• Nenhum resultado encontrado

Até meados do século XIII a terapêutica era realizada sem qualquer embasamento científico, portanto, era na maioria dos casos ineficiente. Nessa época ainda não havia conhecimentos sobre farmacologia, fisiologia, bioquímica e fisiopatologia, o que levou o escritor inglês Richard Gordon a afirmar: “A história da medicina foi, em grande parte, até os fins do século passado, a substituição da ignorância por mentiras”.

No século XIX um cientista francês chamado Claude Bernard formalizou critérios para reunir informações com base na experimentação, tratando, a partir daí, a medicina como ciência; apesar de ainda haver muitas falhas como, por exemplo, o efeito terapêutico de um medicamento era baseado nos costumes de um povo ou relato individual do médico. Essa falha na segurança e eficácia do medicamento é devido à inexistência, até então, de uma ciência chamada Farmacologia Clínica, a qual refere-se a investigação de fármacos em seres humanos, e que só foi introduzida no meio científico em 1952, apesar de estudos com pesquisa clínica controlada terem sido iniciados por Harry Gold em 1930.

Pode-se tentar definir a Farmacologia Clínica como sendo uma ciência que define métodos científicos, a fim de desmistificar a terapêutica medicamentosa, promovendo a cura ou aliviando o estado patológico.

Atualmente, a Farmacologia Clínica desenvolve principalmente duas atividades, ou seja, estudos farmacocinéticos e elaboração, execução e análise de ensaios clínicos para verificar a segurança, qualidade e eficácia dos medicamentos em seres humanos.

Os testes de bioequivalência são de extrema importância, pois através deles assegura-se que o medicamento pesquisado apresentará eficazmente o efeito esperado, após ter passado com sucesso pelas etapas que antecedem a etapa terapêutica, as quais sejam farmacêutica, farmacocinética e farmacodinâmica.

O 1º teste de bioequivalência farmacêutica realizada no Brasil foi em 1989, até então esse tipo de estudo era desconhecido no país. Sabia-se apenas da experiência internacional, enquanto que o Brasil era palco para o mercado de centenas de medicamentos similares e com Denominação Comum Brasileira (DCB), supostamente cópias fiéis dos originais que os inspiravam, mas sem apresentarem a comprovação necessária de qualidade, eficácia e segurança.

Após 12 anos dos primeiros estudos de bioequivalência pode-se observar um grande avanço nessa área, pois no princípio trabalhava-se com estrutura precária e com enorme ceticismo da comunidade científica. Atualmente o Brasil conta com tecnologia de ponta, estrutura física adequada e corpo científico qualificado, o que contribui para a credibilidade com que se faz jus desta nova área de pesquisa, a Farmacologia Clínica. Diante de tantas mudanças pode-se afirmar que o objetivo foi mantido, verificar se duas ou mais formulações farmacêuticas podem ser intercambiáveis, termo muito popular na atualidade frente a política de medicamentos genéricos.

Como tudo que é novo, inédito no país, a comunidade científica demonstrou um sentimento de rejeição mesmo sobre o que era desconhecido. No início da década de 90, os meios de comunicação desencadearam forte campanha contra o recrutamento de voluntários sadios para testar drogas cuja toxicidade já havia sido exaustivamente demonstrada. Com um pouco de conhecimento a polêmica foi intensamente discutida por órgãos federais, como o Conselho Federal de Medicina e pelo Conselho Nacional de Saúde. Foi então elaborada uma regulamentação, baseada na Declaração de Helsinque, e publicada a Resolução CNS nº 196/96, que disciplinou as condições e critérios para participação de seres humanos em pesquisa.

Uma parcela da indústria farmacêutica sempre demonstrou interesse em avaliar alguns de seus produtos, antes mesmo que houvesse uma regulamentação própria pelo Sistema de Vigilância Sanitária do Brasil. Até a década de 90, foi realizado o primeiro Teste Fase I no Brasil (Frota Bezerra, 1999), estudo que corresponde à primeira administração de uma nova entidade química em humanos, além de vários estudos de interação de drogas em voluntários sadios, assim como avaliação de eficácia terapêutica em suas diversas Fases, em voluntários pacientes.

O tempo para realização de um estudo de bioequivalência deve-se à instância de tramitação com o Conselho de Ética em Pesquisa (CEP) credenciado pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP-CNS) e às etapas de seleção e internação dos voluntários, terminando com a quantificação do medicamento no líquido biológico e análise estatística.

Para realização dos estudos clínicos de bioequivalência, voluntários de ambos os sexos são selecionados através de rigorosa avaliação clínica e laboratorial, só sendo internado depois de comprovado estado de higidez.

O ressarcimento do voluntário que participa de um estudo de bioequivalência depende de vários fatores. Podemos citar entre eles, o tempo despendido pelo voluntário na sua participação no estudo que, vai desde o

momento em que realiza a avaliação clínica e laboratorial, o número de formulações a serem testadas, o número de internamentos e o tipo de desenho do estudo, se dose única ou múltipla. A complexidade da etapa analítica, como se há ou não a necessidade de quantificar metabólitos, não é preditivo para o ressarcimento do voluntário, mas é um dos fatores que contribui substancialmente com o orçamento do estudo.

As normas que regem a vigilância sanitária no país permitem assegurar ao medicamento genérico sua intercambialidade com o medicamento inovador. Ou seja, através de estudos in vitro (equivalência farmacêutica) e estudos in vivo em voluntários sadios (bioequivalência) verifica-se a qualidade, eficácia e segurança do medicamento teste em relação à referência.

Os testes de bioequivalência consistem em estudos comparativos de medicamentos que contêm o mesmo fármaco, na mesma concentração e que são administrados pela mesma via a voluntários sadios. Dois produtos são considerados bioequivalentes quando, ao serem administrados ao mesmo indivíduo, sob as mesmas condições experimentais e a mesma dose molar não apresentam diferença significativa em relação a velocidade e a extensão de absorção do princípio ativo (Resolução RDC nº 10, de 2 de janeiro de 2001- ANVISA).

Na realidade, pequenas diferenças, mesmo que significativas, são aceitas, desde que contidas dentro de uma faixa validada cientificamente e estabelecida por lei. Este processo de absorção é quantificado através dos parâmetros AUC, Cmax e em alguns casos o Tmax é também levado em consideração.

O cronograma de coletas das amostras deve contemplar um tempo igual ou superior a 3 a 5 (três a cinco) vezes a meia-vida de eliminação (t1/2) do

fármaco ou do metabólito, caso este seja quantificável e ativo.

O intervalo entre os dois períodos de coleta (estudo cruzado) deve ser de, no mínimo, 7 (sete) vezes a meia-vida de eliminação (t1/2) do fármaco ou do

metabólito ativo, o que assegura a depuração completa do fármaco, evitando um efeito de carreamento (Resolução – RDC nº 10/2001-ANVISA).

No caso específico deste estudo, avaliou-se a farmacocinética de um medicamento em duas situações: jejum e sob alimentação e ainda comparou-se os resultados deste com o de outra marca também em igual situação, ou seja, foi feito estudo de biodisponibilidade e bioequivalência.

Documentos relacionados