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Influência da carga na acumulação de açúcares nos diferentes órgãos

4. Resultados

4.3. Influência da carga na acumulação de açúcares nos diferentes órgãos

Numa primeira abordagem, avaliou-se se havia diferenças entre as árvores consideradas de carga alta (CA) e as de carga baixa (CB). No método da 2-cianoacetamida (doseamento de açúcares redutores) constatou-se, apenas, diferenças significativas em R2 e R. No R2, como se pode verificar no Quadro 2, a carga alta apresenta valores sempre

40 significativamente superiores aos da carga baixa na 3ª colheita e nas duas extracções (etanol e água). Isto deve-se ao facto da 3ª colheita coincidir com o início do crescimento do fruto e portanto este órgão funciona como sink, acumulando os ramos de dois anos (mais próximos do fruto) maior quantidade de translocados.

Quadro 2 - Comparação entre a carga alta e carga baixa nos ramos de dois anos na extracção etanol (ETOH) e água (H2O) ao longo do tempo (doseamento com 2-

cianoacetamida em mg/L).

Carga

1ª Colheita 2ª Colheita 3ª Colheita 4ª Colheita ETOH H2O ETOH H2O ETOH H2O ETOH H2O Alta 8038.7 a 1074 a 7206.7 a 1746 a 12 184 a 1425 a 8802.7 a 2051 a

Baixa 7720.7 a 1008 a 7106 a 1472.3 a 8990 b 881.3 b 6735.7 a 1671.3 a

p-value 0.6436 0.6499 0.8867 0.1141 0.0389 0.0117 0.1141 0.0737

EPM 326.75 95.266 469.03 96.001 745.84 87.288 725.14 111.47 Nota: Teste de comparação múltipla de médias de Tukey HSD para α=0,05, letras diferentes em coluna indicam valores

estatisticamente diferentes, EPM - Erro padrão da média.

Apesar de nem sempre configurarem diferenças significativas, através do Quadro 2 constata-se que os valores da carga alta nos ramos de dois anos são tendencialmente superiores aos da carga baixa.

Verificou-se também que, nas raízes do extracto etanólico, os dados obtidos para a carga alta eram significativamente superiores aos obtidos para a carga baixa, mas apenas na quarta colheita (Quadro 3).

Quadro 3 – Comparação entre a carga alta e carga baixa na raiz na extracção etanol (ETOH) e água (H2O) ao longo do tempo (doseamento com 2-cianoacetamida em mg/L).

Carga

1ª Colheita 2ª Colheita 3ª Colheita 4ª Colheita ETOH H2O ETOH H2O ETOH H2O ETOH H2O Alta 8317.7 a 861 a 7134.7 a 1193.7 a 9133.7 a 749.33 a 9230.7 a 787.67 a

Baixa 7323.3 a 562.67 a 7809 a 1060.3 a 10372 a 720.33 a 5917.7 b 784.33 a

p-value 0.6436 0.0968 0.0996 0.4699 0.499 0.9196 0.0072 0.9776

EPM 1407.2 97.608 223.3 118.24 1179.3 190.74 464.08 78.834 Nota: Teste de comparação múltipla de médias de Tukey HSD para α=0,05, letras diferentes em coluna indicam valores

41 Estes resultados sugerem que a diferença entre cargas não é muito clara, o que se pode justificar por a “Cobrançosa” ser uma cultivar pouco alternante e bastante regular. Talvez se se aumentasse o número de plantas em cada carga, esta diferença se atenuasse ainda mais e provavelmente não haveria diferenças em nenhum órgão.

No método de Somogyi-Nelson, nas amostras sem hidrólise (doseamento de açúcares redutores apenas) constatou-se diferenças no R3, em ambas as extracções mas em datas de colheita diferentes (Quadro

4) e no tronco apenas na extracção de etanol (Quadro 5).

