• Nenhum resultado encontrado

Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Coletivas

No documento Apoios fiscais às fundações portuguesas (páginas 49-54)

Capítulo III Incentivos e Benefícios fiscais

3.1. Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Coletivas

O IRC incide sobre os rendimentos obtidos (mesmo quando provenientes de atos ilícitos), no período de tributação, pelos respetivos sujeitos passivos, nos termos do artigo 1.º do Código do IRC (CIRC).

De acordo com a alínea a) do n.º 1 do artigo 2.º do CIRC, as Fundações, como pessoas coletivas de direito público ou privado, com sede ou direção efetiva em território português, são sujeitos passivos do IRC.

Porém, nos termos do artigo 10.º, n.º 1 do CIRC, estão isentas do imposto:

a) as pessoas coletivas de utilidade pública administrativa;

b) as instituições particulares de solidariedade social (IPSS), bem como as pessoas coletivas àquelas legalmente equiparadas;

c) as pessoas coletivas de mera utilidade pública que prossigam, exclusiva ou predominantemente, fins científicos ou culturais, de caridade, assistência, beneficência, solidariedade social ou defesa do meio ambiente.

Segundo o Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo de 18.01.2012 (Proc. 725/11), no caso das Fundações se apresentarem como pessoas coletivas de utilidade pública administrativa (alínea a)) ou IPSS (alínea b)), a isenção é automática, por força da redação que a este normativo foi dado pela lei n.º 60- A/2005 de 30 de dezembro e do artigo 12.º do EBF (Silva & Soares, 2015). Por outro lado, a isenção prevista para as pessoas coletivas de mera utilidade pública (alínea c)) que prossigam, exclusiva ou predominantemente, fins científicos ou culturais, de caridade, assistência, beneficência, solidariedade social ou defesa do meio ambiente carece de reconhecimento pelo Ministro das Finanças, que é

38

outorgado a requerimento dos interessados, mediante despacho publicado no Diário da República, no qual se define, nomeadamente, a respetiva amplitude, de harmonia com os fins prosseguidos e as atividades desenvolvidas para a sua realização (n.º 2 do artigo 10.º do CIRC).

O reconhecimento por parte do Ministro das Finanças do direito ao benefício fiscal pode ser impedido se, se verificar que o sujeito passivo tenha deixado de efetuar o pagamento de qualquer imposto sobre: o rendimento, a despesa e o património. Também interfere negativamente a falta de pagamento das contribuições relativas ao sistema da segurança social (artigo 13.º, n.º 1 do EBF).

Todavia, tal situação só é impeditiva do reconhecimento dos benefícios fiscais enquanto o interessado se mantiver em incumprimento e se a dívida tributária em causa, sendo exigível, não tenha sido objeto de reclamação, impugnação ou oposição e prestada garantia idónea, quando devida (artigo 13.º, n.º 2 do EBF).

A isenção prevista no n.º 1 do artigo 10.º do IRC não abrange os rendimentos empresariais derivados do exercício das atividades comerciais ou industriais desenvolvidas fora do âmbito dos fins estatutários, bem como os rendimentos de títulos ao portador, não registados nem depositados, nos termos da legislação em vigor, sendo condicionada à observância continuada dos seguintes requisitos, previstos no n.º 3 desse artigo:

a) Exercício efetivo, a título exclusivo ou predominante, de atividades dirigidas à prossecução dos fins que relevam para o enquadramento neste âmbito;

b) Afetação a essas atividades de, no mínimo, 50 % do rendimento global líquido que seria sujeito a tributação nos termos gerais, até ao fim do 4.º período de tributação posterior àquele em que tenha sido obtido, exceto em caso de justo impedimento no cumprimento do prazo de afetação, devidamente comunicado à AT;

c) Inexistência de qualquer interesse direto ou indireto dos membros dos órgãos estatutários, por si mesmos ou por interposta pessoa, nos

39

resultados da exploração das atividades económicas por elas prosseguidas.

O incumprimento dos requisitos referidos nas alíneas a) e c) do n.º 3 determina a perda da isenção, ou seja, extingue-se o benefício fiscal, a partir do correspondente período de tributação, inclusive (n.º 4). Por conseguinte, a Fundação fica automaticamente sujeita ao regime geral de tributação.

No caso de incumprimento do requisito referido na alínea b) do n. º 3, fica sujeita a tributação no 4.º período de tributação posterior ao da obtenção do rendimento global líquido, a parte desse rendimento que deveria ter sido afeta aos respetivos fins (n.º 5), logo o direito à isenção mantém-se.

“Adicionalmente, a manutenção dos efeitos de reconhecimento do benefício depende de o contribuinte facultar à AT todos os elementos necessários ao controlo dos seus pressupostos de que esta não disponha”(Ribeiro & Santos, 2013, p.32). No caso em que os institutos públicos tomam a forma de Fundações, não se aplica a isenção prevista no artigo 10.º do CIRC, pois neste caso, como entes públicos que são, a isenção de que beneficiam é a isenção própria do Estado e demais entidades públicas, contemplada no artigo 9.º do CIRC.

