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Metrite Puerperal: estudo efetuado nas explorações em São Miguel

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Academic year: 2021

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I

Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

Metrite Puerperal

Estudo efetuado nas explorações em São Miguel

Dissertação de Mestrado em

Medicina Veterinária

Marta Ortigão Sampaio Queirós Machado

Orientador: Doutor Miguel Nuno Pinheiro Quaresma

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III

Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

Metrite Puerperal

Estudo efetuado nas explorações em São Miguel

Dissertação de Mestrado em

Medicina Veterinária

Marta Ortigão Sampaio Queirós Machado

Orientador: Doutor Miguel Nuno Pinheiro Quaresma

Composição do Júri:

Professora Doutora Maria da Conceição Medeiros Castro Fontes

Professora Doutora Rita Maria Payan Martins Pinto Correia

Professor Doutor Miguel Nuno Pinheiro Quaresma

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V

Agradecimentos

À Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, a todos os professores, técnicos, auxiliares e demais funcionários, o meu obrigado.

Gostaria de agradecer ao Doutor Miguel Quaresma por toda a paciência, conselhos e disponibilidade durante a elaboração deste trabalho e à Professora Doutora Ângela Martins pela ajuda no processamento dos dados.

A toda a minha família, principalmente os meus pais, pois sem eles nada disto teria sido possível, por todo o apoio incondicional e dedicação, que me proporcionaram varias oportunidades durante este longo caminho e em toda a minha vida.

A todos os meus amigos que me apoiaram, principalmente nestes últimos tempos, Sónia, Carolina, Inês, Manel, António e Nuno. Bem como aqueles que me apoiaram durante a estadia na ilha maravilhosa, Mariana, Dário, Catarina, Pedro e Debora, muito obrigada.

Não posso deixar de agradecer aos amigos que fiz durante o meu percurso no Brasil, que mesmo estando longe me apoiaram, Lautaro, Tita, Paloma, Vanessa, Marcão e Pedro, que ensinaram muito. E não podia deixar de agradecer aos professores que foram sempre incansáveis e me apoiaram sempre que foi necessário.

À Doutora Joana Quelhas, pelos três meses de estágio, conselhos e confiança que me transmitiu. À Doutora Viviana Mota pela oportunidade de estágio, e pelo conhecimento transmitido. À Doutora Marlene Raposo, pela paciência, boa disposição e pela confiança depositada em mim.

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VII

Resumo

O puerpério é o período que se inicia logo após o parto e estende-se até ao restabelecimento da atividade ovárica, isto é, até ao momento em que a vaca está apta para uma nova gestação. Durante este processo ocorrem diversos eventos, nomeadamente a libertação de remanescentes placentários, involução uterina, regeneração do endométrio e eliminação da contaminação bacteriana. É também o período em que existe maior probabilidade de ocorrerem doenças uterinas.

A metrite puerperal é definida, de forma simplificada, pela infeção do endométrio após o parto. O seu desenvolvimento é multifatorial. Isto porque depende de um balanço entre diversos fatores, nomeadamente na falha dos mecanismos de imunidade do útero, da contaminação bacteriana, pouca higiene e retenção placentária, entre outros, ou a conjugação de vários destes fatores. Esta patologia é determinante na vida reprodutiva do animal, uma vez que irá influenciar os dias em aberto, a taxa de conceção e a taxa de refugo.

O objetivo do presente trabalho foi realizar um resumo bibliográfico, seguido de um estudo de campo, para uma melhor compreensão e identificação da metrite puerperal, bem como dos fatores de risco responsáveis pelo seu aparecimento em bovinos leiteiros de 11 explorações distintas, na Ilha de São Miguel, Açores. A recolha de dados ocorreu entre o dia 31 de Julho e o dia 31 de Outubro de 2017 de 804 animais. Apenas 385 entraram no estudo pois foram estes os sujeitos a um exame de monitorização pós-parto, desde o parto até ao reinicio da atividade ovárica. Neste caso, a incidência de metrite puerperal foi de 16,36%, isto é, em 63 animais. Constatou-se também que a palpação vaginal é um método eficaz e prático na deteção da metrite puerperal. Em relação aos parâmetros avaliados, constatou-se que a incidência desta patologia está associada com a retenção placentária. Porém, não está correlacionada com o sistema de produção, com o mês de parição, com a ocorrência de aborto e com a cetose. Por outro lado, foi verificado que existe associação entre a retenção placentária e a exploração em questão. E, a associação entre a retenção placentária e o aborto, apesar de não ser estatisticamente significativa, existe uma evidência de que poderia acontecer caso a amostra fosse maior.

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IX

Abstract

The postpartum is the period right after the calving that extends until the reestablishment of the ovarian activity, i.e., until the moment the cow is ready for a new gestation. During this process diverse events occur, for instance, the release of residual placental membranes, uterine involution, regeneration of the endometrium and the elimination of the bacterial contamination. Thus, this is decisive for the future reproductive life of the dairy cow. Furthermore, it also corresponds to the period when the uterine diseases are more likely to occur.

The definition of puerperal metritis is, in a simplified way, by the inflammation of the endometrium. It´s development is multifactorial, due to various factors, namely the mechanisms’ imperfections of the uterus immunity, the bacterial contamination, poor hygiene, placental retentions, among others, or the combination of several of these factors. This pathology is crucial in the animal’s life reproduction, since it will influence the subsequent days, the conception rate and increases the culling rate.

The purpose of this paper is to achieve a bibliographical summary followed by a field study, for a better comprehension and a full identification of the perpetual metritis, as well as the risk factors responsible for its emerging in the dairy cattle at 11 different properties (farms) on São Miguel Island, Azores. The Data was collected from 804 animals, during the period from 31 July to 31 October, 2017. From those 804 animals, only 385 were included in the study, since they were subjected to a postpartum monitoring examination, from birth to the beginning of ovarian activity. As a result, the perpetual metritis incidence was 16.36%, this is, in 63 animals. Furthermore, it was also concluded that vaginal palpation is an effective and practical method for the perpetual metritis detection. Regarding the evaluated parameters, it was also found that this pathology incidence is correlated with the placental retention. However, it is not associated with the production system, birth month, abortion occurrence and the ketosis. On the other hand, it was observed that there is association between the placental retention and the location under survey. Additionally, the association between the placental retention and abortion, although not statistically significant, might be possible if a larger sample was considered.

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XI

Índice

1 Introdução ... 1

2 Alterações normais no puerpério ... 3

2.1 Involução Uterina ... 3

2.2 Regeneração do endométrio ... 5

2.3 Eliminação da contaminação bacteriana ... 6

2.4 Retorno à atividade ovárica cíclica ... 7

3 Metrite Puerperal ... 11

3.1 Definição ... 11

3.2 Etiopatogenia ... 12

3.2.1 Imunidade Uterina ... 12

3.2.2 Contaminação e infeção bacteriana ... 15

3.2.3 Infeção Vírica ... 18 3.3 Epidemiologia ... 18 3.3.1 Incidência e prevalência ... 18 3.3.2 Fatores de risco ... 20 3.4 Sinais Clínicos ... 30 3.5 Diagnóstico ... 31 3.6 Impacto Económico ... 34 3.7 Tratamento ... 35 3.7.1 Antibioterapia ... 36 3.7.2 Terapia Hormonal ... 40

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XII

3.7.3 Terapia de Suporte ... 42

3.8 Prognóstico e Evolução Clinica ... 42

3.9 Prevenção e Controlo ... 43

3.9.1 Maneio Nutricional ... 45

3.9.2 Vacinação ... 46

3.9.3 Programa de Monitorização do Periparto ... 48

4 Objetivos do Trabalho ... 49

... ... 51

5 Material e Métodos ... 51

5.1 Apresentação Geral do estudo ... 51

5.2 Amostragem ... 52

5.3 Recolha de dados ... 52

5.4 Definição de critérios de exclusão dos animais ... 52

5.5 Características e definição dos parâmetros analisados ... 53

5.5.1 Metrite ... 53

5.5.2 Período de realização do exame clínico ... 55

5.5.3 Problemas relacionados com o parto e Retenção de placenta ... 55

5.5.4 Temperatura retal ... 55

5.5.5 Cetose ... 56

5.6 Análise estatística ... 56

6 Resultados ... 57

6.1 Presença ou não de metrite ... 58

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XIII

6.3 Distribuição mensal ... 61

6.4 Relação entre a metrite e a presença de febre ... 62

6.5 Relação da metrite com a retenção placentária ... 63

6.6 A relação do aborto com a ocorrência de metrite ... 64

6.7 Relação da cetose com a metrite ... 65

6.8 Relação da exploração com a ocorrência de retenção placentária ... 66

6.9 Relação do aborto com a retenção placentária ... 67

6.10 Relação entre o intervalo dos dias do parto e do primeiro exame pós-parto e a metrite 68 6.11 Relação entre o intervalo de dias desde o primeiro exame pós-parto e o início do ciclo ovárico com a metrite ... 69

