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2.3 Aspectos Relevantes sobre a Análise de Indicadores Econômico-Financeiros

2.3.1 Indicadores de Liquidez

O grupo de indicadores de liquidez evidencia a relação entre o que se tem e a capacidade de se cobrir com os direitos que possui, as obrigações que se deve. Recordando-se a partir de Assaf Neto (2006) que os indicadores de liquidez são uma parte da situação financeira patrimonial da empresa.

Marion (2009), explicou que este grupo de indicadores tem como primeiro objetivo evidenciar a capacidade de pagamento do negócio, saldando os compromissos assumidos no curto e no longo prazo. E Iudícibus (2009) pontuou para a necessidade de análise entre as fontes (Passivo e Patrimônio Líquido) e aplicações (Ativo) de recursos, entendendo como é a dinâmica entre ativos e passivos das empresas.

Expandindo esta análise, Martins, Diniz e Miranda (2014) explicaram que ao analisar o empreendimento pela ótica dos indicadores de liquidez, o pesquisador está evidenciando também a capacidade da empresa em continuar sua operação, pois a partir do comportamento destes indicadores, pode-se esclarecer a saúde financeira do empreendimento com relação aos compromissos firmados no curto e no longo prazo.

Antes da exposição de cada indicador de liquidez neste tópico, alerta-se que o conceito geral de liquidez (ASSAF NETO, 2006; IUDÍCIBUS, 2009; MARION, 2009; MARTINS; DINIZ; MIRANDA, 2014) trabalhado nesta pesquisa, responde às evidências de existência ou não de folgas financeiras que denotam liquidez patrimonial, a partir da relação de ativos e passivos de curto de longo prazo.

A pertinência deste alerta, se justifica nos inúmeros trabalhos encontrados (CHANG et al., 2017; CHOWDHURY et al., 2017; KHAN et al., 2017; MISHRA; BURNS, 2017; SINGH, SHARMA, 2016; SWITZER; PICARD, 2016; TRENCA et al., 2015) que investigaram a influência/relação/impacto de variáveis de desempenho das empresas ou de variáveis macroeconômicas, sobre a liquidez de mercado de determinadas empresas ou setores, utilizando como variável que traduz a liquidez de mercado, o preço das ações ou o comportamento de determinados índices de ações e não os Indicadores de Liquidez Imediata, Seca, Corrente e Geral. Ressalta-se que este aspecto da literatura já era esperado dentro daquilo que constatou Serigati (2013) a respeito da reduzida empiria de relações entre índices econômicos e indicadores econômico-financeiros, sobretudo para o caso do agronegócio.

Tais conceituações, particularidades e precauções, lastreiam a partir daqui a apresentação dos indicadores de liquidez, e em seguida a exposição de estudos empíricos que abordaram este grupo de indicadores.

Expresso pela relação entre o disponível e o passivo circulante, o indicador de liquidez imediata “mostra a parcela das dívidas de curto prazo (passivo circulante) que poderiam ser pagas imediatamente por meio dos valores relativos a caixa e equivalentes de caixa” (MARTINS; DINIZ; MIRANDA, 2014, p. 128).

Analisando este indicador além da capacidade de pagamento de curto prazo, expressa nas contas que o compõem, Assaf Neto (2006) acrescentou que via de regra este é um indicador que retorna valores baixos, uma vez que manter capital em caixa ou equivalentes, pode sujeita- lo à desvalorização pela inflação, e representa a opção menos rentável de aplicação.

Por isso Iudícibus (2009) critica a composição do ILI, quanto aos tipos de contas presentes em seu numerador e denominador. O autor entende que nas disponibilidades, estão presentes contas de altíssima liquidez (como caixa e bancos por exemplo), mas no passivo circulante podem existir obrigações vencidas em até doze meses, que ainda são consideradas de curto prazo, sugerindo assim, a existência de uma incongruência temporal nas contas de liquidez imediata.

