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Importância dos Programas de Estimulação Cognitiva na Promoção da Saúde, Satisfação e Qualidade de Vida

O processo de envelhecimento está associado ao declínio cognitivo ainda que não se verifique necessariamente em todos os seres humanos pois, muitas vezes, esse declínio depende intrinsecamente do “tempo de velhice” ser vivido de forma bem-sucedida, procurando o indivíduo manter-se ativo ao longo de toda a sua vida. Ainda assim, nos casos específicos onde se verifica défice cognitivo ligeiro ou severo, subsistem sempre algumas capacidades mais afetadas, destacando-se, per si, a atenção, a retenção, a concentração e o raciocínio indutivo (Schaie & Willis, 1996). Tal como referido anteriormente, alguns estudos revelam que este declínio cognitivo não é consequência de uma componente puramente biológica, visto que, existem outros fatores como o nível educacional, laboral e motivacional, o estado de saúde, a personalidade e o estilo de vida que podem influenciar este processo de aquisição, armazenamento e evocação de informações (Ortiz, Ballesteros, & Carrasco, 2006; Zimerman, 2000). É pertinente ainda referir que nas demências, este tipo de prejuízo tende a agravar-se visivelmente (Rubin, Storandt, Miller, Kinscherf, Grant, Morris, & Berg, 1998). Por seu turno, o envelhecimento, per si, está associado a um aumento significativo no risco de adquirir uma doença propícia a afetar a memória, originando fortes indícios de declínio neuro- degenerativo que se consubstanciam em patologias como a Alzheimer, a demência vascular, a demência dos Corpos de Lewy e as demências frontotemporais (Bäckman, Small & Wahlin, 2000; Caramelli & Barbosa, 2002).

A memória é a capacidade cognitiva que se verifica mais afetada com o avançar da idade, mais especificamente a memória a curto prazo, onde se destaca a memória de trabalho (e.g., necessária para realizar operações aritméticas) e a memória a longo prazo

declarativa, encontrando-se subjacente à mesma, por exemplo, a chamada memória episódica (e.g., referente a acontecimentos específicos associados a um determinado

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consideram-se três fases de processamento como sejam: a codificação, a retenção, a recuperação e outras formas de memória processual correlacionadas.

Especificamente, os investigadores delineiam que o ser humano incorpora dois tipos de memória a longo prazo – memória declarativa e memória não declarativa. Concernente à memória declarativa dividem-se vários atributos da memória apelidados de memória semântica (associada a factos descontextualizados, permite a codificação do conhecimento acerca do mundo, e.g. “Lisboa é a capital de Portugal”), memória

episódica (associada a informação referente a um contexto particular, como seja a

estímulos visuo-espaciais, fazendo referência a variáveis como tempo e espaço; utilizada na memorização de vivências pessoais, como sensações, emoções e associações pessoais relativas a um lugar particular ou momento) e memória autobiográfica (refere-se ao sistema neuro-psicológico composto pelos processos cognitivos e suas correlações anatomofisiológicas que permitem recordar o nosso próprio passado; representações de eventos e/ou factos da nossa própria história de vida, que podem ser codificadas, retidas, recuperadas e relatadas) (Paúl & Ribeiro, 2012; Oliveira, 2007).

Por seu turno, a memória não declarativa supracitada incide sobre o pressuposto de que é uma memória não verbalizada, subdividindo-se na chamada memória

procedimental (armazena conhecimento referente ao modo de saber-fazer, não estando

relacionada com a evocação consciente de informação, sendo um tipo de memória de difícil verbalização, e.g. “andar de bicicleta”, “tocar um instrumento musical”). Na memória não declarativa também existe o chamado priming (memória de representação percetual, caracterizada por uma imagem que relembra eventos, ou seja, o indivíduo ao ver a imagem já identifica antes da compreensão do evento o que a imagem percecionada significa), condicionamento e aprendizagem não associativa [no caso do condicionamento clássico simples, o mesmo está relacionado à amígdala nas respostas emocionais e ao cerebelo nas respostas da musculatura esquelética, enquanto que, a aprendizagem não-associativa (aprendizagem por habituação – aprendem-se características de um estímulo sem importância e não ameaçador para o sujeito – e

aprendizagem por sensibilização – aprendem-se as propriedades de um estímulo

ameaçador e prejudicial) está associada às vias reflexas] (Paúl & Ribeiro, 2012; Oliveira, 2007).

Tendo presente os vários tipos de memória e o seu constante declínio mnésico evidente nas várias fases do desenvolvimento do ser humano, especialmente na fase da

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chamada terceira e quarta idade, destaca-se a metodologia de estimulação cognitiva como uma forma eficaz e eficiente de evitar o declínio cognitivo e as constantes perdas de memória que podem até comprometer o desempenho físico nas atividades básicas da vida diária (ABVD’s) e atividades instrumentais da vida diária (AIVD’s) do idoso dependente, institucionalizado ou não. A estimulação cognitiva e os programas para esse efeito delineados implicam a exposição a atividades que envolvam algum grau de processamento cognitivo, mantendo, per si, as funções cognitivas estáveis. É ainda de ressalvar que estes Programas de Estimulação Cognitiva (PEC’s) para atingirem os resultados esperados são habitualmente realizados em contexto social, com muita frequência e em grupo (Maroto, 2003; Clare & Woods, 2004). Assim, os Programas de

Estimulação Cognitiva consubstanciam-se, essencialmente, como importantes metodologias e “nichos” de vários tipos de jogos psicopedagógicos que estimulam o idoso, sendo por isso, facilmente implementáveis em qualquer Lar de Terceira Idade e Centro de Dia. Estes Programas de Estimulação Cognitiva corroboram-se, per si, como formas simples de “evitamento de declínio cognitivo”, no caso dos mesmos serem desenvolvidos periodicamente (Maroto, 2003).