7 Discussão ... 71

8 Conclusões ... 77

9 Bibliografia ... 79

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XV

Índice de figuras

Figura 1 Útero pós-parto normal ... 4

Figura 2 Incidência da contaminação bacteriana durante os primeiros 60 dias pós-parto segundo vários estudos. ... 15

Figura 3 Amostras típicas do carácter do muco vaginal: grau 0 corresponde a muco claro translúcido; grau 1, muco com flocos de pus branco; grau 2, muco com 50% de material mucopurulento branco ou acinzentado; grau 3, muco com 50% de material purulento, geralmente branco ou amarelo, mas ocasionalmente sanguinolento (retirado de: Sheldon et al. 2006). ... 30

Figura 4 Distribuição dos animais em estudo, segundo a presença ou ausência de metrite ... 58

Figura 5 Distribuição dos animais pelas explorações ... 60

Figura 6 Distribuição dos animais acompanhados por mês ... 61

Figura 7 Distribuição dos casos de metrite pelos meses de estudo ... 61

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XVII

Índice de tabelas

Tabela 1 Incidência de metrite puerperal em 10 países diferentes calculada a partir de amostragens de

dimensões ... 19

Tabela 2 Períodos de realização e distribuição dos animais no exame de diagnóstico de puerpério ... 55

Tabela 3 Número de animais acompanhados por exploração ... 57

Tabela 4Resultados da relação da ocorrência de metrite e o sistema de produção ... 59

Tabela 5 Distribuição dos animais com metrite puerperal, segundo a temperatura retal registada ... 62

Tabela 6Resultados da relação da ocorrência de retenção placentária com a incidência de metrite puerperal 63 Tabela 7 Resultados da ocorrência de cetose de acordo com a incidência de metrite ... 65

Tabela 8 Resultados da relação da ocorrência de retenção placentária em cada exploração ... 66

Tabela 9 Resultados da relação da ocorrência de retenção placentária de acordo com a incidência de aborto . 67 Tabela 10 Resultados da relação entre o intervalo de dias entre o parto e o primeiro exame clinico com a incidência de metrite ... 68

Tabela 11 Resultados da relação entre o intervalo de dias entre o primeiro exame e o início do ciclo ovárico com a incidência de metrite ... 69

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XIX

Símbolos e abreviaturas

®- Símbolo de registado %- Percentagem >- Maior ºC- Graus Celsius €- Euro

bpm- Batimentos por minuto

g- Grama

h- Hora

Kg- Quilograma

mg/ Kg- Miligrama por quilograma

mm - Milímetros

mmol/ l- Milimol por litro

rpm- Respirações por minuto

AGNEs - Ácidos gordos não-esterificados

BEN - Balanço energético negativo

BHBA- Beta-hidroxibutirato

CIM- Concentração inibitória minima

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XX

GnRH - Hormona libertadora de gonodotrofinas

GPA -Ácida- α-1-glicoproteina ácida

HVBo-4- Herpes vírus bovino tipo 4

IGF-1 – Fator de crescimento da insulina

IL – Interleucinas

IMS- Ingestão da matéria seca

LH - Hormona luteinizante

PAMPs - Padrões moleculares associados aos patogénicos

PGE - Prostaglandina E2α

PGF2α - Prostaglandina F2α

PMN - Neutrófilos polimorfonuclerares

TLR - Recetores de tipo toll

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1

1 Introdução

É no período de transição, três semanas antes e depois do parto, que geralmente, ocorrem a maioria das alterações que irão provocar maior impacto na saúde da vaca, com uma maior predisposição para a ocorrência de doenças (Drackley, 1999). Foram investigadas as relações que ao longo dos anos têm sido estabelecidas sobre a interação entre os diversos fatores de risco do aparecimento de metrite, associados ao parto e às alterações metabólicas durante o período de transição, (Markusfeld, 1987; Bicalho et al, 2014). Como na maioria das vezes é no pós-parto que ocorrem os problemas reprodutivos, é neste período que é fundamental diminuir os fatores de risco que levam à sua ocorrência (Palmer, 2015).

O bovino é o ruminante com maior predisposição para infeções a nível do útero (Regassa & Noakes, 1999). Era de esperar que após a cópula ou a inseminação artificial, fosse mais provável que ocorresse a inflamação do endométrio. Contudo, é no pós-parto que é mais comum que isso ocorra (Dhaliwal, 2001; Palmer, 2015). A metrite, pode ser definida como uma reação inflamatória grave das camadas do útero, o que pode provocar um grande impacto económico nas explorações e é um problema que se faz sentir em todo o mundo (Bondurante, 1999; Sheldon et al., 2008; Bartolome et al., 2014). Esta doença afeta gravemente a capacidade reprodutiva, uma vez que influencia tanto a função do útero como a atividade dos ovários (Sheldon et al., 2009). Para aumentar a rentabilidade de uma exploração leiteira, é crucial, melhorar a eficiência reprodutiva (Smith et al., 1988).

No que diz respeito ao tratamento da metrite, tradicionalmente o método escolhido é a antibioterapia. Contudo, nos últimos anos, têm sido impostas algumas limitações à sua utilização, por parte da União Europeia, uma vez que existe uma crescente preocupação com o uso exagerado de antibióticos e a promoção de resistências (Palmer, 2015; Vallat, 2016; Younger, 2016). Assim, cada vez mais têm sido exploradas outras alternativas ao tratamento tradicional. A prevenção tem um grande destaque nos últimos anos, atuando na diminuição das quebras de imunidade e reforço das defesas imunitárias inatas e adquiridas (Machado et al., 2014; 2014a).

Neste trabalho será abordado o tema da metrite, dividido em duas partes. Inicialmente, é apresentado o tema da metrite com base em publicações existentes. Na segunda parte serão apresentados os dados de um estudo sobre a metrite puerperal e os seus fatores de risco em

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algumas explorações de vacas leiteiras da Ilha de São Miguel, que serão discutidos em confronto com a bibliografia disponível.

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3

I.

Tema: Revisão Bibliográfica

2 Alterações normais no puerpério

O puerpério ou período pós-parto é definido como o tempo que decorre desde o parto até à conclusão da involução uterina cerca de 40 dias depois, nos bovinos. Este período também corresponde ao período de anestro pós-parto, isto porque termina quando ocorre a primeira onda folicular (Sheldon & Dobson, 2004). Durante este período e até à próxima gestação irão decorrer pelo menos 4 fases: involução uterina, regeneração do endométrio, eliminação da contaminação bacteriana e retorno da atividade cíclica dos ovários. (Sheldon et al., 2008). No caso dos bovinos, espécie poliéstrica contínua, o anestro de puerpério fisiológico é bastante breve, sendo assim possível iniciar uma nova gestação pouco tempo depois. Deste modo, um aumento deste período com doenças do puerpério será prejudicial para o desempenho reprodutivo do animal (Noakes et al., 2001).

O puerpério pode também ser dividido em três períodos distintos (Vieira, R. J., 2014):

1.

Período puerperal propriamente dito: inicia-se depois da expulsão do feto e continua até o sétimo ou décimo quarto dia, período em que a hipófise adquire a capacidade de resposta ao GnRH.

2.

Período intermediário: inicia-se com o aumento da sensibilidade da hipófise aos estímulos de GnRH produzida e libertada pelo hipotálamo, continuando até à primeira ovulação. Este período tem uma duração variável, pois diversos fatores interferem no tempo de ovulação, tais como: idade, nível nutricional, parto com complicações.

3.

Período pós-ovulatório: inicia-se após a primeira ovulação e estende-se até à completa involução uterina que, em condições normais, ocorre por volta da sexta semana pós-parto.

