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6. ANÁLISE DOS DADOS

6.4. Inclusão social

6.4.3. Inclusão social: comparação entre egressos e ingressantes

Entre os bolsistas do ProUni autodeclarados pretos ou pardos, pelo menos no que diz respeito a percepção de sua inclusão social, é possível afirmar que há uma linha direta entre os que estavam terminando o curso e aqueles que estavam ingressando: as expectativas dos ingressantes, de muitas maneiras, coincidem com a percepção dos egressos. O quesito dos lucros simbólicos é algo que se encontra nas expectativas declaradas pelos alunos que estão começando o curso, com a percepção de que a universidade é um local de convivência entre os mais diversos grupos e também o local que permite acesso a diversos bens culturais e educacionais, assim como nas experiências dos alunos que estão prestes a se formar. A diferença é que os egressos têm ideias mais específicas, a partir de suas experiências efetivas, de onde e como podem acessar (e por muitas vezes acessaram) recursos imateriais, como informação, diferentes perspectivas e visões de mundo, como materiais, livros, filmes, serviços etc. Por exemplo, a biblioteca é um local, para os egressos, no qual há atividades culturais que servem para enriquecer seu ponto de vista, muito além de um mero repositório de livros e revistas.

Outro quesito onde parece haver uma conexão entre ingressantes e egressos é aquele do acesso a melhores oportunidades profissionais, portanto, mais inclusão em termos tanto sociais quanto econômicos. É interessante notar que os egressos, mais perto do mundo profissional do que os ingressantes, ainda se encontram um pouco reticentes quanto a sua inclusão efetiva no mundo do emprego e, portanto, a melhoria de vida em termos financeiros. Muitos percebem que se trata de uma mudança possível, ainda que lenta e gradual. Os

ingressantes, por outro lado, parecem estar mais convencidos de que haverá oportunidades melhores no final do curso. Ambos os grupos, entretanto, reconhecem a experiência universitária como importante em vários sentidos, mas principalmente no que diz respeito ao aspecto profissional: se não fosse sua condição de bolsistas, os entrevistados de ambos os grupos acreditam que não teriam as oportunidades que tiveram ou podem ter.

Por esse motivo, é possível dizer que os alunos egressos, quando falam de inclusão social, focam mais nos ganhos imateriais. Muitos acreditam que seus horizontes culturais e sociais se ampliaram por conta exclusivamente de sua experiência como bolsista do ProUni. Por consequência, muitos se sentem preparados para novos e diferentes desafios como se agora tivessem as ferramentas para enfrentar a complexidade do mundo e, também, para desbravar novos espaços, novos grupos e novas redes. Da mesma forma, os ingressantes, no que diz respeito aos lucros imateriais, estão certos de que a universidade vai abrir portas para novas experiências, apesar de, ainda, não terem uma dimensão exata daquilo que podem acessar.

De forma geral, entre ambos os grupos, há a percepção de que o acesso a serviços básicos, como saúde e transporte, não mudou ou vai mudar. Os egressos, inclusive, reclamam mais das condições de transporte do que os ingressantes, que, por sua vez, apontam a políticas de subsídio que os beneficiam. Todos são usuários do SUS, no que diz respeito a saúde, e, apesar de haver o desejo de que essa situação mude, de forma genérica, não há a visão efetiva de que esses pontos específicos vão mudar.

Enfim, no que diz respeito à inclusão social, tanto no que diz respeito à experiência vivida, quanto no que diz respeito a expectativas, os alunos de ambos os grupos parecem concordar que a experiência universitária rende lucros específicos que vão de acesso a educação, em geral, até acesso a bens culturais e simbólicos. Apesar de ambos os grupos

serem reticentes, chama atenção o fato de que os egressos parecem não estar muito confiantes em sua inclusão profissional. De qualquer maneira, é notável que os alunos reconheçam o que Bourdieu (1998) identifica como o lucro que advém da participação em determinados grupos.

Quadro 5 – Resumo do subcapítulo 6.4 (Inclusão social)

Temas Alunos egressos Alunos ingressantes

Ganhos simbólicos “agora é que eu não tenho medo mais do conhecimento, eu não tenho medo mais de pesquisar alguma coisa diferente.”

Expectativa: “mais conhecimento, a fim de quebrar um pouco a minha ignorância, minha intolerância, abrir o leque”

Ganhos culturais Mudanças: “eu acho que expandiu isso, assim, a minha perspectiva do que é cultura [...] eu fui em vários lugares [...] então, eu tenho outros hábitos agora”

Situação atual: “teatro, eu nunca fui, pra falar a verdade, eu quero ir um dia

Expectativa: essa diversidade de cultura, eu nunca tinha conhecido, porque, nas escolas públicas, a maioria do pessoal é daquele jeito [...] quer escutar as mesmas coisas [...] aqui tem muita diversidade, sabe? Eles vão passando esses conhecimentos e eu vou só agregando”

Ganhos profissionais Expectativa (ainda não é real): “agora eu não tenho renda, mas, assim, já estou com aquela expectativa de melhorar”

Expectativa: “passar num concurso público, dentro da minha área, e poder ajudar a família mais ainda, dar uma vida melhor a eles”

Semelhanças - Percepção da universidade como um local de diversidade e acesso ao conhecimento

- Percepção de que o ambiente universitário proporciona (ou pode proporcionar) melhores e mais rentáveis oportunidades profissionais

- Percepção de que o acesso a serviços essenciais, como saúde e transporte, não mudou ou não vai mudar

Diferenças - Egressos focam mais nos ganhos imateriais (por exemplo, conhecimento, cultura, mudanças pessoais etc.)

- Ingressantes têm ideias mais específicas de onde querem chegar (concurso, emprego, vida etc.)

- Egressos são reticentes quanto aos ganhos materiais Fonte: Elaboração da autora.