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INCLUSÃO DO ALUNO AUTISTA: UM RECORTE DA PRÁTICA PEDAGÓGICA

4 PROCESSO DE ESCOLARIZAÇÃO E TRANSTORNO AUTISTA: INICIO DE UM DIÁLOGO POSSÍVEL

4.1 INCLUSÃO DO ALUNO AUTISTA: UM RECORTE DA PRÁTICA PEDAGÓGICA

A inclusão de crianças com Transtorno Autista é um processo novo na Educação Infantil. E, justamente devido a isso, muitas escolas estão vivenciando suas primeiras experiências.

Nesta secção, trabalha-se com um recorte da prática pedagógica, vivenciada em uma escola da rede municipal de ensino de Governador Valadares. Ela explora, através de relato2, a experiência de inclusão escolar de uma criança na educação infantil com Transtorno Autista.

Optou-se por apresentar o depoimento por se compreender que ele possibilitará um olhar próximo e reflexivo da realidade vivida no processo de escolarização das crianças aqui em foco.

2 O relato foi feito mediante a experiência de uma componente do grupo. A componente e todos os participantes de seu depoimento têm resguardados seus nomes conforme os preceitos éticos.

4.1.1 Vivência de uma monitora de aluno com Transtorno Autista na Educação assunto. Recebi posteriormente, um aluno diagnosticado com T.A.

Em minha vivência, na área da educação não havia tido contato com nenhuma criança com necessidades educacionais especiais. Meu conhecimento se referia a leituras, formações e o apoio no curso de Pedagogia. Assim, foi um grande desafio, tanto pessoal, quanto profissional para ser vencido.

O aluno, que demandava acompanhante, a quem vamos chamar de C., segundo o laudo médico, tem Transtorno Autista. C. iniciou sua vida escolar no ano de 2009.

Recebe atendimento educacional especializado (AEE), no CRAEDI, com serviços de oficinas e psicólogo. Nasceu de um parto complicado, e difícil. Quando recém-nascido, chorava muito e não demonstrava nenhum outro tipo de sentimento. Seus comportamentos nos primeiros anos de vida sempre foram agressivos e não gostava de se relacionar com ninguém. Não falava, não gostava de sair de casa e sempre ficava pelos cantos da casa sozinho.

O primeiro contato na escola foi um grande desafio, tanto para a escola, quanto para a família, pois, no início, ainda não havia descoberto nada sobre o C. Assim, ele não se adaptou e a família resolveu tirá-lo. Meses depois, a família retornou com C. para a escola e a pedagoga tomou algumas providências, não muito aceitas pela família no início. C. foi encaminhado para o neurologista, psicólogos e CRAEDI. E iniciou-se, então, os desafios da inclusão.

Fui chamada para acompanhar esse aluno, apenas com um laudo de T.A. Como já disse, minha experiência com essas crianças eram apenas em leituras e estudos. ajuda com médicos, psicólogos, profissionais da educação, CRAEDI, meus professores da universidade e em estudos.

Na medida em que ia ouvindo relatos, experiências, e ia me aprofundando mais no T.A., minha ansiedade cada vez mais aumentava. Afinal, como eu ia entrar “no mundo” do C.? Será que ele ia me aceitar em seu mundo? Como estabelecer comunicação com ele?

Meus primeiros dias foram terríveis, pois eu tinha que me adaptar à rotina dele e ele tinha que se adaptar, novamente, a rotina escolar. Mas, os dias foram se passando e C. foi se acostumando com minha presença. Às vezes, ficava agressivo quando tinha

muito barulho, ou quando queria algo, pois ele ainda não falava. Então, tínhamos que adivinhar o que ele queria.

Meu desafio era compreendê-lo e o desafio da escola era ajudar a família, principalmente a mãe, a internalizar e aceitar as condições do filho. Ela não aceitava que o filho tinha T.A. e nem que ele precisava seguir algumas recomendações, como tomar os remédios, mudar alguns hábitos alimentares, modificar algumas mobílias da casa (para que o espaço físico da casa fique apropriado para ele) entre outras questões. Passaram-se alguns meses e a mãe começou a compreender que o tratamento seria muito válido para o filho. A partir das nossas observações, ela percebeu o quanto ele cresceria utilizando todas as recomendações dos profissionais.

C. ficava extremamente agitado. Sua brincadeira era apenas correr em círculos. atividades, aceitando participar juntamente com o grupo e demonstrando aceitação nas atividades propostas, apesar de concluir a atividade rapidamente e não querer mais continuar no mesmo local.