2.1 Involução Uterina

A expulsão do feto, das membranas e fluídos fetais, desencadeia os estímulos iniciais para que o útero recupere o tamanho de órgão pré-gestante e as características necessárias para uma nova gestação (Hafez & Hafez, 2004; Sheldon et al., 2008; Palmer, 2015). Porém, este processo só é dado como completo quando o útero retorna à dimensão de pré-gravídico e os cornos uterinos apresentam tamanho, consistência e tónus idênticos (Leslie, 1983).

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4

A involução uterina é caracterizada pela diminuição do tamanho do trato genital e do encolhimento fisiologico das miofibrilhas. O aumento da massa uterina durante a gravidez é devido ao aumento quer do colagénio quer do músculo liso (Noakes et al., 2001). Durante o processo de involução há uma diminuição do tamanho, com posterior necrose e destruição das carúnculas, assim como a regeneração do endométrio. A destruição das carúnculas uterinas contribui significativamente para a rápida diminuição de peso do útero, que passa de 13 Kg, na altura do parto, para 1 Kg em três semanas (Sheldon et al., 2008). As carúnculas separadas e necrosadas, juntamente com os restos de fluídos fetais e sangue do cordão umbilical formam as lóquias (Sheldon et al., 2008; Ptaszynska, 2009; Palmer, 2015).

A eliminação das lóquias ocorre em duas fases. A primeira fase inicia-se com a expulsão contínua até ao oitavo dia, seguindo-se a segunda fase. Nesta fase há expulsão gradual do restante lóquio presente no interior do útero, que ocorre desde o décimo dia até ao décimo quinto dia após o parto. Simultaneamente a este processo de eliminação, observa-se uma alteração tanto na consistência como na coloração do lóquio, que se inicia como um corrimento espesso, mucoide e com uma coloração vermelho acastanhado e termina num material purulento amarelo-esbranquiçado. O lóquio normal não apresenta um odor desagradável (Sheldon et al., 2006; Noakes, 2009; Palmer, 2015). Através da palpação retal, é possível avaliar o útero no pós-parto, sendo sentidas pregas longitudinais proeminentes devido à diminuição substancial de tamanho (Figura 1) (Palmer, 2003).

Figura 1 Útero pós-parto normal

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5

Nos primeiros quatro dias pós-parto, a involução uterina é rápida, tornando-se mais lenta até ao nono dia porque segue uma progressão logarítmica de involução (Emerick et al., 2009). É entre o tempo que decorre do parto e o terceiro dia pós-parto que ocorre a maior parte da involução (Leslie, 1983). Esta rápida diminuição inicial deve-se, sobretudo à vasoconstrição e ao efeito da oxitocina que é gerada durante as contrações uterinas que ocorrem a cada 3 a 4 minutos no primeiro dia após o parto, mas que podem estender-se até ao terceiro dia pós-parto (Leslie, 1983; Palmer, 2003). Com o passar dos dias, as contrações vão diminuindo de regularidade, de frequência, de amplitude e de duração, sendo que todo o útero já é palpável por via retal aos oito e aos dez dias pós-parto nas primíparas e multíparas, respetivamente (Noakes et al., 2001a; Noakes, 2009).

Designa-se o período que vai do quarto ao oitavo dia pós-parto de período refratário, pois o útero permanece praticamente inerte, uma vez que não responde aos estímulos hormonais responsáveis pela contratilidade, isto é, aos estímulos da oxitocina. A partir do décimo dia e até ao décimo quarto dia após o parto, o processo involutivo é reiniciado, devido às pequenas quantidades de estradiol libertado pelos folículos presentes nos ovários. Estas mudanças estendem-se até quatro a sete semanas após o parto, embora entre os vinte a vinte cinco dias não sejam muito percetíveis (Emerick et al., 2009).

Por último, é extremamente difícil, determinar o dia certo da conclusão da involução uterina, uma vez que as dimensões físicas podem não ser representativas das mudanças celulares e bioquímicas. Por outro lado, alguns fatores atrasam a conclusão deste processo, tais como, distócia, hipocalcemia, retenção de placenta, metrite e endometrite. Podendo até causar problemas de subfertilidade futura (Sheldon & Dobson, 2004).

2.2 Regeneração do endométrio

Para que haja restabelecimento do endométrio, deve ocorrer tanto a separação fisiológica da placenta como as contrações promovidas pela musculatura uterina. Ao longo deste processo as criptas endometriais deixam de ser profundas e ficam aplanadas, verifica-se uma diminuição das vilosidades cotilédonares devido à redução de fluxo sanguíneo e da colagenização dos espaços nos placentomas. Desta forma, durante os primeiros sete a dez dias após o parto é

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6

percetível a perda de líquido e tecidos, também designado de lóquio (Noakes et al., 2001; Emerick et al., 2009).

A maioria do lóquio é expulso nos primeiros dois a três dias e desaparece praticamente entre o décimo quarto e décimo oitavo dia (Sheldon & Dobson, 2004; Noakes, 2009). Este é constituído por substâncias remanescentes do fluído fetal, sangue dos vasos rompidos e células fagociticas (Emerick et al., 2009; Palmer, 2015). A presença deste corrimento é normal nas vacas, contudo, às vezes pode ser confundida com corrimentos anormalos por infeção uterina. Esta confusão leva muitas vezes a que os produtores solicitem o tratamento. O volume libertado varia de indivíduo para indivíduo, assim como depende da paridade da vaca, pois as primeiras libertam menor quantidade de lóquio, podendo até não existir libertação nenhuma (Noakes et al., 2001). Este fluído, por norma, é viscoso, amarelo-acastanhado ou até avermelhado, sem odor desagradável (Sheldon & Dobson, 2004). Quanto mais viscoso e inodoro for, melhor é o prognóstico reprodutivo (Emerick et al., 2009). Geralmente, ao nono dia o fluído fica avermelhado devido ao sangue e de seguida torna-se claro, com uma cor semelhante a linfa (Noakes et al., 2001).

A reepitelização das carúnculas está completa a partir do vigésimo quinto dia após o parto. Entre os quarenta e os sessenta dias após o parto, estes transformam-se em pequenas protusões (Noakes et al., 2001; Sheldon et al., 2008; Noakes, 2009).

2.3 Eliminação da contaminação bacteriana

As barreiras anatómicas contra a infeção bacteriana uterina são formadas pela vulva, vestíbulo, vagina e cérvix. Estas são colocadas à prova durante o parto e nos dias seguintes, pois podem permanecer dilatadas, facilitando assim a contaminação. Durante a gestação normal, o útero é estéril, uma vez que a cérvix se encontra fechada, mas durante o parto ou logo a seguir a este, os microrganismos presentes no ambiente, na pele e nas fezes do animal podem contaminar o útero (Sheldon & Dobson, 2004; Davidson & Stabenfeldt, 2013).

A prostaglandina F2α (PGF2α) é libertada antes do parto e irá atuar no corpo lúteo gravídico, provocando a sua luteólise e desencadeando assim o mecanismo do parto, mantendo-se em

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7

níveis elevados durante cerca de três semanas. A libertação desta hormona é condicionada pela contaminação bacteriana. Vários autores relatam que, quando a concentração desta hormona é elevada na altura do parto, o período de involução uterina é menor, assim como a colonização de bactérias do útero e o período de anestro pós-parto também são menores. Assim sendo, a administração de PGF2α exógena é utilizada com sucesso nos tratamentos em vacas com problemas uterinos no pós-parto (Berisha e Schams, 2005; Emerick et al., 2009).

Os fagocitos desempenham um papel fundamental na limpeza e defesa do útero. Os neutrófilos e macrófagos, são os maiores responsáveis pela fagocitose das bactérias e dos detritos e a sua ação geralmente inicia-se no segundo dia pós-parto. As contrações e as secreções do miómetrio também ajudam na remoção de bactérias potencialmente prejudiciais (Palmer, 2003).

