectivas com consequente isolamento a nível social e pessoal, originando mudanças nos papéis ocupacionais e sociais de cada um. Nas pessoas com patologia de dor crónica, como é o caso das pessoas com fibromialgia, os níveis de angústia e invalidez são acompanhados por incapacidade funcional e tendência ao isolamento.

Em 1996, o Vancouver Fybromialgia Consensus Group advogava que a fibromialgia merecia especial atenção ao nível da reabilitação, em que o programa no controlo da dor deveria ser orientado para a pessoa, devendo ser ela a assumir o comando da situação, ou seja, tornar-se o “autor” da sua própria mudança.

Na fibromialgia, a ausência de uma origem óbvia da síndrome e a inflamação contínua a nível muscular tornam inapropriada a utilização de um modelo unicamente médico, como é relatado no estudo de White & Harth, em 1996, em que foram estudadas intervenções unicamente farmacológicas no controlo de desordens de sono, não tendo sido encontradas melhorias nesta situação (Vancouver Fybromialgia Consensus Group, 1996).

VII Mestrado Comunicação em Saúde

Em 2007, surgiram novas linhas orientadoras que vieram nortear a abordagem em fibromialgia, criadas por dezanove peritos de onze países da Europa, resultando em nove recomendações para a intervenção com esta síndrome (EULAR, evidence based

recommendation for management of fibromyalgia sindrome). Estas linhas orientadoras

encontram-se divididas em:

Recomendações gerais:

- Compreensão da síndrome, avaliação da dor, função e contexto psicossocial. A fibromialgia deve ser reconhecida como uma condição heterogénea e complexa onde existe um processamento anormal da dor e outros aspectos secundários.

- Tratamentos optimizados requerem abordagem multidisciplinar com a combinação de tratamentos farmacológicos e não farmacológicos, sempre fazendo com que a pessoa esteja no centro da intervenção e responsabilizando-a pelas decisões.

Recomendações não farmacológicas:

- Tratamentos de hidroterapia, com ou sem exercícios

- Programas individualizados de exercícios, incluindo exercícios aeróbios e de aumento da força muscular

- Terapia cognitivo-comportamental - Terapias alternativas, entre outras.

Também são aconselhadas recomendações farmacológicas, que melhorem a dor e aumentem a função.

A avaliação das pessoas com esta síndrome exige uma análise de todos os aspectos envolventes que a condicionam em todas as suas vertentes.

VII Mestrado Comunicação em Saúde

Professional – ARHP, 2002) é avaliar os sintomas e os seus efeitos, em todas as áreas

de desempenho ocupacional, tendo em conta o contexto em que essas mesmas actividades decorrem.

Inúmeros investigadores têm realçado a importância da intervenção em equipa multidisciplinar em pessoas com fibromialgia (Bennet, 1996, citado por Okifuji & Turk, 2003).

Estudos realizados por Nielson et al. (1992 e 1997, citado por Okifuji & Turk, 2003) concluíram que, após desenvolverem estratégias cognitivo-comportamentais em combinação com actividade física, educação de desempenho ocupacional e educação de familiares, as pessoas com fibromialgia parecem melhorar da dor e do sofrimento emocional.

Lofgren (2006) investigou sobre a eficácia de um programa de reabilitação em equipa multiprofissional em mulheres com fibromialgia. O estudo demonstrou que estas mulheres beneficiaram deste tipo de intervenção de diversas formas: para além de melhorarem a qualidade do movimento, força muscular e endurance na realização das actividades, elas passaram de um sentimento de vergonha para um sentimento de respeito (categoria encontrada pela autora). A autora explica que, antes de participarem no programa, estas senhoras lutavam constantemente pelo reconhecimento dos seus sintomas e da incapacidade que a dor provocava na realização das suas actividades de vida diária.

VII Mestrado Comunicação em Saúde

Este estudo refere ainda que, ao participarem no programa, sentiram que foram ouvidas e que a sua situação era real. Iniciaram um processo de auto-conhecimento, alterando a sua imagem corporal, estabelecerem limites, capacidade de dizer “não”, de tomar conta de si mesmas, de conhecer os limites do seu corpo e de usar a dor como guia para detectarem situações stressantes e actividades “pesadas”. As senhoras relataram que, ao se respeitarem, os outros passaram a respeitá-las. Conseguiram arranjar estratégias para as actividades problemáticas e a ter mais qualidade de vida.

Em 2001, Worrel, Krahn, Sletten & Pond (citados por Lapa, 2004) elaboraram um estudo, com 100 pessoas, para avaliar a efectividade de um programa de reabilitação em equipa multidisciplinar, com a duração de dia e meio. Este programa era constituído por componentes de medicina, educação, auto-gestão, fisioterapia e terapia ocupacional.

Numa primeira abordagem fez-se a avaliação dos aspectos médicos, físicos, psicológicos, educacionais e farmacológicos. Posteriormente, deu-se ênfase na auto- gestão (definição de fibromialgia, o ciclo da dor, gestão do stress, relaxamento, planeamento das actividades consideradas problemáticas, higiene do sono, gestão do humor, competências comunicacionais, coping e responsabilidade pessoal). Durante o restante tempo foram feitos exercícios aeróbios e de alongamentos e na última parte do programa foram demonstrados princípios de protecção articular e técnicas de conservação de energia, na realização das áreas de desempenho ocupacional.

A avaliação dos resultados foi efectuada um mês após a participação no programa, através de questionário enviado pelo correio. Dos 100 questionários enviados, 74 participantes responderam e referiram que se sentiam menos afectados pela fibromialgia.

VII Mestrado Comunicação em Saúde

São muitos os factores que interagem como causa dos sintomas nas pessoas com esta síndrome e a abordagem está longe de ser a ideal. Os estudos indicam a efectividade da abordagem multidisciplinar com implementação de programas de auto-gestão.

Neste tipo de abordagem, os objectivos são: reduzir as incapacidades e angústias causadas pela dor crónica, promover a educação (ensino de princípios de protecção articular e técnicas e conservação de energia, estratégia de coping), os exercícios aeróbios e de baixo impacto com o intuito de melhorar a sua qualidade de vida.

É premente referir que, com este tipo de programa, embora a diminuição da dor ocorra, a ênfase é dada na obtenção de um melhor desempenho ocupacional em todas as áreas significativas.

1.8.PROGRAMA DE REABILITAÇÃO: Intervenção em Equipa Multidisciplinar

Documentos relacionados