Supremo Tribunal FederalSupremo Tribunal Federal
O S ENHOR M INISTRO A YRES B RITTO (R ELATOR ):
16. Como de logo se vê, inexistiu violação ao acórdão prolatado na Ext 1.085 É que a decisão do Presidente da República está embasada no
tratado de extradição celebrado entre o Brasil e a Itália, assim como determinou este Supremo Tribunal Federal. É verdade que a reclamante alega, nesta via processualmente contida, que as razões invocadas pelo Advogado-Geral da União Substituto, e ratificadas pelo Presidente da República, embora alegadamente cumpridoras do tratado, na verdade o desrespeitaram. Sucede que violação desse tipo, se houver, é insuscetível de análise nesta reclamação. Esta nossa Corte determinou que o Presidente da República observasse o tratado e o Chefe de Estado brasileiro assim procedeu! O instituto da reclamação constitucional não é via ordinária de irresignação das partes. É um instrumento processual, com sede na própria Constituição da República, para preservação da competência do Supremo Tribunal Federal e garantia da autoridade de suas decisões. Não nos cabe, nesta via processualmente contida, analisar o acerto da decisão reclamada. Se há ou não “ponderáveis razões para se
supor que o extraditando seja submetido a agravamento de sua situação, por motivo de condição pessoal”, é questão a ser enfrentada mediante o
ajuizamento das ações, em tese, cabíveis. Na Rcl 2.848, o Ministro Sepúlveda Pertence, ao proferir seu voto, assim verbalizou:
“Sra. Presidente, não vou verificar se houve efetivamente preterição: se o ato é fundado em preterição, são outros os caminhos para o seu reexame, que não a reclamação. Insista-se bem que a reclamação não é recurso de mérito contra decisões tomadas nas outras instâncias.”
Supremo Tribunal Federal
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RCL 11.243 / **extraditando seja submetido a agravamento de sua situação, por motivo de condição pessoal, dado seu passado, marcado por atividade política de intensidade relevante. Todos os elementos fáticos que envolvem a situação indicam que tais preocupações são absolutamente plausíveis, justificando-se a negativa da extradição, nos termos do Tratado celebrado entre
Brasil e Itália.” (sem o destaque no original)
16. Como de logo se vê, inexistiu violação ao acórdão prolatado na Ext 1.085. É que a decisão do Presidente da República está embasada no tratado de extradição celebrado entre o Brasil e a Itália, assim como determinou este Supremo Tribunal Federal. É verdade que a reclamante alega, nesta via processualmente contida, que as razões invocadas pelo Advogado-Geral da União Substituto, e ratificadas pelo Presidente da República, embora alegadamente cumpridoras do tratado, na verdade o desrespeitaram. Sucede que violação desse tipo, se houver, é insuscetível de análise nesta reclamação. Esta nossa Corte determinou que o Presidente da República observasse o tratado e o Chefe de Estado brasileiro assim procedeu! O instituto da reclamação constitucional não é via ordinária de irresignação das partes. É um instrumento processual, com sede na própria Constituição da República, para preservação da competência do Supremo Tribunal Federal e garantia da autoridade de suas decisões. Não nos cabe, nesta via processualmente contida, analisar o acerto da decisão reclamada. Se há ou não “ponderáveis razões para se
supor que o extraditando seja submetido a agravamento de sua situação, por motivo de condição pessoal”, é questão a ser enfrentada mediante o
ajuizamento das ações, em tese, cabíveis. Na Rcl 2.848, o Ministro Sepúlveda Pertence, ao proferir seu voto, assim verbalizou:
“Sra. Presidente, não vou verificar se houve efetivamente preterição: se o ato é fundado em preterição, são outros os caminhos para o seu reexame, que não a reclamação. Insista-se bem que a reclamação não é recurso de mérito contra decisões tomadas nas outras instâncias.”
Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. AYRES BRITTO
RCL 11.243 / **
17. Naquele caso, tratava-se de reclamação constitucional fundada em alegada violação ao acórdão da ADI 1.662. Acórdão pelo qual o Supremo Tribunal Federal pacificou o entendimento de que “somente no
caso de inobservância da ordem cronológica de apresentação do ofício requisitório é possível a decretação do seqüestro” de rendas públicas. Ora, decidiu esta
Casa de Justiça3 que não desrespeita a ADI 1.662 decisão que tenha por
fundamento a quebra da ordem cronológica de apresentação dos precatórios, não cabendo ao Supremo Tribunal Federal, em sede de reclamação constitucional, “verificar se houve efetivamente preterição”. A situação destes autos é, comparativamente, a mesma: na Ext 1.085, decidimos que o Presidente da República não estava obrigado ao deferimento da extradição, mas que eventual decisão pela não entrega de Cesare Battisti deveria “observar os termos do Tratado celebrado com o Estado
requerente”. É como dizer: se o ato é fundamentado no tratado, a
reclamação constitucional não é o caminho para seu reexame, até porque não analisamos, na Ext 1.085, todas as cláusulas desse ajuste bilateral de política externa.4
18. Digo mais: tenho por incabível a análise, pelo Poder Judiciário, do ato decisório aqui impugnado, seja em sede de reclamação constitucional, seja por outra via processual. É que a alínea “f” do item 1 do art. 3 do Tratado de Extradição celebrado entre a República Federativa do Brasil e a República Italiana encerra um conceito jurídico vistosamente indeterminado. Tal dispositivo convencional alude a “razões ponderáveis
para supor”. Ora, não compete a este Supremo Tribunal Federal sobrepor
suas suposições às do Presidente da República, autoridade a quem a
3 No mesmo sentido da Rcl 2.848 também se podem citar os seguintes arestos: Rcl 4.819, Rel. Min. Carlos Britto; Rcl 6.021-AgR, Rel. Min. Joaquim Barbosa; Rcl 5.992-AgR, Rel. Min. Cármen Lúcia; Rcl 6.019-AgR, Rel. Min. Eros Grau; Rcl 2.083, Rel. Min. Marco Aurélio; Rcl 2.436-AgR, Rel. Min. Sepúlveda Pertence; Rcl 4.057, Rel. Min. Carlos Britto.
4 Pensar diferentemente, ou seja, que o Supremo Tribunal Federal, na Ext 1.085, analisou todas as cláusulas do tratado de extradição celebrado entre o Brasil e a Itália é reconhecer que esta nossa Corte, por via transversa, obrigou o Presidente da República, embora haja dito exatamente o contrário.
Supremo Tribunal Federal
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RCL 11.243 / **17. Naquele caso, tratava-se de reclamação constitucional fundada em alegada violação ao acórdão da ADI 1.662. Acórdão pelo qual o Supremo Tribunal Federal pacificou o entendimento de que “somente no
caso de inobservância da ordem cronológica de apresentação do ofício requisitório é possível a decretação do seqüestro” de rendas públicas. Ora, decidiu esta
Casa de Justiça3 que não desrespeita a ADI 1.662 decisão que tenha por
fundamento a quebra da ordem cronológica de apresentação dos precatórios, não cabendo ao Supremo Tribunal Federal, em sede de reclamação constitucional, “verificar se houve efetivamente preterição”. A situação destes autos é, comparativamente, a mesma: na Ext 1.085, decidimos que o Presidente da República não estava obrigado ao deferimento da extradição, mas que eventual decisão pela não entrega de Cesare Battisti deveria “observar os termos do Tratado celebrado com o Estado
requerente”. É como dizer: se o ato é fundamentado no tratado, a
reclamação constitucional não é o caminho para seu reexame, até porque não analisamos, na Ext 1.085, todas as cláusulas desse ajuste bilateral de política externa.4
18. Digo mais: tenho por incabível a análise, pelo Poder Judiciário, do ato decisório aqui impugnado, seja em sede de reclamação constitucional, seja por outra via processual. É que a alínea “f” do item 1 do art. 3 do Tratado de Extradição celebrado entre a República Federativa do Brasil e a República Italiana encerra um conceito jurídico vistosamente indeterminado. Tal dispositivo convencional alude a “razões ponderáveis
para supor”. Ora, não compete a este Supremo Tribunal Federal sobrepor
suas suposições às do Presidente da República, autoridade a quem a
3 No mesmo sentido da Rcl 2.848 também se podem citar os seguintes arestos: Rcl 4.819, Rel. Min. Carlos Britto; Rcl 6.021-AgR, Rel. Min. Joaquim Barbosa; Rcl 5.992-AgR, Rel. Min. Cármen Lúcia; Rcl 6.019-AgR, Rel. Min. Eros Grau; Rcl 2.083, Rel. Min. Marco Aurélio; Rcl 2.436-AgR, Rel. Min. Sepúlveda Pertence; Rcl 4.057, Rel. Min. Carlos Britto.
4 Pensar diferentemente, ou seja, que o Supremo Tribunal Federal, na Ext 1.085, analisou todas as cláusulas do tratado de extradição celebrado entre o Brasil e a Itália é reconhecer que esta nossa Corte, por via transversa, obrigou o Presidente da República, embora haja dito exatamente o contrário.
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Voto - MIN. AYRES BRITTO
RCL 11.243 / **
Constituição brasileira (inciso VII do art. 84), o tratado e o acórdão paradigmático da Ext 1.085 conferem a competência para entregar, ou não, o extraditando. Nesse ponto, confira-se elucidativa passagem do acórdão da Ext 1.085: