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INDICAÇÕES GEOGRÁFICAS NO BRASIL

No documento LUIZ CLAUDIO DE OLIVEIRA DUPIM (páginas 90-104)

PARTE II – CONTEXTO DA PESQUISA E A METODOLOGIA

Capítulo 3 INDICAÇÕES GEOGRÁFICAS NO BRASIL

Este Capítulo visa apresentar uma contextualização das indicações geográficas reconhecidas no Brasil por intermédio de um levantamento dos pedidos de registro de indicações geográficas solicitados no INPI até o ano de 2013, procurando identificar os principais atores atuantes no tema no Brasil. Em seguida é apresentada uma revisão bibliográfica dos autores mais atuantes nos assuntos indicação geográfica e desenvolvimento local e territorial no Brasil de forma a traçar um quadro atual das discussões do tema no país.

3.1 – PEDIDOS DE REGISTRO DE INDICAÇÕES GEOGRÁFICAS NO INPI

Conforme visto anteriormente, o conceito de indicação geográfica foi internalizado na legislação nacional como um ativo de propriedade industrial através da LPI/96, possibilitando aos produtores/prestadores de serviços locais o registro, para uso exclusivo, dos nomes geográficos reconhecidos como indicações geográficas, desde que se enquadrem nas definições estabelecidas no Capítulo IV da LPI/96 e satisfaçam as condições de registro estabelecidas pelo INPI.

Considerando o ano de 2013, 16 anos haviam se passado desde a internalização do conceito de IG pela LPI/96. Neste período de abrangência da pesquisa, que vai de 1997 (quando a LPI/96 entrou em vigor) até 2013, observa-se que apenas em anos recentes passou haver um maior interesse por este registro no Brasil. Em parte, tal movimento pode ser explicado pelo aumento de iniciativas de disseminação e fomento ao registro de indicações geográficas como forma de agregação de valor a produtos e serviços locais, por parte de instituições de apoio à produtores/prestadores de serviços, como é o caso dos projetos pioneiros da EMBRAPA Uva e Vinho no sul no país, as ações de apoio às entidades representativas de micro e pequenos produtores realizadas pelo SEBRAE e as iniciativas do MAPA e das Secretarias de Agricultura de alguns estados.

Com a entrada em vigor da LPI/96 em 1997, os primeiros pedidos de registros de IG foram, em sua maioria, solicitados por estrangeiros com interesse na proteção de suas indicações geográficas no Brasil. O número de pedidos de registros de IG(s) nacionais começa a se intensificar de forma consistente a partir de 2007, como pode ser observado no Gráfico 04.

Gráfico 04 – Pedidos de registro de indicações geográficas de 1997 a 2013 Fonte: Organização do autor a partir de dados do INPI (2014)

Conforme dados do INPI, até dezembro de 2013 haviam sido solicitados 79 pedidos de registro de IG na autarquia. Deste total, 23 eram de pedidos estrangeiros e 56 referentes a solicitações de nacionais. Os pedidos de registros de IG(s) estrangeiras concentram-se em indicações geográficas relacionadas a vinhos e produtos agropecuários, seguindo a tendência mundial, conforme Gráfico 05.

Gráfico 05: Distribuição dos pedidos registro de IG estrangeiras por categoria de produtos/serviços no período de 1997 a 2013.

Fonte: Organização do autor a partir de dados do INPI (2014)

Já os pedidos de registros de nacionais apresentam uma grande variedade de indicações geográficas relacionadas a produtos e serviços diversos, conforme observado no Gráfico 06. Além dos produtos tradicionais para este tipo de registro, como vinhos e produtos agrícolas que perfazem mais de 50%, observa-se pedidos para artesanato, minerais e para serviço. Essa variedade de pedidos relacionados a ramos de atividades diversas se deve a

flexibilidade da legislação nacional que não discrimina a atividade econômica vinculada a este tipo de registro, diferentemente do observado na Comunidade Europeia onde este tipo de registro se aplica apenas à indicações geográficas para produtos vinícolas e agroalimentares.

Gráfico 06: Distribuição dos pedidos de registro de nacionais por categoria de produtos/serviços no período de 1997 a 2013.

Fonte: Organização do autor a partir de dados do INPI (2014)

Conforme expresso no Gráfico 07, obtido a partir de dados do INPI (2014), no caso dos pedidos de registro de nacionais, verifica-se uma maior incidência de solicitações na espécie Indicações de Procedência (43 pedidos), enquanto apenas 13 referem-se a pedidos de registro para DO. Ou seja, a maioria dos pedidos de nacionais estavam relacionados a locais que se tornaram conhecidos na extração, produção ou fabricação de determinados produtos, com destaque para as solicitações relacionadas a produção de vinhos, aguardente de cana e café (INPI, 2014). Na categoria de serviços, houve apenas um pedido solicitado, e já concedido, referente a serviços de tecnologia da informação do Porto Digital em Recife, não havendo outras solicitações para esse ramo de atividade econômica.

