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2.3 Aspectos Relevantes sobre a Análise de Indicadores Econômico-Financeiros

2.3.2 Indicadores da Administração do Capital de Giro

seca.

Apreendeu-se com o exposto pelos estudos empíricos, que os indicadores de liquidez são utilizados na literatura de diversas formas. Seja analisando a capacidade de pagamento na capitação de empréstimos (MRAMOR; VALENTINCIC, 2003), identificando a influência da participação da propriedade agrícola em programas do governo (MISHRA; KHANAL, 2013), buscando identificar como o contexto de crise econômica influência o comportamento dos indicadores (HALL et al., 2011), ou simplesmente analisando como estes indicadores se relacionaram com o comportamento de variáveis macroeconômicas ao longo do tempo (SILVA et al., 2017), o fato é que os indicadores contábeis de liquidez evidenciam relações empíricas sobre a atuação das empresas e setores no mercado.

Assim, as acepções teóricas e empíricas levantadas neste tópico, serão utilizadas como embasamento para as discussões dos resultados, acerca da relação levantada entre os indicadores contábeis de liquidez das empresas do agronegócio e os índices econômicos, buscando se traçar paralelos entre os achados empíricos e os aspectos conceituais dos indicadores de liquidez e das variáveis macroeconômicas relacionadas.

2.3.2 Indicadores da Administração do Capital de Giro

Neste tópico serão apresentados aspectos sobre a administração do capital de giro, apoiado nas principais literaturas e autores nacionais e internacionais, teóricos e empíricos. Busca-se aqui esclarecer o entendimento acerca dos principais conceitos do capital de giro das empresas, que são utilizados para se extraírem dos demonstrativos contábeis os indicadores de Necessidade de Capital de Giro (INCG), Capital Circulante Líquido (ICCL) e Saldo em Tesouraria (IST).

A Administração do Capital de Giro apresentada na literatura nacional por Olinquevitch e Santi Filho (2004), foi explicado como a atenção do gestor sobre a parcela de recursos próprios que está aplicada em ativos mais líquidos, equilibrada às necessidades operacionais e financeiras. Assim, existir capital de giro disponível não garante o funcionamento do negócio, é necessário que este montante esteja balanceado às necessidades de investimento e pagamento do empreendimento.

Em forma de analogia, Vahid et al. (2012) demonstram que a gestão do capital de giro é como um coração que mantém a sobrevivência do negócio, o capital de giro estaria para a

empresa, tal como a corrente sanguínea está para o corpo, sem os nutrientes (investimentos) que passam por ela, a saúde econômico-financeira do empreendimento estaria prejudicada.

Neste sentido, Martins, Diniz e Miranda (2014) explicaram que as empresas estão em busca de técnicas que possam garantir este equilíbrio, mantendo a rentabilidade do negócio, construindo um fluxo constante de pagamentos, alinhados em equilibrar sua saúde financeira. E para o monitoramento desta dinâmica, os gestores podem se apropriar de três indicadores: INCG, ICCL e IST.

O primeiro a ser explicado neste tópico, é o Indicador de Capital Circulante Líquido. Sobre ele, um ponto permanente na administração do capital de giro é a busca do gestor pela equalização temporal entre as fontes e aplicações de recurso na estrutura patrimonial. Para isso, Martins, Diniz e Miranda (2014) demonstraram que este equilíbrio pode ser alcançado pela gestão do ICCL. Conceituando-o, Assaf Neto (2006, p. 170) sugere que o ICCL “é definido como o excedente dos recursos permanentes (a longo prazo) próprios ou de terceiros, alocados pela empresa, em relação ao montante também aplicado a longo prazo”.

Complementando, Olinquevitch e Santi Filho (2004) entenderam que a vantagem obtida na gestão deste indicador, está na sabedoria do gestor sobre como financiar uma parcela do ativo circulante, com todo o recurso disponível no passivo circulante, e, assim o restante seria coberto com aplicações de recursos de longo prazo, mais barato para captação e com um prazo maior de exigibilidade.

Apresentado o CCL, explica-se também o Indicador de Necessidade de Capital de Giro (NCG). Fruto das relações operacionais dos grupos de contas3 de curto prazo, a NCG é explicada por Martins, Diniz e Miranda (2014) como a parte operacional (cíclica) inerente às atividades básicas destinadas a manter o giro do negócio.

Segundo Martins Diniz e Miranda (2014, p. 153) a NCG é “a parte do ativo operacional que não é financiada por passivos operacionais, devendo ser financiada por passivos financeiros de curto prazo ou passivos não circulantes [...]. Trata-se de uma técnica para diagnosticar a capacidade do gestor em manter equiparados os prazos de captação e aplicação de recursos”.

