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O MDA desenvolveu, segundo o Relatório de Gestão 2009 da SEPPIR/PR, ações de assistência técnica rural, conectadas com o eixo de inclusão produtiva e desenvolvimento local. Durante o período de 2004 a 2008, 53 projetos foram custeados em 490 comunidades quilombolas totalizando R$ 7.848.195,21. Em 2009, o investimento que o MDA/INCRA previu para a aprovação de 13 projetos é de

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http://luzparatodos.mme.gov.br/luzparatodos/asp/, acesso 25 de julho de 2011.

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R$ 4.710.716,19. Os projetos beneficiaram 691 comunidades, em 41 Territórios da Cidadania, porém, do que foi empenhado no ano, R$ 1.128.103,70, somente 6% foi executado.

Esse dado traz à luz algumas deficiências da ação como a falta de articulação com as Empresas de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER) estaduais e a falta de efetiva materialização da assistência técnica, principalmente, na ponta. É verdade que a estrutura das EMATER está ainda deficitária, mas uma estratégia para desenvolver a assistência técnica e extensão rural (ATER) em comunidades quilombolas tinha de ser concatenada.

Um primeiro esforço, que ainda carece de verificação, é o que será empreendido a partir da Lei de ATER35, aprovada em 2010. A idéia é ampliar o escopo dos prestadores de serviço de assistência técnica rural. Toda entidade que tenha experiência comprovada em ATER pode, de acordo com as regulamentações da Lei, acessar o sítio do MDA, e se cadastrar no Sistema Informatizado de Assistência Técnica e Extensão Rural (SIATER). Isso amplia certamente o escopo do atendimento universal, ajudando preencher, ainda que parcialmente, uma lacuna histórica da assistência técnica e rural no País. Porém, ainda que a Lei considere os assentados da reforma agrária, os povos indígenas, os remanescentes de quilombos e os demais povos e comunidades tradicionais como beneficiários da Política Nacional de ATER que institui, não se percebe a consideração da realidade específica desses grupos nem nas regulamentações nem nos procedimentos de acesso ao mencionado Sistema.

A experiência das entidades prestadoras de serviço ainda continua sendo avaliada primordialmente por critérios técnicos, apesar de considerar o abono de instituições que receberam os serviços daquela entidade. De outro lado, por conta da referida lacuna histórica referente a ATER de forma geral, associada à exclusão também histórica das comunidades quilombolas do quadro geral das políticas públicas, pode-se verificar que os quilombos se encontram dentre aquelas localidades menos assistidas. Há que se analisar mais adiante se haverá entidades suficientes para atender a esse passivo e qualificadas para atender às necessidades específicas dos quilombos, para que não se perpetuem os problemas do modelo anterior, como a falta de capilaridade para a implementação da assistência técnica. O resultado é que as comunidades, muitas vezes, não recebem o serviço, apesar de os recursos estarem disponíveis.

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Nos instrumentos utilizados pelo MDA para o acesso a esses recursos é que se vê mais claramente o impasse. Apesar de terem preferência na análise dos projetos, advindos de chamamentos públicos, e inclusão nas modalidades do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA)36, o histórico é de

baixa adesão. Falta informação e educação aos quilombolas para acessar a política. Os relatos das comunidades são de dificuldade de acesso aos recursos (burocracia e dificuldades de estabelecer convênios), desorganização da comunidade para aplicar projetos no âmbito da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e a falta de assistência técnica para o desenvolvimento da produção.

A SEPPIR/PR também apóia projetos relacionados à inclusão produtiva das comunidades quilombolas, que repetem a mesma lógica. Há um descompasso claro, que não se refere somente a essa ação, mas à lógica do PBQ como um todo, entre as necessidades das populações quilombolas e os instrumentos desenvolvidos pelos gestores públicos para atender a essas mesmas necessidades. Ou se espera que a educação formal seja disseminada entre os quilombolas ou se constroem instrumentos alternativos adaptados ao público que se quer atingir ou se legitima a tutela do Estado ou de seus delegados, como no caso das organizações não-governamentais.

Cidadania

O MDS tem ampla abrangência no programa Bolsa Família, mas não tem conseguido resultados siginificativos com o programa de cisternas para quilombos. Segundo o Relatório de Gestão 2009 da SEPPIR/PR, atualmente constam 49.1175.427 pessoas no Programa Bolsa Família em todo o Brasil, sendo 34.239.483 pretas e pardas (69,2% do contingente atendido). Em 2010, a meta é alcançar mil municípios e 50 mil famílias quilombolas, o que envolve um investimento de R$ 48,8 milhões.

