• Nenhum resultado encontrado

Capítulo III – O Rendimento Social de Inserção

3. Indicadores sobre o RSI em Portugal

O RSI, como já referido, tem uma dupla vertente de intervenção: uma transferência monetária e um plano pessoal de inserção. Uma das possibilidades apontadas pelos economistas é a de políticas como a do RSI iniciar um incentivo ao comodismo e desincentivar a procura efetiva de emprego. No entanto, podemos observar que a medida tem em vista um Programa de Inserção que tenciona colmatar ou minimizar a tendência a um possível comodismo que, aliado ao facto da prestação social ser relativamente reduzida, leva a que os próprios beneficiários tentem, por iniciativa, ingressar no mercado de trabalho, de forma a diminuir as carências económicas em que vivem. Atualmente, o valor de referência do RSI por um indivíduo adulto representa 189.52€, cerca de 39% do Salário Mínimo Nacional (485€).

Carlos Farinha Rodrigues fala-nos de fatores de “non-take-up”, isto é, um indicador que assume a relação entre o número de beneficiários dado pelo modelo e o número de beneficiários efetivo. Ou seja, fenómenos “non-take-up” traduzem-se na possibilidade de uma parte da população suscetível de ser elegível de entrar na medida mas que, por diversos motivos, não participa ou nem tenta entrar no programa. (Rodrigues, C. F., 2009: 3)

O relatório semestral de 2011, último disponível até à data 2011, da Comissão Nacional do Rendimento Social de Inserção (CNRSI) registou 655.426 entradas no RSI, 376.674 processos deferidos e 237.261 processos cessados. A Segurança Social regista, em junho de 2012, 127.886 famílias com processamento de RSI, mais 8,528 famílias que no mês de janeiro do mesmo ano.

A repartição sectária dos beneficiários mantem-se segundo a mesma tendência desde o início da prestação, isto é, regista-se que são as mulheres as que mais se

49

mobilizam para requererem o RSI. No período em análise pela CNRSI, 65% eram requerentes do sexo feminino, destacando-se a Região Autónoma da Madeira que ultrapassava significativamente a percentagem nacional, correspondendo a 71% das titulares. Revela-se ainda uma maior incidência no escalão etário dos 35-44 anos (29%), seguindo-se os escalões 45-54 e 25-34, correspondendo a 26% e 21%, respetivamente.

A tipologia dominante dos agregados familiares beneficiários do RSI corresponde às famílias nucleares com filhos (37.876 famílias, cerca de 27%). As famílias isoladas representam 26% e as monoparentais, 20%.

A alteração de rendimentos no agregado continua a ser a principal causa de cessação da prestação RSI, com 52,4% de representatividade. Com menos relevância surge a falta de celebração do Programa de Inserção e a cessação a pedido do próprio beneficiário, correspondendo a 7% e 6%. Infelizmente é de notar que a cessação por entrada no mercado de trabalho corresponde apenas a uma taxa de 0,6%. No segundo primeiro de 2011, 665.964 pessoas viram cessar a sua prestação de RSI, sendo que o Porto (23%) e Lisboa (13%) foram as cidades com maior número de beneficiários com processos cessados.

É também importante não deixar de observar os dados relativos aos beneficiários regressados à medida. Cerca de 24% dos beneficiários com prestação cessada regressaram ao programa, sensivelmente 162.087 beneficiários. Os distritos de Évora e Portalegre apresentam o maior peso neste indicador, com uma taxa de “reincidência” de 37% e 36%, respetivamente. Com menor peso registou-se o distrito de Braga e a Região Autónoma da Madeira (19%).

Quando nos referimos aos valores médios da prestação RSI por agregado, de acordo com os dados recolhidos pela Segurança Social em junho de 2012, uma média de 247,43€. Como distritos que apresentar valores médios mais elevados encontram-se Beja (286,40€), Portalegre (289,60€) e Região Autónoma dos Açores (270,74€). Com valores médios mais baixos registou-se o distrito de Viana do Castelo (212,67€).

Relativamente ao valor médio da prestação por beneficiário, no mesmo período, registou-se a nível nacional o valor médio de 92,62€. Bragança foi o distrito cujo valor médio foi o mais elevado (107,70€) e a Região Autónoma dos Açores registou o montante médio pago por beneficiário mais baixo (75,78€).

50

Segundo o Boletim Estatístico do Ministério da Solidariedade e da Segurança Social de fevereiro de 2012, totalizavam-se 318.068 beneficiários. A nível nacional, destacam-se os distritos do Porto, Lisboa e Setúbal com maior número de beneficiários abrangidos.

Sobre a população abrangida pela medida RSI, de acordo com os dados publicados pelo mesmo boletim, 25,8% tinham menos de 25 anos de idade, constatando-se assim que se regista uma elevada percentagem de população jovem na medida. Isto justifica-se também pelo facto de existirem um elevado número de crianças e jovens nos agregados familiares beneficiários. O RSI pretende assumir-se também como um programa de combate à vulnerabilidade económica das crianças e dos jovens. (Rodrigues, C. F., 2009: 3)

Da população referida, registou-se igualmente, pelos dados da Segurança Social (junho de 2012) que, de um total de 127.886 famílias com processos de RSI, cerca de 39.903 não possuíam qualquer rendimento além da prestação em causa. Verificou-se ainda que 19.076 dessas mesmas famílias possuíam rendimentos no valor inferior a 50 euros. Dos beneficiários que possuem rendimentos, destacam-se, com maior expressão, os rendimentos provenientes da habitação e do trabalho. Com menor expressão encontram-se os rendimentos provenientes da parentalidade, da prestação CSI e subsídio de doença. Em Portugal, dos 2 233 728 pensionistas de invalidez e velhice pela Segurança Social, 1 479 657 têm pensões inferiores ao Salário Mínimo Nacional em quase um milhão e meio. (PORDATA, 2011)

Nos 321.900 acordos de inserção assinados, destacam-se as áreas da ação social e saúde, com um peso de cerca de 35% e 26%, respetivamente. As áreas com menor relevância são as da habitação e da formação profissional (4%). A área do emprego assume um peso relativo de 14%.

Portugal é o 3º país da União Europeia com maiores desigualdades de rendimento entre os mais ricos e os mais pobres, sendo o rendimento dos mais ricos 6 vezes superior ao dos mais pobres.

51