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Hospital dos Sapateiros

Devido a uma carta de foro de inícios do século XV, concedida por D. João I a Pero

Domingues, sapateiro, ficamos a saber da existência na freguesia de São Nicolau de uma albergaria dos sapateiros302, a qual pode ter tido origem no século XIII, segundo uma inquirição datada dessa centúria303.

Hospital de Nossa Senhora Remédios e de Santo Estevão, dos pescadores chincheiros

Como vimos anteriormente, os pescadores de Lisboa, fundaram numerosas instituições hospitalares, situação que não representa qualquer anormalidade, até porque a cidade dispunha de um elevado número de confrarias de mesteres. Porém, a data de fundação precisa da instituição dos chincheiros, pescadores que pescam com rede de arrastar, é desconhecida. Relativamente à localização, as indicações são díspares, embora pareça-nos mais plausível que

se situasse na freguesia de Santo Estêvão304 e que tivesse uma pequena igreja associada, a Igreja

de Nossa Senhora dos Remédios. Fernando da Silva Correia, refere o número de onze camas para mulheres pobres, desejando por isso um bastante razoável em comparação com outros casos anteriormente recenseados. Desconhecemos contudo o critério de admissão das mulheres pobres mencionadas, embora seja de admitir, tendo em consideração as suas congéneres instituições assistenciais mantidas por confrarias, que o hospital concentrasse os seus esforços nas mulheres dos pescadores, membros da confraria ou noutros membros femininos das suas

famílias respetivas305.

302 Chancelarias Portuguesas : D. João I, vol. III, tomo 2..., p. 534. 303 ANTT, Colegiada de Sta. Marinha do Outeiro de Lisboa, m. 6, nº. 225

304 OLIVEIRA, Cristovão Rodrigues, Sumario... p, 56, por outro lado CORREIA, Fernando da Silva, “Os Velhos Hospitais...”, sugere a sua localização em Alfama, na freguesia de S. Miguel. SALGADO, Abílio José; SALGADO, Anastácia Mestrinho, “Hospitais Medievais...”, p. 107, localiza-a na rua dos Remédios

305As vantagens práticas em caso de doença entre os confrades como observa OLIVEIRA, Marques, A. H, A sociedade Medieval Portuguesa, Lisboa, Sá da Costa, 1974, p. 140. Maria Helena da Cruz Coelho refere que “ a caridade não atuava apenas nas casas assistenciais para com o pobre desconhecido. Traduzia-se, sobretudo, na entreajuda, na assistência na privação, ou no sofrimento físico ou moral ao confrade ou seu familiar mais direto." As confrarias medievais portuguesas: espaços de solidariedades na vida e na morte, Dep. de Educación y Cultura, Navarra, 1992, p. 162.

A carência de documentação nos impossibilita de saber qual terá sido o destino final desta instituição.

Hospital dos Pescadores Linheiros

“O Sprital dos pescadores estaa na freguesia de sacto Esteuao aa porta da cruz, tem tres camas as quaes sostentao os pescadores linheiros somemnte camas E casa” 306. Esta descrição permite confirmar a localização e a relação de proximidade que mantinha com o grupo profissional dos pescadores linheiros. Segundo Cristina Moisão, este Hospital dos Pescadores linheiros situava-se às Portas da Cruz, mais concretamente no cruzamento da Rua

do Paraíso com as Portas da Cruz307.

Hospital de S. Jorge ou dos Barbeiros e Caldeireiros, ou de São Jorge dos Barbeiros e Caldeireiros, ou de S. Jorge de Lisboa

Maria José Ferro Tavares situa-o na Rua da Betesga308, freguesia de Santa Justa,

Langhans destaca a importância do hospital como local de sociabilidade profissional309, uma

vez que em alguns casos era nas casas ocupadas pelas instituições assistenciais que se

encontravam igualmente as sedes das corporações, como era o caso do Hospital de S. Jorge310.

Era da responsabilidade dos barbeiros/sangradores mas também dos físicos, dos cirurgiões e dos boticários, este estabelecimento hospitalar encontrava-se igualmente ligado desde o seu início aos caldeireiros, que inclusivamente e já depois da sua incorporação no Hospital Real de Todos os Santos mantinham um determinado número de camas311”.

