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4. A REESTRUTURAÇÃO DA INDÚSTRIA

5.3 DISTRIBUIÇÃO DA RENDA NA CADEIA DE VALOR

5.3.2 Indicadores de renda

Em primeiro lugar, analisa-se o valor adicionado por setor, no perío- do de 1996 a 2008 (preços constantes de 2008), conforme Figura 32. Veri- fica-se que até 1998, o setor 1 (automóveis e comerciais leves) era o que apresentava o maior valor acionado, mas a partir de 1999, o setor 4 (peças e acessórios), passou a ser o setor de maior geração de valor. Apenas em 2008 o setor 1 superou novamente o setor 4 no total do valor adicionado. O setor 6 (comércio de veículos) é o terceiro maior gerador de valor, seguido do setor 7 (comércio de autopeças). O setor 2 (caminhões e ônibus) é o quinto na geração de valor, em termos absolutos. Na seção anterior foi visto que o setor 2 é o mais rentável, apresentando a maior relação valor adicio- nado por unidade produzida. No entanto, os setores 1, 2, 6 e 7 movimentam um volume de recursos muito maior. Por fim, têm-se os setores 3 (cabines, carrocerias e reboques) e 5 (recondicionamento de motores) como os meno- res na geração de valor. Cabe notar que o setor 5 apresentou redução real de quase 60% no valor adicionado entre 1996 e 2008. Em todos os outros seto- res observa-se, a partir de 2004, um aumento real no valor adicionado, de- corrente da rápida expansão das vendas observadas no período, e apresen- tando valores mais elevados do que em 1996.

Figura 32 – Valor adicionado por setor (R$ 1.000), a preços de 2008, 1996- 2008.

Fontes: PIA/IBGE (2010); PAC/IBGE (2010).

Nota: Setor 1: Fab. de automóveis, camionetas e utilitários, Setor 2: Fab. de cami- nhões e ônibus, Setor 3: Fab. de cabines, carrocerias e reboques, Setor 4: Fab. de peças e acessórios, Setor 5: Recond. e recup. de motores, Setor 6: Com. de veículos, Setor 7: Com. de peças.

0 5.000.000 10.000.000 15.000.000 20.000.000 25.000.000 30.000.000 35.000.000 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Setor 1 Setor 2 Setor 3 Setor 4 Setor 5 Setor 6 Setor 7

Já a Figura 33 apresenta a participação relativa de cada setor no total do valor agregado. O setor A, que compõe a fabricação de veículos em geral, participava, em 2008, com 40% do total, enquanto o setor B, de auto- peças em geral, 29%, o setor C, de comércio de veículos, 17%, e o setor D, de comércio de autopeças, com 14% do total. Ao longo do período obser- vam-se algumas oscilações, como em 2003 e 2004, quando o setor B au- mentou significativamente sua participação relativa, tornando-se o de maior participação no total do valor gerado na cadeia, com 39% e 35%, respecti- vamente. No entanto, de modo geral, o que se verifica é uma estabilidade na distribuição do valor adicionado entre os setores, sendo o setor A o que possui a maior participação de valor, seguindo, em ordem de participação, B, C e D.

Figura 33 – Participação no valor adicionado de cada setor (percentual), 1996- 2008.

Fontes: PIA/IBGE (2010); PAC/IBGE (2010).

Nota: Setor A: Fab. de automóveis, camionetes, utilitários, caminhões e ônibus, Setor B: Fab. peças e acessórios em geral, Setor C: Com. de veículos, Setor D: Com. de peças.

Ao analisar a distribuição do valor adicionado nos setores industriais (A e B) entre as regiões, verifica-se novamente um ganho significativo das regiões Sul e Nordeste, pequeno aumento do Centro-Oeste, e manutenção, em detrimento da redução de participação da região Sudeste, conforme Figura 34. A região sul aumentou sua participação de 10% para 20% no valor adicionado na indústria, entre 1996 e 2008. Já o Nordeste aumentou

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Setor D Setor C Setor B Setor A

de 0,2%, para 5,2%, no mesmo período, enquanto o Centro-Oeste aumentou de 0,1% para 1,4%.

Figura 34 – Participação no valor adicionado por região (percentual), 1996- 2008.

Fonte: PIA/IBGE (2010).