Olinquevitch e Santi Filho (2004), demonstraram que os ativos incluídos no cálculo do indicador de NCG, podem sofrer influência do volume de compras, do nível de estoques e da política de crédito. Corroborado por Marion (2009), que alertou para implicações em qualquer

3 Ativo Circulante operacional: disponibilidades mínimas necessárias às atividades, clientes, diminuídos da

provisão para devedores duvidosos, adiantamentos a fornecedores, estoques, impostos a recuperar (IPI, ICMS), despesas antecipadas, etc. Passivo Circulante Operacional: fornecedores, impostos (PIS/COFINS, ICMS, IPI, IR, CSSLL), adiantamentos de clientes, salários e encargos sociais, participações de empregados, despesas operacionais a pagar etc (MARTINS, DINIZ E MIRANDA, 2014, p. 153).

decisão que redunde no ciclo operacional do negócio, uma vez que ao adquirir-se matéria prima, surge uma obrigação com os fornecedores, transformando a matéria prima em estoques, deve- se pagar os funcionários. É este fluxo entre ativo circulante operacional e passivo circulante operacional que expõe a existência ou não de INCG na empresa.

Já ao resíduo financeiro das operações de curto prazo, entende-se por Saldo em Tesouraria (IST). Olinquevitch e Santi Filho (2004) explicaram que no grupo de ativos e passivos circulantes, a diferença entre as contas financeiras e operacionais, refletem no caixa da empresa no momento de sua realização ou liquidação. Enquanto que as contas relacionadas ao movimento financeiro de curto prazo, redundam em entradas e saídas de caixas tão logo sejam liquidadas.

Assim, Martins, Diniz e Miranda (2014) explicaram que o indicador de saldo em tesouraria é visto como sinalizador da gestão financeira do negócio. Tratando-se sobretudo de uma análise de liquidez de curto prazo, por trabalhar com recursos disponíveis “instantaneamente”. Quando o saldo em tesouraria é favorável, a empresa pode dar garantias de que cumprirá suas obrigações, pois é constatado um volume de recursos líquidos para isso. Mas a situação contrária, implica em ineficiência na gestão de ativos financeiros de curto prazo, e pode evidenciar fragilidade na saúde financeira do empreendimento. Traduzindo esta dinâmica, Olinquevitch e Santi Filho (2004) exemplificaram que o saldo em tesouraria é representado pela diferença entre as contas do ativo e passivo circulante, deduzidas às contas de natureza operacional.

Até aqui, demonstraram-se particularidades sobre cada um dos indicadores da administração do capital de giro e esclareceu-se tratar de uma relação fruto de uma grande interação entre ativos e passivos circulantes, financeiros ou operacionais. Por isso, absorvendo- se a proposição de análise CONJUNTA (MARION, 2009; MARQUES; BRAGA, 1995; MARTINS; DINIZ; MIRANDA, 2014) destes indicadores, apresentam-se a seguir de forma resumida, dois esquemas que esclarecem a interação de suas relações matemáticas e seus significados qualitativos, a partir do exposto por Martins, Diniz e Miranda (2014), nos Quadros 2 e 3.

Quadro 2 – A relação entre ICCL, INCG e IST.

ICCL = Ativo Circulante - Passivo Circulante

- = =

INCG = Ativo Circulante Operacional - Passivo Circulante Operacional

= + +

IST = Ativo Circulante financeiro - Passivo Circulante Financeiro Fonte: adaptado de Martins, Diniz e Miranda (2014).

Na observância da interação dos indicadores de ICCL, INCG e IST, exposta no Quadro 2, onde são corretas as relações evidenciadas nas colunas e nas linhas, entende-se que a gestão de capital de giro, é mesmo uma gestão conjunta, reafirmando o entendimento de Marion (2009) sobre como a variação do volume de recursos captados no curto prazo, podem influenciar toda a dinâmica operacional e financeira da empresa.

E é justificada na observação desta interação, que alguns autores (AKTAS et al., 2015; BAÑOS-CABALLERO et al., 2014) tratam a administração do capital de giro, como uma busca do gestor por níveis ideais de ICCL, INCG e IST, conceituada como nível ótimo de capital de giro, que pode variar de empresa para empresa e de setor para setor.

Assim, enquanto o Quadro 2 se ocupou em esclarecer como se relacionam algebricamente ativos e passivos, operacionais e financeiros de curto prazo, o Quadro 3 propõe uma padronização dos significados de combinações diferentes de ICCL, INCG e IST.