Nas duas semanas seguintes ao parto, 85% a 93% das vacas de leite apresentam infeção uterina. Contudo, apenas 5% a 9% permanecem infetadas entre quarenta e sessenta dias após o parto (Leslie, 1983; Palmer, 2003). No lúmen do útero pós-parto há um crescimento de bactérias tanto aeróbias como anaeróbias (Sheldon & Dobson, 2004). Porém, são quatro as espécies que estão mais associadas a estas infeções, sendo elas a Escherichia coli, Trueperella pyogenes, Fusobacterium necrophorum e Prevotella spp. As três últimas parecem atuar de forma sinérgica, aumentando a probabilidade de doença uterina, assim como o risco de endometrite clínica e a sua gravidade (Sheldon et al., 2008). Assim, as contaminações bacterianas uterinas, quantitativa e qualitativamente, dependem de um equilíbrio entre os mecanismos de defesa do animal e do grau de agressão das bactérias ambientais (Davidson & Stabenfeldt, 2013)

2.4 Retorno à atividade ovárica cíclica

Outro dos processos fundamentais na fertilidade da vaca leiteira é o rápido reinício da atividade ovárica, porque só assim é possível atingir um intervalo entre partos ideal para rentabilizar a vida produtiva do animal (Sakagushi et al., 2004). Estes ciclos são mantidos através das interações endócrinas, parácrinas e autócrinas, sendo o seu eixo central o hipotálamo, responsável pela secreção da hormona libertadora de gonadotrofinas (GnRH). Esta exerce também influência sobre a hipófise anterior, estimulando esta a secretar a hormona folículo-estimulante (FSH) e a hormona luteinizante (LH), responsáveis pelo recrutamento, crescimento, diferenciação, seleção, atresia e ovulação dos folículos ováricos (Emerick et al., 2009).

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Durante a gestação há um período prolongado de inibição da ciclicidade, devido ao contínuo efeito da retroação negativa da progesterona secretada pelo corpo lúteo e pela placenta, tornando a hipófise temporariamente refratária no pós-parto. Deste modo, a vaca mantém-se comportamentalmente na fase de anestro, podendo este ser prolongado em vacas em aleitamento ou de alto rendimento quando, na ausência ou baixa produção de gonadotrofinas, os ovários estão quiescentes. Durante esta fase ocorrem ondas foliculares em que se desenvolvem numerosos folículos anovulatórios (folículos que não iram ovular), que se tornam atrésicos (Noakes et al., 2001).

Após o parto, há uma diminuição das concentrações das hormonas esteroides (estradiol e progesterona) para níveis basais, enquanto ocorre um aumento da concentração da FSH que estimula o aparecimento da primeira onda folicular, em cerca de sete a dez dias (Yavas & Walton, 2000; Noakes et al., 2001; Sheldon et al., 2008). Estes eventos ocorrem em todas as vacas no pós-parto, independentemente das doenças que possam ocorrer neste período, fatores ambientais ou défices dietéticos (Sheldon et al., 2008).

Na onda folicular, observam-se muitos folículos de pequenas dimensões, mas também de dimensões médias; folículos recrutados que irão desenvolver-se, até que um único folículo seja selecionado, aumentando de tamanho e tornando-se o folículo dominante (Noakes et al., 2001; Roche, 2006). Durante o crescimento deste folículo dominante, o mesmo vai adquirindo certas características que são pré-requisitos para o seu desenvolvimento. Assim, a falta de uma destas características conduz a um processo degenerativo e à sua atresia. A seleção do folículo dominante é um processo passivo, em que este adquire recetores para a LH nas células da granulosa (Emerick et al., 2009). Esta aquisição faz com que consiga responder à LH em detrimento da FSH, cuja concentração no sangue começa a diminuir para valores basais. A inibina, produzida pelos folículos em crescimento, é a maior responsável por este acontecimento (Berisha & Schams, 2005; Ambrose, 2015). Assim, serão atingidas as concentrações necessárias para promover o pico de LH necessário para que ocorra a ovulação e a inibição da FSH e, consequentemente, evitar que os outros folículos subordinados atinjam a dominância, isto é, através de mecanismo de feedback positivo e negativo, respetivamente, sobre a LH e FSH (Emerick et al., 2009).

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9

Segundo Sheldon et al., (2008), o primeiro folículo a atingir a dominância pode seguir três destinos distintos, sendo eles:

1. Ovulação e formação do primeiro corpo lúteo, com o reinício da atividade ovárica cíclica;

2. Atresia, com posterior aparecimento de uma ou mais ondas foliculares anovulatórias (anestro);

3. Formação de quisto folicular ovárico.

Segundo Emerick et al. (2009), o mais comum nas vacas leiteiras, é que a ovulação ocorra logo com o primeiro folículo dominante. Porém, para que tal aconteça é necessário que este folículo produza quantidades suficientes de estradiol e estimule a secreção pulsátil de LH (uma a cada hora) (Berisha & Schams, 2005). Para além disso, o fator de crescimento da insulina 1 (IGF-1) também influencia a ovulação, uma vez que estimula a atividade da aromatase das células da granulosa folicular e a síntese de estradiol, podendo atuar na hipófise e no hipotálamo, reduzindo a secreção de LH e atuando no ovário de forma a restringir a produção de estradiol (Noakes et al., 2001; Sheldon & Dobson, 2004).

Após a ovulação, ocorre a fase lútea que, em bovinos, termina com a apresentação de sinais de estro, dezoito a vinte e quatro dias depois. No entanto, estes sinais podem, por vezes, surgir com intervalos inferiores a catorze dias ou superiores a vinte e quatro dias (Noakes et al., 2001). Alguns autores afirmam que os ciclos mais longos poderão ser justificados pelo fato de o útero de alguns animais no pós-parto estar ainda com o endométrio comprometido, por exemplo, com uma endometrite subclínica, que impede a secreção de PGF2α, necessária para que ocorra a lúteolise no momento correto, por volta do décimo sexto dia do ciclo estrico. Por outro lado, o ciclo curto pode ocorrer devido aos oócitos serem oriundos dos folículos com anomalias e pelo ambiente inadequado do útero em detrimento da regressão precoce do corpo lúteo. Assim, tanto a ocorrência de ciclos curtos, como de ciclos longos tem sido relacionada com reduzida fertilidade (Emerick et al., 2009).

Durante o restabelecimento da função ovárica, o útero exerce uma importante influência sobre os ovários. Tem-se vindo a observar que geralmente as ovulações no puerpério ocorrem no ovário contralateral do corno anteriormente gravídico. Contudo, à medida que o tempo vai avançando, este efeito é menor (Noakes et al., 2001; Sheldon et al., 2002a).

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Por vezes, apesar de o reinício normal da atividade ovárica ocorrer como descrito, alguns fatores podem afetar este processo, alterando-o. Os principais fatores são a nutrição, raça, número de lactações, sazonalidade, clima, problemas no puerpério (tais como a retenção de placenta, gestação gemelar, parto distócico, hidropsia dos anexos fetais ou metrite puerperal) ou outras doenças debilitantes crónicas (como problemas de cascos, problemas de abomaso, acidose ruminal) (Noakes et al., 2001). Relativamente às afeções que surgem durante o puerpério, as infeções uterinas são as principais responsáveis pela alteração da função lútea e do crescimento folicular (Sheldon et al., 2008).

Foi observado por Sheldon et al. (2002a) que quando ocorrem infeções uterinas o crescimento do folículo dominante é menor. Além disso, verificaram que nestes casos a secreção de estradiol, diminuiu significativamente. Foi também observado que aquando desta afeção, não houve influência sobre a concentração plasmática de FSH, e consequentemente, do aparecimento da onda folicular. Desta forma, mesmo após a primeira ovulação pós-parto, nem todas as vacas continuam a ciclar e acabam por permanecer em anestro (Ambrose, 2015). Assim, a formação do corpo lúteo depois da primeira ovulação é considerada o reinício da atividade cíclica dos ovários (Sheldon et al., 2009).

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Metrite Puerperal

3.1 Definição

Do ponto de vista de um patologista a definição da infeção uterina é geralmente simples. Histologicamente, a metrite distingue-se da endometrite pela profundidade atingida pela inflamação (Sheldon et al., 2006; LeBlanc, 2008). Do ponto de vista clínico, há falta de precisão para esta definição, pois varia conforme os clínicos e os grupos de investigação, sendo o termo metrite usado de forma abrangente para descrever uma variedade de condições, não tendo em consideração o intervalo de dias pós-parto (Sheldon et al., 2006; Hillman & Gilbert, 2008). Contudo, é importante estabelecer uma terminologia coerente para evitar confusões de interpretação (Palmer, 2015).

