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3.2 Etiopatogenia

3.2.3 Infeção Vírica

Dos microrganismos virais, o único que está estreitamente associado a afeções uterinas em bovinos é o herpes vírus bovino tipo 4 (HVBo-4) (Donofrio et al., 2009). Como diversos outros vírus, este pode estabelecer infeções latentes, nomeadamente nos macrófagos. Geralmente é identificado em conjunto com bactérias que são responsáveis pela metrite. Este vírus tem um elevado tropismo para as células do endométrio, tendo assim, uma rápida replicação, o que leva a uma rápida morte das células do estroma e do endométrio (Sheldon et al., 2009). O HVBo-4 tem sido observado na maioria dos casos, associado a algumas bactérias puerperais, nomeadamente, a T. pyogenes e Streptococcus spp. (Monge et al., 2006). Por fim, talvez a melhor forma de prevenção deste vírus no trato genital será a identificação dos fatores de transcrição celular específicos do hospedeiro (Sheldon et al., 2009).

3.3 Epidemiologia

3.3.1 Incidência e prevalência

É difícil de determinar a real frequência de uma doença numa população ou a nível geral, pois mesmo explorações geograficamente próximas e com características semelhantes podem apresentar resultados completamente diferentes. Isto porque, o maneio das explorações, as condições de higiene, a produção leiteira e outros fatores irão influenciar os resultados. Cada vez mais, os produtores têm consciência dos impactos que as doenças acarretam para uma exploração, assim como há uma melhor capacidade de diagnosticar as doenças, através de

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novos softwares de gestão de dados, que permitem entender o verdadeiro impacto a nível económico. Por outro lado, isto não parece fazer com que a incidência das doenças, neste caso da metrite, esteja a diminuir (Palmer, 2015).

Durante o puerpério dos bovinos de leite, a metrite puerperal é uma das afeções com maior incidência, surgindo maioritariamente nos primeiros sete dias após o parto (LeBlanc, 2008). Nas primeiras duas semanas pós-parto, a prevalência de metrite varia entre 25 a 40 % (Sheldon et al., 2008). Porém, acompanhada por sinais sistémicos, como a hipertermia, a prevalência pode variar entre 18,5 a 21% (Sheldon et al., 2009). Num estudo realizado por Suthar et al. (2013), foram registadas as incidências de diversas doenças que ocorrem no pós-parto, nomeadamente a metrite. Este estudo envolveu 528 explorações, com um total de 5.884 vacas, de 10 países diferentes, entre os quais Portugal. Em Portugal a incidência foi de 7,2% em 1000 vacas de 113 explorações diferentes. Destas 1000 vacas, 98% eram de raça Holstein-Frísia, 1,2% cruzadas de Holstein-Frísia e 0,8% eram Jersey, Parda Suíça, e outras raças (exceto cruzadas de Holstein) (Tabela 1).

Tabela 1 Incidência de metrite puerperal em 10 países diferentes calculada a partir de amostragens de dimensões

diferentes (Adaptado de Suthar et al., 2013)

País Nº de explorações Nº de vacas Incidência de metrite (%) Itália 66 470 24,9 Servia 42 384 18,5 Polónia 11 294 11,6 Croácia 7 283 3,2 Eslovénia 24 271 4,0 Hungria 24 270 13,3 Portugal 113 1000 7,2 Espanha 100 1093 13,2 Alemanha 117 947 4,0 Turquia 24 872 3,7 Total 528 5884 9,6

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No mesmo ano, Andrade (2013), realizou um estudo em duas explorações no centro no país, onde foram incluídas aleatoriamente, 35 vacas, Holstein-Frísia, de cada exploração, todas na primeira ou segunda lactação. Ambas as explorações tinham o regime de produção intensiva. E foi observado uma incidência de metrite de 27 e 14% em cada exploração.

