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O Inferno é para as Crianças

No documento Seal Team Six - Howard E. Wasdin (páginas 185-200)

Quando criança, aprendi a suportar forças que estavam além do meu controle. Minha mãe deu-me à

luz quando contava apenas dezesseis anos de idade — uma criança, gerando outra criança —, no dia 8 de novembro de 1961, na Clínica Gratuita Weems, em Boynton Beach, na Flórida. Ela não podia arcar com as despesas de um hospital normal. Nascido prematuramente, dois meses antes do que seria de esperar, com olhos castanhos e cabelos negros, eu pesava apenas 1,42 kg. A clínica era tão pobre que não possuía sequer uma incubadora, algo de que alguém tão pequenino como eu necessitava. Eu era tão

pequenino, e um carrinho de bebê pareceria tão grande, que minha mãe, literalmente, levou-me para casa dentro de uma caixa de sapatos. Em casa, o cestinho para bebês também pareceu tão grande que eles simplesmente puxaram uma gaveta de uma cômoda, acolchoaram o fundo com cobertores e me colocaram ali. Era onde eu dormia.

Minha mãe, Millie Kirkman, tinha ascendência escocesa; e uma cabeça tão dura quanto os tijolos das paredes. Ela não demonstrava suas emoções e nenhuma flexibilidade

diante da vida, trabalhando duro, todos os dias, em uma oficina de costura, para ajudar a sustentar as

minhas irmãs e a mim.

Provavelmente eu tenha herdado dela a minha própria cabeça dura; minha atitude de recusa a desistir, apenas porque alguém acha que é a coisa certa a fazer — até o ponto disto chegar a ser um defeito de caráter.

Quando eu tinha nove anos de idade, ela me disse que Ben Wilbanks, meu pai biológico, havia fugido e nos abandonado. Eu o odiei

por isso.

A lembrança mais antiga que tenho da minha infância é de West Palm Beach, na Flórida, de quando eu contava quatro anos e fui despertado, no meio da noite, por um homem enorme, exalando um cheiro de bebida alcoólica. Seu nome era Leon, e minha mãe estava saindo com ele. Ela o conhecera enquanto trabalhou como garçonete, em um bar de beira de estrada.

Eles acabavam de chegar de um encontro. Leon arrancou-me do leito superior de um beliche,

perguntando-me por que eu fizera uma coisa errada, naquele dia. Então, ele me esbofeteou, acertando- me no rosto, até que eu pudesse sentir o gosto do meu próprio sangue. Esta era a maneira de Leon ajudar minha mãe a fazer com que seu filho homem andasse “na linha”.

Isto foi apenas o começo. Nem sempre essas coisas aconteciam à noite. Quando quer que chegasse em casa, Leon tomava para si a tarefa de “disciplinar-me”. Eu vivia

mortalmente assustado —

temendo pelo próximo encontro que a Mamãe marcasse. Eu sentia como se o meu coração fosse saltar para fora do peito. Quão terrível será a

surra, desta vez? Eu podia levar

uma surra quando Leon chegasse em casa, enquanto minha mãe se preparava para sair em companhia dele, ou quando ambos voltassem para casa, mais tarde. Leon não era nada parcimonioso, quando se tratava de me aplicar uma surra.

Certo dia, após o término da aula, no jardim de infância, eu fugi. Propositalmente, entrei no ônibus

escolar errado. Esse sujeito não vai

mais me bater. Vou cair fora daqui.

O ônibus levou-me até a periferia da cidade, a uma zona rural. Eu não tinha ideia sobre onde me encontrava. Restavam apenas algumas poucas crianças no ônibus quando ele parou. Um garoto levantou-se para sair, e eu o segui. O garoto caminhou por uma estradinha de terra batida, até sua casa. A esta altura, eu não sabia o que fazer: aos cinco anos de idade, eu não havia me dedicado a pensar muito sobre isso. Continuei a

caminhar, até chegar a uma casa, no final da estradinha de terra. Então, fiquei por ali, fora da casa, sem saber bem o que fazer, a não ser me manter longe da estrada, para evitar ser visto.

Cerca de duas horas depois, um homem e uma mulher chegaram e me encontraram, sentado, na varanda dos fundos de sua casa, longe da visão de quem pudesse passar pela estrada.

— Qual é o seu nome? —, perguntou-me a mulher.

— Você deve estar com fome. O casal levou-me para dentro da casa e me alimentou. Algum tempo depois, a mulher disse:

— Sabe, nós temos de encontrar os seus pais. Levar você de volta para casa.

— Não, não! —, disse eu. — Por favor, por favor, não chame a minha mãe! Será que eu não poderia viver aqui, com vocês?

Eles riram.

Eu não sabia o que poderia ser tão engraçado, mas não contei a eles sobre a minha situação. — Não, não

chame a minha mãe! Será que eu não posso apenas morar com vocês?

— Não, querido! Você não compreende? A sua mãe deve estar morrendo de preocupação! Qual é o número do seu telefone?

Honestamente, eu não sabia. — Onde você mora?

Tentei explicar a eles como chegar à minha casa, em Lake Worth, na Flórida; mas o ônibus tomara tantas estradas sinuosas e fizera tantas curvas que eu já não podia mais me lembrar. Afinal, eles me levaram de volta à minha escola.

Lá, encontraram a minha tia, que procurava por mim.

Meu plano de fuga havia falhado. Menti à minha mãe, dizendo-lhe que tomara o ônibus errado por engano.

Dentro de um ano ou dois, minha mãe se casaria com Leon.

Pouco tempo depois, nós nos mudamos para Screven, na Geórgia, onde tivemos de ser ouvidos por um juiz. No carro, a caminho da audiência, minha mãe me disse:

— Quando virmos o juiz, ele irá perguntar se você deseja que o Sr. Leon seja seu pai. Você deve dizer a

ele que sim.

Leon era a última coisa do mundo que eu desejaria ter em minha vida, mas eu sabia muito bem que seria melhor se eu dissesse “sim”; pois, se não o fizesse, seria morto ao voltarmos para casa. Então, cumpri com o meu dever.

No dia seguinte, antes que eu fosse para a escola, meus pais me disseram:

— Você, diga a todos, lá na escola, que o seu sobrenome não é mais Wilbanks. Agora, você se chama Wasdin.

Assim eu fiz.

Agora, eu era um filho adotivo, e tinha de ver Leon todos os dias. Quando um leão toma para si uma leoa com filhotes, ele os mata, a todos. Leon não me matou; mas fez- me pagar por qualquer coisa que eu não tivesse feito de maneira exatamente correta. Às vezes, mesmo que as coisas tivessem sido feitas corretamente, eu também pagava.

Nós tínhamos algumas nogueiras no quintal. Meu trabalho era apanhar todas as nozes que caíssem no chão.

Leon era um motorista de caminhão e, quando chegava em casa, se ouvisse uma única noz estourando debaixo de seus pneus, era o meu traseiro que sofria. Não importava se algumas nozes tivessem caído das árvores desde o momento em que eu tivesse terminado de recolher todas as outras: a culpa seria minha, por não haver feito o trabalho com dedicação suficiente. Quando chegava em casa, voltando da escola, eu tinha de ir diretamente para o meu quarto e me deitar sobre a cama, para que Leon me

chicoteasse impiedosamente, usando um cinto.

No dia seguinte, quando usava o banheiro, na escola, eu tinha de desgrudar minhas cuecas do sangue seco e das feridas em meu traseiro, para que pudesse me sentar. Eu nunca dirigi minha raiva contra Deus, mas, às vezes, eu pedia a Ele: “Deus, por favor, mate Leon.”

Depois de tantos maus-tratos, cheguei ao ponto de não temer mais quando o cinto de um homem de 113 kg cortava minhas costas, meu traseiro e minhas pernas. Acalme-se.

No documento Seal Team Six - Howard E. Wasdin (páginas 185-200)

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