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3. MATRIZ ENERGÉTICA

3.1 Importância no contexto global

A energia sempre esteve presente nas atividades humanas. Porém, a transformação e o armazenamento dessa energia foram causadoras de uma série de transformações, seja em relação aos modos de produção, seja no comportamento social.

Para Branco, “a grande descoberta humana que promoveu todo o desenvolvimento tecnológico característico deste século foi a de que a energia contida no fogo do carvão ou da lenha podia ser armazenada na água produzindo diferenças térmicas essenciais ao movimento; de que uma massa de água a uma altitude elevada podia ser transformada em energia elétrica; ou de que a energia molecular contida em compostos complexos como o petróleo, o álcool, o carvão ou mesmo a lenha podia ser convertida em energia mecânica.” [BRANCO, 1990].

Em nível mundial, o crescente consumo de energia vem sendo suprido basicamente por uma matriz energética baseada em combustíveis fósseis como carvão mineral, petróleo e mais recentemente o gás natural.

A matriz energética é a representação da distribuição de fontes de energia que abastecem o planeta. É através dela que se elaboram análises e se estabelecem as diferentes fontes de energia utilizadas para suprir as mais diversas necessidades, seja dos modos de consumo ou dos processos tecnológicos industriais.

O forte crescimento e concentração populacional, e o aumento acelerado do consumo, passaram a exercer enorme pressão sobre o setor produtivo, que por sua vez, requer cada vez mais fontes de energia.

Nesse contexto, a política energética é um dos principais fatores de desenvolvimento de um país, influenciando diretamente a sua economia, a conservação do meio ambiente e a evolução da sociedade. Cada país tem a sua matriz energética definida em função da disponibilidade de suas fontes de energia, do impacto ao meio ambiente, além de fatores político-comerciais, como por

exemplo, a imposição de barreiras tarifárias sobre a importação ou exportação de petróleo ou gás natural.

Entre as discussões mais relevantes da sociedade atual a que se refere às fontes alternativas de energia merece destaque, tendo em vista a escassez, o preço e nível de poluição produzido pelos combustíveis fósseis, mais especificamente do carvão e do petróleo. Como afirma Sawin, “a fim de atender às necessidades energéticas de bilhões de pessoas que hoje não dispõem de serviços modernos, e ao mesmo tempo equilibrar o consumo de energia com o mundo natural, novas escolhas energéticas terão que ser feitas – tanto individual quanto socialmente”. [SAWIN, 2004, pg. 45]

O mesmo autor afirma ainda que “do final dos anos 90 até 2020, o consumo global de energia deverá aumentar quase 60%, devido ao crescimento populacional, à urbanização contínua e à expansão econômica e industrial” [SAWIN, 2003, pg. 97].

Na visão do Centro Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável - CEBDS, “o desenvolvimento econômico necessário à redução da pobreza, aliado ao crescimento populacional, implicará num significativo aumento da demanda por energia nas próximas décadas. Os impactos ambientais resultantes gerarão um conjunto de dilemas e desafios cuja solução demandará um complexo arranjo de cooperação entre os países com medidas de longo prazo” [CEBDS, 2004, Pg. 1].

Entre as principais conseqüências desse fato está o efeito estufa, principal agente de modificação das condições climáticas em nível mundial. O efeito estufa é alimentado pela combustão das reservas de energia fóssil, emissões industriais, desmatamento, além da fermentação dos produtos agrícolas e uso de fertilizantes.

As alterações climáticas representam uma das principais ameaças à sustentabilidade do planeta, colocando em risco a sobrevivência de diversas espécies, entre elas a humana. Isso sem considerar os impactos sobre a economia global.

Essa percepção do risco vem sendo o principal fator de mudança na tentativa de se alcançar níveis satisfatórios de emissões de gases de efeito estufa e responsáveis pelas alterações climáticas no planeta.

Segundo relatório do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos - CGEE, “A liberalização do mercado de energia e os condicionantes de meio ambiente configuram um cenário futuro

orientado para a diversificação da matriz energética com aumento significativo da utilização de energias limpas e um incremento na eficiência energética dos processos”. [CGEE, 2005, pg. 25].

Para Leite, existem dois principais pressupostos que tornam relevantes a análise da conjuntura do setor de energia. O primeiro é a convicção da maioria dos especialistas e consultores de que o pico da produção de petróleo se dará antes ou pouco depois de 2010. O segundo fator é “a certeza de que a continuação do aumento de densidade na atmosfera de gases produzidos pela combustão de materiais fósseis e por processos biológicos e industriais levará a mudanças dramáticas das condições da biosfera que poderão tornar insustentável a vida na forma que a conhecemos hoje” [LEITE, 1999, pg. 901].

Nesse cenário, após alertas de vários especialistas, surgiu a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (CQNUMC), assinada por mais de 150 países em 1992, durante a Convenção das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente (Rio-92) e que entrou em vigor em Março de 1994. Ela é fruto de um longo processo de negociações internacionais no sentido de diminuir a quantidade de gases responsáveis pelo efeito-estufa, e já foi objeto do Protocolo de Montreal sobre Substâncias que Destroem a Camada de Ozônio, em 1987.

O objetivo da CQNUMC é a estabilização da emissão de gases que provocam o efeito-estufa, de modo a garantir a sustentabilidade do planeta, afetando o mínimo possível o desenvolvimento econômico.

Um dos principais instrumentos operacionais da Convenção do Clima é o Protocolo de Kyoto. O Protocolo de Kyoto é um documento internacional assinado por vários países que se comprometem a reduzir as emissões de gases provocadores do efeito estufa, atingindo níveis mais baixos que os de 1990. Um dos mecanismos ou instrumentos de flexibilização previstos no Protocolo é o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, que consiste em uma espécie de Mercado de Créditos de Carbono conforme será explicado mais adiante. É justamente através desse mecanismo que o Brasil pode se tornar um grande produtor e exportador de energias renováveis.

As fontes de energia são o foco principal das discussões sobre as mudanças climáticas, pois através da diversificação da matriz energética e substituição de combustíveis fósseis pelos renováveis, vislumbra-se uma maneira de conter o efeito estufa e consequentemente o aquecimento global.