3.3.2 Fatores de risco

Associado ao aparecimento de uma metrite puerperal podemos encontrar os seguintes fatores de risco: estação do ano; tamanho da exploração; número de lactações; idade; condição corporal (demasiado elevada ou baixa); falta de higiene na exploração; retenção de placenta; afeções metabólicas, nomeadamente, hipocalcemia ou cetose; e complicações durante o parto, como nados mortos, distócia, partos gemelares ou abortos (Malinowski et al., 2010). Estes fatores favorecem o aparecimento e desenvolvimento de infeções bacterianas, assim como podem aumentar a gravidade de infeção. Estas são observadas nas explorações tanto pelo produtor como pelo Médico Veterinário (Smith & Risco, 2002).

3.3.2.1 Fatores associados ao animal 3.3.2.1.1 Raça, idade e número de lactações

Segundo Földi et al. (2006), os bovinos com aptidão para leite, têm maior probabilidade de desenvolver metrite puerperal do que os bovinos de carne. Foi realizado um estudo epidemiológico em bovinos de leite, tendo em conta a raça do animal. Neste estudo, verificou- se que a raça Guernsey é a que tem maior probabilidade de desenvolver metrite, seguida da raça Jersey, depois a Holstein e, por último, a raça Ayrshire (Erb & Martin, 1978). Além da predisposição genética, as vacas de leite são mais propensas devido ao stresse provocado pela alta produção. Também é preciso considerar que nestes animais há um maior controlo do que nas vacas de carne, tanto individualmente como a nível geral da exploração, daí serem diagnosticados mais facilmente casos de metrite (Palmer, 2015).

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Relativamente à influência da idade na metrite puerperal, foram realizados diversos estudos. Num desses, já antigo, foi verificado que é mais provável o aparecimento de metrite entre dois e os quatro anos. A probabilidade de aparecer após os 4 anos é bastante mais baixa e mantem- se praticamente idêntica até aos dez anos de idade (Erb & Martin, 1978). Por outro lado, noutro estudo realizado por estes mesmos autores no Canadá, verificou-se que a incidência é maior nas vacas com idades superiores aos dez anos; um pouco mais baixa, mas ainda assim elevada, em vacas com idades compreendidas entre os sete e os dez anos; e mais baixa entre os dois e os quatro anos de idade (Erb & Martin, 1980).

No que diz respeito ao número de lactações, Giuliodori et al. (2013), afirmam que as vacas primíparas têm maior risco de desenvolver metrite puerperal comparativamente com aquelas que apresentam maior número de lactações, pois nas primeiras lactações é mais frequente a assistência do proprietário ou do Médico Veterinário durante o parto, aumentando assim, também, o risco de contaminação. Desta forma, à medida que o número de nascimentos aumenta, as infeções tendem a diminuir. Segundo outros autores, a maior incidência de metrite nas vacas primíparas dá-se devido ao facto destes animais apresentarem maior percentagem de nados-mortos e de apresentarem um aumento da condição corporal antes do parto quando o maneio nutricional não é adequado (Meyer et al., 2001; Machado & Bicalho, 2015).

3.3.2.1.2 Estação do ano

A relação da época do ano com o aumento do aparecimento de metrite no pós-parto tem sido um tema controverso (Smith & Risco, 2002). Alguns autores afirmam que durante os meses de inverno, a saúde geral das vacas é mais reduzida porque o ambiente mais húmido e conspurcado, tornam as vacas mais suscetíveis à infeção (Benzaquen et al., 2007). Além disso, o peso do feto geralmente é maior nos partos de Inverno, o que favorece a ocorrência de distócias (Sieber et al., 1989). Assim, foi verificado que as que pariam no verão apresentam menor probabilidade de desenvolver metrite, comparativamente com aquelas que parem no inverno (Benzaquen et al., 2007). Por outro lado, Kadzere et al., (2002), verificaram que nos meses mais quentes, o stresse térmico afeta as funções fisiológicas dos animais, o que poderá aumentar a incidência de algumas doenças, nomeadamente a retenção placentária e a metrite puerperal.