Expandindo-se a análise da liquidez de curto prazo da empresa, apresenta-se o segundo indicador: liquidez corrente (ILC). Coelho (2012), utilizando-o empiricamente, o definiu como a razão entre o ativo circulante e o passivo circulante, endossado por Assaf Neto (2006) que explicou que o ILC, é um indicador que evidencia o quanto existe de ativo circulante em termos monetários, para cada unidade de obrigações de curto prazo da empresa. Assim, ao invés de se trabalhar apenas com as disponibilidades como no caso da liquidez imediata, no ILC utilizam- se todos os recursos de curto prazo no numerador.

Martins, Diniz e Miranda (2014), ainda levantaram a existência de relação entre a liquidez corrente e um indicador da administração do capital de giro (que será melhor explicado adiante neste referencial), o capital circulante líquido (CCL). Explicando que um índice de liquidez corrente acima de 1, implica em um capital CCL positivo, afirmando-se nesta situação existir uma congruência entre os valores recebíveis e as obrigações de curto prazo (MARTINS; DINIZ; MIRANDA, 2014).

Avançando na exposição dos indicadores de liquidez, ao retirar-se do ativo circulante os valores relativos aos estoques, o analista se depara com o indicador de liquidez seca (ILS). Assaf Neto (2006) explicou que o ILS evidencia o emprego de contas mais liquidas do ativo circulante para cobrir obrigações de curto prazo.

Seguindo por Marion (2009), quando sugeriu que o ILS transmite ao analista a seguinte reflexão: no caso da obsolescência de estoques, a empresa teria recursos suficientes noutras contas do ativo circulante para conseguir quitar suas obrigações? Tal questão expõe a

necessidade de através da análise dos demonstrativos, estabelecer como a operação da empresa depende do giro de seus estoques. Neste ponto e corroborado por Martins, Diniz e Miranda (2014), Marion (2009) ainda ressaltou para a necessidade de comparação deste indicador, com o indicador de empresas do mesmo setor, pois, empresas de ramos diferentes podem apresentar dependências distintas de seus estoques, principalmente em função de seu giro e do recebimento de vendas.

Concluindo a explicação deste grupo de indicadores, apresenta-se o indicador de liquidez geral (ILG). Definido por Marion (2009, p. 77) como um indicador que “mostra a capacidade de pagamento da empresa no longo prazo, considerando tudo o que ela converterá em dinheiro (a Curto e Longo Prazo), relacionando-se com tudo o que já assumiu como dívida (a Curto e Longo Prazo) ”, entendeu-se tratar de um indicador mais amplo que os anteriores, por apresentar em sua formulação contas que redundam na capacidade geral de pagamento do negócio.

Contudo, para o ILG, Iudícibus (2009) alertou sobre a inconveniência dos prazos de vencimento, como limitante da utilização da liquidez geral, mas mostrou que por se tratar de uma análise global da capacidade financeira de longo prazo, que o ILG pode evidenciar comportamentos mais completos do que a liquidez corrente e seca. Em última instância, o ILG seria um indicador que retorna a possibilidade de uma análise sistêmica de liquidez da empresa, colocando fontes e aplicações de recursos de curto e de longo prazo para serem comparadas ao mesmo tempo.

Para a análise teórica dos indicadores de liquidez, até aqui demonstrou-se o montante de dívidas de curto prazo que poderiam ser quitadas imediatamente pelo cálculo da liquidez imediata; evidenciou-se a dependência que a operação de curto prazo da empresa tem em relação às contas menos líquidas do ativo circulante a partir da liquidez seca; propôs-se uma análise completa da situação de liquidez de curto prazo da empresa pelo indicador de liquidez corrente; e evidenciou-se a possibilidade de realizar uma análise geral da situação de pagamentos através da liquidez geral.

Com base nestas acepções teóricas, apresentam-se a seguir os estudos encontrados na busca de literatura especializada, que utilizaram os indicadores de liquidez como temática principal ou subjacente, afim de estruturar evidências empíricas de sua utilização em estudos científicos.