Numa perspetiva patológica, a reação inflamatória grave das camadas do útero é designada de metrite. As camadas afetadas são a mucosa endometrial, submucosa e muscular (Bondurante, 1999; Sheldon et al., 2008). Em casos em que a metrite é mais grave, quando a inflamação atinge a serosa, é designada de perimetrite. E quando o ligamento largo é atingido, então, temos uma parametrite (Hillman & Gilbert, 2008; Jubb et al., 2016). Os sinais de metrite são a inflamação de todas as camadas do útero, com edema, infiltração de leucócitos e degeneração do miómetrio. Contudo, os primeiros dois sinais também podem ser indicadores de endometrite (Sheldon et al., 2006).

Segundo Sheldon et al. (2008), um animal que apresente o útero com volume aumentado devido à paragem no processo de redução de volume, com corrimento uterino vermelho-acastanhado, fétido e aquoso, associado a sinais de doença sistémicos, como a diminuição da produção leiteira, apatia ou sinais de toxemia e hipertermia (temperatura retal > 39,5ºC) durante os primeiros vinte e um dias pós-parto, deve ser considerado um caso de metrite clínica. Entretanto, foi também proposto por Sheldon et al. (2009) que as vacas fossem classificadas segundo os sinais clínicos demonstrados, o grau de gravidade e os dias pós-parto (entre os 0-21 dias). Assim, essa classificação divide-se em 3 (três) graus:

1. Grau 1 ou metrite sub-clínica- animais com o útero anormalmente aumentado de tamanho, com corrimento uterino purulento, mas sem sinais sistémicos de doença;

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2. Grau 2 ou metrite puerperal- animais com o útero anormalmente aumentado de tamanho, com corrimento uterino purulento, com diminuição do rendimento leiteiro, sinais de fraqueza e com febre (temperatura retal > 39,5ºC);

3. Grau 3 ou metrite toxica / séptica- animais com o útero anormalmente aumentado de tamanho, com corrimento uterino purulento, com diminuição do rendimento leiteiro e sinais evidentes de toxemia, tais como extremidades frias, inapetência, depressão e/ou colapso.

3.2 Etiopatogenia

A etiologia da metrite é multifatorial. Assim, a infeção puerperal uterina pode ser decorrente de uma falha nos mecanismos de imunidade do útero, contaminação bacteriana elevada do útero decorrente de trauma, distócia, retenção de placenta e pouca higiene, ou da conjugação de vários destes fatores (Mateus et al., 2002; Radostits et al., 2002). Isto é, há uma falha do sistema imunitário na transição de um estado deprimido, que ocorre para a manutenção da gestação, para um estado mais ativo e funcional, que é necessário para o pós-parto (LeBlanc, 2014).

3.2.1 Imunidade Uterina

No útero, os mecanismos de defesa compreendem mecanismos de imunidade inata e adquirida. (Drillich, 2006). A imunidade inata é o mecanismo principal responsável por combater a contaminação bacteriana presente no útero através de mecanismos de defesa anatómicos, fisiológicos, fagocíticos e inflamatórios (Sheldon & Dobson, 2004; Singh et al., 2008). Relativamente à defesa anatómica, esta tem um papel preventivo na contaminação bacteriana ascendente. Por outro lado, os mecanismos fisiológicos incluem o muco excretado pelo cérvix e pela vagina, principalmente durante a fase do estro (Sheldon & Dobson, 2004).

No que diz respeito ao mecanismo fagocitário, o principal componente são os neutrófilos. Os neutrófilos polimorfonucleares (PMN) são as células fagocitárias que desempenham o papel mais importante no combate à contaminação uterina na vaca (Hammon & Goff, 2006). Estes atuam como primeira linha de defesa celular, sendo os primeiros a serem recrutados da circulação sanguínea periférica para o lúmen uterino. No lúmen, vão fagocitar e eliminar as

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bactérias, contribuindo também para a formação de pús (Sheldon & Dobson, 2004). Porém, os mecanismos responsáveis pela ativação da fagocitose e eliminação das bactérias encontram-se diminuídos no período que antecede o parto. Esta diminuição é ainda mais acentuada nos animais com metrite, comparativamente a animais sem infeção uterina. Esta diminuição está associada ao balanço energético negativo (BEN), determinado pelo aumento das concentrações sanguíneas de ácidos gordos não-esterificados (AGNEs) e pela diminuição da ingestão de matéria seca (Bondurant, 1999; Hammon et al., 2006).

Na defesa do útero, os macrófagos entram em ação desempenhando um papel fundamental na resposta imunitária, através do reconhecimento dos componentes bacterianos, nomeadamente, as endotoxinas e peptidoglicanos. Estes dois últimos são os responsáveis pela ativação da resposta imunitária das células endometriais. Esta ativação ocorre através dos recetores de reconhecimento-padrão existente no endométrio e ligam-se aos padrões moleculares associados aos microrganismos patogénicos (PAMPs) (Sheldon & Dobson, 2004). Estes recetores são constituídos por recetores tipo “toll” (TLR), que irão ativar a cascata de sinalização por intermédio da libertação de histamina e de citoquinas pró-inflamatórias, onde estão incluídas o fator de necrose tumoral (TNF-α) e as interleucinas (IL), principalmente as IL-1 e a IL-6 (Földi et al., 2006).

As citoquinas provocam pirexia e providenciam uma retroação positiva como forma de aumentar a mobilidade de células imunitárias. Também são responsáveis pela estimulação hepática das proteínas de fase aguda. Estas atuam como o principal meio de ativação da resposta desta fase, revelando parâmetros importantes na avaliação da gravidade das infeções uterinas, no trauma ou na previsão da fertilidade (Hirvonen et al., 1999; Sheldon & Gobson, 2004).

Num animal com metrite puerperal, uma das proteínas que se encontra elevada é a α-1-glicoproteina ácida (GPA ácida), continuando elevada durante várias semanas após o parto. Contudo, não permite diferenciar infeções uterinas, pois as concentrações elevadas foram relacionadas, sobretudo com as dificuldades no parto (Hirvonen et al., 1999). Por outro lado, a haptoglobina, em animais com metrite puerperal grave aumenta significativamente (Huzzey et al., 2009).

Por fim, as endotoxinas e os peptidoglicanos, que estão associados à infeção uterina vão influenciar também a secreção de prostaglandina das células do endométrio, estimulando a

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secreção de prostaglandina E2α (PGE) em vez de PGF2α (Sheldon et al., 2009). Este acontecimento explica o porquê de nas infeções uterinas os animais apresentam concentrações de PGE elevados no lúmen uterino. A prostaglandina para além de exibir função luteolítica, também aparenta possuir propriedades imunossupressoras e anti-inflamatórias, que poderão favorecer a função dos neutrófilos (LeBlanc, 2008). A sua secreção resulta da inflamação no útero ou fora dele que, posteriormente, evolui para uma infeção (Mateus et al., 2002). Aliás, segundo diversos autores, a secreção intensa de prostaglandina é responsável pelo atraso do processo involutivo do útero bem como pelo aumento da prevalência e gravidade das infeções no útero (Lewis, 1997; Mateus et al., 2002; Földi et al., 2006).

A regulação do sistema imunitário do endométrio depende das hormonas esteroides, das somatotrofinas e possivelmente, de proteínas reguladoras locais, nomeadamente as galactinas (Sheldon et al., 2009). Estas hormonas reprodutivas interagem entre si, influenciando a função imunitária do trato reprodutivo (LeBlanc, 2008). Quando o útero está sob influência da progesterona, no diestro, há uma inibição da resposta imunitária, enquanto que, quando é o estrogénio a dominar o ambiente uterino, no estro, o sistema imunitário está completamente regulado. Assim, no diestro, comparativamente ao estro, as vacas estão mais sujeitas a infeções uterinas (Lewis, 1997).

Foi observado por Kaczmarowski et al. (2006), que vacas com metrite, apresentam um aumento da progesterona durante as semanas seguintes ao parto. Este aumento de progesterona vai inibir a produção de muco cervical, a contratilidade miométrica, a secreção glandular uterina, bem como a atividade fagocítica dos PMNs do útero, criando assim as condições necessárias para que uma infeção uterina se instale. Contudo, no que respeita à imunidade uterina das vacas de leite, a interação entre PGF2α e a progesterona não está completamente compreendida (LeBlanc, 2008). Aparentemente, o estrogénio influencia positivamente a imunidade uterina das vacas. Nestes animais, logo após o parto, há uma diminuição drástica das concentrações de estradiol, mantendo-se em níveis baixos durante as primeiras semanas. Nos animais com metrite, os níveis desta hormona demoram mais tempo a atingir níveis normais do que em animais saudáveis, o que vai provocar um atraso no reinicio da atividade ovárica e, consequentemente, um aumento no período de anestro (Kaczmarowski et al., 2006).

