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Influência da concentração de fósforo e nitrogênio na eutrofização e

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.3. Eutrofização de cursos de água

2.3.2. Influência da concentração de fósforo e nitrogênio na eutrofização e

Em lagos e reservatórios tropicais e subtropicais, ao contrário de regiões de clima temperado, a temperatura não tem efeitos significativos sobre a variação temporal do fitoplâncton, pois, está acima de valores limitantes ao crescimento. A disponibilidade de nutrientes, a radiação subaquática e fatores bióticos (herbivoría e parasitismo) são fatores mais importantes (Borges, 1998).

A importância da avaliação do fósforo, presente em ecossistemas aquáticos, para a estimativa da produtividade primária é indiscutível, uma vez que ele é, na maioria dos ambientes, o fator limitante a este processo. Em outras palavras, o fósforo disponível será um dos fatores mais importantes na regulação da produtividade do sistema (Lamparelli, 2004).

A concentração do fosfato solúvel reativo ou ortofosfato tem sido determinada e relacionada ao crescimento do fitoplâncton, pois, esta fração do fósforo total está diretamente disponível para ser absorvida. Entretanto, já foi demonstrado que a reciclagem das moléculas de fosfato dentro da comunidade fitoplanctônica é extremamente rápida (de 5 a 100 minutos) e que o fosfato liberado pela degradação de substâncias orgânicas é reabsorvido por bactérias e algas mais rapidamente que a capacidade analítica em detectá-lo (Chorus e Bartram, 1999).

O limite máximo de biomassa que as cianobactérias, ou outros grupos fitoplanctônicos podem alcançar em um dado corpo de água é, portanto, freqüentemente determinado pela quantidade de fosfato intracelular, sendo que o total de fósforo na forma de fosfato é a variável que precisa ser conhecida para o manejo dessa biomassa (FUNASA, 2003). Isto não é equivalente ao fósforo total, que inclui as formas minerais que não são biologicamente absorvíveis. Entretanto,

por uma questão de simplificação, o termo fósforo total tem sido bastante utilizado para representar o total de fósforo na forma de fosfato (Chorus e Bartram, 1999).

Segundo Esteves (1998), o fosfato presente em ecossistemas aquáticos continentais tem origem em fontes naturais e artificiais. Dentre as fontes naturais, as rochas da bacia de drenagem constituem a fonte básica de fosfato. Outros fatores naturais que permitem o aporte de fosfato podem ser apontados, como o material particulado presente na atmosfera e o fosfato resultante da decomposição de organismos de origem alóctone. As fontes artificiais de fosfato mais importantes são os esgotos domésticos e industriais e o material particulado de origem industrial contido na atmosfera (Silva, 1997).

Visando à redução, e eventual eliminação, do aporte de fósforo proveniente de despejos de esgotos nos corpos de água, em 29 de abril de 2005, foi aprovada a Resolução CONAMA n.º 359 (Brasil, 2005a), que dispõe sobre a regulamentação do teor de fósforo em detergentes em pó para uso em todo o território nacional. Assim, esta resolução estabelece limites para a concentração máxima de fósforo por produto (Tabela 2).

Muitos países baniram ou controlaram o uso de polifosfatos em detergentes, uma das fontes responsáveis pelo enriquecimento dos corpos de água. Existem ainda muitos programas, que visam reduzir as fontes difusas ligadas à agricultura, tanto para o fósforo como para o nitrogênio (Lamparelli, 2004).

Tabela 2. Limites de concentração de fósforo por produto Prazo de adequação a partir da publicação desta Resolução Limite máximo de P2O5 por formulação (%) Limite máximo de P1 por formulação (%) Média ponderada máxima de P por GFI2 (%) Média ponderada máxima de STPP3 por GFI (%) 6 meses 12,71 5,55 3,91 15,50 18 meses 12,14 5,30 3,41 13,50 36 meses 10,99 4,80 3,16 12,50 Fonte: ANEXO I - CONAMA n.º 359 DE 03/05/2005; Nota: 1 – Fósforo; 2 - GFI – GRUPO FABRICANTE/IMPORTADOR; 3 - STPP -tripolifosfato de sódio

2.3.2.1. “Lei do mínimo” e nutrientes limitantes ao crescimento do fitoplâncton

A eutrofização dos corpos de água depende, principalmente, de suas cargas de nutrientes. O conceito de limitação de nutrientes pode ser considerado a “chave” na pesquisa da eutrofização. Com efeito, isto implica que: (a) um nutriente-chave será o principal fator limitante para o crescimento de plantas em dado ecossistema; (b) o crescimento de plantas em dado ecossistema será proporcional à razão de fornecimento do nutriente; e (c) o controle da eutrofização será associado por restrição da carga deste nutriente para o ecossistema (Smith, 1999).