Mramor e Valentincic (2003), lastreados em evidencias empíricas de 19.627 empresas privadas muito pequenas da Eslovênia, identificaram que para pequenos negócios, há uma

chance maior de um aporte financeiro por parte de um credor, quão maior forem seus indicadores de liquidez.

Conduzindo uma análise setorial para identificar distinções a partir dos indicadores econômico-financeiros, Silva et al. (2007) evidenciaram que os indicadores de liquidez se relacionam fortemente às variáveis de risco do setor (risco de crédito, risco de mercado e risco legal, risco de imagem) e por isso explicam de modo mais amplo as distinções entre cada setor. Correlacionando variáveis macroeconômicas a indicadores de liquidez, rentabilidade, estrutura de capital e mercado/risco, Santos et al. (2008), identificaram que para a liquidez corrente, a indústria química apresentou uma relação positiva, mas negativa para o indicador de endividamento, sinalizando um incremento da dívida em épocas de queda da economia.

Bastos et al. (2009), analisaram os determinantes da estrutura de capital de 388 empresas listadas nas bolsas do Brasil, Argentina, Chile, México e Peru, identificando que o indicador de liquidez corrente, foi um dos fatores específicos da empresa que mais ajudou a determinar sua estrutura de capital. Assim a evidência de relação estatística entre os indicadores de liquidez e os de endividamento é positiva.

Buscando relacionar variáveis macroeconômicas (cotação do real em relação ao dólar, inflação, risco Brasil, taxa de juros, balança comercial, PIB brasileiro e mundial) à indicadores de liquidez, Hercos Junior (2009) em uma análise limitada a apenas uma empresa do setor de tecnologia, identificou que entre 2003 e 2006 os fatores macroeconômicos foram favoráveis à atuação do setor. O autor salienta que mesmo com altos índices de endividamento e baixos índices de liquidez corrente e geral, a empresa conseguiu continuar atuando no mercado devido o contexto macroeconômico positivo para o setor de tecnologia.

Relacionado diretamente ao objeto de estudo desta pesquisa com foco no indicador de liquidez corrente de empresas de diversos segmentos, o estudo de Coelho (2012) investigou o efeito das flutuações de variáveis macroeconômicas sobre a liquidez de empresas brasileiras, ativas e listadas na BM&FBovespa, atual B3, entre 2003 e 2011. O estudo demonstrou que as variáveis macroeconômicas PIB, IBOVESPA e Taxa de Juros influenciaram positivamente o indicador de liquidez corrente, e a variação da Taxa de Câmbio e da inflação exerceram uma influência contrária.

Investigando a adesão de agricultores à programas agroambientais – de conservação e de incentivos à qualidade ambiental – o estudo de Mishra e Khanal (2013) concluiu que esta adesão sofreu influência direta dos indicadores de liquidez da propriedade rural. Os autores identificaram que indicadores maiores de liquidez, dão ao agricultor a certeza de que já alcançou sucesso em sua operação sem depender da participação de programas que o lancem a

este patamar, assim os indicadores de liquidez da propriedade rural nos Estados Unidos, são significativamente negativos no processo de adesão das propriedades rurais à programas agroambientais.

Buscando estabelecer a influência do contexto econômico da crise do subprime (2008) nos indicadores contábeis das empresas da cadeia do agronegócio listadas na BMF&Bovespa, atual B3, no período de 2005 a 2010, Hall et al. (2012, p. 69) identificaram que os “índices de liquidez atingiram seu ponto máximo em 2006 e a partir daí estavam com viés de baixa, contudo em 2008 atingiram seu menor valor, com uma suave recuperação em 2009, e novamente redução em 2010”. Mesmo com as significativas variações ocasionados pelo contexto pesquisado, os autores alertaram para a resistência da situação de liquidez das empresas do agronegócio. De modo geral, contatou-se que o comportamento dos indicadores de liquidez retornou uma situação econômico-financeira saudável, pois para o período analisado todos os indicadores retornaram valores superiores a um (1,0). “Na verdade, as empresas, em média, apresentavam um nível elevado de liquidez até 2008, provavelmente pelos bons resultados [..] em anos anteriores, fazendo com que houvesse um maior investimento no curto prazo desse segmento” (HALL et al., 2012, p. 69).