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O Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) propicia a aquisição de alimentos de agricultores familiares, com isenção de licitação, a preços compatíveis aos praticados nos mercados regionais. Os produtos são destinados a ações de alimentação empreendidas por entidades da rede socioassistencial; equipamentos públicos de alimentação e nutrição, e para famílias em situação de vulnerabilidade social. Além disso, esses alimentos também contribuem para a formação de cestas de alimentos distribuídas a grupos populacionais específicos. Instituído pelo artigo 19 da Lei 10.696/2003, o PAA é desenvolvido com recursos dos Ministérios do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) e do desenvolvimento Agrário (MDA).

Aqui o trabalho a se fazer não se refere tanto ao atendimento, que tem alcançado as metas estabelecidas ano após ano. O desafio é identificar, dentre a população assistida, os oriundos de comunidades quilombolas. Como salientado anteriormente, o processo de autodefinição das comunidades remanescentes de quilombo é permeado por desinformação, ameaças, discriminação e racismo. Isso, aliado ao despreparo e, muitas vezes, falta de iniciativa do governo local, faz com que se tenha ainda hoje uma dificuldade singular na identificação das populações quilombolas. Em 2009, as famílias quilombolas registradas no Cadastro Único eram 32.293. A cada ano percebe-se um aumento expressivo de inclusão de famílias quilombolas seja no Cadastro Único seja nas efetivamente atendidas pelo Bolsa Família, que, no mesmo ano, eram 25.338, conforme pode ser percebido pelo Gráfico 6, abaixo.

Gráfico 6 – Gráfico comparativo do número de famílias quilombolas atendidas pelo Bolsa Família e das registradas no CadÚnico Autor: SEPPIR/PR

Data: dezembro 2010

Fonte: Ministério do Desenvolvimento Social

No programa de cisternas se observa um embrião da abordagem multidirecional e inclusiva que têm feito falta à implementação das outras ações do PBQ. O MDS casou a cooperação com a Articulação do Semi Árido (ASA), o atendimento prioritário para comunidades quilombolas e o lançamento de edital específico, que teve significativa adesão das comunidades seja por intermédio das prefeituras e de organizações não-governamentais, seja por meio das associações das próprias comunidades. Porém, o passivo ainda permanece muito grande e o número de cisternas construídas em comunidades quilombolas, entre 2008 e 2009, (BRASIL, SEPPIR/PR, 2010), foi baixo, com investimento total de R$ 2,8

milhões. Em 2010, a meta era a construção de mais 1.345 cisternas. Somente nas comunidades quilombolas do município de Salgueiro, na região de seca endêmica onde se localiza Santana, a comunidade de estudo da presente dissertação, e, portanto, carentes de alternativas para o manejo da água de beber e produzir, vivem mais de mil famílias quilombolas. Se se pensar que a capacidade de atendimento de uma cisterna, das que estão desenhadas para o Programa é de uma família, pode-se dimensionar o tamanho desse passivo.

A estratégia de segurança alimentar do MDS37, no entanto, ainda compõe outras ações também

ligadas à produção (aqüicultura urbana e periurbana, segunda água, produção agroecológica integrada e sustentável), à circulação e distribuição (bancos de alimentos, feiras e mercados populares), e ao consumo (restaurantes populares, cozinhas comunitárias, distribuição de alimentos). Tudo isso permeado pelo mencionado PAA, em conjunto com o MDA, e pelo programa de educação alimentar38. Dentro dessa estratégia estão contempladas algumas ações direcionadas às comunidades quilombolas como o programa de atenção integral às famílias, o benefício de prestação continuada, a chamada nutricional quilombola, e a capacitação de conselheiros estaduais e municipais e gestores da assistência social.

Aqui permanece a mesma lógica difícil do processo de adesão acima descrito. Pelo programa de atenção integral às famílias, segundo o mencionado Relatório de Gestão, foram distribuídas pouco menos de 100 mil cestas de alimentos a 24.722 famílias. O número de famílias é pouco menor que o número de famílias quilombolas atendidas pelo Bolsa Família, mas constitui um percentual de somente 3 cestas por cada família por ano. Os 477 Centros de Referência e Assistência Social (CRAS), que atendem 456 municípios, são insuficientes para o universo de comunidades quilombolas demonstrado. O dado do MDS ainda escamoteia uma realidade que é bastante presente em relação às comunidades quilombolas. Muitas vezes o município é atendido pela política, mas a comunidade por estar distante, sem transporte público adequado e sem ser contemplada no desenho geral da política padece sem atendimento e ainda figura como contemplada nos dados do governo. Outras vezes, como mencionado, o aporte específico de recursos, que deveria ser aplicado dentro da comunidade, segundo a legislação, compõe gastos com

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http://www.mds.gov.br/segurancaalimentar, acesso 25 de julho de 2011.

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http://www.mds.gov.br/falemds/perguntas-frequentes/seguranca-alimentar-e-nutricional/educacao-alimentar-e- nutricional/educacao-alimentar-e-nutricional, acesso 25 de julho de 2011.

aparelhamento público ou outros gastos do município, dentro da sede ou nas imediações, em áreas que não quilombolas.