Gráfico 07: Distribuição dos pedidos de IG de nacionais entre IP e DO no período de 1997 a 2013. Fonte: Organização do autor a partir de dados do INPI (2014)

A concessão de registros por parte do INPI, somente se intensificou a partir de 2010, como demonstrado no Gráfico 08. Tal aumento se explica devido ao melhor aparelhamento da Autarquia no final de 2010, no que se diz respeito a recursos administrativos e humanos, o que possibilitou o processamento de vários pedidos de registro então pendentes.

Gráfico 08 – Registros concedidos pelo INPI de 1997 a 2013 Fonte: INPI (2014)

Conforme Quadro 04, até dezembro de 2013, 46 indicações geográficas encontravam-se registradas no INPI, encontravam-sendo 38 nacionais e 08 estrangeiras. Do total de IG(s) nacionais registradas, 30 eram indicações de procedência e apenas 08 eram na espécie denominação de origem.

Quadro 04: Indicações geográficas registradas no INPI no período de 1997 a 2013.

Nº IG Nome Espécie País/UF Produto Ano de

registro

IG970002 Região dos Vinhos Verdes DO PT Vinhos 1999

IG980001 Cognac DO FR Destilado Vínico 2000

IG200002* Vale dos Vinhedos IP BR/RS Vinhos e espumantes 2002

IG200101 Franciacorta DO IT Vinhos, espumantes e bebidas ... 2003

IG980003* Região do Cerrado Mineiro IP BR/MG Café 2005

IG200501 Pampa Gaúcho da Campanha Merid. IP BR/RS Carne bovina e derivados 2006

IG200602 Paraty IP BR/RJ Aguard. tipo cachaça e composta 2007

IG980003 San Daniele DO IT Presunto defumado cru 2009

IG200701 Vale do Submédio S. Francisco IP BR/ Uvas de mesa e mangas 2009

IG200702 Vale dos Sinos IP BR/RS Couro acabado 2009

IG200802 Litoral Norte Gaúcho DO BR/RS Arroz 2010

IG200803 Pinto Bandeira IP BR/RS Vinhos e espumantes 2010

IG200704 Serra da Mantiqueira de Minas Gerais IP BR/MG Café 2011

IG200902 Região do Jalapão do Estado do TO IP BR/TO Artesanato em capim dourado 2011

