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3. BASES TEÓRICAS

5.1 Uso e ocupação do solo na bacia hidrográfica do rio São Miguel

5.1.3 Indústria e Mineração

A distribuição espacial dos maciços rochosos é visualizada numa faixa de orientação SE/NW, localizada na porção central da bacia (legenda marrom na FIGURA 6). A fácies carbonática, com litofácies calcárias e dolomíticas, é a unidade litológica de maior distribuição e espessura dentro da bacia hidrográfica (FÉLIX e FREITAS Jr., 2000). Elas concentram as feições cársticas exuberantes como torres, dolinas, uvalas, sumidouros, drenagem subterrânea, além da maioria das cavidades subterrâneas (SAADI et al., 1998; PIZARRO, 1998). Os maciços rochosos do carste ocupam uma área de aproximadamente 60km² (11% do total da bacia), desta área 40% estão nas áreas do ponto SM 05, 22% no SM 02, 18% no SM 04, 15% no SM 01 e 5% no ponto SM 03.

Localizados nas proximidades destes afloramentos rochosos carbonáticos, os argissolos (antigo podzólicos) são os solos de maior abrangência. A aptidão agrícola é regular, pois tem como fator limitante a morfologia de relevo ondulado nos Argissolos Vermelhos Eutróficos típicos, tornando-os mais susceptíveis à erosão que os Argissolos Vermelhos Eutróficos latossólicos, localizados em relevos moderadamente ondulados (LAGES et. al., 2005). A exploração agrícola nestas áreas é baixa, se comparada aos latossolos, devido à morfologia do relevo em que ocorrem normalmente, o que não lhes confere atividade econômica agrícola expressiva.

Também associada aos afloramentos rochosos, ocorre a vegetação de Floresta Estacional Decidual conhecida como Mata de Seca, e localmente denominada “Mata de Pains”43. Ela não está diferenciada da legenda vegetação, porém é possível associar as manchas verdes escuras da legenda com as manchas marrons no mapa da FIGURA 6. O sistema de drenagem com presença de sumidouros e circulação de água subterrânea aliado ao período de seca, acentuam o baixo teor de água que percola no solo e lhe imprime o caráter estacional das árvores neste tipo de vegetação, que reveste os terrenos calcários. A fisionomia é sempre verde nos meses chuvosos e completamente seca com queda total das folhas do

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Na FIGURA 6 não foi possível separar claramente vegetação e mata seca, porém estas estão normalmente associadas à presença dos afloramentos.

estrato dominante nos períodos de estiagem, de junho a outubro (BRASIL, 1983). A presença da mata seca em áreas contíguas representa porções onde a mineração não conseguiu avançar.

A classe da vegetação no mapa é um agrupamento da mata seca com a mata de cerrado e ocupa 135 km² de área na bacia (27% do total), e se distribui com 40% desta área no ponto SM 05, 25% no SM 01, 15% no SM 04 e SM 02 (cada) e 5% no ponto SM 03.

Junto dos maciços e sua vegetação associada (mata seca), áreas de mineração sobressaem como atividade econômica expressiva nestes locais (legenda cinza na FIGURA 6). A extração de rochas carbonáticas (calcário e dolomito) promove a destruição dos maciços e devastação das matas. A pequena extensão areal da mineração representa 1,5% da área da bacia, que se concentra em grande parte no ponto SM 05, seguido pelo ponto SM 02. Nos outros pontos ela é mais resumida, onde ocorrem pequenas extrações e calcinadoras, cujo mapeamento é dificultado nesta escala de análise.

Os principais processos envolvidos na mineração, além da extração das rochas são: britagem, moagem, calcinação (queima) e hidratação do calcário. A extração, britagem e a moagem são responsáveis pela emissão de poeiras e particulados na atmosfera. A calcinação implica em tratamento térmico da rocha e elimina substâncias voláteis, a ação intensa do fogo e do calor converte o material rochoso em partículas e causa poluição atmosférica.

O poço artesiano é o tipo mais comum de captação de água pelas indústrias mineradoras, que também é feita em cisternas, dolinas, tanques de captação de águas pluviais, lagoas represadas e nos próprios rios (São Miguel e Candongas) para os usos menos exigentes.

Os usos da água pelas mineradoras se dão para o consumo humano, higiene, irrigação de plantas, limpeza de instalações e dessedentação de animais. No processo produtivo, utiliza-se a água para extração e britagem da rocha, redução de poeira no ar, resfriamento de caldeiras e fornos de calcinação, hidratação do calcário, lavagem de equipamentos e de veículos. Os usos que demandam maior quantidade de água são a aspersão de água nas áreas de tráfego de veículos (estradas) e a aspersão em instalações, sendo utilizados dezenas de milhares de litros por dia.

Em algumas mineradoras de maior porte, a água é reutilizada para lavagem de veículos, o que é prática ainda pouco comum na região. Perdas por evaporação ocorrem no processo de britagem e em tanques de decantação ou tanques utilizados para secagem de carbonato de cálcio. Os sistemas de tratamento de efluentes são poucos e constituem tanques de decantação ou apenas reaproveitamento direto da água. Os destinos dos efluentes são esgotos, fossa séptica e sumidouros.

O impacto ambiental da mineração nas águas pode se dar pela remoção de solo e conseqüente erosão, na qual os sedimentos são carreados para os corpos d’água, podendo resultar no assoreamento de dolinas e no aumento da dureza da água.

Outra forma de poluição das águas pode decorrer de forma indireta, com a presença de elementos na água provenientes da queima de combustíveis para calcinar a rocha, feita com materiais diversos, que podem deixar resíduos indesejáveis na água. BORGHETTI (2002) estudou a distribuição e concentração de metais pesados em área que abrange uma parte da bacia hidrográfica do rio São Miguel nos municípios de Pains e Córrego Fundo. A área concentra 4 pedreiras de explotação de matéria-prima para calcinação, 16 fornos artesanais (fornos de barranco) e 10 indústrias calcinadoras. Os materiais comburentes usados incluem madeiras (árvores nativas de cerrado e eucaliptos), resíduos de plástico, aparatos de borracha, óleos residuais, papeis aluminados e pneus. A ausência de filtros na maioria das calcinadoras implica em poluição atmosférica por causa da volatilização de elementos que podem atingir os corpos d’água de forma direta ou indireta, que pode acontecer com a lixiviação e transporte destes elementos dos solos e altos topográficos.

BORGHETTI (2002) identificou concentração acima do nível natural (“background”) de Cd nos solos. Além deste elemento, Co, Cr, Ni, Pb, próximo às calcinadoras indicaram proveniência devida à atividade antrópica (calcinação). O Cu, Pb e Zn refletiram influência na sua distribuição do estrato rochoso, os 2 últimos se devem às concentrações primárias da mineralização do calcário.

Os metais pesados Cd, Pb e Zn foram aqueles nos quais a preocupação recaiu nas análises de amostras do monitoramento regular nos 5 pontos no rio São Miguel. Foram feitas coletas em ambientes hídricos cársticos como dolinas com água e também em lagos para verificar as suas presenças bem como de outros elementos44 na água. A localização destes pontos se deu nas proximidades das empresas calcinadoras junto às áreas de mineração (legenda cinza na FIGURA 6).

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