Através do Quadro 4 pode-se observar, como já foi referido, a existência de diferenças na extracção de etanol na segunda colheita, sendo que as árvores em safra apresentaram valores sempre mais elevados do que as árvores em contra-safra, excepto na quarta colheita. Na extracção de água, as árvores em contra-safra diferem estatisticamente das árvores em safra, podendo-se constatar que as árvores em contra-safra apresentam valores sempre superiores às árvores em safra, excepto na primeira colheita.

Quadro 4 – Comparação entre a carga alta e carga baixa nos ramos de três anos na extracção etanol (ETOH) e água (H2O) nas amostras sem hidrólise ao longo do tempo

(doseamento com Somogyi-Nelson em mg/L).

Carga

1ª Colheita 2ª Colheita 3ª Colheita 4ª Colheita ETOH H2O ETOH H2O ETOH H2O ETOH H2O Alta 2815.3 a 453.33 a 3269.3 a 684.67 a 3208 a 282 a 3132 a 470.67 b

Baixa 2535.3 a 258.67 a 2726 b 799.33 a 2868 a 462 a 3656 a 631.33 a

p-value 0.5046 0.3701 0.0405 0.3172 0.1221 0.3289 0.0557 0.0471

EPM 270.41 136.44 128.65 71.005 122.92 114.57 138.81 40.072 Nota: Teste de comparação múltipla de médias de Tukey HSD para α=0,05, letras diferentes em coluna indicam valores

estatisticamente diferentes, EPM - Erro padrão da média.

Relativamente ao tronco observou-se apenas diferenças significativas na extracção de etanol na terceira colheita, sendo os valores da carga alta significativamente superiores aos da carga baixa.

42 Quadro 5 - Comparação entre a carga alta e carga baixa no tronco na extracção etanol (ETOH) e água (H2O) nas amostras sem hidrólise ao longo do tempo (doseamento com

Somogyi-Nelson em mg/L).

Carga

1ª Colheita 2ª Colheita 3ª Colheita 4ª Colheita ETOH H2O ETOH H2O ETOH H2O ETOH H2O Alta 2564 a 522 a 2144.7 a 609.33 a 3082 a 362 a 2764 a 245.33 a

Baixa 2626.7 a 259.33 a 1761.3 a 425.33 a 2527.3 b 316 a 2638 a 260.67 a

p-value 0.8265 0.2690 0.6879 0.5054 0.0425 0.5976 0.7923 0.9134

EPM 189.45 144.84 627.17 178.05 133.52 56.804 316.51 93.594 Nota: Teste de comparação múltipla de médias de Tukey HSD para α=0,05, letras diferentes em coluna indicam valores

estatisticamente diferentes, EPM - Erro padrão da média.

Nos restantes órgãos não há diferenças estatisticamente significativas, no entanto, é importante referir que existe uma grande heterogeneidade nos valores mais altos, ou seja, consoante a data de colheita e o tipo de extracção por vezes os valores mais altos pertencem às árvores em safra (CA) e outras vezes pertencem às árvores em contra-safra (CB). Estes aspectos reforçam mais uma vez a ideia de que não haverá no olival grande diferença entre cargas e que um delineamento mais robusto, com um número de plantas superior, revelará isso mesmo.

Nas amostras com hidrólise, permitindo detectar os açúcares redutores já presentes no extracto e os obtidos da hidrólise de outros (Quadro 4), constata-se que apenas há diferença na extracção da água na terceira colheita em que as árvores em contra-safra apresentam valores superiores às árvores em safra. No Quadro 4 observa-se também que as árvores de carga baixa apresentam valores superiores às árvores de carga alta na quarta e na segunda colheita, observando-se o inverso na primeira colheita.

Estes valores são superiores aos obtidos com o método de Somogyi-Nelson directo (ver Anexo G e Anexo H), o que se justifica pelo contributo adicional proveniente da hidrólise.

43 Quadro 6 – Comparação entre a carga alta e carga baixa nos ramos com mais de três anos

na extracção de água (H2O) nas amostras com hidrólise ao longo do tempo (doseamento com Somogyi-Nelson em mg/L).

