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Parte III Caracterização da agricultura de Regadio

3. CULTURAS PERMANENTES DE REGADIO

3.5. Indicadores de seca na vinha

A gestão da rega na vinha será também feita em função de ocasiões fenológicas em que a cultura é especialmente sensível: o início da actividade vegetativa e a floração na Primavera (Março e Abril) e a maturação em Julho e Agosto. A situação de seca deve pois ser avaliada em cada um destes meses, embora seja de esperar que em geral as necessidades de rega se manifestem apenas em Julho e Agosto. De facto, em Março e Abril, como mostram as simulações, não haverá em geral escassez hídrica, sendo possível satisfazer os requisitos da situação de referência, a ETc máxima da cultura nessa fase. Na fase seguinte (desenvolvimento dos frutos, Maio e Junho) são decrescentes as necessidades hídricas, sendo facilmente

118 cobertas pelas disponibilidades existentes no solo. Não é pois importante a monitorização hidrológica da vinha nesta fase.

Em Julho e Agosto, para a maturação dos frutos, é que se verificarão as maiores necessidades de rega da vinha. Admite-se que é de 0,85 a relação entre o deficit de produção de uva e o deficit hídrico, nesta fase. Toma-se 8000 kg ha-1 a produção de referência na vinha. O valor deste deficit de produção, a preços correntes da região vinícola, será tomado como o indicador socioeconómico da seca na vinha.

Assim, sistematizando e resumindo, desenvolve-se um esquema de trabalho e de ocasiões de monitorização que é muito semelhante ao que se desenvolveu para o olival na secção anterior: Passo 1 – Monitorização da situação de seca em fins de Fevereiro e de Março. Será feita por realização do balanço hídrico do solo (programa ISAREG), considerado até 1,50 m de profundidade, à semelhança do que se referiu para o olival. Propõe-se que toda a deficiência hídrica que se verifique no solo (reserva abaixo dos 60% da capacidade utilizável do solo) seja considerada, a título provisório ou de alerta, indicador de seca7. Como se discutiu acima, não se espera encontrar nesta fase deficits hídricos no solo que configurem uma situação de seca na vinha. Trata-se no entanto da fase de reinício da actividade fisiológica da vinha e de lançamento da produção, conferindo alguma sensibilidade ao estado hídrico do solo durante Abril, o que pressupõe monitorização e disponibilidade de água para cobrir eventuais deficits no solo. A decisão sobre a disponibilidade de água para rega precisa portanto, no caso da vinha, à semelhança do que se verificou para o olival, de ser antecipada para esta ocasião. Nos sistemas que se abastecem em aquíferos, não será aqui considerada restrição hídrica, admitindo-se disponibilidade para regar em Abril cobrindo os deficits calculados pelo ISAREG (mesmo assim, já haverá aqui um custo socioeconómico da seca, o desta antecipação da rega). Nos sistemas que se abastecem de albufeiras (quer públicas, quer privadas), convém fazer aqui uma gestão da expectativa, antecipando de um mês a disponibilização de água para rega. No caso de a água “disponível” ser suficiente para cobrir pela rega as necessidades da vinha (dadas pelo ISAREG), rega-se em Abril e não se considera situação de seca. Caso contrário, o valor das perdas de produção estimadas pelo ISAREG para a carência hídrica durante a floração (Tabelas 120 a 123) são assumidas como o indicador socioeconómico de seca para este período (Março – Abril).

Passo 2 – Definição das percentagens de volumes hídricos disponíveis – caso a caso: nas albufeiras (públicas e privadas) e nos aquíferos - que hão-de ser afectos à vinha – no conjunto de todas as culturas, anuais e permanentes, regadas - nas situações de referência e de restrição hídrica. Provavelmente, o critério mais sustentável é o de manter as proporções determinadas pelas necessidades hídricas de referência, calculadas pelo modelo ISAREG e apresentadas na Tabelas 120 a 123 conforme a área de análise. Dito de outro modo: a solução que se propõe é a de repartir equitativamente as disponibilidades hídricas limitadas pelas

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Note-se que, não se considerando neste mês água para rega do olival, se está aqui a tratar este sistema de produção como sendo de sequeiro. A classificação será corrigida no mês seguinte, mas é imediatamente útil como alerta para a situação de seca que se está a desenvolver.

119 várias culturas a regar, na proporção das necessidades hídricas de referência totais anuais. Conforme se descreveu para as culturas anuais, esta definição só será feita em 30 de Abril. Passo 3 – Análise, previsão e caracterização da situação de seca em 30 de Abril: determinação das necessidades, para cada concelho, dos volumes de água para a rega da vinha nas fases de frutificação (Maio e Junho) e maturação (Julho e Agosto), em situação normal ou de referência: NR = NRMaio + NRJunho + NRJulho + NRAgosto. Tratando-se de meses em que a precipitação é normalmente (mesmo fora de situações de seca) escassa e irregular, consideram-se as necessidades de rega NR iguais às necessidades hídricas NH da cultura, isto é, não se conta com a precipitação para satisfazer as necessidades de água da vinha nestes meses. Ainda assim, como se referiu, conta-se que por norma as necessidades NRMaio + NRJunho serão diminutas, mas NRJulho + NRAgosto serão importantes.

Passo 4 – Análise, previsão e caracterização da situação de seca em 30 de Abril: determinação das disponibilidades hídricas DR para satisfazer as necessidades de rega NR calculadas no passo anterior. Aplicando os critérios discutidos no passo 1, definem-se facilmente que volumes disponíveis nas albufeiras (públicas ou privadas) se destinam à rega da vinha. Se os volumes disponíveis DR não forem suficientes para cobrir as necessidades NR, então há deficit hídrico DH = NR – DR. Um indicador global de seca é a relação entre DH e NR (proporção de necessidades hídricas não satisfeitas), que se repercute em perda de produção como mostra as Tabelas 120 a 123, cujo valor será usado como indicador socioeconómico global da seca na vinha. No caso de o sistema de rega se abastecer em águas subterrâneas, os critérios de cálculo e definição do indicador socioeconómico de seca são os mesmos, apenas com a diferença de critério de estimativa das disponibilidades DR no aquífero, à semelhança do que se descreveu em 2.7. a propósito das culturas anuais regadas.

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