A utilização de um nutriente por um organismo obedece à “Lei do Mínimo” estabelecida por Liebig, segundo a qual o crescimento de um organismo é limitado pela substância disponível nas quantidades mínimas relativas às suas necessidades para crescimento e reprodução (Odum, 1988).

O conceito de nutriente limitante é baseado na premissa de que, a uma dada estequiometria celular das plantas aquáticas, o nutriente que irá controlar a máxima quantidade de biomassa vegetal é o nutriente que será exaurido primeiramente, ou aquele que atinge um valor mínimo antes dos outros (Salas e Martino, 2001).

Se forem considerados somente o fósforo e o nitrogênio, para cada átomo de fósforo são necessários vinte átomos de nitrogênio para formar as moléculas das células dos organismos vivos. Se a relação nitrogênio/fósforo (N/P) num corpo de água fosse 30/1, certamente todo o fósforo seria consumido antes de todo nitrogênio; por outro lado, se a relação fosse 6/1, a remoção mais rápida do nitrogênio limitaria o crescimento biótico (O’Neill, 1993).

Lee e Jones-Lee (1998) discutem a determinação do nutriente limitante para o crescimento do fitoplâncton em reservatórios e consideram que um ambiente é limitado por fósforo, quando os resultados da razão da concentração de nitrogênio inorgânico (amônio e nitrato) e de ortofosfato são superiores a 7,5/1.

Apesar da disponibilidade de diversos trabalhos que comprovam a aplicabilidade do conceito de nutriente limitante, baseado na “Lei do Mínimo” proposta por Liebig, algumas questões que interferem na sua aplicação devem ser consideradas, uma vez que, diferentemente do pressuposto de estado constante na proposta teórica da “Lei do Mínimo”, na prática, os nutrientes podem atuar como limitantes concomitantemente, alternando suas concentrações no meio. Há ainda efeitos complementares, como para o fósforo e o magnésio em trabalho apresentado

por Wetzel (1993), cuja adição individual não provocou o crescimento das algas, mas sua adição em conjunto resultou em aumento da biomassa.

Apesar da controvérsia sobre a influência da razão entre o nitrogênio e o fósforo na estrutura da comunidade fitoplanctônica e na determinação de nutrientes limitantes, alguns trabalhos como o de Reynolds (1999) demonstraram a utilidade do conceito de nutriente limitante e a possibilidade de utilizar modelos preditivos para a relação carga de fósforo afluente e concentração de clorofila a (Lee e Jones-Lee, 1998).

Segundo Lee e Jones-Lee (1998), a definição de nutriente limitante somente seria aplicável na época de desenvolvimento excessivo de algas. Além disso, este conceito de nutriente limitante baseia-se no princípio de que todo o nutriente é absorvido pelas algas e imediatamente utilizado, pois, quando esgotado ou em baixas concentrações no ambiente, impede o crescimento do fitoplâncton. No entanto, diversos trabalhos demonstram que várias espécies de algas são capazes de armazenar nutrientes, como o fósforo, além de suas necessidades imediatas, quando estes estão abundantes no meio. Esses nutrientes armazenados serão utilizados no futuro, quando a disponibilidade no ambiente não for mais adequada. Assim, pode-se manter a multiplicação de células e seu crescimento durante algumas gerações, mesmo em baixas concentrações de nutrientes (Chorus e Bartram, 1999).

Salas e Martino (2001), analisando vários corpos de água em áreas tropicais e subtropicais da América do Sul e do Caribe, observaram que a limitação do crescimento do fitoplâncton nos mesmos é devido, principalmente, ao fósforo.

Segundo Esteves (1998), na maioria das águas continentais, o fósforo é o principal fator limitante da produtividade fitoplanctônica. Além disso, tem sido apontado como o principal responsável pela eutrofização desses ecossistemas.

Concentrações de fósforo acima de 20 µg L-1 em lagos, geralmente aceleram o processo de eutrofização. Este valor é menor que as concentrações críticas na fração do solo para o crescimento de plantas (200 a 300 µg L-1). Esses valores realçam a disparidade entre as concentrações críticas de fósforo nos lagos e nos solos e a importância do controle das perdas de fósforo para limitação da eutrofização (Sharpley et al., 2001).