306 OLIVEIRA, Cristovão Rodrigues, Sumario..., p. 56 307 MOISÃO, Cristina, “Os Hospitais Medievais...” p. 72.

308 CORREIA, Fernando da Silva, “Os Velhos Hospitais...”, p. 12.

309 LANGHANS, Almeida “As Corporações dos Ofícios Mecânicos”, Lisboa, Imprensa Nacional de Lisboa, 1943.

310 Dando contudo uma localização diferente em S. Domingos.

311 RODRIGUES, Arminda, A Igreja de Nossa Senhora da Vitória Irmandade e Hospício (1530-1862), vol. I e II,

Hospital de Nossa Senhora da Vitória

Os obstáculos em comprovar a origem e a localização do Hospital de Nossa Senhora da Vitória residem no carácter impreciso e por vezes contraditório das fontes existentes sobre

algumas destas instituições312. Uma das principais fontes que conhecemos para o estudo da

instituição de Nossa Senhora da Vitória, até ao terramoto de 1755 é a obra de frei Nicolau de

Oliveira313, de inícios do século XVIII, que sugere, incorretamente que a origem do Hospital

de Nossa Senhora da Vitória, seria o antigo Hospital de Santana, em cuja capela surgiu o culto de Nossa Senhora da Vitória314.

A consulta das fontes elaboradas por Cristóvão Rodrigues de Oliveira315 e Brandão de Buarcos316 transmite-nos cenários verdadeiramente opostos aos apresentados por frei Agostinho de Santa Maria, uma vez que distingem claramente o Hospital de Nossa Senhora da Vitória, do Hospital de Santa Ana317.

Embora se saiba hoje que se tratam de estabelecimentos distintos, os relatos, aportados por múltiplas fontes, ajudam a compreender a complexidade da reconstrução histórica destes estabelecimentos.

A primeira referência ao hospital que dispomos, é nos facultada por Cristóvão Rodrigues de Oliveira no Sumário em 1551, onde descreve a existência de uma irmandade de invocação a Nossa Senhora da Vitória, sediada no Hospital de Nossa Senhora das Virtudes, de fundação muito antiga, mas que, com o tempo, passou a se designar “da Vitória”. Segundo o mesmo autor, “enfermarias onde podia albergar catorze doentes, alguns dos quais incuráveis318”.

Outra fonte que dispomos, é o relato efetuado por Brandão de Buarcos, em a Grandeza

e Abastança de Lisboa em 1552319, onde, de modo semelhante, faz menção aos doentes

incuráveis, assinalando desta vez o número de oito leitos para homens, e outros tantos, para

312 RODRIGUES, Arminda, A Igreja de Nossa Senhora da Vitória Irmandade e Hospício..., p. 36.

313 OLIVEIRA, Nicolau (Frei), O Livro das Grandezas de Lisboa, Lisboa, Colecção Conhecer, Lisboa, Vega, 1991.

314RODRIGUES, Arminda, A Igreja de Nossa Senhora da Vitória Irmandade e Hospício..., p. 36. 315 OLIVEIRA, Cristóvão Rodrigues, Sumário...

316BUARCOS, João Brandão de, Grandeza e abastança de Lisboa...

317 RODRIGUES, Arminda, A Igreja de Nossa Senhora da Vitória Irmandade e Hospício...p. 36.

318“Estes pequenos hospitais, geralmente casas de habitação adaptadas a funções hospitalares rudimentares, adaptavam-sebem à função de “depósito” destinado a indivíduos sem hipóteses de cura.” SÁ, Isabel dos Guimarães “Assistência. Época Moderna.” in Dicionário de História Religiosa de Portugal, vol. II, Lisboa, Círculo de Leitores, 2000, p. 143.

mulheres. Os elementos do sexo feminino residiam no sobrado e aos doentes os cuidados eram dispensados por um hospitaleiro, sendo provido a cada elemento cama e um sustento de 12 reis diários320.

Hospital de Sancha Dias e Dom Adão

De um contrato de emprazamento de 1504, extraímos a localização do Hospital de

Sancha Dias e Dom Adão na freguesia dos Mártires321. João Brandão de Buarcos, na Grandeza

e abastança de Lisboa em 1552, inclui como fundador não apenas Sancha Dias, mas igualmente o seu marido Dom Adão “forasteiro fidalgo… a qual casa é das mais antigas desta avocação. E acabada, lhe deixou toda a sua fazenda, e deixou ordenado que nela houvesse… um homem que servisse de tesoureiro, ao qual mandou dar quatro alqueires de trigo e cem rs em dinheiro para conduto, cada mês... Em qual casa dizem cada dia dez missas, e está hoje em dia muito bem adornada e perfeita, porque os mercadores desta Cidade, os mais principais, se fizeram

confrades da casa, e eles a têm muito bem concertada.” 322. Este estabelecimento acolheria onze

merceeiras323, que deviam ser de boa nomeada. É incorporado em 1503 no Hospital Real de

Todos os Santos324.

320 Ibidem, p. 34.

321 ANTT, Chancelaria de D. Manuel I, liv. 22, fl. 101, [Em linha. Consult.19 Março 2014]. Disponível em http://digitarq.dgarq.gov.pt/details?id=3868221.

322 BUARCOS, João Brandão de, Grandeza e Abastança de Lisboa..., p. 135. 323 Ibidem, p. 135.

Capítulo II - A função social, espiritual e económica dos legados

testamentários na instituição e manutenção das mercearias

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