Com o passar do tempo, os desafios iniciais foram enfrentados e eu me sentia mais segura para enfrentar as situações vivenciadas no cotidiano. C. começou a socializar mais com os colegas, a participar de todas as atividades. Reconhecia todas as outras crianças e todos os funcionários, chamando-os pelo nome.

Os colegas comportavam normalmente, não o tratavam com diferença. O entendiam quando ele queria ficar sozinho e respeitavam suas limitações; o tratavam com amor e carinho. A turma foi de fundamental importância para o desenvolvimento do C.

No final do ano 2012, C. já ia ao banheiro sozinho, comia sozinho, e passou a ficar independente com seus pertences. Estava mais calmo, não agredia mais os colegas.

Nos aspectos cognitivos, apresentou grandes avanços; sua percepção e concentração também tiveram avanços significativos. C. já sabia identificar cores, nomes e algumas letras do alfabeto. Ele já formava frases, construía diálogos curtos, demonstrava algumas vontades e sentimentos.

Comparando com a turma, C. se desenvolveu bastante, e o mesmo percebeu o quanto ele cresceu, pois ele ficava muito satisfeito com suas atividades.

No ano seguinte, C. repetiu a educação infantil, assim como ampara a LDB 9394/96.

Continuei com ele para que o trabalho também continuasse. No início das aulas, tivemos que iniciar todas as adaptações novamente, porém, essa adaptação foi bem mais tranquila. Aproveitei para iniciar as atividades junto com a turma (foi necessário adaptar poucas atividades). C. estava acompanhando a turma, sempre comigo ao seu lado e passou a identificar todas as cores, letras e a escrever algumas palavras com o meu auxílio.

Seu comportamento estava bem diferente. Ele passou a estabelecer diálogos com os colegas sem que eu precisasse fazer intervenções. C. passou a ficar mais independente e querer sempre descobrir mais.

Hoje, C. é “perfeccionista”, gosta de suas coisas no lugar, está no nível alfabético, faz suas atividades e se relaciona super bem com todos na escola. Preciso intervir apenas quando está nervoso com algo ou quando está frustrado. C. constrói textos e seu desenvolvimento cognitivo é de destaque na sala de aula. Ele participa de todas

as atividades propostas; nos diagnósticos ele erra poucas coisas. Ele pede para ensinar os colegas que têm dificuldades para concluir as atividades.

Estou muito satisfeita com meu trabalho e feliz por ter aceitado esse desafio, pois, apesar da minha insegurança, medo e incerteza, eu não desisti desse desafio. Não posso deixar de citar que o CRAEDI foi de grande relevância para o meu crescimento e para crescimento do C.

A família, a escola, o CRAEDI e eu, estamos muito satisfeitos com o resultado desse trabalho. Amei o desafio e aprendi muito com ele. Essa experiência será válida por toda a minha vida. Sei que esse trabalho me fará ser uma profissional diferenciada.

Este depoimento se apresenta como um testemunho de uma jovem professora, iniciante na sua profissão e que, apesar dos medos, inseguranças e incertezas não desistiu diante dos obstáculos e dos desafios da Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva.

Trata-se de um exemplo de como a teoria, nesta pesquisa evidenciada, em especial nos dizeres de Kanner (1942), com seu aporte médico-científico, e de Mantoan (2006) e de Glat (2009), com seus suportes pedagógicos, pode ser inserida na prática ou na realidade escolar de alunos com Transtornos Autistas.

No caso específico do relato, nota-se que o professor foi o mediador do aprendizado e do desenvolvimento do aluno. Foi ele quem direcionou a prática pedagógica, propondo novas atividades para se adequar à realidade de seu aluno como necessidade educacional especial.

Além disso, suas ações indicam que o trabalho com as diferenças requer preparação científica, atualizações, leituras e trocas de experiências. Tudo, na tentativa de superar a adversidade, os obstáculos, em busca de uma educação que se mostre inclusiva não só no papel, mas no cotidiano escolar.

Também não se pode deixar de enfocar a referência ao CRAEDI, como um centro de apoio específico à inclusão do aluno em ambiente escolar, além da participação ativa da família do educando. Todos, nesse contexto, dividem suas funções em busca de um resultado satisfatório à criança. Prova desse empenho de trabalho em equipe é que o aluno com transtorno autista superou muitas limitações desenvolve algumas de suas potencialidades e agora convive consigo mesmo e com o mundo exterior de maneira mais dinâmica e menos frustrante.

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