O trabalho de Chiaudani e Vighi (1974) realizado em 26 lagos italianos, demonstrou que o fósforo era o fator limitante do crescimento do fitoplâncton na maioria desses ambientes e que concentrações de ortofosfato entre 10 e 12 µg L-1,

na época de inverno, estabeleciam o limite acima do qual começava o processo de eutrofização para os ambientes estudados. Nesse trabalho, os autores consideraram que a relação entre as concentrações de nitrogênio inorgânico e ortofosfato, avaliadas na massa do fitoplâncton, variaram entre 4,5/1 e 9/1 e, portanto, valores superiores a estes sugerem que o fósforo esteja atuando como fator limitante, sendo o inverso verdadeiro para o nitrogênio.

Razões de suprimento de nitrogênio total/fósforo total (NT/PT) são tipicamente altas em bacias hidrográficas bem drenadas e despoluídas, localizadas em médias e altas latitudes. Estas razões de suprimento estão bem acima da razão de demanda do protoplasma do fitoplâncton, sugerindo ser o fósforo o nutriente comumente mais limitante no crescimento das algas.

Uma razão de nitrogênio e fósforo apropriada seria baseada na quantidade disponível de nutrientes e não nas quantidades totais de nitrogênio e fósforo, que incluem as pequenas frações disponíveis (Chiaudani e Vighi, 1974). Ainda assim, segundo Kalff (2002), o fósforo total é a medida que melhor prediz a biomassa (clorofila a) produzida. Presume-se que isto é devido ao fato de o fósforo total melhor refletir a quantidade de nutriente que se torna disponível na decomposição.

Cruz et al. (1996) ajustaram modelos de eutrofização para a Baía de Guanabara-RJ, com coeficiente de determinação de 87,23%, tendo-se a clorofila a como função da concentração de fósforo total, amônio e temperatura.

Kratzer e Brezonik (1981) estudaram 40 lagos na Flórida e avaliaram a relação NI/PS (nitrogênio inorgânico/ortofosfato solúvel), em massa, bem como realizaram bioensaios para a determinação do nutriente limitante ao crescimento das algas. Os resultados desse estudo indicaram que, em sua maioria, esses lagos apresentavam limitações por nitrogênio, o que foi associado a valores de NI/PS inferiores a 10.

Lamparelli (2004) avaliando a qualidade da água em rios, com base em 180 pares de valores de nitrogênio inorgânico e ortofosfato solúvel, verificou que os valores da relação NI/PS variaram de 1,4 a 3426. Considerando-se que valores de NI/PS inferiores a 10 podem indicar ambientes com limitação por nitrogênio, foi verificado pelo mesmo autor que apenas 5% das amostras se enquadraram nessa categoria. Entretanto, em reservatórios, o autor avaliou 582 pares de valores e observou que apenas 7% das amostras apresentavam limitação por nitrogênio.

Portanto, tanto para rios como para reservatórios, há indicações de que o nutriente limitante é o fósforo. Em geral, quanto maior for a concentração de fósforo, maior será a concentração de clorofila a, o que indica uma relação direta entre estas

variáveis. No entanto, é importante considerar que há ocasiões em que a disponibilidade de nitrogênio no ambiente pode ser limitante (Lamparelli, 2004).

Segundo Reynolds (1997), a relação entre carga de fósforo e concentração de clorofila a é específica para cada ambiente aquático, enquanto a taxa de biomassa produzida, que pode ser representada pela concentração de clorofila a, tem relação estequiométrica de aproximadamente 1/1 com o conteúdo de fósforo intracelular. Isto significa que, para dado ambiente, a carga de fósforo tem relação direta com a biomassa fitoplanctônica desse ambiente, porém os fatores controladores da disponibilidade deste elemento e a sua taxa de reciclagem em dado ambiente são imprevisíveis. Desta forma, é evidente que nem o máximo de clorofila nem a concentração média anual responderão à redução externa de fósforo, até que a disponibilidade deste nutriente esteja próxima da concentração limitante.

Segundo Sas (1989), citado por Reynolds (1997), nenhum caso de restauração de lagos por redução da carga de nutrientes apresentou efeito, enquanto a concentração de fósforo reativo solúvel estava em concentrações acima de 5 µg L-1.

Segundo Cooke et al. (1993), a experiência acumulada com a restauração de ecossistemas aquáticos, durante as últimas décadas, mostra que, para a redução de florações de cianobactérias, as concentrações de fósforo total devem ser de 30 a 50 µg L-1, no máximo. Segundo esses autores, em muitos corpos de água que apresentam esses valores, pode ser obtida redução substancial na densidade das populações de cianobactérias e do fitoplâncton em geral. Entretanto, grande parte desses estudos consideram apenas ambientes de regiões temperadas e, assim há pouca informação disponível sobre esses mecanismos em regiões tropicais e subtropicais.

2.3.3. Influência da velocidade de escoamento da água na eutrofização e