Quadro 3 – Situação Financeira a Partir da Estrutura de Capital de Giro.

Tipo/Indicador ICCL INCG IST Situação Financeira

1 Positivo Negativo Positivo Excelente

2 Positivo Positivo Positivo Sólida

3 Positivo Positivo Negativo Insatisfatória

4 Negativo Positivo Negativo Péssima

5 Negativo Negativo Negativo Muito ruim

6 Negativo Negativo Positivo Alto Risco

Fonte: adaptado de Martins, Diniz e Miranda (2014).

Ressalta-se, que os significados e as implicações de cada tipo de estrutura do Quadro 3, foram trabalhados por Martins, Diniz e Miranda (2014, p. 155), que adaptaram um modelo explicativo a partir dos achados de Marques e Braga (1995, p. 56) sobre a situação da empresa para níveis diferentes de ICCL, INCG e IST, sugerindo a partir destes níveis a existência ou não de equilíbrio financeiro e operacional do negócio.

Assim, no contexto teórico da Administração do Capital de Giro, identificou-se que as contas de curto prazo relacionadas à operação, retornam valores no balanço passíveis à análise, enquanto a empresa perdurar no mercado. E as de natureza financeira que redundam no saldo em tesouraria, revelam a importância da capacidade do gestor em absorver que determinados níveis de reservas, podem contribuir para que o empreendimento experimente a capacidade de gerar internamente o capital de giro necessário, para que investidores percebam no gerenciamento de ativos e passivos de curto prazo, vantagens que maximizem o valor do negócio e satisfaçam suas necessidades enquanto acionista.

Esclarecidas as evidências teóricas sobre a administração do capital de giro, apresentam-se a seguir alguns estudos empíricos que abordaram os indicadores de CCL, NCG e ST.

Inicialmente, identificou-se que o autor mais antigo que abordou a gestão de capital de giro, foi Nadiri (1969). Sem uma pretensão em estabelecer uma conceituação a respeito do tema, o estudo identificou que a gestão de capital de giro, foi determinante na captação de crédito comercial para empresas dos Estados Unidos no período pós-guerra (1950), quando a economia voltou a se aquecer e o fenômeno da globalização teve seu início.

Já em meados da década de 90, Marques e Braga (1995) estudaram como o INCG se comportou em um contexto econômico favorável, os autores identificaram que em virtude do acréscimo nos saldos das contas de estoques e duplicatas, que os gestores neste período demandaram um incremento na INCG, buscando equilibrar a situação operacional de curto prazo da empresa.

Analisando oito empresas dos setores de Comércio, Indústria, Agroindústria, Serviços e Serviços Públicos, Boff, Bastos e Ishikura (2008), identificaram que o setor de Serviços Públicos foi o único dos setores melhor explicado por variáveis associadas ao capital de giro.

E corroborando Serigati (2013), Hercos Junior (2009) afirmou que são escassas as evidências levantadas a partir das relações de variáveis macroeconômicas (câmbio, juros e inflação) e o desempenho das empresas, dada a relevância do assunto para o entendimento do posicionamento do empreendimento no mercado. Assim, em uma análise concisa, Hercos Junior (2009) relacionou fatores macroeconômicos com a INCG de apenas uma empresa, encontrando poucas evidências de relações significativas.

A relação da tipologia de empresas quanto a sua estrutura de capital de giro apresentadas no Quadro 3, também foi fruto de análise da influência do contexto econômico. Nascimento et al. (2012), investigaram como se comportaram os balanços patrimoniais de 57 empresas listadas na BM&FBovespa, atual B3, para o período de crise econômica mundial em 2008 e 2009. Segundo Nascimento et al. (2012, p. 56), neste período “constatou-se predominância de Balanços Patrimoniais Gerencias (BPG) dos Tipos 2 e 3 ao longo de 2008 e 2009. Ressalta-se a redução no número de BPG com tipologias 2 e 3 no quarto trimestre de 2008, aumento no número de BPG com tipologia 4 no quarto trimestre de 2008 e aumento no número de BPG com tipologia 3 no primeiro trimestre de 2009”. Na prática, as principais estruturas verificadas em 2008 e 2009, foram de empresas sólidas (tipo 2), ou insatisfatórias (tipo 3).

Estudando os efeitos da intervenção governamental em indicadores de desempenho do negócio, Enqvist et al. (2014) analisaram dados de todas as empresas listadas na Bolsa

NASDAQ OMX Helsink (Finlândia) no período de 1990 a 2008. Os autores identificaram que a intervenção econômica em momentos onde a economia do país está em baixa, forneceu subsídios para que as empresas incrementassem seu capital de giro operacional. Assim, buscando minimizar o risco a que expõe as empresas, os gestores aproveitaram a oferta de capital destinada ao incentivo do consumo e passaram a direcionar os recursos capitados a sua operação, estas ações influenciaram positivamente o INCG das empresas.

