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Estima-se que aproximadamente 720.000 pessoas adquirem IRAS nos hospitais brasileiros por ano, sendo que 20% deste total evoluem para óbito. Estas infecções podem estar associadas ao ambiente hospitalar e surgem durante seu confinamento, acometendo mais de 15% dos pacientes internados (BARROS et al., 2012).

Por definição, as IRAS compreendem aquelas adquiridas após a admissão do paciente e que se manifesta durante a internação ou após a alta, quando puder ser relacionada com a internação ou procedimentos hospitalares (Portaria nº 2616/1998, ANVISA/MS). O termo IRAS foi criado para reconhecer que tais agravos não ocorrem exclusivamente em situações de internação hospitalar, mas podem estar associadas ao contato do paciente com outras modalidades assistenciais, como atendimento ambulatorial, serviços de cuidados domiciliares, entre outros (STRATEVA et al., 2007; DALTOÉ, KUCHENBECKER e WAGNER 2008).

As mãos dos profissionais de saúde representam uma importante fonte de transmissão de infecção por P. aeruginosa no hospital, e é um dos mais valorizados e importantes aspectos de epidemiologia, por tratar-se de cadeia de transmissão de doenças. A literatura enfatiza o potencial disseminador de micro-organismos por contaminação através das mãos dos profissionais. Considerando a colonização preceder uma infecção, a fonte do micro-organismo e o modo de transmissão nem sempre são esclarecidos.

Observa-se que pacientes internados em instituições de saúde apresentam exposição a uma ampla variedade de agentes patogênicos, em particular na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Nestas unidades críticas são admitidos pacientes em estado grave que necessitam de monitoramento, intervenções terapêuticas, procedimentos médicos e de enfermagem de maneira contínua. Esses pacientes apresentam grande risco de adquirir infecção hospitalar em virtude da gravidade do quadro clínico (como no caso de doenças de base associadas) e do uso frequente de procedimentos invasivos. Entretanto, a UTI apresenta tecnologia aplicada à assistência hospitalar, que viabiliza o prolongamento da sobrevida do paciente, em situações muito adversas. Apesar do grande avanço no manejo diagnóstico e terapêutico proporcionado pelos centros de tratamento intensivo, o aumento do risco de IRAS é um evento esperado durante a evolução dos pacientes críticos (MOURA et al., 2007; OLIVEIRA; KOVNER e SILVA, 2010; BARROS et al., 2012).

No Brasil, os índices de IRAS permanecem altos e com maior incidência nos hospitais universitários, quando comparado aos outros hospitais. Este aumento está atribuído a diversidade de doenças, os procedimentos de alta complexidade, o tempo de internação prolongado e grande fluxo de pessoas contribuem para infecção (BARROS et al., 2012).

Durante hospitalização, o recém-nascido (RN) fica exposto a diferentes procedimentos invasivos, favorecendo o desenvolvimento de infecções mais graves, elevando

as taxas de morbidade e mortalidade. Registros indicam que as taxas gerais de IRAS em UTI neonatal nos países desenvolvidos ficam em torno de 8,4 a 26%. No entanto, no Brasil, a UTI neonatal de nível terciário possui taxas de infecção em torno de 18,9 a 57,7%, considerando que as possíveis causas nas taxas elevadas de infecção podem estar relacionadas às condições de trabalho e estrutura física da UTI neonatal, além do número de profissionais distribuídos por leito, os quais muitas vezes não atendem a necessidade real de desinfecção do ambiente (PINHEIRO et al., 2009; RANGEL, SOUZA e OLIVEIRA 2012).

Entre os micro-organismos mais frequentemente associados às IRAS nos pacientes internados em UTI estão os Cocos Gram positivos seguido dos bacilos Gram negativos. No entanto, tem sido observado frequentemente o aumento na prevalência dos bacilos Gram negativos não fermentadores, dentre os quais podemos citar a P. aeruginosa sendo comum em relatos de eventos de resistência aos antibióticos e em surtos de infecção (OLIVEIRA et al., 2009; BARROS et al., 2012).