IG201003 Goiabeiras IP BR/ES Artesanato em panelas de barro 2011

IG200907 Costa Negra DO BR/CE Camarão 2011

IG200901 Pelotas IP BR/RS Doces Tradic. e confeitaria/frutas 2011

IG201001 Serro IP BR/MG Queijo Minas Artesanal do Serro 2011

IG201009 Vales da Uva Goethe IP BR/SC Vinhos de uva Goethe 2012

IG201010 São João del-Rei IP BR/MG Peças Artesanais em Estanho 2012

IG201002 Canastra IP BR/MG Queijo canastra 2012

IG201012 Franca IP BR/SP Calçados 2012

IG201013 Porto) DO PT Vinho generoso (vinho licoroso) 2012

IG201014 Pedro II IP BR/PI Opalas preciosas e jóias artesan. 2012

IG201004 Região Pedra Carijó RJ DO BR/RJ Gnaisse fitado milonítico branco 2012

IG201005 Reg. Pedra Madeira RJ DO BR/RJ Gnaisse fitado milonítico claro 2012

IG201006 Região Pedra Cinza RJ DO BR/RJ Gnaisse fitado milonítico cinza 2012

IG201007 Cachoeiro de Itapemirim IP BR/ES Mármore 2012

IG200909 Linhares IP BR/ES Cacau em amêndoas 2012

IG201101 Manguezais de Alagoas DO BR/AL Própolis Vermelha 2012

IG201106 Napa Valley DO US Vinhos 2012

IG201008* Vale dos Vinhedos DO BR/RS Vinhos tinto, branco e espumante 2012

IG200903 Norte Pioneiro do Paraná IP BR/PR Café 2012

IG200904 Paraíba IP BR/PB Têxteis de algodão colorido 2012

IG200908 Região de Salinas IP BR/MG Aguardente de cana tipo cachaça 2012

IG201107 Divina Pastora IP BR/SE Renda de agulha em lacê 2012

IG201103 Porto Digital IP BR/PE Serviços de TI 2012

BR402012000002-0 Altos Montes IP BR/RS Vinhos e espumantes 2012

IG201108 Champagne DO FR Vinhos espumantes 2012

IG200102 Roquefort DO FR Queijo 2013

IG201104 São Tiago IP BR/MG Biscoito 2013

IG200703 Alta Mogiana IP BR/SP Café 2013

IG201101 Mossoró IP BR/RN Melão 2013

BR402012000005-5 Cariri Paraibano IP BR/PB Renda renascença 2013

BR402012000006-3 Monte Belo IP BR/RS Vinhos e espumantes 2013

IG201011* Região do Cerrado Mineiro DO BR/MG Café verde em grão e industr. 2013

Total de registros concedidos– 46 (8 estrangeiras e 38 nacionais)

*Nome geográfico que possui os dois registros. Fonte: INPI 2014

Do total de pedidos nacionais registrados, trinta (30) foram concedidos entre os anos de 2011 e 2013. Considerando a data de dezembro de 2013, do total de registros nacionais, apenas dois foram concedidos há pelo menos oito anos, dois há pelo menos seis anos, dois há pelo menos quatro anos e todos os restantes há menos de três anos,o que evidencia o pouco

tempo da experiência no país com relação à observação do desenvolvimento das indicações geográficas.

3.2 - PRINCIPAIS ATORES ATUANTES NO FOMENTO E APOIO ÀS INDICAÇÕES GEOGRÁFICAS NO BRASIL

Ao longo da pequena experiência do caso brasileiro, algumas poucas instituições despontaram como atores institucionais relevantes no fomento e apoio às iniciativas de reconhecimento de indicações geográficas no país. Citam-se os trabalhos relevantes de fomento do SEBRAE através de sua unidade nacional, o MAPA através da Coordenação de Incentivo à Indicação Geográfica de Produtos Agropecuários (CIG) e suas unidades regionais, a EMBRAPA, com destaque para a unidade de uvas e vinhos em Bento Gonçalves e o próprio INPI que vem se esforçando nos últimos anos para disseminar a cultura da propriedade industrial no país.

Abaixo uma síntese das principais instituições de fomento e apoio às indicações geográficas no Brasil.

3.2.1 - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas - SEBRAE

O SEBRAE é uma entidade civil sem fins lucrativos e opera como um serviço social autônomo, que visa a capacitação e promoção do desenvolvimento. É uma instituição técnica voltada para o fomento e difusão de programas que têm como objetivos o fortalecimento e a promoção de micro e pequenas empresas (MPEs). No SEBRAE o governo e a iniciativa privada atuam em parceria SEBRAE (2014).

O sistema SEBRAE é composto por uma unidade central coordenadora e por 27 unidades e o distrito federal, que têm autonomia administrativa.

O SEBRAE vem atuando no apoio aos agrupamentos de produtores interessados em solicitar o registro de indicações geográficas no INPI desde 2005 por intermédio da Unidade de Acesso à Inovação Tecnológica e suas regionais espalhadas pelo território nacional. O SEBRAE participa de projetos de incentivos ao registro de IG fornecendo consultores e apoiando as entidades representativas de produtores na obtenção da documentação necessária ao atendimento das condições estabelecidas pelo INPI. O SEBRAE tem atuado na produção de material informativo e apoiando eventos de divulgação do registro de IG nos meios de comunicação e em entidades representativas de produtores.

O Ministério da Agricultura é uma das instâncias de fomento às atividades e ações para o registro de indicação geográfica de produtos agropecuários. No MAPA, o suporte técnico aos processos de obtenção de registro de IG cabe à Coordenação de Incentivo à Indicação Geográfica de Produtos Agropecuários (CIG), do Departamento de Propriedade Intelectual e Tecnologia da Agropecuária (DEPTA), da Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo (SDC), (MAPA, 2014).

O MAPA apoia projetos para o registro de potenciais IG(s) assim como para outros sinais distintivos coletivos. Apoia também IG já registradas, por meio de convênio ou termo de cooperação.

Com um cenário nacional e internacional cada vez mais promissor para formas de agregação de valor, a reforma administrativa do MAPA efetuada através do Decreto nº 5.351, de 21/01/05, oportunizou a integração do tema Indicação Geográfica no Programa de Gestão Estratégica do Ministério, como uma importante ferramenta de agregação de valor.