Quando analisada a relação entre o valor adicionado no setor pelo número de empresas, verifica-se que o setor A é o que apresenta a maior relação, conforme Figura 35. O valor adicionado por número de empresas, em 2008, para o setor A (fabricação de veículos) foi de R$ 204 milhões, enquanto no setor B (fabricação de autopeças) foi de 19 milhões, ou seja, onze vezes mais. Nesse mesmo ano, a relação foi de R$ 700 mil para o setor C e R$ 144 mil para o setor D. Essa diferença se explica, principal- mente, pelo maior número de empresas nos setores B, C e D, e pelo menor valor gerado nos setores de comercialização. Esses resultados mostram uma grande desigualdade na distribuição da renda (das empresas) entre os dife- rentes setores. Conforme discutido nos capítulos anteriores, a indústria automobilística é formada por poucos fabricantes de veículos e uma grande gama de fornecedores, uma vez que um único veículo possui milhares de peças e componentes. A capacidade das montadoras de veículos de gerar o maior valor adicionado e de proteger-se contra concorrência foi observada por Gereffi (1994), sendo estes alguns dos motivos que o levou a denomi- nar a cadeia de valor da indústria automobilística como uma cadeia coman- dada pelos produtores.

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Sul Sudeste Norte Nordeste Centro-Oeste

Figura 35 – Valor adicionado por número de empresa em cada setor (R$ 1.000), a preços constantes de 2008, 1996-2008.

Fontes: PIA/IBGE (2010); PAC/IBGE (2010).

Nota: Setor A: Fab. de automóveis, camionetes, utilitários, caminhões e ônibus, Setor B: Fab. peças e acessórios em geral, Setor C: Com. de veículos, Setor D: Com. de peças.

A Figura 36 apresenta essa mesma relação do valor adicionado por empresa, porém usando a classificação de 7 setores. Como se pode obser- var, o comportamento dessa relação é bastante distinto para cada setor. Para o setor 1, observa-se um pico de crescimento em 1997 e posterior queda em 1998 e 1999. Um novo ciclo de crescimento se inicia em 2000 e vai até 2002. A partir de então se observa um incremento mais lento desse número. A relação valor adicionado por empresa, que em 1997, foi de R$ 265 milhões, em 2008, foi de 200 milhões. Já o setor 2 apresenta oscilação mais suave entre 1999 e 2003, elevando-se abruptamente em 2005, quando o valor adicionado por empresa atingiu a cifra de R$ 316 milhões por em- presa. O setor 4 apresentou menos oscilações durante o período, apresen- tando, em média, uma relação valor adicionado por empresa de R$ 20 mi- lhões, enquanto o setor 3, que atingiu o máximo de R$ 13 milhões, em 2001, manteve, em média, uma relação de R$ 11 milhões por empresa. O setor 5 apresentou tendência decrescente ao longo do período, sendo que a relação que era de R$ 1,6 milhões por empresa, em 1996, decresceu para R$ 1 milhão por empresa, em 2008.

0 50.000 100.000 150.000 200.000 250.000 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Setor A Setor B Setor C Setor D

Figura 36 – Valor adicionado por empresas em cada setor (gráficos de linha).

Fontes: PIA/IBGE (2010); PAC/IBGE (2010); CEMPRE/IBGE (2010).

Nota: Setor 1: Fab. de automóveis, camionetas e utilitários, Setor 2: Fab. de cami- nhões e ônibus, Setor 3: Fab. de cabines, carrocerias e reboques, Setor 4: Fab. de peças e acessórios, Setor 5: Recond. e recup. de motores, Setor 6: Com. de veículos, Setor 7: Com. de peças.

A queda mais significativa no valor adicionado por empresa, no en- tanto, é observado no setor 6, caindo de R$ 1,2 milhões, em 1996, para R$ 383 mil, em 2003. A partir de 2004, esse valor voltar a subir, chegando a

0 50.000 100.000 150.000 200.000 250.000 300.000 350.000 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Setor 1 Setor 2 0 5.000 10.000 15.000 20.000 25.000 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Setor 3 Setor 4 Setor 5 0 200 400 600 800 1.000 1.200 1.400 1.600 1.800 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Setor 6 Setor 7

707 mil, em 2008. Esse resultado deve-se principalmente à grande expansão do número de concessionárias e revendedoras de veículos nesse período. Nos anos mais recentes, observa-se, no setor 6, tanto uma redução do nú- mero de empresas (conforme Figura 37), quanto o aumento do valor adicio- nado (Figura 23). Por fim, o setor 7 (comércio de autopeças) apresentou queda até 2003, recuperando entre 2004 e 2008 o valor real da relação valor adicionado por empresa, que em média foi de R$ 122 mil.