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3.2.2 Contaminação e infeção bacteriana

No período pré-parto, como já foi referido anteriormente, o lúmen do útero é, em condições normais, estéril. Durante e após o parto, as barreiras anatómicas estão comprometidas, assim como ocorre algum grau de imunossupressão (Smith & Risco, 2002; Sheldon & Gobson, 2004). As bactérias entram então no trato genital provenientes do ambiente, da pele ou das fezes do animal, de forma ascendente, contaminando o canal do parto e a cavidade uterina (Sheldon & Gobson, 2004). Esta contaminação é uma situação dinâmica, uma vez que para além da contaminação durante o parto, posteriormente pode haver uma nova contaminação espontânea durante as primeiras semanas pós-parto (Palmer, 2015). Durante este período, apesar do grande e diverso número de espécies bacterianas que contaminam o útero, não é necessariamente causada uma infeção, uma vez que a contaminação é passageira. Assim, no futuro poderá não haver interferência na fertilidade (Palmer, 2003). Sheldon et al. (2004), realizaram quatro estudos de forma a ilustrar que nas primeiras duas semanas após o parto, 80 a 100% das vacas apresentam contaminação bacteriana (Figura 2).

A superfície do endométrio forma uma barreira epitelial e impede a invasão bacteriana para os tecidos adjacentes, assim como a corrente sanguínea (Credille et al., 2014). Para que uma contaminação evolua para uma infeção uterina é necessário que as bactérias patogénicas adiram à mucosa uterina por um tempo mais prolongado e posteriormente haja colonização ou

Figura 2 Incidência da contaminação bacteriana durante os primeiros 60 dias

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penetração do epitélio, com posterior libertação de toxinas (Földi et al., 2006; Azawi et al., 2007). Todavia, o facto de estar presente uma infeção uterina, não leva necessariamente à manifestação clinica da metrite puerperal. Isto vai depender do estado imunitário do hospedeiro, isto é, do balanço entre a capacidade imunitária do hospedeiro e a patogenicidade do agente infecioso (Földi et al., 2006; Sheldon et al., 2009; LeBlanc, 2014).

A inflamação pode ser considerada fisiológica ou patológica, dependendo da gravidade, do momento e da duração do processo inflamatório, assim como da sua capacidade de influenciar a eficiência reprodutiva (LeBlanc, 2014). Devido ao facto de o útero ser um ambiente quente, cheio de líquido e com uma quantidade variável de detritos necróticos, é um ambiente ótimo para o desenvolvimento bacteriano (Palmer, 2003). O líquido presente no útero é constituído por muco, sangue e tecido, favorecendo o crescimento de espécies aeróbias, anaeróbias e anaeróbias facultativas (Smith & Risco, 2002).

As bactérias que são recolhidas no útero podem não ser causa da doença. A presença de certas bactérias, como a de Staphilococcus coagulase-negativo e Streptococcus α-hemoliticos, diminui o risco de contaminação (Sheldon, 2009). Contudo, podem influenciar a resposta bacteriana inibindo a ação de alguns antibióticos (Olson et al., 1986). Segundo a literatura, as bactérias que foram isoladas no útero, de acordo com o grau de patogenicidade, podem ser classificadas da seguinte forma (Sheldon & Gobson, 2004; Williams et al., 2005):

1. Bactérias patogénicas uterinas reconhecidas, associadas a lesões do endométrio: T. pyogenes, E. coli, F. necrophorum e P. melaninogenica;

2. Bactérias potencialmente patogénicas, frequentemente isoladas do lúmen uterino de bovinos e casos de endometrite, mas não especificamente com lesões uterinas: Bacillus licheniformis, Enterococcus faecalis, Mannheimia haemolytica, Pasteurella multicida, Staphylococcus aureus;

3. Bactérias contaminantes oportunistas isoladas transitoriamente de lúmen uterino e não associadas à endometrite: Clostridium perfingens, Klebsiela pneumoniar, Micrococcus spp, Proteus spp., Staphylococcus spp, Aspergillus spp.;

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As bactérias que mais são associados a doenças uterinas clinicas são os aeróbios Trueperella pyogenes e Escherichia coli e os anaeróbios Fusobacterium necrophorum e Prevotella melaninogenica (Sheldon & Gobson, 2004). Nas primeiras duas semanas, o mais comum é serem encontradas infeções provocadas por um ou mais agentes. Entre eles estão a T. pyogenes, E. coli, Pseudomonas spp., Streptococcus spp., Pasteurela multocida, Clostridium spp., Fusobacterium spp. e Bacteroides spp.. Por outro lado, após três ou quatro semanas do parto, o número e variedade de espécies diminui drásticamente (LeBlanc, 2008).

A E. coli logo após o parto é dos agentes bacterianos com maior importância presentes no útero das vacas, porque a sua colonização e penetração do endométrio irá influenciar o desenvolvimento de infeção uterina por agentes como a T. pyogenes e F. necrophorum (Azawi et al., 2007). A quantidade de lóquio presente nos primeiros dois dias é fundamental para o crescimento e multiplicação da E. coli levando assim, à libertação de lipopolissacarídeos (endotoxinas) que, por sua vez, vão favorecer o desenvolvimento de posteriores infeções uterinas provocadas por outras bactérias, principalmente se houver retenção placentária ou distócia (Dohmen et al., 2000).

A T. pyogenes é a bactéria que está mais consistentemente associada à inflamação crónica. Este anaeróbio facultativo oportunista, gram-positivo, está na maioria das vezes presente, juntamente com uma outra grande variedade de organismos. Geralmente, está associado o F. necrophorum, P. melaninogenica, E. coli ou Streptococcus spp. (Sheldon, 2009). Também se verificou que algumas bactérias atuam sinergicamente de forma a aumentar a probabilidade e gravidade da doença. Sendo estas bactérias a T. pyogenes, a F. necrophorum e P. melaninogenica. Assim, a T. pyogenes produz um fator de crescimento para a F. necrophorum. Por sua vez, esta produz uma leucotoxina, que permite o desenvolvimento da T. pyogenes. e a P. melaninogenica produz uma substância que inibe a fagocitose (Sheldon & Gobson, 2004). Quanto às secreções produzidas, verifica-se um corrimento mucoso e fétido, que está diretamente associado a um aumento da densidade bacteriana. As bactérias E. coli e A. pyogenes estão relacionadas com um corrimento com odor fétido, contrariamente ao F. necrophorum e P. melaninogenica. Também pode aparecer este corrimento uterino no caso de o crescimento bacteriano estar relacionado com a Mannhemia haemolytica e Streptococcus não hemolítico (Williams et al., 2005). Em casos raros, também podem ser encontrados, Clostrídeos no

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corrimento de vacas recém-paridas e, quando estas bactérias provocam infeção, é grave e pode mesmo levar à morte do animal (Smith & Risco, 2002; Youngquist & Shore, 2007).

Por último, acredita-se que a contaminação bacteriana que causa infeção uterina irá geralmente resultar em involução uterina tardia e danos nos embriões, causando redução da fertilidade. Esta infeção também esta associada a alterações no padrão do crescimento folicular nos ovários ipsilaterais da gravidez anterior e interrupção na fase lútea (LeBlanc, 2008).

3.2.3 Infeção Vírica

Dos microrganismos virais, o único que está estreitamente associado a afeções uterinas em bovinos é o herpes vírus bovino tipo 4 (HVBo-4) (Donofrio et al., 2009). Como diversos outros vírus, este pode estabelecer infeções latentes, nomeadamente nos macrófagos. Geralmente é identificado em conjunto com bactérias que são responsáveis pela metrite. Este vírus tem um elevado tropismo para as células do endométrio, tendo assim, uma rápida replicação, o que leva a uma rápida morte das células do estroma e do endométrio (Sheldon et al., 2009). O HVBo-4 tem sido observado na maioria dos casos, associado a algumas bactérias puerperais, nomeadamente, a T. pyogenes e Streptococcus spp. (Monge et al., 2006). Por fim, talvez a melhor forma de prevenção deste vírus no trato genital será a identificação dos fatores de transcrição celular específicos do hospedeiro (Sheldon et al., 2009).