Utilizando para a análise período semelhante, Lopes et al. (2016), estudaram o comportamento do valor de mercado das empresas brasileiras de capital aberto, no período da crise econômica mundial (2008 e 2012). Os autores identificaram que em 2012 (período pós- crise), as empresas que apresentaram valor de mercado acima da média das demais, eram as que possuíam os maiores indicadores de liquidez geral. “Esse fato traz à tona a diferença e o posicionamento das empresas brasileiras nos momentos das crises, ou seja, em 2008 o mercado valorizou mais as empresas alavancadas e, em 2012, valorizou as empresas que possuíam uma melhor liquidez geral” (LOPES et al., 2016, p. 117).

Semelhante a investigação desta pesquisa, porém utilizando métodos estatísticos e grupos de empresas distintos, Silva et al. (2017) correlacionaram variáveis macroeconômicas a indicadores contábeis de empresas brasileiras de capital aberto, listadas entre 2010 e 2016, e encontraram diversos resultados relacionados aos indicadores de liquidez. Para as empresas listadas no setor de bens industriais e consumo cíclico, os autores identificaram que os Indicadores de Liquidez Seca, Liquidez Corrente e Liquidez Geral apresentaram comportamento inversamente proporcional a taxa de câmbio. Ainda no setor de consumo cíclico, a Liquidez Corrente e a Liquidez Geral se correlacionaram à taxa de juros positivamente. E para o setor de materiais básicos, foi observada uma relação inversa entre a

Liquidez Imediata e a taxa de câmbio, e uma relação negativa entre a taxa de juros e a liquidez seca.

Apreendeu-se com o exposto pelos estudos empíricos, que os indicadores de liquidez são utilizados na literatura de diversas formas. Seja analisando a capacidade de pagamento na capitação de empréstimos (MRAMOR; VALENTINCIC, 2003), identificando a influência da participação da propriedade agrícola em programas do governo (MISHRA; KHANAL, 2013), buscando identificar como o contexto de crise econômica influência o comportamento dos indicadores (HALL et al., 2011), ou simplesmente analisando como estes indicadores se relacionaram com o comportamento de variáveis macroeconômicas ao longo do tempo (SILVA et al., 2017), o fato é que os indicadores contábeis de liquidez evidenciam relações empíricas sobre a atuação das empresas e setores no mercado.

Assim, as acepções teóricas e empíricas levantadas neste tópico, serão utilizadas como embasamento para as discussões dos resultados, acerca da relação levantada entre os indicadores contábeis de liquidez das empresas do agronegócio e os índices econômicos, buscando se traçar paralelos entre os achados empíricos e os aspectos conceituais dos indicadores de liquidez e das variáveis macroeconômicas relacionadas.

2.3.2 Indicadores da Administração do Capital de Giro

Neste tópico serão apresentados aspectos sobre a administração do capital de giro, apoiado nas principais literaturas e autores nacionais e internacionais, teóricos e empíricos. Busca-se aqui esclarecer o entendimento acerca dos principais conceitos do capital de giro das empresas, que são utilizados para se extraírem dos demonstrativos contábeis os indicadores de Necessidade de Capital de Giro (INCG), Capital Circulante Líquido (ICCL) e Saldo em Tesouraria (IST).

A Administração do Capital de Giro apresentada na literatura nacional por Olinquevitch e Santi Filho (2004), foi explicado como a atenção do gestor sobre a parcela de recursos próprios que está aplicada em ativos mais líquidos, equilibrada às necessidades operacionais e financeiras. Assim, existir capital de giro disponível não garante o funcionamento do negócio, é necessário que este montante esteja balanceado às necessidades de investimento e pagamento do empreendimento.

Em forma de analogia, Vahid et al. (2012) demonstram que a gestão do capital de giro é como um coração que mantém a sobrevivência do negócio, o capital de giro estaria para a