• Nenhum resultado encontrado

INDUSTRIALIZAÇÃO E RACIONALIZAÇÃO DA CONSTRUÇÃO

2.1.1 Industrialização da Construção

Franco (1992), relata que a industrialização resolveria todos os problemas do déficit habitacional, não só em nível de produção mas também relativamente aos custos. Nunca se chegou, no entanto, a um consenso quanto ao entendimento do que vem a ser industrialização, nem mesmo na atualidade, onde existem várias interpretações a respeito deste conceito.

Inicialmente os profissionais envolvidos ligavam a industrialização a sistemas que utilizavam elementos e componentes pré-fabricados e um maior nível de mecanização. A definição proposta por Davison (1975), mostra esta tendência em associar a industrialização à pré-fabricação. Este autor enuncia industrialização como “um método construtivo baseado na mecanização e em um processo organizado de caráter repetitivo que requer continuidade”.

Para Testa (1972), “a industrialização é um processo pelo qual, através de avanços tecnológicos, conceitos e métodos organizacionais e investimento de capital, tende-se a aumentar a produtividade e a melhorar o desempenho”.

Segundo Duarte (1981), a industrialização aumentou consideravelmente a produção e o consumo de quase todos os bens materiais que conhecemos. Entretanto, esta mudança de tecnologia, com a passagem de processos artesanais para processos industriais de produção, tem sido lenta no campo da construção de edificações. Este atraso na indústria da construção em relação aos demais ramos industriais pode ser explicado pela natureza do seu produto final, o edifício. Em comparação com os produtos das demais indústrias, cada edificação é praticamente única, pois deve ser construída sob determinadas especificações, medidas e com materiais do seu local de origem, sendo esta a razão da dificuldade de produção em massa.

Existe a necessidade de adaptação dos sistemas industrializados às características dos materiais e mão-de-obra encontrados no país, aumento da capacidade de investimento das empresas e também a necessidade de um sistema financeiro e mercado habitacional estável.

Em 1978, foi explícita esta preocupação pelo extinto BNH (Banco Nacional da Habitação), em relação aos sistemas pré-fabricados, onde em um documento afirma que “somente uma sólida garantia de mercado em níveis de economia em escala, irá viabilizar o empreendimento” (FRANCO, 1992)

No Brasil, existe a necessidade de aumento de eficiência e resolução de graves problemas, tais como os impostos para suprir-se a carência de habitações dignas. Quando são citadas as edificações para populações de baixa renda, as quais muitas vezes são feitas em série para ter um custo “menor”, sempre se pensa em casas de baixa qualidade com produtos de qualidade inferior, sendo este um dos grandes problemas dos fracassos das produções em série para habitações populares. Estas edificações muitas vezes apresentam precocemente problemas patológicos, que comprometem aspectos como de segurança e habitabilidade. Outras vezes ocorrem estados de degradação generalizados em prazos curtos de tempo.

Mitidieri Filho (1998) expõe que isso pode resultar no descrédito na construção industrializada, o que só poderá ser revertido com uma nova consciência sobre a avaliação de desempenho e as formas subseqüentes de controle de fabricação e execução ou montagem, que irá contribuir para a homologação de produtos e processos na construção civil, baseada em procedimentos de avaliação de desempenho como mecanismo de melhoria contínua da qualidade dos produtos inovadores.

Para Greven (2000), a comunidade técnica ligada à construção civil como um todo (os arquitetos e engenheiros em particular), assim como todas as cadeias produtivas de materiais de construção, possuem conhecimento e capacidade capazes de enfrentar o desafio de proporcionar habitações dignas a milhões de brasileiros. Segundo o autor, o governo deve fazer sua parte, proporcionando as condições necessárias e imprescindíveis para que se possa desenvolver a industrialização da construção e assim tentar minimizar pelo menos um pouco o déficit habitacional brasileiro.

No Brasil, a partir da década de 90, alguns empresários dos setores industrial, comercial e hoteleiro, começaram a se interessar pelo avanço da industrialização, e passaram a utilizar alguns tipos de painéis pré-fabricados em seus empreendimentos.

Esse interesse surgiu devido à necessidade dos ramos comercial e hoteleiro em obterem mais requinte nos seus acabamentos e fachadas, para maior valorização dos empreendimentos. Ressurgiu o interesse de utilizar os painéis pré-fabricados e fachada para edifícios de múltiplos pavimentos que incorporam detalhes construtivos e revestimentos em seu acabamento: os chamados painéis arquitetônicos. O uso destes painéis confere um aumento na velocidade de execução da construção e maior qualidade estética do produto final. Um exemplo de edificação do ramo hoteleiro de São Paulo (construído em 1997) é mostrado na Figura 01. Esta foi uma das primeiras edificações do ramo utilizando painéis pré-fabricados arquitetônicos. A partir de então vem crescendo sua utilização como alternativa ao emprego das alvenarias nas fachadas de edifícios de múltiplos pavimentos (OLIVEIRA, 2002).

Figura 1- Fachadas em painéis pré-fabricados arquitetônicos de concreto (Edifício Blue Tree Tower – Morumbi) (OLIVEIRA, 2002).

2.1.2 Racionalização Construtiva

A distinção encontrada por Sabbatini (1989) para os conceitos de racionalização construtiva e racionalização da construção está em que há um caráter mais abrangente na racionalização da construção, o que a torna de grande complexidade e importância. Já o segundo termo possui um enfoque micro-econômico, e se refere à racionalização de técnicas construtivas, ou seja, está restrita apenas às atividades de produção de um empreendimento.

Barros (1996) enfatiza que a racionalização pode ser entendida como o esforço para tornar mais eficiente a atividade de construir, o esforço para se buscar a solução ótima para os problemas específicos.

Para alguns autores, este conceito é muito abrangente e extrapola a aplicação de medidas de otimização às fases dos empreendimentos da construção civil. Sendo assim, a mesma passa pela mudança de todo o setor da construção e depende de muitas ações institucionais, como adoção por todo o setor de normalização e padronização.

Sabbatini (1989), por sua vez destaca que “a racionalização é entendida como um processo complexo, de fundamental importância para a atividade construtiva e com reflexos econômicos e sociais importantíssimos na sociedade como um todo”. Isto também pode ser entendido como a otimização das atividades, em que são aplicadas as técnicas e os métodos construtivos como uma forma de se alcançar um melhor resultado no desenvolvimento destes empreendimentos em específico.

Alguns autores também entendem a racionalização como parte ou instrumento da industrialização (FRANCO,1992).

Como um exemplo claro de busca por maior racionalização construtiva pode-se citar os painéis pré-fabricados, que transformam a execução da obra em um processo de montagem, visto que os mesmos são concebidos sob os princípios da coordenação modular, o que traz uma maior otimização à construção e confere maior racionalização do processo construtivo.

Documentos relacionados