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De forma geral, o tema “indicadores” tem sido bastante discutido por pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento e, mesmo havendo diferenças na abordagem, as definições encontradas apresentam sentidos comuns: uma medida que resuma informações importantes a respeito de determinado fenômeno; um elo de ligação entre parâmetros e padrões que compõem um sistema de avaliação; possuam fidedignidade, acuidade e tempestividade; auxiliem nos processos de tomada de decisão.

Por exemplo, Kardec, Flores e Seixas (2002) os definiram como sendo uma espécie de guias para a medição da eficácia de ações tomadas e para a identificação de eventuais distorções ou vieses entre o que foi programado e o resultado concreto, afirmando que, por serem ferramentas centrais para acompanhamento de aspectos de interesse sobre um objeto de análise, possibilitam o planejamento de ações para melhorias de desempenho.

Para Segnestan (2002) indicadores são ferramentas analíticas para o estudo de mudanças na sociedade. Em termos conceituais a autora afirmou que a combinação estruturada de indicadores permite a formação de índices para serem usados, com mais frequência, nos níveis de análise agregada, como nos âmbitos nacionais e regionais.

Indicadores também foram definidos como ferramentas de orientação em um mundo cada vez mais complexo, um elemento de ligação do indivíduo com o mundo, já que possibilitam a compreensão dos eventos que acontecem ao redor de cada um (Bossel, 1999). Podem conter um ou mais parâmetros e serem tratados isoladamente ou, preferencialmente, combinados entre si, mas o conjunto de indicadores deve expressar as interrelações existentes, buscando comunicar, de forma simples e objetiva, o progresso em direção a um objetivo definido, com ênfase nos fenômenos que tenham ligações com as ações humanas (Van Bellen, 2008).

Ao estudar indicadores de qualidade do ar, Malheiros (2002) destacou três pontos importantes para sedimentar o uso de indicadores em processos de tomada de decisão: [i] devem ser capazes de articular questões complexas e ter abrangência sistêmica; [ii] devem mensurar os reflexos econômicos, financeiros e estratégicos; [iii] precisam representar os conhecimentos e as percepções dos diferentes atores envolvidos, ou seja, durante a fase de formulação, quanto maior a participação de pessoas identificadas ou com os mesmos perfis daqueles que utilizarão os indicadores no dia a dia, mais fortes - no sentido de aceitação e uso - eles se tornam. Este terceiro ponto está alinhado com os pressupostos de Meadows (1998) para que haja ampla participação, não somente de cientistas e especialistas, mas também da sociedade, como pressuposto para validade dos indicadores e dos sistemas de avaliação.

Na perspectiva do desenvolvimento sustentável, os indicadores de sustentabilidade, são um conjunto de parâmetros para medir e comunicar os impactos antrópicos em um determinado sistema em relação às metas estabelecidas (Moura, 2002). Para as empresas, o conceito por trás dos indicadores de sustentabilidade deve ser objetivo e simples o suficiente para identificar se uma empresa está se aproximando ou se afastando nas dimensões da sustentabilidade (Veleva & Ellenbecker 2000).

Para Marzall e Almeida (2000) indicadores são medidas da condição, dos processos, da reação ou do comportamento dos sistemas complexos que podem fornecer uma síntese confiável. Segundo os autores, analisar as relações entre um conjunto de indicadores e o padrão de respostas pode possibilitar a previsão de condições futuras e as medidas devem evidenciar modificações

que ocorrem em uma dada realidade, principalmente as mudanças determinadas pela ação antrópica.

Indicadores também estão associados a desempenho. No caso das empresas, desempenho tem sido um conceito unidimensional medido prioritariamente pelos lucros (Porter & Kramer, 2006) considerando apenas a maximização do valor criado para os acionistas como sendo a essência do papel gerencial nas empresas (Saulquin & Schier, 2008).

De acordo com o estudo desenvolvido por Gião, Gomides, Picchioni, Corrêa e Oliveira (2010, p.247), que analisou diversos modelos de avaliação de gestão integrada e buscou contribuir com um modelo mais flexível e abrangente, torna-se cada vez mais relevante que as organizações sejam avaliadas global e sistemicamente, “[...] não só para aprimorar seu gerenciamento e atender seus stakeholders, como garantir sua existência de forma sustentável no longo prazo”.