A atuação do MAPA no tema foi oficializada por meio da criação da Coordenação de Incentivo à Indicação Geográfica de Produtos Agropecuários - CIG, subordinada ao Departamento de Propriedade Intelectual e Tecnologia da Agropecuária, da Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo - DEPTA/SDC. Desta forma, o MAPA passou a ser a instância superior e central no planejamento, fomento, coordenação, supervisão e avaliação das atividades, programas e ações de indicação geográfica de produtos agropecuários no Brasil (CIG/DEPTA/SDC/MAPA, 2009).

Nos estados e no distrito federal, os trabalhos da CIG são conduzidos por técnicos e por Fiscais Federais Agropecuários das Superintendências Federais de Agricultura - SFA, mais especificamente pelo Serviço de Política e Desenvolvimento Agropecuário – SEPDAG.

O objetivo da concessão de IG apoiada pelo MAPA é o desenvolvimento sustentável, via agregação de valor aos produtos agropecuários, ressaltando as diferenças e identidades culturais próprias, organizando as cadeias produtivas e assegurando inocuidade e qualidade aos produtos agropecuários (CIG/DEPTA/SDC/MAPA, 2009).

3.2.3 - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - EMBRAPA

A EMBRAPA foi criada em 26 de abril de 1973 e é vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Desde a nossa criação, assumimos um desafio de desenvolver, em conjunto com o Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária (SNPA), um modelo de agricultura e pecuária tropical genuinamente brasileiro, superando as barreiras que

limitavam a produção de alimentos, fibras e energia no nosso País. É uma empresa de inovação tecnológica focada na geração de conhecimento e tecnologia para agropecuária brasileira.

A EMBRAPA conta atualmente com 17 unidades centrais localizadas em Brasília, 46 unidades descentralizadas em todas as regiões do país, 4 laboratórios virtuais nos EUA, Europa, China e Coreia do Sul e três escritórios internacionais na América Latina e África (EMBRAPA, 2014).

A EMBRAPA apoia iniciativas de reconhecimento de indicações geográfica no setor agropecuário tendo importante papel nos projetos de valorização da produção do setor. A EMBRAPA tem relevante papel no desenvolvimento de indicações geográficas para vinhos através de seu Centro Nacional de Pesquisa em Uvas e Vinhos (CNPUV).

No início dos anos 1990, a EMBRAPA – CNPUV, também conhecida como EMBRAPA Uva e Vinho, foi pioneira no tema das indicações geográficas (I.G.) no Brasil, ao estimular o seu desenvolvimento em vinhos. Em 1995, teve início o primeiro projeto para atender a demanda dos produtores da região do Vale dos Vinhedos, que viria a ser a primeira I.G. brasileira. Hoje o Brasil já conta com um conjunto de I.G. de vinhos finos reconhecidas ou em desenvolvimento, conforme pode ser observado na Figura 04 (EMBRAPA, 2014).

O mapa da Figura 05 indica as áreas produtoras de vinhos no Brasil, reconhecidas ou em processo de reconhecimento, objeto dos projetos da EMBRAPA - Uva e Vinho para o desenvolvimento de indicações geográficas para vinhos finos.

Indicações Geográficas reconhecidas fomentadas pela EMBRAPA - Uva e Vinho

Indicação de Procedência Pinto Bandeira/RS

Indicação de Procedência Altos Montes/RS

Indicação de Procedência Região de Monte Belo/RS

Denominação de Origem Vale dos Vinhedos/RS

IG(s) em desenvolvimento

Indicação de Procedência Farroupilha/RS

Indicação de Procedência Campanha/RS

Figura 04: Mapa das indicações geográficas para vinhos da Serra Gaúcha Fonte: EMBRAPA Uva e Vinho (2014)

Figura 05 – Mapa com IG(s) reconhecidas e em desenvolvimento com o apoio da EMBRAPA CNPUV Fonte: EMBRAPA Uva e Vinho (2014)

3.2.4 - Instituto Nacional da Propriedade Industrial – INPI

Criado em 1970, o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) é uma autarquia federal vinculada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), responsável pelo aperfeiçoamento, disseminação e gestão do sistema brasileiro de concessão e garantia de direitos de propriedade intelectual para a indústria INPI (2014).

Entre os serviços do INPI, estão os registros de marcas, desenhos industriais, indicações geográficas, programas de computador e topografias de circuitos, as concessões de patentes e as averbações de contratos de franquia e das distintas modalidades de transferência de tecnologia.

O INPI também vem atuando intensamente na disseminação da cultura da propriedade industrial como forma de aumentar a proteção aos ativos de propriedade industrial no Brasil e no que se refere às indicações geográficas, é responsável pelo estabelecimento das condições de registro das indicações geográficas no Brasil com base no parágrafo único do art. 182 da LPI/96 e seu registro propriamente dito.

