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CAPÍTULO 6. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

6.3. Inferências no Contexto Geológico Regional

O alinhamento de grãos primários, inequivocamente ígneos como os de plagioclásio, marcam uma estrutura ígnea bem definida que remete a fluxo magmático concomitante ao processo de cristalização do batólito. Por outro lado, o paralelismo entre lineação ígnea e a orientação preferencial de forma de grãos inequivocamente metamórficos, como actinolita, indica que esse fluxo magmático foi possivelmente controlado por um campo de tensões associado a um processo de metamorfismo/deformação regional. Nesse sentido, as análises microestrutural, química e de paragênese sugerem uma colocação sin-tectônica para a suíte Alto Maranhão e esse campo de tensões teria atuado desde a fase liquidus e se prolongado até o limite de rigidez dos agregados (subsolidus), onde a quantidade disponível de melt já não era suficiente para evitar a interação intergranular, levando à ativação de mecanismos de microfraturamento, deformação plástica intracristalina, e em menor grau, recristalização dinâmica.

A evidência mais provável que os aspectos microestruturais predominantes são fruto de uma possível colocação sin-tectônica, pode ser observada na estação do Retorno, a qual embora apresente maior proporção de feições de deformação, exibe na amostra RV-1, um paralelismo entre o alinhamento de plagioclásios ígneos e foliação marcada pela biotita/actinolita.

A esse contexto de colocação sin-tectônica, são atribuídos o alinhamento mineral ígneo, responsável pela orientação preferencial de forma, preservação de forma euédrica a subédrica do plagioclásio e possivelmente feições de deformação intracristalina de baixo grau. A geração da foliação marcada pela biotita, poderia ser atribuída à fase subsolidus, sob um campo de tensões regional. Deduz-se ainda, pela análise microestrutural, que o sistema não se encontrava plenamente solidificado, uma vez que os plagioclásios conservaram suas típicas feições ígneas e se alinharam conforme a orientação marcada pela foliação. Além do mais, são nítidas as feições de afloramentos que remetem a não completa solidificação da rocha hospedeira durante a intrusão do magma mais máfico, fato exemplificado pela pasta de cristais de plagioclásio de granulação grossa (crystal mush) no interior dos enclaves. Posteriormente, como evidenciado pela análise da paragênese mineral, a transformação da hornblenda ígnea em actinolita, ocorreu como consequência da reação de fluidos tardi-magmáticos, onde as feições de baixo grau associam-se à deformação em estado subólido.

Conforme objetivo inicial desse trabalho, torna-se inevitável e necessária a integração dos dados obtidos no âmbito de influência dos lineamentos Jeceaba-Bom Sucesso e Congonhas-Itaverava. Para tanto, nas próximas linhas, buscou-se correlacionar os dados obtidos a modelos tectônicos vigentes encontrados na literatura (Endo 1997, Alkmim & Marshak 1998, Campos & Carneiro 2004).

A sequência metavulcanossedimentar associada ao lineamento Congonhas-Itaverava apresenta grande complexidade em relação às idades obtidas, apresentando aparentemente, derivação de fontes toleíticas paleoproterozoicas, embora haja contribuição de variadas fontes arqueanas na porção basal, sendo a idade de deposição máxima de 2,349 Ga ± 14 Ma (Teixeira et al. 2015). Dessa forma, o próprio significado tectônico atribuído ao desenvolvimento do lineamento Congonhas-Itaverava também é alvo de grande especulação. Contudo, sua influência para a estruturação da suíte Alto Maranhão, é evidenciado regionalmente pelo balizamento desse lineamento a NE da suíte Alto Maranhão. Tal influência é corroborada em aspectos microestruturais, onde o padrão de orientação preferencial de forma para os agregados de quartzo e plagioclásio apresentam correspondência com a direção verificada por esse lineamento. Observa-se claramente a orientação preferencial dos eixos maiores dos grãos na direção NW- SE, para as estações RV-b, RV-c e RV-d, como mostrado na figura 4.45.

Doutro modo, a disposição apresentada pelo lineamento Jeceaba-Bom Sucesso NE/SW, coincide com as análises de orientação preferencial de forma, efetuadas na estação Ponte Funda, situada na porção SW, em limite extremo da suíte Alto Maranhão. De forma análoga ao lineamento Congonhas-Itaverava, verifica-se que os contornos da suíte Alto Maranhão são também influenciados por esse lineamento, em sua área de abrangência. A interação entre ambos os lineamentos, conferem um aspecto em forma de arqueamento à suíte Alto Maranhão.