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Em contrapartida, diversos autores não encontraram nenhuma relação entre a estação do ano e o aumento de incidência de metrite (Kaneene & Miller, 1994; Garcia et al., 2004; Dolezel et al., 2008).

3.3.2.1.3 Complicações durante o parto

As complicações que surgem relacionadas com o parto estão diretamente associadas à metrite puerperal. Estas complicações podem estar relacionadas com o parto de forma direta, como por exemplo, nados mortos, partos de gémeos, fetotomia ou extração forçada do feto, ou então de forma indireta, como por exemplo, pela retenção de placenta, deslocamento do abomaso, hipocalcemia ou cetose (Smith & Risco, 2002; Bicalho et al., 2010; Martinez et al., 2012).

Segundo o estudo realizado em 2004 por Garcia et al., há uma maior incidência de metrite puerperal em casos de partos distócicos ou em animais que abortam. Benzaquen et al. (2007), após realizarem um estudo epidemiológico, verificaram que os partos distocicos são considerados um dos fatores de risco mais importantes para o aparecimento de metrite puerperal. É responsável pela introdução de agentes patogénicos no interior do útero devido à necessidade de realização de manobras obstétricas, quando não são seguidas as devidas condições de assépsia. Também neste estudo foi referido que durante o parto há um stresse adicional que leva à diminuição da resistência às infeções.

Foi sugerido que há um maior risco no parto associado a fetos machos, isto porque estes geralmente tem um maior peso fetal, o que pode aumentar o risco de distócia (Duffield et al., 2008b; Machado & Bicalho, 2015). Bicalho et al. (2010), verificaram que aumentava 1,6 vezes a probabilidade de contaminação intrauterina por E. coli quando o nascimento era de um vitelo macho, comparativamente com fêmeas.

O parto de gémeos também representa um fator de risco para afeções puerperais, nomeadamente para a metrite puerperal. Segundo Markusfeld (1987), este fato deve-se a um período de gestação mais reduzido e atraso na involução uterina, o que irá interferir no processo de involução uterina. Para Bicalho et al. (2010), no caso de gestações gemelares, aumentou 4,4

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vezes a probabilidade de contaminação intrauterina com E. coli, comparativamente com as vacas que pariam apenas um vitelo.

Relativamente à relação do aborto com a metrite, esta está associada com as causas que provocam o aborto. Contudo, no gado bovino, esta é maioritariamente de causa infeciosa (Garcia et al., 2004). Porém, espécies bacterianas como T. pyogenes, Bacillus spp. e Streptococcus spp. também podem ser responsáveis por abortos esporádicos nas explorações (Djønne, 2007). Por fim, também se observou que o parto de nado morto é um fator de risco para a metrite puerperal, devido ao trauma intrauterino provocado durante o parto, que irá favorecer o desenvolvimento de infeções bacterianas (Markusfeld, 1987).

3.3.2.2 Fatores associados ao maneio

3.3.2.2.1 Tamanho da exploração, sistema de produção e condições de higiene da maternidade

Em explorações maiores, há um aumento da incidência de metrite puerperal (Kaneene & Miller, 1994; Bruun et al., 2002; Garcia et al., 2004). O que pode ser explicado pelo aumento da densidade populacional nas maternidades, principalmente nas épocas de maior parição, o que leva as maternidades a apresentarem altos níveis de contaminação bacteriana (Smith & Risco, 2002). Por outro lado, segundo Kaneene & Miller (1994), este aumento de incidência nas explorações de maiores dimensões é somente aparente e ocorre pelo facto de haver um maior controlo médico veterinário e da implementação de programas de saúde no pós-parto, uma vez que há um maior controlo na deteção e no registro das afeções. Por outro lado, Földi et al. (2006), afirmam que a dimensão da exploração pode ter impacto no aparecimento de metrite, mas pelo motivo contrário, porque nas explorações de menor dimensão a higiene das maternidades é superior pois tem menor ocupação, pelo que resulta numa menor acumulação de espécies bacterianas patogénicas nas camas.

