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4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 Análise Descritiva e Categorização das Opções Geradas no TCTD-PGO

4.2.4 Inconsistência Dinâmica

Novamente, o teste do qui-quadrado foi utilizado para verificar diferenças nas frequências de mudanças na preferência por uma determinada solução, entre as opções geradas na posição 1 e as respectivas decisões finais, possibilitando uma descrição do fenômeno da inconsistência dinâmica. A comparação entre o número de vezes em que os participantes mudaram de uma Primeira Opção melhor para uma Decisão Final pior, com o número de vezes em que o padrão oposto ocorreu (de uma Primeira Opção pior para um Decisão Final melhor), deveria possibilitar uma comparação entre a qualidade das opções geradas intuitivamente e a das decisões finais, tomadas após alguns segundos de deliberação.

Nesta análise, foram utilizadas 476 situações nas quais ocorreu a "preference

reversal", ou inversão da preferência. Foi mantido o mesmo critério dos testes

primeira opção convergente para uma decisão final do mesmo tipo. Os resultados apontaram um diferença significativa entre essas frequências, χ" = 35,50 (1, N=476,

p<0,001) (TABELA 16). Portanto, as mudanças na preferência que resultaram em melhores decisões finais ocorreram em proporção superior às modificações para decisões finais de menor qualidade (quando as primeiras opções eram melhores).

TABELA 16 - Frequência da Inconsistência Dinâmica em função do tipo de mudança na preferência

Inconsistência Dinâmica Melhor PRIMEIRA OPÇÃO Melhor DECISÃO FINAL 𝛘𝟐 G.L. p Frequência Observada 173 (36,34%) 303 (63,66%) 35,504 1 < 0,001

Frequência Esperada 238 238

Resíduo -65,0 65,0

A partir dessas evidências, procurou-se explorar mais detalhadamente, e de forma quantitativa, as diferenças na qualidade das soluções entre as primeiras opções e as decisões finais nas 1886 situações de tomada de decisão, considerando portanto apenas os casos em que a primeira opção e a decisão final foram classificadas como convergentes.

Para esta análise, critério de pontuação sugerido por Giacomini (2007), no qual as opções convergentes são pontuadas de acordo com a sua posição na hierarquia de soluções (Melhor Opção = 1,00; 2ª Melhor Opção = 0,75; 3ª Melhor Opção = 0,50 e Pior Opção = 0,25), mostrou-se mais uma vez apropriado. Isto se deve à própria natureza e conceito de inconsistência dinâmica, que envolve uma mudança na preferência por uma determinada solução no decorrer do processo de geração de opções, como demonstrado previamente em pesquisas envolvendo árvores de tomada de decisão (BUSEMEYER et al., 2000), e nos próprios estudos sobre a geração de opções e a heurística EPO nos esportes (JOHNSON; RAAB, 2003; RAAB; JOHNSON 2007; RAAB; LABORDE, 2011; HEPLER; FELTZ, 2012). Esta troca entre a opção inicialmente planejada e a solução finalmente escolhida não requer, necessariamente, que a PO ou DF estejam associadas à melhor opção. Caso o critério de pontuação do protocolo original (MANGAS, 1999) fosse utilizado, somente as opções correspondentes às melhores soluções seriam diferenciadas na análise, o que não descreveria adequadamente o fenômeno da inconsistência dinâmica, e produziria um viés nos resultados. Além disso, considerando-se a dinâmica não-linear, variável

e incerta do Futebol e dos demais JEC, não parece apropriado classificar apenas uma opção como ótima ou a única correta. Na prática, a história desses esportes está repleta de casos nos quais opções de jogadas teoricamente "menos corretas", ou apenas satisfatórias, resultaram em lances e gols memoráveis.

No GRÁFICO 3 estão plotadas as médias da qualidade da opção (por participante, por cena), nos dois momentos (PO e DF). Percebe-se que não há sobreposição dos intervalos de confiança (95%) na comparação entre os dois conjuntos de respostas.

GRÁFICO 3 - Comparação entre a Qualidade Média da Primeira Opção e da Decisão Final

A TABELA 17 apresenta os resultados obtidos por meio de estatística descritiva e teste de normalidade dos dados para os dois conjuntos de dados. O teste de Kolgomorov-Smirnov rejeitou a normalidade dos escores em ambos (p<0,001).

TABELA 17 - Qualidade da Primeira Opção e Decisão Final

Qualidade da Opção N Média (Desvio Padrão) Erro Padrão Intervalo de Confiança (95%) Mínimo Máximo

Normalidade dos Dados Limite

Inferior Superior Limite Teste K-S gl p

Primeira

Opção 1886 0,82 ± 0,22 0,005 0,81 0,83 0,25 1,00 0,340 1886 <0,001 Decisão

Entretanto, considerando-se o tamanho da amostra e a robustez do teste t, que pode ser utilizado mesmo com desvios consideráveis da normalidade, desde que os grupos tenham dimensões iguais e o teste seja bilateral (CALLEGARI-JAQUES, 2003), o que é o caso, optou-se pela utilização do teste t pareado. Os resultados da análise – t(1885)= -6,107, p<0,001 –, que levou em conta as 1886 situações de geração de primeira opção e tomada de decisão convergentes, comprovam a maior qualidade das decisões finais em relação às opções geradas na opção 1, a exemplo do que o teste qui-quadrado já tinha sugerido (TABELA 18).

TABELA 18 - Comparação entre a Qualidade da Primeira Opção e da Decisão Final

Comparação

Pareada N Correlação p

Diferenças Pareadas

t gl p

Média Padrão Desvio Erro Padrão da Média Intervalo de Confiança (95%) Limite Inferior Limite Superior Primeira Opção vs Decisão Final 1886 0,490 <0,001 -0,031 0,221 0,005 -0,411 -0,211 -6,107 1885 <0,001

Os resultados supracitados mostram que a decisão final dos atletas foi aprimorada ao longo da fase de geração de opções, possivelmente com o suporte fornecido por processos deliberativos por meio da execução de simulações mentais e de comparações entre as alternativas verbalizadas. Se os participantes tivessem escolhido as primeiras opções como suas decisões finais, ou seja, se eles tivessem confiado na intuição em 100% das tentativas, a qualidade média das decisões finais teria sido menor que a verificada ao final da aplicação do teste.

Entretanto, esta conclusão só apresenta validade a luz de manifestações do pensamento convergente, em concordância com as soluções propostas pelos peritos (MANGAS, 1999). É importante ressaltar que 194 (9,33%) das 2080 situações de geração de opções e tomada de decisão final, por envolverem a verbalização de opções divergentes na primeira opção e/ou decisão final, não foram computadas no teste. Isto ocorreu porque esta pesquisa não contemplou a análise da qualidade das respostas divergentes, impossibilitando a comparação delas com as opções do tipo convergentes.

Ainda assim, os resultados encontrados contrariam o estudo de Johnson e Raab (2003), que verificou uma maior qualidade da primeira opção em relação à decisão final. Raab e Laborde (2011) também apresentaram evidências no mesmo sentido (maior qualidade da primeira opção), mesmo que marginais e sem comprovação estatística.

Por outro lado, em linha com o presente estudo, duas investigações que exploraram o paradigma de geração de opções (RAAB; JOHNSON, 2007; HEPLER; FELTZ, 2012), apresentaram médias superiores da qualidade das decisões finais em relação às primeiras opções. Entretanto, assim como no estudo de Raab e Laborde (2011), a comprovação estatística dessas diferenças não foi apresentada, possivelmente porquê os níveis de significância desejados não foram alcançados.

De forma geral, os resultados são inconclusivos, mas apontam mais uma vez na direção da interação e interdependência dos processamentos intuitivo e deliberativo, para a geração de possibilidades de ação e implementação da opção preferida. Afinal, apesar de os participantes do estudo mostrarem-se capazes de melhorar a qualidade das decisões finais convergentes ao longo da fase de geração de opções, isto ocorreu em apenas 303 (16,1%) das 1886 situações analisadas. Em 1410 (74,76%) casos, os processos deliberativos simplesmente endossaram a primeira opção gerada pelos jogadores, o que possivelmente ocorreu sob forte influência da intuição. Se o teste fosse aplicado em uma situação real de jogo, isto é, com "a bola rolando de verdade", é possível que esta proporção fosse ainda maior, uma vez que os jogadores teriam que tomar decisões sob a pressão dos adversários.

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