Levando-se em conta o contexto de atuação do evento Transamazônico, há que se pontuar que os estudos recentes (Seixas et al. 2013) revelam que a origem da suíte Alto Maranhão teria se dado como produto da fusão do manto metassomatizado, em ambiente de arco oceânico. Por si só, tal conclusão implica necessariamente no fato que a referida suíte não teve sua intrusão associada ao clímax da convergência ocorrida durante o evento Transamazônico, mas em eventos colisionais imediatamente anteriores, que envolveram a subducção de crostas oceânicas pretéritas. Tal inferência encontra-se ainda em consonância com a idade obtida para a suíte Alto Maranhão, que data de 2,13 Ga (Noce 1995, Seixas et al. 2013), enquanto os estágios finais da convergência transamazônica, com a geração de cinturões de dobramento e cavalgamento se deram por volta de 2,1 Ga (Alkmim & Marshak, 1998). Os plútons

Contribuições às Ciências da Terra – Série M, vol. 78, 169p.,2019

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associados aos arcos oceânicos e continental do Cinturão Mineiro, encontram-se atualmente bem definidos por Noce et al. (2000), Ávila et al. (2010), Seixas et al. (2012), Seixas et al. (2013), Ávila et al. (2014); Barbosa (2015), Barbosa et al. (2015), Teixeira et al. (2015), Moreira et al. (2018), apresentando espectro de idades que varia de 2,47 G.a - 2,18 a 2,09 G.a. A relação de tais plútons encontra-se detalhada no capítulo 2.

Alguns modelos abordam a mecânica e cinemática envolvidas durante a colagem resultante do evento Transamazônico. Entre eles, o modelo proposto por Campos (2004) e Campos & Carneiro (2008) enfatiza a importância e significado do lineamento Jeceaba-Bom Sucesso na configuração atual dos plútons do Cinturão Mineiro. Foram propostos então, com base no referido modelo, três estágios de evolução tectônica, onde no primeiro, houve consumo de crosta oceânica, acunhada para leste, por meio de uma dupla subducção. No segundo estágio, após o consumo completo da crosta oceânica, teria ocorrido colisão frontal arco-continente, com vergência de SW para NE, por volta de 2,1 Ga. O terceiro estágio representaria a finalização do consumo da crosta oceânica e consequente colisão continental. Nesse sentido, o lineamento Jeceaba-Bom não representaria o locus original da colagem ou aglutinação correspondente. De fato, o desenvolvimento inicial desse lineamento vem sendo considerado como extensão paleogeográfica da bacia Minas, em uma espécie de calha crustal que foi preenchida por metassedimentos do Supergrupo Minas (Neri et al. 2013). No entanto, durante o terceiro estágio dessa evolução tectônica, o lineamento Jeceaba-Bom Sucesso teria funcionado como uma grande zona de transferência sinistral.

Da mesma forma, o lineamento Congonhas-Itaverava, apresenta evidências que remetem à cisalhamento direcional dextral, os quais foram posteriormente sobrepostos por movimentos de cisalhamento sinistrais (Endo 1997). Nesse âmbito, teria funcionado também como zona de transferência durante a convergência do arco magmático (Noce 1995).

A junção de tais ideias justifica a configuração atual dos plútons do Cinturão Mineiro em função da combinação de deslocamentos ocorridos ao longo desses lineamentos, culminando no paralelismo das estruturas da porção central e leste da suíte Alto Maranhão em relação ao lineamento Congonhas- Itaverava.

A associação desse modelo com os dados obtidos e debatidos previamente permitem inferir que durante a movimentação ocorrida ao longo desses lineamentos, os plútons situados na posição central e leste, associados à suíte Alto Maranhão, não se encontravam plenamente solidificados até sua

movimentação para a posição correspondente ao lineamento Congonhas-Itaverava, recebendo, portanto, influência do campo de tensões associado a essa movimentação. Nesse sentido, propõe-se que a suíte Alto Maranhão esteja associada ao contexto da conjugação desses movimentos, onde a porção a oeste foi influenciada pela movimentação direcional de sentido sinistral, ocorrida ao longo do lineamento Jeceaba- Bom Sucesso, enquanto as porções centrais e leste receberam influência do movimento dextral ocorrido no lineamento Congonhas-Itaverava, posicionando-as paralelamente ao mesmo.

O intervalo temporal associado ao deslocamento desde a intrusão (fase liquidus) até a completa solidificação (fase solidus) da suíte Alto Maranhão, corresponde, ao intervalo subsolidus. Nesse sentido, a estimativa de duração desse estágio pode ser obtida por meio de dados geocronológicos já obtidos, uma vez que a titanita ígnea associada à ilmenita foi datada por Noce 1995, apresentando a idade de 2,124 ± 2 Ga. Já a idade de cristalização obtida por esse mesmo autor e ratificada por Seixas et al. 2013, foi obtida em zircão, correspondendo a 2,130 ± 2 Ga. Pela diferença das duas idades e considerando-se as temperaturas de bloqueio de ambos os minerais, sugere-se que o intervalo representado pela fase subsolidus para a suíte Alto Maranhão, corresponde, aproximadamente a 6 milhões de anos.