Carga

1ª Colheita 2ª Colheita 3ª Colheita 4ª Colheita

H2O H2O H2O H2O

Alta 909.33 a 772 a 294.67 b 284 a Baixa 658.67 a 1081.3 a 716 a 644 a p-value 0.2795 0.1623 0.0129 0.1439

EPM 141.82 127.85 69.744 140.33

Nota: Teste de comparação múltipla de médias de Tukey HSD para α=0,05, letras diferentes em coluna indicam valores

estatisticamente diferentes, EPM - Erro padrão da média.

Nos restantes órgãos não se observaram diferenças entre cargas ao longo do tempo, no entanto, tal como nas amostras sem hidrólise existe um heterogeneidade de valores, no que diz respeito aos valores mais altos, ou seja, consoante o órgão e a data de colheita os valores mais altos de hidratos de carbono podem variar entre as árvores em safra e nas árvores em contra-safra.

No método da antrona, constata-se que não existe diferenças estatisticamente significativas entre cargas na extracção de etanol. Por sua vez, na extracção de água apenas existe diferenças entre cargas no R2 e a carga baixa é superior à carga alta (Quadro 7), mais uma vez corroborando que o efeito da carga não é muito claro neste ensaio.

Quadro 7 – Comparação entre a carga alta e carga baixa nos ramos com dois anos na extracção de água (H2O) ao longo do tempo (doseamento com antrona em mg/L).

Carga 1ª Colheita 2ª Colheita 3ª Colheita 4ª Colheita

H2O H2O H2O H2O

Alta 237.33 b 314.67 a 140.33 a - Baixa 415.33 a 158.67 a 97 a -

p-value 0.0297 0.2366 0.6643 -

EPM 38.054 79.306 65.496 -

Nota: Teste de comparação múltipla de médias de Tukey HSD para α=0,05, letras diferentes em coluna indicam valores

44 Neste método pode-se verificar que existe uma grande heterogeneidade de valores, uma vez que os valores mais altos oscilam entre as árvores em safra e em árvores de contra- safra, ou seja, consoante o órgão e a data de colheita verifica-se que por vezes os valores mais altos correspondem às árvores de carga alta e outras vezes correspondem às árvores de carga baixa. Os valores obtidos foram muito inferiores aos obtidos nos outros métodos, o que não era esperado, pois trata-se da detecção de açúcares totais (ver Anexo I)

Os três métodos apontaram para não haver um claro efeito da carga sobre a acumulação de açúcares solúveis nos diferentes órgãos, o que se justifica, tratando-se da cultivar Cobrançosa, que não se verificam diferenças muito claras de carga.

A opção por considerar cargas diferentes prendeu-se com um dos objectivos do trabalho, a obtenção de dados para inclusão no modelo de crescimento e desenvolvimento da oliveira. A alternância nas oliveiras é extremamente acentuada ano após ano, podendo-se denominar anos de safra e de contra-safra, com actividades fisiológicas e metabólicas muito distintas. No delineamento deste estudo teve-se em atenção esse aspecto, por forma tentar identificar teores de açúcares mais relacionados com safra e com contra-safra, e portanto separou-se árvores que estavam em safra (CA) e árvores que estavam em contra-safra (CB). Segundo GUARDIOLA (1992) referido por MONERRI et al. (2011) a alternância é causada por cargas excessivas e portanto uma inibição da floração do ano seguinte, sendo que a formação de flores está relacionada com os níveis de hidratos de carbono (GOLDSCHMIDT e GOLOMB, 1982; GARCÍA-LUIS et al.,1988, 1995 citado por MONERRI

et al., 2011). No entanto, a cultivar “Cobrançosa” apresenta boas produções e é bastante

regular ao longo dos anos, sendo essa regularidade ajudada pelas técnicas culturais adoptadas neste olival (podas pouco severas e uma boa gestão da rega e da fertilização), pelo que não se observaram resultados diferenciadores para cada uma das cargas.

4.4. Análise comparativa da acumulação de açúcares entre os diferentes órgãos em