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Parte III Caracterização da agricultura de Regadio

3. CULTURAS PERMANENTES DE REGADIO

3.4. Indicadores de seca no olival

Separam-se as situações de olival adulto (em produção) e de olival jovem (em crescimento activo). Para o olival adulto, considerar-se-á situação normal, de referência, aquela em que há disponibilidade de água para rega que, complementando a precipitação natural, permite a ETc da cultura nas épocas da floração, frutificação e maturação dos frutos, não havendo necessidades significativas de água fora desses períodos (isto é, durante o Verão, fase de “endurecimento do caroço”, e no Inverno, fase de repouso vegetativo). Os ficheiros de apoio ao programa ISAREG, designadamente no que se refere a coeficientes culturais e a limites de água útil que deve estar disponível para as plantas, organizam-se para corresponderem aos critérios descritos4.

Define-se situação de seca quando a reserva hídrica (da albufeira ou do aquífero, conforme a origem da água para rega) não permite a rega do olival adulto, na Primavera (meses de Março a Junho) e no Outono (meses de Setembro a Novembro), de modo a desenvolver a situação de referência.5 Considerar-se-á situação de referência para o olival adulto dito “intensivo” (ao compasso de 7m x 6m, cerca de 240 árvores por ha), normal em regadio, a simulada pelo programa ISAREG, para as 6 zonas de análise, que indicam as necessidades médias mensais de

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Note-se que não é o caso dos ficheiros disponibilizados com o programa CROPWAT, que não correspondem ao comportamento natural da oliveira em regiões Mediterrâneas, mesmo quando é essa a referência dada

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Note-se que, no caso do olival de sequeiro, a mesma definição dirá “quando a precipitação na Primavera (meses de Março a Junho) e no Outono (meses de Setembro a Novembro) não seja suficiente para desenvolver a situação de referência”.

115 água para rega. Portanto, no caso do olival, a monitorização da situação de seca tem de começar em Março, havendo então, um mês antes do que se referiu para as culturas anuais (lembre-se, 30 de Abril), uma pré-definição da situação de seca, embora de âmbito limitado à área de olival. Depois, a monitorização da seca (ou do estado hídrico) no olival far-se-á mensalmente durante os períodos de floração e frutificação - Abril a Junho – retomando-se em fins de Agosto, para monitorizar o estado hídrico do olival durante a maturação (Setembro a Novembro). Esta monitorização faz-se usando o programa ISAREG, como se referiu, obtendo- se do programa os abaixamentos de produção, se houver restrição hídrica.

Será então grau de seca ou de escassez hídrica a relação entre o abaixamento do rendimento em frutos do olival, determinado pelas restrições hídricas, e a produção que corresponderia à situação de referência. Enquanto não se dispõe de resultados de experimentação ampla e suficiente, definidores fiáveis da situação de referência, bem como de funções de produção da água no olival, tomam-se como produção de referência os 30 kg por oliveira (cerca de 7200 kg ha-1) que vários especialistas consideram produção razoável das modalidades regadas, admitindo-se ainda que as quebras de produção no olival serão em cada período crítico - floração (Março a Maio), frutificação (Junho) e amadurecimento (Setembro a Novembro) – proporcionais aos deficits hídricos para a situação de referência, tomando-se para esta os valores médios indicados na Tabela 124. Em qualquer dos casos, as perdas são cumulativas e consequentes, isto é, às percentagens de perdas na floração juntam-se as de perdas de frutificação, que no entanto são calculadas sobre o “saldo” positivo da floração. Juntar-se-á mais tarde a percentagem de perdas no Outono, se esta também vier a ocorrer, calculada naturalmente sobre a percentagem remanescente de frutos das ocasiões anteriores.

A oportunidade para a verificação e quantificação da situação de seca relativamente ao olival adulto ocorre no início de cada um dos meses de Primavera, de Março a Junho, e no Outono, de Setembro a Novembro. Relativamente a este último período, pode sugerir-se uma antecipação do fornecimento de Outono para o mês de Agosto. Em termos de gestão da rega, esta antecipação pode ser conveniente, por favorecer a disponibilização atempada de volumes significativos necessários em Setembro. Sem esta antecipação, o sistema de rega, geralmente de gota a gota, com caudais diminutos, poderia ter dificuldade de aplicação atempada de volumes significativos. Por outro lado, quase todas as simulações apontam para a necessidade de em Setembro se reforçar pela rega a precipitação natural, que é geralmente escassa e irregular. O fornecimento de Outono, mesmo se antecipado para Agosto, corre pois pequeno risco de ser desnecessário. A decisão de fornecer ou não ao olival água de rega para o Outono deverá pois ser tomada ainda em Agosto ou antes, ocasião em que já estarão bem definidas as disponibilidades com que se contará na albufeira, no início do Outono.

Para o olival tradicional conduzido em sequeiro, com uma densidade de menos de 100 árvores por hectare, considera-se 20 kg por árvore (cerca de 2000 kg ha-1) a produção de referência, sendo as perdas de produção proporcionais à restrição hídrica em qualquer dos períodos críticos em que ocorra. Note-se que a situação hídrica de referência é a que decorre apenas da ocorrência de precipitação natural, considerando-se que há deficiência hídrica quando a água do solo corresponde a menos de 65% da capacidade utilizável em 1,5 m de espessura do solo.