Torna-se, por isso, pertinente referir que noutros países, nomeadamente, nalgumas Unidades de Cuidados Continuados de Chicago, os chamados Programas de Estimulação

Cognitiva são implementados como medidas de promoção da saúde do idoso

institucionalizado revelando-se como uma experiência estimulante para esta população- alvo, nomeadamente ao nível da premissa de que é possível travar, ou pelo menos, melhorar as condições cognitivas ou até défices cognitivos, associados a patologias neuro-degenerativas como a Alzheimer e outras (Wilson, Barnes, & Bennett, 2003; Caramelli & Barbosa, 2002).

Por outro lado, num estudo longitudinal de Wilson, Barnes e Bennett (2003), onde se desenvolveu uma avaliação da participação dos idosos, ao longo da sua vida, em atividades cognitivamente estimulantes, construiu-se, também, um instrumento consistente de 25 itens. Este instrumento incidia e avaliava objetivamente a frequência de participação em atividades cognitivas implementadas ao longo da vida de dois grupos de indivíduos que atualmente atingiram uma faixa etária avançada e vivem em condições muito específicas. Torna-se pertinente referir que para este estudo, referenciaram-se e inquiriram-se entre outros, idosos internados nas Unidades de Cuidados Continuados de Chicago. Assinalou-se que a pontuação total nesta escala obteve uma consistência interna

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coeficiente alpha= 0.88, e uma boa estabilidade temporal, ao longo de um intervalo de reteste de 4 semanas (r = 0.79), sendo positivamente correlacionada com determinadas metodologias de ensino. Neste estudo de Wilson e colaboradores (2003) estipularam-se como variáveis de controlo – a idade, sexo e educação, concluindo-se que, uma maior e mais frequente atividade cognitiva foi relacionada com a melhor velocidade de perceção, habilidade visuo-espacial e memória semântica, mas não teve qualquer correlação com a memória episódica ou memória de trabalho. Subsequentemente, os resultados desta investigação sugeriram que esta escala, psicometricamente, fornece uma medida fidedigna concernente à frequência de atividade cognitiva instigada e desenvolvida ao longo da vida.

Assim, a importância da implementação de diferentes programas de estimulação cognitiva foi estudada ao nível da população mais envelhecida, quer em termos dos seus procedimentos quer da sua eficiência e eficácia a longo prazo. No estudo de Navarro, Menacho, Alcalde, Marchena, Ruiz e Aguilar (2009) foram comparados dois tipos de treinos cognitivos e funções da memória, com vista a desencadear mudanças cognitivas ao nível de uma população tão específica como os idosos institucionalizados. Um dos métodos utilizados por estes investigadores foi baseado nas novas tecnologias e o outro nas atividades metodológicas mais básicas do chamado “papel e lápis”. A população-alvo deste estudo incluía 36 idosos com idades compreendidas entre os 68 e os 94 anos, tendo sido usadas medidas quantitativas com vista a estudar os vários processos de memória. Neste estudo, os resultados sugerem que os participantes são treinados com um software específico para que atinjam níveis mais elevados em termos de retenção e armazenamento, considerando todos os mecanismos inerentes aos vários tipos de memória (Navarro, et al. 2009). No entanto, os programas de estimulação cognitiva mais básicos que utilizam mecanismos de “papel e lápis” também melhoram substancialmente a memória e a “saúde cognitiva” dos idosos. Além disso, este estudo sugere que a memória sensorial deve ser igualmente treinada, independente dos procedimentos usados (ex. “papel e lápis” ou novas tecnologias como o computador).

De acordo com Zimerman (2000) estimular consiste em instigar, ativar, animar e encorajar os sujeitos, sejam eles idosos ou crianças. Segundo este autor, para proporcionar aos idosos uma diminuição dos efeitos adversos do envelhecimento é necessário recorrer a inúmeros processos de estimulação, como sejam, os já referenciados Programas de Estimulação Cognitiva existentes e já utilizados em alguns Lares de

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Terceira Idade e Centros de Dia inovadores. Estes mesmos programas surgem também como importantes meios de desencadeamento de um aumento significativo da qualidade

de vida dos idosos institucionalizados, e não só. Explicitando as teorias anteriormente

expostas, é defendido por vários investigadores que a prevenção do declínio nas capacidades cognitivas e funcionais dos idosos pode ser obtida através da implementação de Programas de Estimulação Cognitiva, fundamentalmente nos Lares de Terceira Idade e Centros de Dia, garantindo um aumento da autoestima e, consequentemente, dos índices de qualidade de vida dos idosos (Soares, 2006). Para além de uma melhoria acentuada das capacidades cognitivas dos idosos, estes programas podem originalmente gerar alterações ao nível comportamental (Spector, Thorgrimsen, Woods, Royan, Davies, Butterworth, & Orrell, 2003; Spector, Orell & Woods, 2010), tal como referem vários estudos (Amodeo, Netto & Fonseca, 2010; Rodrigues, 2006; Santos, 2010; Smith, Housen, Yaffe, Ruff, Kennison, Mahncke, & Zelinski, 2009; Wang, Karp, Winblad & Fratiglioni, 2002; Wilson, Mendes de Leon, Barnes, Schneider, Bienias, Evans, & Bennett, 2002).