Estabelece a alínea a) do n.º 1 do artigo 9.º do CIRC que estão isentos de IRC o Estado, as regiões autónomas e as autarquias locais, bem como qualquer dos seus serviços, estabelecimentos e organismos, ainda que personalizados, compreendidos os institutos públicos, com exceção das entidades públicas com natureza empresarial. Esta isenção não compreende todos os rendimentos, uma vez que, de acordo com o n.º 2 deste artigo 9.º, em regra, não abrange os rendimentos de capitais como são definidos para efeitos do Imposto Sobre o Rendimento das Pessoas Singulares (IRS).

Outra isenção encontra-se no n.º 1 do artigo 11.º do CIRC, que estabelece que os rendimentos que derivarem diretamente do exercício de atividades culturais, recreativas e desportivas estão isentos de IRC, desde que as Fundações cumpram o previsto no n.º 2:

40

• Não distribuam resultados e os membros dos órgãos sociais não tenham qualquer interesse nos resultados de exploração das atividades desenvolvidas; e

• Disponham de contabilidade que abarque toda a atividade e a disponibilize aos serviços fiscais, sempre que for solicitado.

Para efeitos da isenção prevista no n.º 1 do artigo anterior, não são considerados rendimentos diretamente derivados, os provenientes de qualquer atividade comercial, industrial ou agrícola exercida, ainda que a título acessório, em ligação com essas atividades, nomeadamente, os provenientes de publicidade, direitos respeitantes a qualquer forma de transmissão, bens imóveis, aplicações financeiras e jogo do bingo, segundo o n.º 3 do artigo 11.º do CIRC.

Complementarmente a esta última isenção, tem-se o n.º 1 do artigo 54.º do EBF que institui que os rendimentos das coletividades desportivas, de cultura e recreio, abrangidas pelo artigo 11.º do CIRC, ficam isentos de IRC, desde que a totalidade dos seus rendimentos brutos, sujeitos a tributação e não isentos, não exceda o montante de € 7.500. Significa isto que, aqueles rendimentos que não estão abrangidos pela isenção do artigo 11.º do IRC, podem fruir de uma outra isenção prevista no artigo 54.º do EBF, com os limites aí estabelecidos.

São também isentos, segundo o n.º 4 do artigo 54.º do CIRC, os incrementos patrimoniais obtidos pelas Fundações, a título gratuito destinados à direta e imediata realização dos seus fins estatutários

No ano 2015, 212 em 414 Fundações obtiveram uma poupança fiscal, em sede de IRC, que totalizou € 29.350.286,83. A Fundação que obteve o benefício de maior montante neste imposto foi o Instituto das Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus, com € 11.760.998,41, correspondendo a 40,07% do benefício total indicado, ou seja, apenas 1 das 212 Fundações totaliza quase metade do total dos benefícios fiscais deste imposto.

Apresentamos, de seguida, a quadro 2 onde é possível observar a distribuição das entidades pelos artigos que justificaram a atribuição do benefício fiscal, sendo eles o artigo 10.º do CIRC (Pessoas Coletivas de Utilidade Pública e de Solidariedade

41

Social), artigo 11.º do CIRC e 54.º, n.º 1 do EBF (Atividades Culturais, Recreativas e Desportivas) e “outros” (não tipificado).

Quadro 2 – Distribuição das Fundações pelos artigos que fundamentam o benefício fiscal em IRC

Enquadramento N.º de

entidades

Total dos benefícios fiscais

Peso face ao total dos benefícios fiscais em

IRC

Artigo 10.º CIRC 203 28.889.267,26 € 98,429%

Artigo 11.º CIRC e 54.º, n.º 1 EBF 8 459.583,06 € 1,566%

Outros 1 1.436,51 € 0,005%

Total 212 29.350.286,83 € 100%

Fonte: Elaboração Própria

Concluímos que a grande maioria das Fundações que conseguem uma redução da tributação em IRC enquadraram-se no artigo 10.º do CIRC, ou seja, a maioria destas Fundações são pessoas coletivas de utilidade pública e de solidariedade social, tendo estas entidades um peso correspondente a mais de 98% do valor total dos benefícios fiscais atribuídos em IRC (ver gráfico 1). A Fundação Luso é a única que não tem o seu benefício tipificado (“outros”) – veja-se o anexo 1.

Gráfico 1 - Peso do total do benefício previsto em artigos do CIRC face ao total de benefícios em sede desse imposto

Fonte: Elaboração Própria 98,429%

1,466% 0,005%

42

No documento Apoios fiscais às fundações portuguesas (páginas 49-54)