No início da década de 1990 o termo desenvolvimento sustentável passou a ocupar mais espaço no cotidiano da sociedade, principalmente com a assinatura da Agenda 21 Global e de projetos norteados pela mesma – denominados Agenda 21 Local – gerando diversas definições sobre indicadores, suas funções, regras e princípios para uso.

Institucionalmente, o evento que iniciou o foco na busca de indicadores de sustentabilidade foi a Conferência Mundial sobre Meio Ambiente Rio-92, cujo capítulo 40 do documento resultante enfatizou a necessidade de que cada país desenvolva indicadores alinhados com as suas respectivas realidades.

Visando organizar essas discussões e estabelecer uma linha conceitual de conduta, um grupo internacional de pesquisadores e especialistas em sistemas de avaliação se reuniu, em novembro de 1996, na Fundação Rockefeller, EUA, e no Centro de Conferências de Bellagio, Itália, para avaliar e sintetizar o conhecimento construído até então, tanto pela comunidade científica quanto decorrente das aplicações práticas, sobre indicadores recomendados/utilizados para medir e avaliar o progresso em direção ao desenvolvimento sustentável. Fruto dessas reuniões, o grupo propôs um conjunto de dez princípios interrelacionados que devem ser considerados pelos governos, corporações, institutos de pesquisa e organizações não governamentais, nos processos de avaliação de sustentabilidade, desde a escolha, forma e interpretação dos indicadores até a comunicação dos resultados (Hardi & Zdan, 1997).

A Figura 8 apresenta esses princípios, que, segundo os autores, podem ser sintetizados em quatro dimensões: [i] sentido prático e significativo do desenvolvimento sustentável para os tomadores de decisão = princípio 1; [ii] conteúdo a ser avaliado, perspectiva sistêmica e aspectos de praticidade = princípios 2 a 5; [iii] sustentação de todo o processo de avaliação = princípios 6 a 8; [iv] flexibilidade e adaptabilidade do processo frente a diferentes situações, necessidades ou tendências = princípios 9 e 10.

Princípios Características

Princípio 1: Visão direcionada a objetivos Avaliação guiada por objetivos claros alinhados com o desenvolvimento sustentável.

Princípio 2: Perspectiva holística Interação entre partes e subsistemas; busca de bem-estar geral; impactos positivos e negativos das ações humanas; revisões contínuas.

Princípio 3: Elementos essenciais Considerar disparidades e equidades existentes no presente e previstas para o futuro, tanto no âmbito social quanto no ambiental; considerar o bem-estar que pode advir do crescimento econômico.

Princípio 4: Escopo adequado A abrangência do estudo deve possibilitar avaliar diferentes perspectivas e realidades.

Princípio 5: Foco prático A quantidade de indicadores e as escalas de medição devem ser suficientemente praticáveis; permitir o estabelecimento de padrões e análises comparativas.

Princípio 6: Abertura Transparência da origem dos dados, dos métodos e dos julgamentos.

Princípio 7: Comunicação efetiva Objetividade e simplicidade na apresentação dos resultados. Princípio 8: Ampla participação Buscar a máxima representação dos diferentes atores

envolvidos.

Princípio 9: Avaliação constante Flexibilidade para adaptação às novas realidades e demandas do desenvolvimento sustentável.

Princípio 10: Capacidade institucional Apoio constante para capacitação dos usuários; sistematizar a coleta de dados e disponibilizá-los.

Figura 8 – Princípios para processos de avaliação de sustentabilidade Fonte: Adaptado de Hardi e Zdan (1997).

Para Malheiros, Coutinho e Philippi (2012, p.34) indicadores de sustentabilidade e sistemas de medição devem ser simples e confiáveis na descrição da realidade, pois são fundamentais na formação de bases duradouras para o desenvolvimento sustentável e os dez princípios de Hardi e Zdan (1997, p. 10) orientam “a construção de sistemas adequados de medições [...] indispensáveis para operacionalizar o conceito da sustentabilidade, permitindo que a sociedade e os tomadores de decisão estabeleçam objetivos e metas claros”.