A partir da criação da Coordenação de Fomento e Registro de Indicações Geográficas – COIND, vinculada à Diretoria de Contratos, Indicações Geográficas e Registros DICIG, em 2011, vem contribuindo para a consolidação do conceito de indicações geográficas na Brasil, participando em conjunto com outras instituições de apoio e fomento ao registro de indicações geográficas, assim como participação em eventos, exposições e palestras referentes ao tema em todo país.

O INPI através da COIND se empenha em consolidar parcerias com instituições como IBGE, MAPA, SEBRAE, INMETRO, EMBRAPA, IPHAN para disseminar informações técnicas junto aos órgãos de apoio e fomento como também às entidades representativas de produtores/prestadores de serviços no intuito de possibilitar uma melhor compreensão sobre os conceitos da propriedade industrial assim como a agregação de valor proporcionado pela organização das cadeias produtivas a partir do associativismo, da proteção aos bens culturais, da cooperação e estruturas de controle.

3.3 – INDICAÇÕES GEOGRÁFICAS E DESENVOLVIMENTO LOCAL NO BRASIL

Atualmente existe certo entendimento entre os atores envolvidos com o fomento de indicações geográficas no Brasil sobre o papel crítico da cooperação na implementação dos

projetos de fomento e estruturação de indicações geográficas brasileiras. Por um lado, o Estado ainda possui um papel diminuto no desenvolvimento das IG(s), o que pode ser explicado devido a premência dos interesses do setor agroindustrial exportador que considera as estratégias de IG como uma espécie de barreira à entrada dos produtos brasileiros

(basicamente commodities) no mercado europeu (BLUME; PEDROZO, 2008; DIAS, 2005).

Um fato que chama a atenção para o caso brasileiro, é a ausência de uma política, seja ela rural, vinícola ou em outros setores, que utilize o reconhecimento de indicações geográficas como ferramenta de desenvolvimento a exemplo do que é encontrado no PAC na CE ou até mesmo como observado em alguns países próximos como Chile33, Peru34 e Colômbia35.

No caso do Brasil, e de outros países em desenvolvimento, o conceito de indicações geográficas é pouco conhecido e a implementação desses signos distintivos é recente e configura-se em um desafio a promoção do conceito e dos produtos distinguidos, seja devido a baixa quantidade e escala dos produtos já reconhecidos, seja pelo quase total desconhecimento do conceito no mercado doméstico por parte dos consumidores (MASCARENHAS; WILKINSON, 2014).

Alguns críticos das poucas experiências recentes no Brasil, afirmam que as IG(s) constituem um mecanismo excludente em virtude das condições de obtenção de seu reconhecimento pelo INPI e do tipo de mercado que permitem acessar. Argumentam que essas iniciativas estariam quase inerentemente voltadas a determinados grupos do setor de agronegócio ou, quando muito, à chamada agricultura familiar capitalizada (NIERDELE 2011).

Dentre os principais problemas observados nas indicações geográficas no Brasil, cita-se o baixo grau de organização dos produtores, as assimetrias na distribuição de renda e valor agregado ao longo da cadeia produtiva, o baixo protagonismo dos produtores de matéria-prima, os estabelecimentos de processamento, a excessiva restrição estabelecida por determinados regulamentos36, as dificuldades de adequação dos produtores familiares à

33 O Chile se destaca pelos acordos bilaterais envolvendo IG(s) para vinhos.

34 O Peru faz parte do Acordo de Lisboa e as indicações geográficas são propriedade do Estado que pode licenciar os produtores interessados que se conformarem as condições estabelecidas nas especificações oficiais. Conta atualmente com forte incentivo governamental tendo registrado 08 IG(s) entre produtos agrícolas e artesanatos. (INDECOPI, 2014).

35 A Colômbia se destaca por seus programas de proteção e incentivo ao registro de indicações geográficas e marcas coletivas para artesanatos conforme visto em Rocha e Mello (2012).

36 Refere-se ao regulamento do uso do nome geográfico aplicado ao produto e/ou produtores das áreas de produção de indicações geográficas (inciso III do art, 6º da IN25/2013 INPI).

legislação, o baixo grau de elaboração dos produtos e a falta de canais de comercialização para os produtos identificados pelo sinal distintivo (NIERDELE 2011).

Outro argumento muito utilizado para o não investimento em políticas de valorização de indicações geográficas diz respeito ao baixo poder aquisitivo dos consumidores de países em desenvolvimento (ITC, 2009). No entanto, Nierdele (2009) argumenta que existe

No documento LUIZ CLAUDIO DE OLIVEIRA DUPIM (páginas 90-104)

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