No que diz respeito ao sistema de produção, existe uma menor incidência de metrite quando os partos ocorrem em zonas de pasto. Isto porque, o ambiente no qual ocorre o parto é menos conspurcado e menos propenso a causar contaminação bacteriana que num meio de estabulação (Kaneene & Miller, 1995).

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O nível de higiene das instalações, nomeadamente na maternidade durante o parto, foi indicado como um dos fatores que pode contribuir para o aparecimento de metrite. Mas a sua relevância é menor do que aquela verificada nos problemas relacionados com o parto (Palmer, 2015). Em Inglaterra foi realizado em estudo que comparava duas explorações com diferentes condições de higiene. Não foram verificadas diferenças significativas na contaminação bacteriana nas amostras recolhidas das vacas recém-paridas. Contudo, os elevados padrões de higiene devem ser um ponto fundamental no maneio das explorações, de modo a evitar o aparecimento de metrites e de outras afeções que possam afetar a reprodução do animal e consequentemente a sua produção (Noakes et al., 1991).

3.3.2.2.2 Nutrição

Vários fatores nutricionais estão envolvidos no desenvolvimento de metrite puerperal. O conhecimento desses fatores ajuda a avaliar o risco de ocorrência e a elaborar medidas preventivas, estando a metrite relacionada principalmente com o tipo de maneio alimentar durante o período seco (Könyves et al., 2009). O estado nutricional das vacas leiteiras está intimamente ligado à manutenção de uma imunidade adequada. Os requisitos nutricionais vão variando ao longo do ciclo de produção. Assim, um mau cumprimento destes requisitos irá resultar em respostas disfuncionais e distúrbios de saúde (Sordillo, 2013). Os comportamentos da alimentação e da ruminação são de particular interesse para a identificação precoce das doenças. Estes comportamentos envolvem parâmetros da alimentação ativa, tais como o tempo de alimentação, a quantidade de consumo de alimento e a taxa de alimento ingerido (Schirmann et al., 2016).

A ruminação tem sido associada à deteção de ansiedade, desconforto devido à doença (como a metrite) ou distúrbios metabólicos. Foram observadas alterações na ingestão da matéria seca e do tempo gasto na alimentação nos dias anteriores ao parto em vacas que posteriormente foram diagnosticadas com metrite ou cetose subclínica no pós-parto (Schirmann et al., 2016).

Num estudo realizado em 2016 verificou-se que vacas com metrite, concomitantemente ou não com outra doença, vão menos frequentemente ao comedouro, permanecendo lá menos tempo. Contudo, alimentam-se mais rápido, comparativamente às vacas saudáveis. Isto porque quando

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as vacas se sentem doentes, são menos capazes de competir com sucesso pelo alimento e então aproveitam os poucos momentos que tem para se alimentar rapidamente (Schirmann et al., 2016).

Podem-se então enunciar como fatores de risco relacionados com o maneio nutricional do pré- parto no desenvolvimento da metrite, os níveis de condição corporal elevados e o inadequado fornecimento de dieta. Estes, no final da gestação e durante a fase inicial da lactação predispõem ao aparecimento de balanço energético negativo (BEN). O seu aparecimento contribui para o surgimento de diversas outras doenças, como a síndrome do fígado gordo e cetose ou mesmo um estado de imunossupressão (Könyves et al., 2009).

No início da lactação, as reservas de energia corporal são utilizadas para o desenvolvimento e manutenção fetal, assim como para a produção leiteira. Durante esta fase, a quantidade de energia necessária para a manutenção dos tecidos corporais e para a produção de leite excede a quantidade de energia que a vaca consegue obter a partir dos alimentos. Assim, a elevada necessidade de energia nesta fase, resulta num balanço energético negativo que geralmente começa uns dias antes do parto e atinge o máximo negativo cerca de duas semanas depois do parto (Kim & Suh, 2003).