116 Sistematizando e resumindo, a monitorização da seca no olival far-se-á em cada um dos sistemas de regadio descritos – público, privado com albufeiras, privado com águas subterrâneas – desenvolvendo os seguintes passos em cada área mínima de análise (normalmente o concelho):

Passo 1 – Monitorização da situação de seca em fins de Fevereiro e de Março. Será feita por realização do balanço hídrico do solo (programa ISAREG), considerado até 1,50 m de profundidade, como se referiu. Propõe-se que toda a deficiência hídrica que se verifique no solo (reserva abaixo dos 65% da capacidade utilizável do solo, como se referiu) seja considerada, a título provisório ou de alerta, indicador de seca6. Como o processo de floração estará nesta altura ainda apenas a iniciar-se, não haverá ainda lugar a determinação de perdas de produção. Porém, esta monitorização da água no olival em fins de Fevereiro e Março é determinante para a gestão da água no olival durante o mês seguinte, Abril, no qual a disponibilidade de água para a plena floração é determinante das expectativas de produção. A decisão sobre a disponibilidade de água para rega precisa portanto, no caso do olival, de ser antecipada para esta ocasião. Nos sistemas que se abastecem em aquíferos, não será aqui considerada restrição hídrica, admitindo-se disponibilidade para regar em Abril cobrindo os deficits calculados pelo ISAREG (mesmo assim, já haverá aqui um custo socioeconómico da seca, o desta antecipação da rega). Nos sistemas que se abastecem de albufeiras (quer públicas, quer privadas), convém fazer aqui uma gestão da expectativa, antecipando de um mês a disponibilização de água para rega. No caso de a água “disponível” ser suficiente para cobrir pela rega as necessidades do olival (dadas pelo ISAREG), rega-se em Abril e não se considera situação de seca. Caso contrário, o valor das perdas de produção estimadas pelo ISAREG para a carência hídrica durante a floração (Tabelas 120 a 123) são assumidas como o indicador socioeconómico de seca para este período (Março – Abril).

Passo 2 – Definição das percentagens de volumes hídricos disponíveis – caso a caso: nas albufeiras (públicas e privadas) e nos aquíferos - que hão-de ser afectos ao olival – no conjunto de todas as culturas, anuais e permanentes, regadas - nas situações de referência e de restrição hídrica. Provavelmente, o critério mais sustentável é o de manter as proporções determinadas pela situação de referência, calculadas pelo modelo ISAREG, conforme a área de análise. Dito de outro modo: a solução que se propõe é a de repartir equitativamente as disponibilidades hídricas limitadas pelas várias culturas a regar, na proporção das necessidades hídricas de referência totais anuais. Conforme se descreveu para as culturas anuais, esta definição só será feita em 30 de Abril.

Passo 3 – Análise e classificação da situação de seca em 30 de Abril: determinação das necessidades, para cada concelho, dos volumes de água a para a rega do olival nas fases de frutificação (Maio e Junho) e maturação (Setembro), em situação normal ou de referência: NR = NRMaio + NRJunho + NR Setembro. Tratando-se de meses em que a precipitação é normalmente (mesmo fora de situações de seca) escassa e irregular, consideram-se as necessidades de rega

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Note-se que, não se considerando neste mês água para rega do olival, se está aqui a tratar este sistema de produção como sendo de sequeiro. A classificação será corrigida no mês seguinte, mas é imediatamente útil como alerta para a situação de seca que se está a desenvolver.

117 NR iguais às necessidades hídricas NH da cultura, não se conta com a precipitação para satisfazer as necessidades de água do olival nestes meses.

Passo 4 – Análise e classificação da situação de seca em 30 de Abril: determinação das disponibilidades hídricas DR para satisfazer as necessidades de rega NR calculadas no passo anterior. Aplicando os critérios discutidos e definidos no passo 1, definem-se facilmente que volumes disponíveis nas albufeiras (públicas ou privadas) se destinam à rega do olival. Se os volumes disponíveis DR não forem suficientes para cobrir as necessidades NR, então há deficit hídrico DH = NR – DR. Um indicador global de seca é a relação entre DH e NR (proporção de necessidades hídricas não satisfeitas), que se repercute em perda de produção como mostram as Tabelas 120 a 123, cujo valor será usado como indicador socioeconómico global da seca no olival. No caso de o sistema de rega do olival se abastecer em águas subterrâneas, os critérios de cálculo e definição do indicador socioeconómico de seca são os mesmos, apenas com a diferença de critério de estimativa das disponibilidades DR no aquífero, à semelhança do que se descreveu em 2.7. a propósito das culturas anuais regadas.

Para o olival jovem, até cerca de 3 anos após a plantação, admite-se que as plantas se mantêm em crescimento activo também durante o Verão, pelo que beneficiarão de plena disponibilidade de água em todos os meses, inclusive Julho e Agosto, nisso diferindo substancialmente do olival em produção de frutos. A situação de referência está neste caso simulada (pelo programa ISAREG) nas Tabela 121 a 124 (nas 4 zonas de análise), com identificação das necessidades mensais de rega.

Grau de seca ou de escassez hídrica será neste caso a relação entre o abaixamento da ETc nestas condições e a ETc da cultura na situação normal ou de referência. Pode admitir-se que o atraso de crescimento será proporcional ao deficit hídrico que se verificar em qualquer dos meses. Pode também admitir-se, para quantificar em valor socioeconómico esse atraso, que o mesmo se reflecte proporcionalmente na perda de produção de um ano no olival.

Por outro lado, repare-se que o que se disse nos parágrafos anteriores sobre olival jovem é inteiramente semelhante ao que se passa com as culturas anuais regadas. Pode então, no caso de em alguma unidade mínima de análise estarem referenciadas áreas de olival jovem, juntar- se essas áreas e as respectivas necessidades hídricas às das culturas anuais regadas.

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