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Indicadores de funcionalidade utilizados na elegibilidade

3. RESULTADOS

3.1. Procedimentos de referenciação e de avaliação

3.2.1. Indicadores de funcionalidade utilizados na elegibilidade

Um dos eixos centrais introduzidos pelo novo Decreto-Lei n.º 3/2008, consiste em fazer depender a elegibilidade dos alunos dos seus descritores de funcionalidade por referência à CIF. Interessa-nos, por isso, monitorizar de que forma a CIF tem sido usada na formulação de descrições que sustentem o processo de tomada de decisão acerca da elegibilidade.

Analisámos o número de categorias de funcionalidade usadas, assim como o seu enquadramento nas diferentes componentes de funcionalidade. Dos 237 casos sujeitos a avaliação especializada, 214 apresentam descrições do processo de incapacitação que espelham a estrutura taxonómica da CIF. Da análise desses perfis de funcionalidade, verificámos que são compostos por uma média de 24.3 códigos, entre os quais se encontra uma média de 6.8 códigos para as Funções do Corpo, de 12.8 códigos para a componente de Actividades e Participação e de 4.7 códigos alocados aos Factores Ambientais influentes no processo de incapacitação.

Através do teste de Bonferroni (tabela 2.7), podemos verificar que as descrições são lideradas, com significância estatística, pela documentação da capacidade/desempenho nas Actividades e Participação, seguindo-se as referências às

Funções do Corpo. Estes resultados vêm reiterar o enfoque biopsicossocial das

equipas na abordagem da incapacidade, tal como pretendido pelo novo Decreto-Lei n.º 3/2008. De salientar que os conteúdos relacionados com os Factores Ambientais estão, ainda, na cauda desta composição hierárquica.

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Tabela 2.7 - Significância da diferença nas referências dedicadas a cada componente de

funcionalidade.

Média das Diferenças p (sig.)

F.Corpo Activ. &Part.

F.Amb.

-5.9 2.2

 .001  .001 Activ. &Part. F.Corpo

F.Amb.

5.9 8.1

 .001  .001

Conforme representado na tabela 2.8, os domínios de funcionalidade mais usados para descrever o aluno são as funções mentais, a aprendizagem e aplicação do

conhecimento e o apoio e relacionamentos.

Tabela 2.8 – Percentagem de utilização dos diferentes domínios de funcionalidade.

Ainda no sentido de reforçar um melhor entendimento sobre a natureza da informação constante nos perfis de funcionalidade que sustentam o processo de elegibilidade procedemos à elaboração de um perfil de funcionalidade padrão em função das categorias de funcionalidade mais frequentemente usadas nos processos analisados. Conforme se observa na figura 2.5, estas descrições apelam frequentemente a

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b117 b126 b140 b144 b152 b164 b167 d140 d145 d150 d160 d161 d163 d166 d170 d172 d175 d210 d250 d310 e130 e310 e325 e330 e410 indicadores relativos às funções intelectuais (b117; fi=101), às funções de

temperamento e personalidade (b126; fi=75), às funções da atenção (b140; fi=130), às funções da memória (b144; fi=98), às funções emocionais (b152; fi=72), às funções cognitivas de nível superior (b164; fi=83), e às funções mentais da linguagem (b167; fi=110). Na componente Actividades e Participação, as descrições orientam-se

sobretudo para as categorias aprender a ler (d140; fi=71), aprender a escrever (d145;

fi=79), aprender a calcular (d150; fi=69), concentrar a atenção (d160; fi=150), dirigir a atenção (d161; fi=90), pensar (d163; fi=83), ler (d166; fi=107), escrever

(d170; fi=116), calcular (d172; fi=91), resolver problemas (d175; fi=84), levar a cabo

uma tarefa única (d210; fi=69), controlar o seu próprio comportamento (d250; fi=68)

e comunicar e receber mensagens orais (d310; fi=76). Inscritos nos Factores Ambientais surgem conteúdos relativos ao produtos e tecnologias para a educação (e130; fi=63), apoio e relacionamentos da família próxima (e310; fi=174), apoio e

relacionamentos de conhecidos, pares, colegas e membros da comunidade (e325; fi=67), apoio e relacionamentos das pessoas em posição de autoridade (e330; fi=108)

e atitudes individuais dos membros da família próxima (e410; fi=108).

Figura 2.5 - Frequência absoluta dos códigos de funcionalidade mais frequentemente utilizadas

nos perfis de funcionalidade analisados.