A quantidade de energia disponível vai depender da ingestão e da utilização de matéria seca. Esta utilização de matéria seca é determinada pelas alterações adaptativas fisiológicas, metabólicas e endócrinas, tais como a adaptação da microflora do rúmen e do epitélio ruminal, que são influenciadas pelo equilíbrio ácido-base (Könyves et al., 2009). Embora no final da gestação haja uma diminuição fisiológica da ingestão de matéria seca, fatores que diminuam ainda mais a ingestão de matéria seca ou as adaptações ruminais aumentam a gravidade do BEN e consequentemente metrite puerperal. Estes fatores incluem uma condição corporal elevada, defeitos de maneio, fatores ambientais que causam desconforto, como por exemplo, stresse térmico (Kim & Suh, 2003; Könyves et al., 2009). Segundo Könyves et al. (2009), a determinação plasmática de AGNEs nas duas últimas semanas antes do parto, é um forte indicador de um desenvolvimento de BEN e consequentemente de metrite puerperal. Assim, valores de AGNEs > 0,200 mmol/l indicam maior risco.

O sistema de pontuação da condição corporal é um método útil para avaliar as reservas de energia corporal e é amplamente utilizado para avaliar o estado nutricional em vacas. Durante

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o ciclo reprodutivo esta condição corporal vai flutuando. A perda da condição corporal durante o período seco aumenta a incidência de doenças pós-parto, como a metrite, e atrasa o retorno da atividade ovárica (Kim & Suh, 2003).

O fornecimento equilibrado de micronutrientes dietéticos, como vitaminas e oligoelementos, tem um papel essencial na eficiência produtiva e na competência imunitária em vacas no início da lactação (Sordillo, 2013). Assim, deficiências de selénio, vitamina E ou vitamina A podem afetar o sistema imunitário inato, o que leva ao aumento do risco de desenvolver metrite puerperal (Földi et al., 2006). Segundo Harrison et al. (1984), o selénio e a vitamina E são importantes antioxidantes, necessários para o combate contra infeções uterinas. Assim, deficiência destes dois micronutrientes no período seco aumenta o risco de metrite puerperal.

Concluindo, o BEN da vaca também pode ser induzido pela metrite, uma vez que reduz a ingestão de matéria seca. Por sua vez, a metrite também irá afetar negativamente a gordura e proteína presentes no leite (Könyves et al., 2009).

3.3.2.3 Fatores concomitantes 3.3.2.3.1 Retenção Placentária

A retenção placentária resulta da falha de deiscência e de expulsão natural da placenta até vinte e quatro horas após o parto (Hilman & Gilbert, 2008; Vieira, 2014). Outros autores consideram o tempo limite para a eliminação da placenta até seis a oito horas após o parto, principalmente em vacas multíparas (Radostits et al., 2007). A retenção da placenta é uma complicação comum no pós-parto de bovinos, podendo ser uma fonte de infeção no útero (Parkinson, 2009). É por isso considerada por diversos autores como um dos principais fatores de risco de metrite puerperal (Smith & Risco, 2002; Palmer et al., 2003; Garcia et al., 2004; Könyves et al., 2009). Na presença de retenção de placenta, a incidência de metrite puerperal varia entre 25 e 50% (LeBlanc, 2008), sendo seis vezes superior a probabilidade de desenvolver metrite puerperal, comparativamente com as vacas que não apresentam retenção (Palmer, 2003).

A falha na deiscência da placenta parece estar intimamente relacionada com uma falha no sistema imunitário na degradação dos placentomas, servindo assim, com um veículo capilar que

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irá permitir a entrada de bactérias para o interior do útero (LeBlanc, 2008; Smith & Risco, 2002). A ocorrência de retenção de membranas fetais pode ser devida a fatores mecânicos, nutricionais, infeciosos ou de maneio. Relativamente aos fatores mecânicos, podemos referir a distócia e nados mortos. Por outro lado, as causas nutricionais derivam de deficiências de proteínas, vitaminas, energia e minerais, nomeadamente de cálcio. As causas infeciosas estão relacionadas com as doenças reprodutivas como a leptospirose e a brucelose. Por fim, há ainda a considerar as causas relacionadas com o maneio (Gunay et al., 2011).