3.3 Epidemiologia

3.3.1 Incidência e prevalência

É difícil de determinar a real frequência de uma doença numa população ou a nível geral, pois mesmo explorações geograficamente próximas e com características semelhantes podem apresentar resultados completamente diferentes. Isto porque, o maneio das explorações, as condições de higiene, a produção leiteira e outros fatores irão influenciar os resultados. Cada vez mais, os produtores têm consciência dos impactos que as doenças acarretam para uma exploração, assim como há uma melhor capacidade de diagnosticar as doenças, através de

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novos softwares de gestão de dados, que permitem entender o verdadeiro impacto a nível económico. Por outro lado, isto não parece fazer com que a incidência das doenças, neste caso da metrite, esteja a diminuir (Palmer, 2015).

Durante o puerpério dos bovinos de leite, a metrite puerperal é uma das afeções com maior incidência, surgindo maioritariamente nos primeiros sete dias após o parto (LeBlanc, 2008). Nas primeiras duas semanas pós-parto, a prevalência de metrite varia entre 25 a 40 % (Sheldon et al., 2008). Porém, acompanhada por sinais sistémicos, como a hipertermia, a prevalência pode variar entre 18,5 a 21% (Sheldon et al., 2009). Num estudo realizado por Suthar et al. (2013), foram registadas as incidências de diversas doenças que ocorrem no pós-parto, nomeadamente a metrite. Este estudo envolveu 528 explorações, com um total de 5.884 vacas, de 10 países diferentes, entre os quais Portugal. Em Portugal a incidência foi de 7,2% em 1000 vacas de 113 explorações diferentes. Destas 1000 vacas, 98% eram de raça Holstein-Frísia, 1,2% cruzadas de Holstein-Frísia e 0,8% eram Jersey, Parda Suíça, e outras raças (exceto cruzadas de Holstein) (Tabela 1).

Tabela 1 Incidência de metrite puerperal em 10 países diferentes calculada a partir de amostragens de dimensões

diferentes (Adaptado de Suthar et al., 2013)

País Nº de explorações Nº de vacas Incidência de metrite (%) Itália 66 470 24,9 Servia 42 384 18,5 Polónia 11 294 11,6 Croácia 7 283 3,2 Eslovénia 24 271 4,0 Hungria 24 270 13,3 Portugal 113 1000 7,2 Espanha 100 1093 13,2 Alemanha 117 947 4,0 Turquia 24 872 3,7 Total 528 5884 9,6

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No mesmo ano, Andrade (2013), realizou um estudo em duas explorações no centro no país, onde foram incluídas aleatoriamente, 35 vacas, Holstein-Frísia, de cada exploração, todas na primeira ou segunda lactação. Ambas as explorações tinham o regime de produção intensiva. E foi observado uma incidência de metrite de 27 e 14% em cada exploração.

3.3.2 Fatores de risco

Associado ao aparecimento de uma metrite puerperal podemos encontrar os seguintes fatores de risco: estação do ano; tamanho da exploração; número de lactações; idade; condição corporal (demasiado elevada ou baixa); falta de higiene na exploração; retenção de placenta; afeções metabólicas, nomeadamente, hipocalcemia ou cetose; e complicações durante o parto, como nados mortos, distócia, partos gemelares ou abortos (Malinowski et al., 2010). Estes fatores favorecem o aparecimento e desenvolvimento de infeções bacterianas, assim como podem aumentar a gravidade de infeção. Estas são observadas nas explorações tanto pelo produtor como pelo Médico Veterinário (Smith & Risco, 2002).

3.3.2.1 Fatores associados ao animal 3.3.2.1.1 Raça, idade e número de lactações

Segundo Földi et al. (2006), os bovinos com aptidão para leite, têm maior probabilidade de desenvolver metrite puerperal do que os bovinos de carne. Foi realizado um estudo epidemiológico em bovinos de leite, tendo em conta a raça do animal. Neste estudo, verificou-se que a raça Guernverificou-sey é a que tem maior probabilidade de deverificou-senvolver metrite, verificou-seguida da raça Jersey, depois a Holstein e, por último, a raça Ayrshire (Erb & Martin, 1978). Além da predisposição genética, as vacas de leite são mais propensas devido ao stresse provocado pela alta produção. Também é preciso considerar que nestes animais há um maior controlo do que nas vacas de carne, tanto individualmente como a nível geral da exploração, daí serem diagnosticados mais facilmente casos de metrite (Palmer, 2015).

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Relativamente à influência da idade na metrite puerperal, foram realizados diversos estudos. Num desses, já antigo, foi verificado que é mais provável o aparecimento de metrite entre dois e os quatro anos. A probabilidade de aparecer após os 4 anos é bastante mais baixa e mantem-se praticamente idêntica até aos dez anos de idade (Erb & Martin, 1978). Por outro lado, noutro estudo realizado por estes mesmos autores no Canadá, verificou-se que a incidência é maior nas vacas com idades superiores aos dez anos; um pouco mais baixa, mas ainda assim elevada, em vacas com idades compreendidas entre os sete e os dez anos; e mais baixa entre os dois e os quatro anos de idade (Erb & Martin, 1980).

No que diz respeito ao número de lactações, Giuliodori et al. (2013), afirmam que as vacas primíparas têm maior risco de desenvolver metrite puerperal comparativamente com aquelas que apresentam maior número de lactações, pois nas primeiras lactações é mais frequente a assistência do proprietário ou do Médico Veterinário durante o parto, aumentando assim, também, o risco de contaminação. Desta forma, à medida que o número de nascimentos aumenta, as infeções tendem a diminuir. Segundo outros autores, a maior incidência de metrite nas vacas primíparas dá-se devido ao facto destes animais apresentarem maior percentagem de nados-mortos e de apresentarem um aumento da condição corporal antes do parto quando o maneio nutricional não é adequado (Meyer et al., 2001; Machado & Bicalho, 2015).

3.3.2.1.2 Estação do ano

A relação da época do ano com o aumento do aparecimento de metrite no pós-parto tem sido um tema controverso (Smith & Risco, 2002). Alguns autores afirmam que durante os meses de inverno, a saúde geral das vacas é mais reduzida porque o ambiente mais húmido e conspurcado, tornam as vacas mais suscetíveis à infeção (Benzaquen et al., 2007). Além disso, o peso do feto geralmente é maior nos partos de Inverno, o que favorece a ocorrência de distócias (Sieber et al., 1989). Assim, foi verificado que as que pariam no verão apresentam menor probabilidade de desenvolver metrite, comparativamente com aquelas que parem no inverno (Benzaquen et al., 2007). Por outro lado, Kadzere et al., (2002), verificaram que nos meses mais quentes, o stresse térmico afeta as funções fisiológicas dos animais, o que poderá aumentar a incidência de algumas doenças, nomeadamente a retenção placentária e a metrite puerperal.

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Em contrapartida, diversos autores não encontraram nenhuma relação entre a estação do ano e o aumento de incidência de metrite (Kaneene & Miller, 1994; Garcia et al., 2004; Dolezel et al., 2008).

3.3.2.1.3 Complicações durante o parto

As complicações que surgem relacionadas com o parto estão diretamente associadas à metrite puerperal. Estas complicações podem estar relacionadas com o parto de forma direta, como por exemplo, nados mortos, partos de gémeos, fetotomia ou extração forçada do feto, ou então de forma indireta, como por exemplo, pela retenção de placenta, deslocamento do abomaso, hipocalcemia ou cetose (Smith & Risco, 2002; Bicalho et al., 2010; Martinez et al., 2012).

Segundo o estudo realizado em 2004 por Garcia et al., há uma maior incidência de metrite puerperal em casos de partos distócicos ou em animais que abortam. Benzaquen et al. (2007), após realizarem um estudo epidemiológico, verificaram que os partos distocicos são considerados um dos fatores de risco mais importantes para o aparecimento de metrite puerperal. É responsável pela introdução de agentes patogénicos no interior do útero devido à necessidade de realização de manobras obstétricas, quando não são seguidas as devidas condições de assépsia. Também neste estudo foi referido que durante o parto há um stresse adicional que leva à diminuição da resistência às infeções.