A identificação dos códigos que fundamentam a decisão de elegibilidade foi levada a cabo pela soma da sua ocorrência ao longo dos perfis de funcionalidade que, com o

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propósito de sintetizar e de tornar clara a interpretação dos dados, se apresentam sob a forma de indicadores de 2º nível – isto é categorias de funcionalidade compostas por 3 dígitos (e.g. b167 funções mentais da linguagem). Desta forma, a generalidade dos indicadores acima representados albergam códigos de maior detalhe, nomeadamente códigos de 3º (e.g. b1670 recepção da linguagem) e de 4º nível (e.g. b16700 recepção

da linguagem oral). Por estes códigos se constituírem como

ramificações/especificações de códigos de segundo nível, a sua presença nos perfis é sugestiva de maior especificidade dos resultados apresentados, na sequência da avaliação especializada. Interessou-nos, por isso, perceber em que medida estes códigos integram as actuais descrições de funcionalidade e de incapacidade dos alunos sujeitos a avaliação especializada. Verificámos, assim, que as categorias de 3º e 4º nível constituem cerca de 12.7% (fi=660) do total de categorias identificadas nos perfis, estando presentes em 14.3% (fi=208) das categorias relativas às funções do corpo, em 13.8% (fi=379) entre os códigos de Actividades e Participação e em 7.3% (fi=73) dos descritores ambientais.

Apesar destes dados nos permitirem descrever a composição dos perfis de funcionalidade que correntemente fundamentam a decisão sobre a elegibilidade, é nosso objectivo compreender, também, a variabilidade existente, quer no número de categorias de funcionalidade usadas para descrever o processo de incapacitação – cuja amplitude de variação se estabelece entre as 2 e as 106 categorias –, quer no nível de especificidade das categorias usadas.

Uma vez encontrado o perfil de funcionalidade “padrão” quisemos saber se havia alguma relação entre o número de profissionais envolvidos no plano de avaliação e na elaboração do relatório técnico-pedagógico e o número de códigos usados na descrição desse perfil. Assim, com recurso aocoeficientede Pearson, verificámos que a correlação é fraca entre o número de elementos envolvidos na elaboração do plano de avaliação especializada e do relatório técnico-pedagógico e o número de códigos usados (r=-.001 e r=-.25, respectivamente). Excluída a hipótese de correlação com o número de códigos, averiguámos se o número de elementos envolvidos no plano de avaliação especializada e no relatório técnico-pedagógico teria associação à média do número de categorias de 3º e 4º nível usadas, portanto ao nível de detalhe das informações constantes no corpus dos perfis de funcionalidade. Contudo, os dados

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mostram não existir correlação estatisticamente significativa entre estas variáveis (r=.40; p=.07; r=.19; p=.31, respectivamente).

Ao rejeitarem a hipótese de que mais profissionais significariam mais códigos, isto é o número de códigos é independente do número de profissionais que compõem a equipa, estes resultados poderão ser susceptíveis de serem interpretados como uma validação do número de códigos actualmente presentes no perfil de funcionalidade. Reforçador desta interpretação, está a fraca correlação entre o número de fontes de informação e métodos usados na avaliação, e o número de códigos constantes no perfil de funcionalidade (r=.23; r=.08). O mesmo se verifica em relação à especificidade dos códigos usados (r=.29; r=-.03).

Por último, a informação constante nos perfis de funcionalidade pode, também, estar condicionada pela existência de um anterior entendimento/abordagem ao processo de incapacitação do aluno. Assim, explorámos a hipótese do número médio de indicadores de funcionalidade usados em perfis de alunos que anteriormente estavam ao abrigo do Decreto-Lei n.º 319/91 diferirem daqueles que, pela primeira vez, foram sujeitos ao processo de avaliação especializada, não tendo encontrado diferenças. Para esta constatação, socorrendo-nos, mais uma vez, do teste t para amostras independentes – dada a proximidade entre as médias das categorias usadas, quer quando observadas separadamente por componentes de funcionalidade, quer no que concerne ao número total de categorias usadas – podemos concluir que esta variável parece não ter qualquer valor preditivo sobre o número de indicadores que compõe os perfis de funcionalidade dos alunos, isto é, o mesmo se conclui em relação ao nível de especificidade da informação contida em perfis de funcionalidade de alunos anteriormente ao abrigo do Decreto-Lei n.º 319/91 e daqueles que foram pela primeira vez sujeitos ao processo de avaliação especializada – mais uma vez se observa que esta variável parece não ter influência sobre a composição/características do perfil de funcionalidade.

Síntese

Tal como pretendido pelo Decreto-Lei n.º 3/2008, a incapacidade é abordada de modo biopsicossocial.

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Nos perfis de funcionalidade as descrições são lideradas pela documentação das limitações na Actividade e restrições na

Participação experienciadas pelos alunos, seguindo-se as Funções do Corpo. Nesta descrição os Factores Ambientais que se associam ao

desempenho do aluno estão, ainda, pouco representados.

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