Segundo Risco et al. (2007), as metrites que resultam da associação com a retenção placentária, derivam da decomposição de restos das membranas fetais, favorecendo a colonização de bactérias. Por outro lado, também pode estar relacionado com a contaminação fecal das membranas fetais, durante o decúbito, o que aumenta exponencialmente a probabilidade de contaminação bacteriana no trato genital (Smith & Risco, 2002). Por fim, também foi referido que a remoção manual da placenta, como tratamento para a retenção da placenta é um fator importante no desenvolvimento de metrite puerperal. Isto porque pode provocar trauma intrauterino, suscetível de causar lesões a nível do epitélio uterino (Garcia et al., 2004).

3.3.2.3.2 Hipocalcemia

A hipocalcemia é uma doença metabólica frequente em bovinos de leite e que ocorre essencialmente nos primeiros dias após o parto (Salgado-Hernández et al., 2014). Devido ao início da lactação, ocorre um aumento súbito da necessidade de cálcio, levando à diminuição repentina de cálcio sanguíneo, resultando numa disponibilidade insuficiente de cálcio para as restantes funções corporais (Charbonneau et al., 2006; Rodriguez et al., 2016). Para esclarecer melhor este assunto, Radostits et al. (2007), afirmam que uma vaca que numa única ordenha produza cerca de 10 Kg de colostro, irá perder 23g de cálcio. Isto representa nove vezes a quantidade de cálcio em todo o plasma do animal. Este cálcio terá que ser reposto através de um aumento da absorção intestinal e de reabsorção óssea.

A hipocalcemia subclínica tem uma incidência de 60% nas vacas durante as primeiras 24h pós- parto, sendo mais frequente do que a forma clínica (Salgado-Hernández et al., 2014). Contudo, é também prejudicial pois predispõem ao aparecimento de outros distúrbios metabólicos, assim

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como, a redução da fertilidade e da produção de leite (Retamal, 2011). Por outro lado, a hipocalcemia clinica, ocorre nos dias pré-parto ou durante o parto. O que leva à inercia do útero, não ocorrendo a segunda fase do parto (Radostits et al., 2007).

Desta forma, com ou sem sinais desta patologia, as funções de suporte do sistema muscular e da motilidade gastrointestinal serão comprometidas (Oetzel, 2013). Assim, a hipocalcemia é, responsável pela diminuição da contração do miómetro ou mesmo atonia uterina, o que pode resultar em acumulação de lóquio, com elevado número de agentes bacterianos potencialmente patogénicos (Smith & Risco, 2002). Segundo Hillman & Gilbert (2008), é por isso considerada como um fator de risco importante para o desenvolvimento de metrite puerperal. Para além do que já foi referido anteriormente, a diminuição dos níveis circulantes de cálcio, também predispõem para retenção de placenta, prolapso uterino, partos distócicos e cetose, sendo estes fatores de risco para a metrite puerperal (Rodriguez et al., 2016).

3.3.2.3.3 Cetose

Nas semanas que antecedem o parto, há diminuição da ingestão de matéria seca, consequente da diminuição da capacidade ruminal, do aumento da mobilização de nutrientes para o desenvolvimento fetal e das alterações endócrinas que acontecem neste período de transição. Esta pode ser acompanhada ou não de um aumento na lipolise (Peek & Divers, 2008).

Posteriormente, a mobilização das reservas energeticas necessária para a produção leiteira, não acompanhada por um IMS compensatório, juntamente com as alterações nutricionais (maneio nutricional), levam a um estado de balanço energético negativo (Peek & Divers, 2008; Esposito et al., 2013).

As vacas de leite, geralmente, estão sempre sujeitas a BEN no inicio da lactação, mantendo a

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