Foi sugerido que há um maior risco no parto associado a fetos machos, isto porque estes geralmente tem um maior peso fetal, o que pode aumentar o risco de distócia (Duffield et al., 2008b; Machado & Bicalho, 2015). Bicalho et al. (2010), verificaram que aumentava 1,6 vezes a probabilidade de contaminação intrauterina por E. coli quando o nascimento era de um vitelo macho, comparativamente com fêmeas.

O parto de gémeos também representa um fator de risco para afeções puerperais, nomeadamente para a metrite puerperal. Segundo Markusfeld (1987), este fato deve-se a um período de gestação mais reduzido e atraso na involução uterina, o que irá interferir no processo de involução uterina. Para Bicalho et al. (2010), no caso de gestações gemelares, aumentou 4,4

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vezes a probabilidade de contaminação intrauterina com E. coli, comparativamente com as vacas que pariam apenas um vitelo.

Relativamente à relação do aborto com a metrite, esta está associada com as causas que provocam o aborto. Contudo, no gado bovino, esta é maioritariamente de causa infeciosa (Garcia et al., 2004). Porém, espécies bacterianas como T. pyogenes, Bacillus spp. e Streptococcus spp. também podem ser responsáveis por abortos esporádicos nas explorações (Djønne, 2007). Por fim, também se observou que o parto de nado morto é um fator de risco para a metrite puerperal, devido ao trauma intrauterino provocado durante o parto, que irá favorecer o desenvolvimento de infeções bacterianas (Markusfeld, 1987).

3.3.2.2 Fatores associados ao maneio

3.3.2.2.1 Tamanho da exploração, sistema de produção e condições de higiene da maternidade

Em explorações maiores, há um aumento da incidência de metrite puerperal (Kaneene & Miller, 1994; Bruun et al., 2002; Garcia et al., 2004). O que pode ser explicado pelo aumento da densidade populacional nas maternidades, principalmente nas épocas de maior parição, o que leva as maternidades a apresentarem altos níveis de contaminação bacteriana (Smith & Risco, 2002). Por outro lado, segundo Kaneene & Miller (1994), este aumento de incidência nas explorações de maiores dimensões é somente aparente e ocorre pelo facto de haver um maior controlo médico veterinário e da implementação de programas de saúde no pós-parto, uma vez que há um maior controlo na deteção e no registro das afeções. Por outro lado, Földi et al. (2006), afirmam que a dimensão da exploração pode ter impacto no aparecimento de metrite, mas pelo motivo contrário, porque nas explorações de menor dimensão a higiene das maternidades é superior pois tem menor ocupação, pelo que resulta numa menor acumulação de espécies bacterianas patogénicas nas camas.

No que diz respeito ao sistema de produção, existe uma menor incidência de metrite quando os partos ocorrem em zonas de pasto. Isto porque, o ambiente no qual ocorre o parto é menos conspurcado e menos propenso a causar contaminação bacteriana que num meio de estabulação (Kaneene & Miller, 1995).

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O nível de higiene das instalações, nomeadamente na maternidade durante o parto, foi indicado como um dos fatores que pode contribuir para o aparecimento de metrite. Mas a sua relevância é menor do que aquela verificada nos problemas relacionados com o parto (Palmer, 2015). Em Inglaterra foi realizado em estudo que comparava duas explorações com diferentes condições de higiene. Não foram verificadas diferenças significativas na contaminação bacteriana nas amostras recolhidas das vacas recém-paridas. Contudo, os elevados padrões de higiene devem ser um ponto fundamental no maneio das explorações, de modo a evitar o aparecimento de metrites e de outras afeções que possam afetar a reprodução do animal e consequentemente a sua produção (Noakes et al., 1991).

3.3.2.2.2 Nutrição

Vários fatores nutricionais estão envolvidos no desenvolvimento de metrite puerperal. O conhecimento desses fatores ajuda a avaliar o risco de ocorrência e a elaborar medidas preventivas, estando a metrite relacionada principalmente com o tipo de maneio alimentar durante o período seco (Könyves et al., 2009). O estado nutricional das vacas leiteiras está intimamente ligado à manutenção de uma imunidade adequada. Os requisitos nutricionais vão variando ao longo do ciclo de produção. Assim, um mau cumprimento destes requisitos irá resultar em respostas disfuncionais e distúrbios de saúde (Sordillo, 2013). Os comportamentos da alimentação e da ruminação são de particular interesse para a identificação precoce das doenças. Estes comportamentos envolvem parâmetros da alimentação ativa, tais como o tempo de alimentação, a quantidade de consumo de alimento e a taxa de alimento ingerido (Schirmann et al., 2016).

A ruminação tem sido associada à deteção de ansiedade, desconforto devido à doença (como a metrite) ou distúrbios metabólicos. Foram observadas alterações na ingestão da matéria seca e do tempo gasto na alimentação nos dias anteriores ao parto em vacas que posteriormente foram diagnosticadas com metrite ou cetose subclínica no pós-parto (Schirmann et al., 2016).

Num estudo realizado em 2016 verificou-se que vacas com metrite, concomitantemente ou não com outra doença, vão menos frequentemente ao comedouro, permanecendo lá menos tempo. Contudo, alimentam-se mais rápido, comparativamente às vacas saudáveis. Isto porque quando

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as vacas se sentem doentes, são menos capazes de competir com sucesso pelo alimento e então aproveitam os poucos momentos que tem para se alimentar rapidamente (Schirmann et al., 2016).

Podem-se então enunciar como fatores de risco relacionados com o maneio nutricional do pré-parto no desenvolvimento da metrite, os níveis de condição corporal elevados e o inadequado fornecimento de dieta. Estes, no final da gestação e durante a fase inicial da lactação predispõem ao aparecimento de balanço energético negativo (BEN). O seu aparecimento contribui para o surgimento de diversas outras doenças, como a síndrome do fígado gordo e cetose ou mesmo um estado de imunossupressão (Könyves et al., 2009).

No início da lactação, as reservas de energia corporal são utilizadas para o desenvolvimento e manutenção fetal, assim como para a produção leiteira. Durante esta fase, a quantidade de energia necessária para a manutenção dos tecidos corporais e para a produção de leite excede a quantidade de energia que a vaca consegue obter a partir dos alimentos. Assim, a elevada necessidade de energia nesta fase, resulta num balanço energético negativo que geralmente começa uns dias antes do parto e atinge o máximo negativo cerca de duas semanas depois do parto (Kim & Suh, 2003).

A quantidade de energia disponível vai depender da ingestão e da utilização de matéria seca. Esta utilização de matéria seca é determinada pelas alterações adaptativas fisiológicas, metabólicas e endócrinas, tais como a adaptação da microflora do rúmen e do epitélio ruminal, que são influenciadas pelo equilíbrio ácido-base (Könyves et al., 2009). Embora no final da gestação haja uma diminuição fisiológica da ingestão de matéria seca, fatores que diminuam ainda mais a ingestão de matéria seca ou as adaptações ruminais aumentam a gravidade do BEN e consequentemente metrite puerperal. Estes fatores incluem uma condição corporal elevada, defeitos de maneio, fatores ambientais que causam desconforto, como por exemplo, stresse térmico (Kim & Suh, 2003; Könyves et al., 2009). Segundo Könyves et al. (2009), a determinação plasmática de AGNEs nas duas últimas semanas antes do parto, é um forte indicador de um desenvolvimento de BEN e consequentemente de metrite puerperal. Assim, valores de AGNEs > 0,200 mmol/l indicam maior risco.

O sistema de pontuação da condição corporal é um método útil para avaliar as reservas de energia corporal e é amplamente utilizado para avaliar o estado nutricional em vacas. Durante

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Figura 1 Útero pós-parto normal  (retirado de: Palmer, 2003)
Figura 2 Incidência da contaminação bacteriana durante os primeiros 60 dias pós- pós-parto segundo vários estudos
Tabela 1 Incidência de metrite puerperal em 10 países diferentes calculada a partir de amostragens de dimensões  diferentes (Adaptado de Suthar et al., 2013)
Figura 3 Amostras típicas do carácter do muco vaginal: grau 0 corresponde a muco claro translúcido; grau 1,  muco com flocos de pus branco; grau 2, muco com 50% de material mucopurulento branco ou acinzentado; grau  3, muco com 50% de material purulento, g
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Referências

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