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3. A EVOLUÇÃO DA PESQUISA EM AQUISIÇÃO DE VOCABULÁRIO EM L2

3.5 A INFERÊNCIA

No uso oral ou escrito da L2, o aprendiz nem sempre tem acesso a um dicionário ou à possibilidade de pedir por esclarecimento com relação a um determinado vocábulo. Sendo assim, a possibilidade de inferir tal vocábulo do contexto pode garantir uma compreensão mais eficaz e completa do texto alvo. Boni (2003) atribui ao processo da inferência a possibilidade de uma forma linguística adquirir significado para que esta seja então compreendida pelo aprendiz.

Para Boni (2003), durante uma atividade de interpretação textual, a semântica e a sintática podem ser compreendidas e aprimoradas via contextualização do vocábulo alvo, pois, “uma vez que o item tem sido adicionado ao léxico dentro de uma forma mais ou menos primitiva (e às vezes contendo especificações semânticas e sintáticas inadequadas ou errôneas com relação à norma da língua alvo), seu uso continuado especificará gradualmente a informação adicional” (BONI, 2003, p. 60).

Para Ellis (1994), a base de aprendizagem lexical está na capacidade de inferência do aprendiz, incluindo as estratégias inclusas nesse processo. Para o autor, alguns aprendizes têm dificuldades para adquirir o léxico porque não inferem apropriadamente os significados dos novos itens lexicais.

Assim como Ellis (1994), Schmitt (2008) atribui valor ao ensino de estratégias para a obtenção do significado de um item lexical, pois admite que o contexto possa ser o principal meio para a aquisição de vocabulário, mas defende que para este ter utilidade são necessários alguns pré-requisitos, como ter certo nível de proficiência linguística, incluindo a habilidade de decodificar a forma das novas palavras.

Schmitt (2008) também defende que o aprendiz tenha conhecimento sobre o assunto tratado no texto – conhecimento extralinguístico – e saiba como utilizar-se da estratégia da inferência. Outro item essencial para o autor é a riqueza do contexto, que deve conter pistas que possibilitem o descobrimento do significado da palavra e estejam diretamente relacionadas à palavra-alvo. Semelhantemente, Boni (2003) ressalta que:

Um problema lógico na inferência dos significados de palavras desconhecidas, a partir das adjacências do texto, é que ao passo que um contexto rico fornecerá pistas para o significado

pretendido que pode ser auxiliado na inferência das características das palavras desconhecidas, o leitor pode achar desnecessário inferir para tratar estes tipos de palavras porque o significado global já foi compreendido. Entretanto, se o aprendiz observa com atenção a nova palavra, alguma informação adicional, sobre sua categoria sintática e funções gramaticais, pode geralmente ser extraída com base na própria forma da palavra e nos arredores da estrutura sintática (BONI, 2003, p. 59).

Schmitt (2008) defende também que o texto esteja de acordo com o nível dos aprendizes. Em seus estudos, o autor mostra que as pistas depreendidas do contexto – como afixos e a ordem sintática, por exemplo – variam de acordo com a língua materna do aprendiz, de modo que o aprendiz pode recorrer aos cognatos de L1 de acordo com a proximidade entre as duas línguas. Aliás, a aprendizagem de segunda língua é vista como intrinsecamente dependente do ensino de estratégias pelo professor e do entendimento sobre a importância das estratégias utilizadas pelos aprendizes para seu desenvolvimento lexical.

Schmitt (2008) ainda trata como importante a consulta a materiais de apoio, como dicionários bilíngues, por exemplo, pois embora sejam limitados linguisticamente, se comparados aos monolíngues, são úteis para aprendizes de diferentes níveis, pois um vocábulo específico pode ser compreendido mais facilmente se o aprendiz fizer a correlação em sua mente entre o significado e significante, evitando assim o dispêndio de tempo com um processo de inferência nem sempre frutífero.

Paiva (2012) compartilha da mesma opinião, pois “acreditar que a tradução atrapalha a aprendizagem é uma crença arraigada em muitos professores de língua estrangeira. No entanto, a tradução precisa ser vista como uma estratégia que pode ser útil na compreensão de certos trechos de um texto, ou mesmo como uma prática social presente em alguns momentos da vida de muitos de nós” (PAIVA, 2012, p. 38).

Outra estratégia que pode ser utilizada na descoberta de um item lexical é o uso da interação social ou “andaime” (scaffolding), que é a ajuda que um aprendiz recebe de outras pessoas, tais com professor, colega ou parente, por exemplo (PAIVA, 2012), com a esse auxílio dado sob diferentes formatos, tais como tradução, paráfrase, sinônimo ou dica de estudo a respeito do item lexical desconhecido pelo aprendiz.

Paribakht e Wesche (1997) defendem que tanto a semântica quanto a sintática têm apreensão facilitada quando em contexto. Em seus estudos, as autoras têm dedicado pesquisas ao processo de leitura extensiva seguida por exercícios que facilitem a aprendizagem de determinado item pelo processo de leitura extensiva como um processo de entendimento mais genérico, que sozinho pode não ter todo seu potencial linguístico bem utilizado pelo aprendiz. Como um dos resultados de seu trabalho, Paribakht e Wesche (1997) puderam constatar que as palavras de conteúdo são mais facilmente apreendidas devido a seu caráter referencial mais lógico do que as palavras de estrutura. Desse modo, o aprendiz pode deixar de “notar” itens importantes e/ou novos dentro de determinado contexto.

Assim, a pesquisa de Paribakht e Wesche (1997) visa demonstrar quão enriquecedor é para o aprendiz o trabalho com atividades de entendimento especifico, como os questionários, por exemplo. Nessa tarefa, o aprendiz utiliza-se, em maior ou menor grau, de comparações entre L2 e L1, marcas de pontuação, conhecimento extratextual, associação de palavras, conhecimento gramatical e contextualização para inferir o significado de um item desconhecido, pois o indivíduo precisa tecer uma série de considerações sintáticas e semânticas a respeito da palavra ao encontrar-se obrigado a pensar sobre determinado item.

Em texto anteriror a Paribakht e Wesche (1997), Schmidt (1994) considera como enormes os ganhos lexicais para o vocabulário do aprendiz quando os termos linguísticos desconhecidos são notados, tendo o aprendiz de refletir a seu respeito mesmo que seja em breves exposições aos termos.