Ainda em relação aos sistemas de medição, Machado (1999) identificou uma predominância na utilização de indicadores quantitativos sobre os qualitativos, mas comentou

que, psicologicamente, cada pessoa tem a sua percepção de meio ambiente e de qualidade, as quais são individuais e influenciam diretamente nos processos cognitivos de escolhas ou de tomada de decisões - interpretação nossa - sendo importante que essas percepções sejam coletadas por indicadores qualitativos.

Cetrulo, Molina e Malheiros (2012, p.595-599) fizeram uma extensa revisão bibliográfica em publicações nacionais e internacionais envolvendo os temas gestão ambiental, economia verde e sustentabilidade empresarial, para definir uma taxonomia de postura ambiental empresarial. Essa postura reflete a cultura, comportamento, estruturação e comprometimento das empresas frente às pressões da sociedade para assumirem uma “gestão ambiental condizente com os seus aspectos e impactos ambientais e com seus interesses em proteger o meio ambiente”, inclusive para as discussões que envolvem as mudanças climáticas.

A taxonomia proposta pelos autores (Figura 9) para classificação das diferentes posturas ambientais por parte das empresas foi estatisticamente testada e empiricamente validada em uma pesquisa de campo realizada junto a 19 indústrias brasileiras produtoras de etanol de cana-de- açúcar que, juntas, representam 30% de toda a cana moída no Brasil.

Postura Principais características em relação à gestão

ambiental Exemplos de indicadores

Passiva/Reativa

Controle apenas nas saídas (end of pipe technology); Geradoras de custos operacionais extras; Entrave à expansão dos negócios da empresa; Atuação limitada ao cumprimento das exigências legais; Neutralidade estratégica (baixa percepção do valor estratégico).

Não há estrutura ou definição de responsabilidades pela gestão ambiental; Administração não reconhece os impactos ambientais das operações; Ocorrências de passivo/multas ambientais

Preventiva

Modificações nos processos e/ou produtos alinhadas com as questões ambientais; Enfoque na prevenção de poluição; Existência de um grupo técnico específico; Criação de cargo, função ou departamento para gestão ambiental; Ações integradas em aspectos pontuais.

Adota metas de redução para uso de água, combustíveis e energia elétrica; Possui processos para prevenir/ reduzir impactos ambientais; Adota práticas sistematizadas de política ambiental.

Proativa

Controle da gestão ambiental partindo da alta administração; Percebe oportunidades para melhorar resultados econômico-financeiros; Sistema gerencial especializado para a gestão ambiental; Aspectos ambientais introduzidos na seleção de fornecedores e nas compras; Gestão ambiental está inserida na estratégia; Integração matricial.

Política ambiental integrada às demais políticas; Exige que os fornecedores comprovem práticas ambientais; Questões ambientais estão sempre presentes nas decisões estratégicas; Alta administração participa da gestão ambiental.

Figura 9 – Taxonomia para postura ambiental Fonte: Adaptado de Cetrulo et al. (2012, p.599).

Além dos aspectos conceituais envolvendo os indicadores e os sistemas concebidos para avaliação de impactos, a atenção com as dimensões da sustentabilidade deve estar presente na formulação das estratégias e nas decisões das organizações.

Historicamente, a tradicional lógica econômica já incorpora os resultados financeiros como parâmetro para medir desempenhos e tomar decisões, seguida das questões sociais - para as quais já existem mecanismos legais regulamentados – e, em um patamar inferior o ambiente natural, já que as externalidades negativas que as organizações podem provocar precisam ser claramente identificadas e mensuradas.

Em outras palavras, a própria sociedade precisa criar mecanismos de monitoramento e de regulação da interação entre atividade produtiva e meio ambiente, pois ações de degradação provocam reações por parte da natureza, via de regra bastante impactantes para toda a sociedade, conforme é apontado pelos estudos que abordam as ações antrópicas sobre as mudanças climáticas.