Çelik et al. (2016), identificaram que as flutuações das variáveis macroeconômicas como taxa de juros, câmbio e inflação, não exerceram influência significativa na eficiência da gestão de capital de giro para empresas industriais turcas entre 1996 e 2014. Segundo os autores, o momento econômico analisado pode ter contribuído para este resultado, por se tratar de um recorte temporal onde as indústrias tiveram crescimento e aumentaram a participação na produção de riquezas do país.

Analisando a construção de níveis ideais de capital de giro na empresa, Ben-Nasr (2016) evidenciou a existência de um trade-off entre os benefícios e os custos de se mantê-lo. Segundo o autor, quando o gestor busca um aumento nas vendas, pode fornecer descontos ou outros benefícios ao cliente, sacrificando uma parcela de seu lucro ou absorvendo-o, reduzindo assim o capital de giro. Ben-Nasr (2016), justificou esta dinâmica de se manter altos investimentos em recursos que redundem num capital de giro maior, pela progressiva redução do risco de falência, e um acréscimo significativo na qualidade do fornecimento de produtos e serviços ao cliente.

Na contramão dessa proposta, em seus achados Baños-Caballero et al. (2014) e Aktas et al. (2015), concordaram que altos níveis de capital de giro (na relação entre ativos e passivos operacionais) foram prejudiciais para o valor da empresa, e para o desempenho operacional do empreendimento. Pois manter um alto volume de estoques, pode ter sido tempestivo para a vontade do cliente, mas significou um investimento igual na capacidade de gerenciá-lo (armazenagem, aluguel e seguro).

No Brasil, Teixeira e Oliveira (2016) estudaram qualitativamente, a influência do PIB e da Taxa de Câmbio, sobre a necessidade de capital de giro (NCG) da companhia VALE S.A. entre os anos de 2005 e 2015. Os autores concluíram que o PIB e a NCG se comportaram de modo inversamente proporcional nos períodos de crescimento econômico e diretamente proporcional nos períodos de retração da economia. O estudo ainda identificou que quanto maior a cotação do dólar frente ao real, menor foi a NCG da empresa, mesmo que a cotação do minério de ferro tivesse reduzido (principal commodittie negociada pela empresa). Os autores

ressaltaram que isso aconteceu, pois, a maior parte das entradas de caixa foram em dólares e as saídas em reais, possibilitando assim a absorção de ganhos de capital por valorização cambial. Com base no entendimento de que as flutuações das variáveis econômicas, podem ser fruto de interferência do governo, He et al. (2017) a partir de uma amostra de 511 empresas chinesas, analisadas entre 2003 e 2011, estudaram como a gestão do capital de giro se comportou através de uma mudança na legislação do mercado de capitais imposta pelo governo chinês. Apesar de publicado recentemente, este estudo analisou especificamente o contexto de 2005. Os autores explicaram que em função da impossibilidade de se negociar um determinado grupo de ações (governamentais não-negociáveis), os gestores não se preocupavam com impacto de suas decisões na gestão financeira do negócio. Com isso, observou-se um incentivo para investir em ativos operacionais de curto prazo (minimizando riscos do negócio), pois as ações não-negociáveis permaneceriam registradas pelo valor contábil, e a percepção do mercado não afetaria seu valor. Os autores explicaram, que no período (2005) posterior à convergência de ações não-negociáveis a negociáveis, iniciou-se uma gestão mais eficiente do capital de giro, pois a percepção do mercado passou a influenciar no valor destas ações.

Encerrando esta exposição empírica, He et al. (2017) alertaram que determinados tipos de instituições possuem uma gestão mais eficiente da situação de curto prazo naquilo que afeta seu nível de capital de giro. Os autores esclarecem, que devido o volume de captação, empresas de maior porte conseguem negociar crédito a um custo menor no mercado. Enquanto que pequenas empresas têm dificuldade em manter um nível ótimo de capital de giro em função de suas restrições orçamentárias e pelo custo de oportunidade de captar um volume fixo de ativos de alta liquidez, para não os empregar diretamente na operação da empresa.

Ademais, ressalta-se que mesmo através de pesquisas qualitativas, no levantamento bibliográfico encontraram-se proposições sobre o comportamento dos indicadores contábeis de capital de giro (INCG, ICCL, IST) e suas relações com o contexto macroeconômico, que serão utilizadas para cimentar as discussões na seção de resultados.