Em todos os setores, observou-se uma redução na relação gasto com salários, retiradas e outras remunerações por pessoal ocupado entre, con- forme Figura 37. O setor 2 é o que apresenta a maior relação, seguido do setor 1, em média, R$ 73 mil e R$ 64 mil ao ano, respectivamente38 (a pre- ços constantes de 2008). Essa relação, que no setor 2 era de R$ 90 mil, em 1996, caiu para R$ 65 mil, em 2008. No setor 1, a relação é praticamente a mesma de 1996, porém tendo atingido um pico de R$ 80 mil em 1998. O setor 4 apresentou queda gradativa, passando de R$ 44 mil para R$ 22 mil. Os setores 7 (comércio de autopeças) e 5 (recup. e recondicionamento de motores) são os que apresentam os menores valores, tendo em média, a relação de R$ 16 mil e R$ 10 mil, respectivamente. Esses resultados mos- tram que as despesas com pessoal são mais elevadas nos setores 1 e 2, refe- rentes à montagem de veículos e fabricação de motores, seguidos pelo setor 4, de fabricação de peças. Os setores de recondicionamento de motores, comercialização de veículos e autopeças (setores 5, 6 e 7) são os que apre- sentam os menores valores na relação de salários, retiradas e outras remune- rações por pessoal ocupado. O setor 3, de fabricação de cabines, carrocerias e reboques, ocupa uma posição intermediária.

38

Esses valores não se referem ao salário médio, uma vez que estão incluídas as retiradas de sócios e outras remunerações.

Figura 37 – Salários, retiradas e outras remunerações por pessoal ocupado (R$ 1.000), a preços constantes de 2008, 1996-2008.

Fontes: PIA/IBGE(2010) ; PAC/IBGE (2010).

Nota: Setor 1: Fab. de automóveis, camionetas e utilitários, Setor 2: Fab. de cami- nhões e ônibus, Setor 3: Fab. de cabines, carrocerias e reboques, Setor 4: Fab. de peças e acessórios, Setor 5: Recond. e recup. de motores, Setor 6: Com. de veículos, Setor 7: Com. de peças.

Já a Figura 38 apresenta a média dos salários e outras remunerações dos trabalhadores assalariados, para os setores 1 a 5 (industriais), no perío- do de 1996 a 2008. Observa-se que, novamente, os setores 1 e 2 são os que apresentam os maiores valores. Um movimento similar ao apresentado na Figura 37 é observado. Observa-se uma queda dos salários médios, em termos reais, em todos os setores, sendo mais intenso no setor 4 (fabricação de peças e acessórios). O salário médio anual, que em 1996, era de R$ 86 mil, em 2008, foi de R$ 28 mil. O salário médio anual no setor 2 (cami- nhões e ônibus), caiu de R$ 90 mil, em 1996, para R$ 66 mil, em 2008, praticamente um terço do valor inicial. No setor 1, o salário médio anual, em 2008, se manteve praticamente o mesmo de 1996 (R$ 59 mil contra R$ 60 mil, respectivamente), porém abaixo do que havia atingido em 1998 (R$ 77 mil). O setor 3 (cabines, carrocerias e reboques) teve redução de um terço na média salarial anual, caindo de R$ 30 mil, em 1996, para R$ 20 mil, em 2008. O setor 5 (recondicionamento e recuperação de motores) é o que apresenta o menor nível salarial. A média anual que era de R$ 16 mil, em 1996, reduziu-se para R$ 11 mil, em 2008. Esses números mostram que, apesar do aumento do nível de emprego observado na maioria dos setores, o

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Setor 1 Setor 2 Setor 3 Setor 4 Setor 5 Setor 6 Setor 7

gasto real com pessoal tem diminuído ao longo dos anos, sendo que o setor de fabricação de autopeças o que sofreu maior retração salarial.

Figura 38 – Média de salários e outras remunerações (R$ 1.000), a preços cons- tantes de 2008, 1996-2008.

Fontes: PIA/IBGE(2010).

Nota: Setor 1: Fab. de automóveis, camionetas e utilitários, Setor 2: Fab. de cami- nhões e ônibus, Setor 3: Fab. de cabines, carrocerias e reboques, Setor 4: Fab. de peças e acessórios, Setor 5: Recond. e recup. de motores.