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3 CARTOGRAFANDO A CONTROVÉRSIA DA NOVA MPB

3.2 A Nova MPB em Debate

3.2.5 Independência Contraditória

O discurso presente na nova MPB de artistas independentes também foi bastante criticado, principalmente para os que chamam a nova MPB de MPB Indie. Foi assim que de forma resumida, o jornalista Maurício Ângelo escreveu e publicou no site Movin UP a matéria ―O indie vai bem, falta falar com o público‖ (2012). No texto, Maurício Ângelo critica o que chama de ―triunfalismo precoce‖ na repetição de falas como ―vencemos na vida sem o apoio de grandes gravadoras‖, pois acredita que a afirmação proclama uma independência contraditória, mascarando outras formas de auxílio e sustento da nova geração que produz música no Brasil, abrindo a caixa preta da MPB quanto a suas formas e estratégias de produção, circulação e divulgação.

Na visão do jornalista, por trás do discurso de independência de Romulo Fróes, ―Não temos nada a ver nem mesmo em relação à dita MPB que se desenvolve dentro da indústria‖ (ARRUDA, 2011) estão os patrocínios e editais de empresas privadas, como Natura e Vivo, e o apoio do Governo por meio de leis e editais de incentivo à cultura e as passagens esporádicas pela televisão. Porém, podemos retomar os principais atores da MPB descritos no capítulo anterior, como o papel dos patrocinadores como a Rhodia Textil, empresa de vestuário que se consagrou durante a década de 1960 ou o papel da lei federal ―Disco é Cultura‖ de 1967 que impulsionaram a produção da MPB na época. Portanto, esses apoios sempre estiveram ligados a MPB, e até mesmo o discurso contra o mainstream na MPB vem

desde da década de 1970. Ainda assim, a questão da presença da nova MPB na grande mídia é apontada de forma problemática, pois mesmo alguns dos artistas da nova MPB aparecerem em programas na TV aberta e fechada, Maurício Ângelo declara existir um ―nojinho‖ por parte dos artistas da nova MPB com meios de comunicação massivos como a televisão.

André Forastiere (2012) tem sua própria teoria do porquê dessa recusa a se expor em programas como Faustão. Para ele, a nova MPB quer ser descolada, Hipster21 e por isso tocar na televisão aberta e fazer sucesso significaria ostracismo, o fracasso e a saída do mundo Hipster. Enquando Romulo Fróes conta em entrevista que sua geração não sabe se portar, tem vergonha e medo de ir a televisão e se apresenta incompatível com o meio de comunicação massivo, cintado um caso ilustrativo de suas colocações a apresentação de Lucas Santtana no programa Altas Horas, da rede Globo, mas mesmo com o comportamento não ambicioso de sua geração, releva expectativas de que isso venha a mudar.

Sempre lembro do Lucas Santtana no Altas Horas junto com o Chiclete com Banana, os dois baianos. Começaram a falar da Bahia, o Lucas sobre as pretas do acarajé que ele canta. De repente ele solta um ―essa é pra dançar‖ e canta ―Cira, Regina e Nana‖ – não dá pra dançar. O Lucas acha que dá e ele dança, mas a galera fica sem saber o que fazer. Quando o Bell falou ―galera vamos cantar‖ a platéia veio abaixo. Esse é um retrato acabado da minha geração. A gente não é praquilo. Ou aquilo vai ter que mudar ou a gente vai ter que mudar. E era o Lucas, que segundo ele faz música pra dançar, e é verdade, mas não praquela galera. É um chameguinho. A minha geração tem isso. Talvez a falta de ambição seja o medo de dar conta de algo que vai foder (...) Talvez tenha um pouco de medo de ―não vou me meter nisso‖. (AGOSTINO; COSTA, 2010).

No entanto, o que vem acontecendo nos últimos anos além das pouquíssimas aparições dos integrantes da nova MPB na televisão aberta, é que a nova MPB tem ganhado espaço na televisão em canais fechados. Um dos momentos da nova MPB na TV aberta foi na MTV Brasil, no programa Grêmio Recreativo, comandado pelo músico Arnaldo Antunes com um programa exibido a cada mês, de março a dezembro de 2011. O programa funcionava como um ensaio geral entre artistas convidados por Arnaldo seguido de um show para um público em São Paulo, onde todos os artistas da nova MPB tocaram juntos a alguns nomes conhecidos da MPB como os integrantes da Nação Zumbi, Seu Jorge, Caetano Veloso, Adriana Calcanhotto, Vanessa da Mata, Marisa Monte, João Mautner, Elza Soares, Zeca Baleiro, Lenine, Nando Reis, Luiz Melodia.

21 O adjetivo Hipster no século XIX apresenta-se como estereótipo de grupos com características comuns como o fato de não se identificar com a cultura mainstream (alta circulação midiática), fazerem parte da classe média urbana e buscarem a criação de modas e tendências originais e inovadoras. Mais informações sobre os Hipsters disponível em: http://super.abril.com.br/cultura/o-que-querem-os-hipsters-conteudo-extra. Acesso em agosto de 2015.

O espaço na TV fechada vem aumentando com diversos programas com participações dos artistas da nova MPB, e que costuma ser comentada pela imprensa brasileira, como as matérias ―Novos nomes da MPB são destaque na TV‖ e ―Programa 'Pelas tabelas' reestreia e mostra a cara da nova MPB na televisão‖ da Agência o Globo sobre programas como Evidente, Pelas Tabelas, Cantoras do Brasil e Cada Canto no Canal Brasil, Experimente no Multishow, Na Brasa na MTV, Segue o Som na TV Brasil e Cultura Livre na TV Cultura. Mas não se pode dizer o mesmo sobre a presença da nova MPB nas rádios FM, muito menos sobre o número de vendar de discos que continuam baseados no mercado de nicho.

Sobre o uso do rótulo ―indie‖ para fazer críticas a nova MPB, partimos da abordagem de Nadja Vladi Cardoso Gomes (2011) e sua tese sobre como a rotulação indie rock trata-se de um processo comunicacional de partilha de sensibilidades e sociabilidades musicais e a disseminação de valores ideológicos e lógicas comerciais para pensar como o indie rock é incorporado na produção, distribuição, consumo e circulação da nova MPB, sobretudo materializado nas opiniões dos seus atores, como uma performance, como uma maneira de se posicionar de forma contraditória no mercado, evocando argumentos ideológicos (fora da indústria da música e da circulação na televisão e no rádio) e autonomia criativa (liberdade artística e originalidade). A materialização do indie rock na produção, distribuição e consumo, bem como elementos estéticos desse gênero musical são incorporados nas músicas da nova MPB serão abordados no capítulo 3.