A espécie P. aeruginosa foi isolada pela primeira vez por Gessard em 1882 a partir de pus esverdeado, denominada Bacillus pyocyaneus (PIER e RAMPHAL, 2010). Posteriormente, a espécie foi recuperada em uma variedade de infecções humanas de sepse neonatal, sepsis graves, infecções pulmonares agudas e crônicas. É importante ressaltar que a P. aeruginosa está entre os agentes mais comuns em infecções, como a urinária (35 a 45%), ferida cirúrgicas e pneumonia com ventilação mecânica (10 a 25%) (PAVIANI et al., 2004; FIGUEIREDO et al., 2007).

Em estudos do programa SENTRY a P. aeruginosa corresponde ao quinto agente mais frequente responsável por bacteremias (GRAF et al., 2008; FERREIRA e LALA, 2010). Complementando os dados, Fernandes et al. (2010), destacam este micro-organismo como a principal causa de óbito em pacientes oncológicos, considerado como o quarto agente mais

isolado em infecções de corrente sanguínea no Instituto de Oncologia Pediátrica em São Paulo.

Os serviços de UTI, neonatologia e clínica cirúrgica são ambientes que apresentam fluxo intenso de antibioticos, e representam um habitat favorável, que alberga bactérias com grande possibilidade de se tornarem resistentes às drogas padronizadas pelo hospital. Alguns fatores contribuem para a seleção de linhagens Multirresistente (MR) e extra resistentes (XP), que são atribuídos a imunodepressão do pacientes, pacientes queimados, procedimentos invasivos, mecanismos de ação das drogas e o nível do antibiótico que atinge a população bacteriana (GUTIÉRREZ et al., 2007; BURJANADZE et al., 2007; PICOLI, 2008; MAGIORAKOS et al., 2011; CLIMACO, 2011).

A classificação de linhagens de P. aeruginosa como multirresistentes e panrresistentes é definida como segue (CLIMACO, 2011; MAGIORAKOS et al., 2011):

i) Multirresistentes (MR): Define-se como MR a ocorrência de resistência a pelo menos três antimicrobianos de diferentes classes como: carbapenema (imipenem, meropenem), cefalosporinas anti-pseudomonas (ceftazidima e cefepime), fluoroquinolona (ciprofloxacina), aminoglicosídeos (gentamicina e amicacina), e b-lactâmicos com inibidor (piperacilina-tazobactam).

ii) Extra-resistentes (XP) ou Panrresistentes: são as linhagens resistentes a todas as classes acima citadas, inclusive aos monobactâmicos e Polimixina B.

A literatura revela que os fatores de risco usualmente implicados nas infecções hospitalares causadas por P. aeruginosa envolvem geralmente o uso de ventilação mecânica na insuficiência respiratória, disfunção neurológica associada à presença de traqueostomia, doença de base, nos extremos de idade, uso de procedimentos invasivos e antibioticoterapia no hospital, além do próprio ambiente da UTI que favorece a seleção natural de micro-

organismos (LISBOA et al., 2007; BARROS et al., 2012; OLIVEIRA, KOVNER E SILVA, 2010).

Oliveira, Kovner e Silva (2010) ao analisarem 146 isolados bacterianos com 8,9% de P. aeruginosa, constataram que os dados obtidos foram de acordo com a literatura, este obteve uma taxa de 20,3% de IRAS com média de permanência hospitalar de 19,3 dias, com taxa de letalidade de 39,5% relacionando os resultados com os fatores de risco para aquisição de infecção hospitalar.

Em estudo realizado na Suécia com pacientes internados num tempo acima de 48 horas de hospitalização, dos quais 196 pacientes desenvolveram um total de 364 episódios de infecção hospitalar, após uma mediana de 8 a 10 dias de internação, em que se teve prolongamento de permanência no hospital por 8 a 9 dias, dobrando o risco de óbito. Observaram-se neste estudo como principais fatores de risco de infecção: i) o sítio cirúrgico; ii) a pneumonia; iii) infecção de corrente sanguínea e iv) infecção do trato urinário (APPLEGREN et al., 2001).

Em análise de regressão múltipla, as principais variáveis para infecção foram: i) cateter venoso central; ii) ventilação mecânica; iii) dreno pleural e iv) trauma com fratura exposta, este último aumentando o risco superior a duas vezes, principalmente devido o sítio cirúrgico. Os autores concluíram que os pacientes poli-traumatizados com fratura exposta representaram o maior risco de infecção em UTI a despeito do baixo índice de gravidade (APPLEGREN et al., 2001).

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